quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Como se fosse a primeira vez (texto)

Faz exatamente um ano que postei aqui no blogue este texto do Veríssimo: Como se fosse a primeira vez. Ontem fiquei mais uma vez horrorizado com as imagens das chuvas em São Paulo e mais incrédulo ainda com as declarações dos responsáveis pelo Estado e Cidade.
A impressão que tenho é que estão, governo e prefeitura, esperando apenas uma desgraça maior acontecer (13 vítimas deve ser pouco) para que medidas sejam tomadas. Não para que não chova, mas para que que essas águas que caem não matem mais. Vamos ao texto:
Chove desde que o mundo é mundo, mas a chuva sempre nos pega desprevenidos. Não falo na chuva catastrófica como a que tem nos flagelado, mas na chuva comum. Na chuva que deveria fazer parte das expectativas normais de qualquer um que não vive num deserto. Que não deveria exigir qualquer alteração no seu cotidiano fora a necessidade de usar guarda-chuvas e o cuidado de evitar goteiras e poças. E, no entanto, todas as vezes que chove nossas vidas são transtornadas como se fosse a primeira vez. Meu Deus, o que é isso? Água caindo do céu?! Com chuva todo o mundo se confunde, como se não houvesse precedentes. Com chuva o caos do trânsito vira um pavor, embora só seja o caos de sempre com água em cima.
O descaso que causa as tragédias quando a chuva é catastrófica é um corolário dessa surpresa sempre repetida. A imprevidência dos que constroem em áreas de risco ou a negligência dos que permitem a construção em áreas de risco vem da mesma recusa de ver o óbvio. A chuva é uma obviedade, não é uma novidade. A chuva anômala, catastrófica, também, pois temos uma longa história de tragédias como as destes dias. Mas a reação é sempre de incredulidade, nunca se reconhece o óbvio.
O problema do Brasil não é que as coisas não tenham precedentes. Há precedentes para tudo que nos aflige. O problema é que os precedentes não nos ensinam nada. Assim continuaremos reclamando que os esgotos pluviais não dão conta das grandes chuvaradas e precisam ser refeitos, até a inundação regredir e não se falar mais nisso. Continuaremos protestando contra construções em áreas perigosas até os deslizamentos pararem e o tempo melhorar, e esquecermos. E cada tragédia, como cada dia de chuva, será sempre como se fosse a primeira vez.

REPARAÇÃO
Alguém com tempo e curiosidade suficientes poderia calcular de quanto seria o montante se cada família de vítimas da imprevidência e da negligência dos governos – do esgoto não refeito, da encosta não adequadamente escorada, da estrada não duplicada ou não construída – responsabilizasse judicialmente Estados e União e exigisse reparação. Não precisaria nem ser as vítimas de todos os tempos, só de um ano bastaria. O custo seria maior do que o necessário para fazer as obras.
(Luis Fernando Veríssimo)

(Foto: Cristina Helga Potter/VC no G1).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Da Série Contos Mínimos

O encontro aconteceu na sala de embarque, mas seus destinos eram diferentes. Trocaram olhares. Acenaram com a cabeça. Não se falaram. Voos atrasados. Quase natal. Cada qual em seu portão, cada um uma história. Chamada para o embarque voo 1556, portão 8. Última chamada embarque voo 1556. Embarque encerrado.
Quem sabe nos céus os destinos se cruzariam.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Martinália (texto)

