terça-feira, 29 de janeiro de 2013

É tanto sentimento, deve ter algum que sirva

É praticamente impossível digerir uma desgraça da proporção da que atingiu a cidade de Santa Maria, RS. Desde domingo, quando acordei e liguei o meu computador e soube da tragédia (naquele momento ainda não sabia do número de jovens mortos), ando meio sem saber direito o sentimento que mais me afeta diante disso.
Fico aqui pensando o quanto de tristeza pela morte injustificada de tantas pessoas. O tanto de desespero pelo que aconteceu na madrugada de domingo dentro da boate. E a revolta pela descaso que nos acompanha desde sempre em relação ao poder público (o privado quase sempre o descaso é escancarado).
Ouvi o prefeito da cidade tentar justificar a falta de licença da boate, continuei ouvindo-o nas evasivas em relação à responsabilidade da prefeitura no controle das casas que funcionam sem a menor condição. 
Tudo isso como se o seu cargo não tivesse nada a ver com o caso, a indiferença de sempre dos governantes diante das catástrofes (sou do Rio e faz tempo, os prefeitos, governadores desta cidade, a cada verão, repetem, como um disco furado, a mesma frase, "estamos trabalhando para resolver", mas no verão seguinte, na-da foi feito). Ou os donos dos estabelecimentos que falam de uma "fatalidade" ou de um "acidente".
Li nas redes sociais sobre o excesso dos meios de comunicação, sobre a insensibilidade de alguns jornalistas, li até que a presidenta da república estaria fazendo média ao sair do Chile e prestar solidariedade aos familiares das vítimas.
Aí, minha preocupação, diante disso tudo: E quando isso acontecer em outro lugar? E quando isso acontecer com os nossos alunos, amigos, em nossas cidades? Porque isso acontece sempre (também como um disco furado, que insiste em permanecer na mesma frase), repetindo, repetindo as mesmas desgraças. 
Por que as autoridades que são pagas para supervisionar, fiscalizar, cobrar não fazem nada? Por que nos esquecemos logo desses fatos?
Não seria o caso desse prefeito nunca mais ocupar nenhum cargo público, além, é claro, de responder judicialmente pelas centenas de mortes? E o Corpo-de-bombeiros que não fez a fiscalização devida e não interditou a tal boate? E tantas outras boates que continuam funcionando nas mesmas condições em todas as partes do país?
Não seria a hora de não nos esquecermos nunca mais disso e cobrarmos mudanças imediatas em relação às leis que regem o funcionamento do comércio?
Não seria o momento de sairmos às ruas para cobrar dos prefeitos eleitos, dos vereadores, dos deputados, enfim, dos políticos que são eleitos por nós e que, portanto, nos devem satisfação dos seus atos?
Gente, são mais de 200 mortos, são filhos, alunos, mães, irmãos e irmãs, namorados e namoradas de todos nós que estavam em uma boate na noite de sábado apenas para se divertir.

Um comentário:

  1. Concordo com o texto sob uma pequena ressalva: O brasileiro até que sai muitas vezes às ruas. Mas na maioria delas não sabe o que fazer além de chorar e repetir palavras de ordem - não acho que isso seja ruim. Respeito -, sem ter a mínima noção de como continuar a luta nos dias posteriores... Sei que não é nossa culpa o fato de não sabermos lutar. Parece que somos o tempo todo deseducados para isso...
    De qualquer forma, deixo aqui uma contribuição singela, repetindo as palavras de Aleilton Fonseca: "O que se espera, pelo mais certo das coisas, é que faleçam os avós antes dos netos, e que sejamos sepultados por nossos filhos. Do contrário, toda tristeza se multiplica pelo peso das nossas dores" (In. O desterro dos mortos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. p. 91)

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