quinta-feira, 30 de julho de 2009

E a vida continua, sempre (texto)


Ontem à noite recebi a notícia de que uma aluna havia morrido. Muito triste a forma como as pessoas se vão. Dia desses estávamos em sala de aula falando sobre racismo, sobre preconceitos, sobre estar no mundo sem que nada sobre o fim de nossas vidas fosse relevante. Como se fôssemos nos encontrar muitas vezes ainda.
Nem pude dizer o quanto foi bacana conversar por algum tempo sobre aqueles assuntos: ouvir a sua experiência...
Numa das últimas aulas, ela trouxe o seu filho e ele ficou ali ouvindo aqueles conceitos atentamente sob o olhar tb atento de sua mãe. No final da aula fomos apresentados e falamos amenidades.
A vida, enquanto vc faz outras coisas, acontece.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Todas as Cartas de Amor são Ridículas (poesia)

Faz muito tempo não recebo uma carta. Dessas que chegam pelo correio tradicional. Acho que a última carta que recebi foi quando voltei ao Rio para estudar (2002) e uma amiga de Marechal Cândido Rondon (Bea) me escreveu. Foi uma felicidade enorme. Fiquei ali com aquela carta por horas sem abri-la. Fiquei aproveitando todos os minutos com ela na mão sem saber do que se tratava. Li aos poucos, de-va-ga-ri-nho, palavra por palavra para saborear cada escolha.
Antes dessa só mesmo a minha mãe me mandava cartas. Pelo menos uma por semana. As vezes eram 3. Todas elas transbordando de saudade. Era um momento especial, recebê-las cheias de notícias. Sinto saudades dessas correspondências. Não sei aonde foram parar. Um tesouro perdido, talvez, pra sempre.
Cartas de amor, nem se fale! Não me lembro de nenhuma. Acho que as cartas de amor na minha adolescência já eram ridículas. Lembro-me de tê-las escrito algum dia, mas não me lembro o remetente.
Devia ter guardado alguma delas para agora poder reler, mas não guardamos cópias de cartas enviadas...que pena!!


Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje as minhas memórias
Dessas cartas de amor é que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Relações sem relação (texto)

Algumas relações insistem em permanecer na superficialidade. Talvez porque as pessoas permaneçam sempre na parte mais rasa, impedindo, portanto, qualquer que seja o aprofundamento. Ouço alguns que conferem ao mundo contemporânero a produção desse tipo de (des)encontros. Discordo. Nem ao mundo lá fora nem ao homem subordinado a ele. Talvez, é no que acredito, seja mais fácil o por cima, mais prático, menos propício ao embate. Tudo precisa ser imediato (como se fosse possível) e quando não é (o caso de conhecer o outro), não tem vez. O prozac está aí para comprovar isso. Mas como tudo tem pelo menos dois lados, os que "optam" por essas (des)relações tb não usufruem do que é o mais bacana: reconhecer-se.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nomeado por Ato Secreto afirma que o Senado deveria se orgulhar de tê-lo como funcionário (texto)


O Público e o Privado se confudem na cabeça da Famiglia Sarney. Namorado da neta do Sir Ney declarou-se hoje ao Gl ser um excelente funcionário, ter qualificação mais do que suficiente para ocupar o cargo que ocupa e que por isso o Senado deveria ogulhar-se (sic) de tê-lo como funcionário.
Henrique Dias Bernardes, este é o nome do funcionário por quem devemos nos orgulhar, disse tb que não sabia que a sua nomeação tinha sido encaminhada por meio dos atos secretos. Além disso declarou-se competente, eficiente e que desempenha a sua função de forma muito profissional. O que ele não sabe é que a sua competência pouco importa numa situação dessas porque o Senado não é uma empresa particular da Famiglia Sir Ney e por isso a sua nomeação não seria mais legal pelo fato dele ter ou não formação para o cargo que ocupa.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Se nos E.U.A negros continuam sendo tratados como suspeitos , imagine aqui? (texto)

Um caso, não raro aqui no Brasil, que nos E.U.A provocou certa comoção social me chamou atenção hoje durante a sua veiculação no jornal da TV. Um professor negro ao chegar de viagem e não conseguir abrir a porta de sua casa, por conta de uma chave emperrada, foi denunciado por uma vizinha como se estivesse tentando roubar a tal casa. Segundo a reportagem, o professor, da mais importante universidade dos Estados Unidos - Harvard University, tentou explicar aos policiais o que havia acontecido. Mostrou aos agentes os seus documentos e tb a carteira de professor do Instituto no qual trabalhava, não adiantou. Foi preso, fotografado, fichado.
Segundo Obama, presidente dos E.U.A., negros e latinos continuam sendo tratados na América do Norte como cidadão de segunda classe. Suspeitos acima de qualquer investigação. Se isso acontece lá, imagine o que não acontece aqui sem que os jornais veiculem(?): as minorias, todas elas, sem exceção, são tratadas como cidadãos sem classe. Apanham, são presos, são algemados, violentados sem que isso cause quaisquer comoções. Ou pelo menos, tanta comoção.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mãe (música)

Palavras, calas nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses não
Imensa solidão
Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão Que dor no coração
Cidades, mares, povo rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E, só porque não estais
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti

"Sempre pode piorar" ou "Se mexer, fede". (texto)

E quando a gente acha que tudo está traquilo, que nada mais tem para ser descoberto, eis que uma sequência de diálogos gravados pela Polícia Federal (PF) com autorização judicial, durante a Operação Boi Barrica, e divulgados na edição desta quarta-feira (22) do jornal O Estado de S.Paulo, revela a nomeação de cargos pela família Sarney no Senado e liga o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), ao ex-diretor-geral Agaciel Maia na prestação de favores concedidos por meio de atos secretos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Confesso - Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro (música)

Confesso
sei que o amor é uma coisa séria

mas não tem mestre nessa matéria
eu mesmo já fiz miséria por amor
confesso
dei muito murro em ponta de faca
já fui fiel, já virei casaca
mil criaturas já fiz chorar de dor que loucura
já fui deixado na rua da amargura
quando a paixão se desfez
isso mais de uma vez
já fui barão, já cantei de galo
mas já sofri, também fui vassalo
bebi cachaça em gargalo por amor
confesso
já fui o outro em romance alheio
mas lembro bem, também já fiz feio
pois não há presa que escape dessa dor
que tristeza
já fiquei cego, já andei virando a mesa
o que o ciúme me fez, eu nem conto a vocês
foi tanta briga, foi tanta cena
tantos presentes de flor
mas tudo valeu a pena
e eu até virei compositor
eu posso nem ser tão feliz
mas digo uma coisa ao senhor que na vida o que eu fiz foi por amor

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cinha (texto)

Hoje eu sonhei com uma namorada antiga, acho que o primeiro namoro mais sério. Não me lembro de ter sonhado com ela outras vezes. Tenho boas lembranças desses nossos encontros: conversávamos bastante e andávamos de mãos dadas depois de uma reunião com outros amigos. O que eu mais gostava desse namoro, era ouvi-la cantar. Ela cantava e tocava violão (cantava bem melhor do que tocava). Voz doce e um repertório que gosto de ouvir até hoje. Não por saudades, mas porque me lembra um momento bom da minha vida (sem saudosismos, Alexandre!). Fátima Guedes: "Cheiro de mato":

Ai, ai o mato, o cheiro,o céu
O rouxinol no meio do Brasil
O Uirapuru canta prá mim
E eu sou feliz
Só por poder ser
Só por ser de manhã, manhã, manhã
Manhã, manhã
Nessa clareira o Sol
Se despe feito brincadeira
Envolve quente a todo ser vivente

Taperebá
Canela, tapinhoã, nã nã nã nã
Não faço nada
Que perturbe a doida a louca passarada
Ou iniba qualquer planta dormideira
Ou assuste as guaribas na aroeira
Em contra-ponto com pardais urbanos
Tão felizes soltos dentro dos meus planos
Mais boquiabertos que os meus vinte anos
Indóceis e livres como eu.


Faz muito tempo, muito mesmo que não a vejo, que não tenho notícias...tomara esteja ainda cantando. Fiquei pensando o porquê desse sonho tão distante...e não consegui fazer nenhuma relação...acho que consegui agora, mas é melhor não escrever...

Não há poesia no Estruturalismo! (texto)

Sou professor de linguística na graduação do curso de Letras: Estudos linguísticos I. Segunda-feira às 8h, em ponto, começo a aula. Não atraso. Quer dizer, até hoje, não atrasei, mas na próxima segunda, quem sabe? O conteúdo não é dos mais agradáveis, mas eu gosto: dos neogramáticos à sociolinguística, passando aí pelo estruturalismo europeu e americano, além do gerativismo. Penso sempre, quando dessas aulas, o que os alunos vão aproveitar da teoria para entender como o pensamento linguístico se transformou; penso tb o que vão poder usar quando de suas aulas de língua portuguesa ou estrangeira; penso ainda como poderão explicar para um leigo qualquer o que é a linguagem, quando penso as minhas aulas.
Se isso produz algum sentido (?), só o tempo...daqui uns anos quando eu os encontrar (se encontrar) e num bate-papo menos tenso (agora de professor para professor ou de ex-professor para professor) para saber o que aconteceu.
Percebo muitas vezes que falo sozinho, em sala de aula (que fique claro!). Fora da sala, não percebo ou se percebo não conto. Vejo tb caretas quando, por uma distração, me viro sem avisar e encaro alguns deles. É engraçado...
Uns dormem, outros bocejam e uns até prestam atenção e fazem perguntas...i-na-cre-di-tá-vel, diriam outros. A turma é boa, uma das melhores...mas falta poesia...talvez falte humor...

O Homem; As Viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto — é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

SOM & FÚRIA (texto)

A Trama: Dante (Felipe Camargo), Oliveira (Pedro Paulo Rangel) e Elen (Andréa Beltrão) são amigos que formam uma trupe de teatro e que têm suas vidas impactadas quando, durante uma apresentação de “Hamlet”, em que Dante (Felipe Camargo) fazia o protagonista da obra, ele tem um colapso e foge, desaparecendo. Sete anos depois, Dante (Felipe Camargo) torna-se o diretor de uma companhia de teatro falida e Oliveira (Pedro Paulo Rangel) é o diretor de outro grupo bem sucedido, que dirige Elen (Andréa Beltrão). Mas eles estão frustrados e desmotivados com o trabalho. Fora isso tudo, ainda existe uma paixão mal resolvida entre Dante (Felipe Camargo) e Elen (Andréa Beltrão).
Estou encantado com a minissérie. O roteiro, o ritmo, o tom de comédia. Andréia Beltrão é, para mim, uma grande atriz. Capaz de nos emocionar de maneiras diversas. Não vi todos os capítulos, até porque a minha memória é tão confusa que me lembro quando o horário já passou, mas o que vi foi suficiente para gostar demais!

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...