Ontem fui ao show da Martinália no Circo Voador (aqui na Lapa - RJ). Não preciso dizer que ela é um show e tanto: primeiro pela descontração, pela maneira como canta, pelo repertório e tb pelos músicos que a acompanham. Esses, um espetácula à parte.
Foram quase duas horas de música: samba, sobretudo. De repente um casal da plateia, convidado por ela (naturalmente), deu uma pequena/grande demonstração do que é sambar. Enquanto a dona da casa cantava (sentanda) oferecendo o espaço para a dupla.
Fiquei ali pensando que podia até parecer fácil tantos passos, tantas acrobacias, tanto swingue.
Fácil não é, definitivamente, a vida do artista. Martinália estava com algum problema na perna direita (perceptível quando ela caminhava de um lado para o outro no palco do Circo), mas não deixou em momento algum o samba fora do compasso, a festa terminar antes do tempo, a noite perde o tom.
Cada um dos integrantes da sua banda, a medida em que eram apresentados, mostrava um pouco mais do que sabia. Uma das backing vocals sambou com uma elegância impressionante. Outra, além do piano, cantou magistralmente. Os meninos da percursão e das cordas deram aula do que é nascer na Vila.
Um noite e meia.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Da série Contos Mínimos

Ná era econômica e direta. Ou um beijo ou um abraço. Sim ou não. Dizia poucas e boas, curtas e grossas. Não titubiava. Nada de exageros ou prolixidades.
Ela era monossilábica. Não fazia rodeios e nem andava ziguezagueando por aí. Com ela sempre a certeza do que acreditava. Não era mulher de dúvidas, se ou talvez.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Da série Contos Mínimos

Sentia-se vazio. Oco. Sem nenhuma novidade. Como uma caixa sem conteúdo. Era como abrir-se num presente e não encontrar absolutamente nada. Dias que passam em branco.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

É Fantástico! (texto)

Ontem enquanto eu jantava, imagens do Fantástico na TV do restaurante me chamaram a atenção, eu meio distante da tela não compreendia exatamente sobre o que tratavam. Sabia mais ou menos, pelo que via, bandeira de São Paulo tatuada nas costas, frases retiradas da internet sobre nordestinos que o assunto era o recorrente preconceito de parcela da população paulista, mas ao mesmo tempo passavam imagens da árvode de natal da Lagoa (Rodrigo de Freitas, aqui do Rio) que não faziam muito sentido (naquele momento).
Agora ao ler no site da Globo.com descobri que realmente o assunto era o velho preconceito de alguns paulistas contra os nordestinos e, para minha surpresa (não que eu não soubesse, mas ainda não havia lido  manifestação por escrito), de moradores da zona sul do Rio em relação aos moradores de outras regiões.
Primeiro, gostaria de dizer que tanto uma quanto outra manifestações não são novidades. Há muito tempo ouço, aqui no Rio, a desqualificação de quem mora depois (sic) do Túnel (Túnel do Pasmado ou Túnel Novo). Observação: e como a referência é a zona sul, depois define O Lugar.
Em seguida, (nem vou me deter ao preconceito sobre os nordestinos porque já postei aqui, logo depois da vitória de Dilma, sobre esse assunto) preciso escrever que toda manifestação nesse sentido é de uma ignorância tão grande, mais tão grande, ENORME que fico sem palavras para qualificar quem as (re)produz.
Os argumentos são tão pequenos e provavelmente refletem o tamanho da capacidade de raciocínio do morador da Lagoa que o escreveu. Achar que pessoas são melhores ou piores porque nascem (ou vivem) em regiões diferentes é tão sem força que me faltam mesmos contragurmentos e, sobretudo, vontade de combatê-los. O que dizer de alguém que escreve isso? Família, escola, amigos, em algum momento (infelizmente), tb produzem (será?) esse pensamento.
Mas vamos ao que interessa: o que acontece de fato com as pessoas que fazem esse tipo de declaração? Até onde sei, na-da. O que aconteceu de fato com a estudante de direito que definiu os nordestinos como raça inferior (etc.) depois da derrota de José Serra nas eleições para presidente da república? É ou não crime passível de penalização?
E com esses dois jovens, o que vai acontecer? O carioca João Marcos Aguiar Gondim Crespo é estudante de direito formado por qual universidade (realmente isso me interessa)? Como é que um cara desses pode advogar? O que a OAB faz quando casos como esses acontecem? Tantas perguntas...
Não seria o caso de penalização para (não acabar com o preconceito, porque ele não acaba com as leis) inibir esse tipo de comportamento? Se ficarmos apenas na divulgação...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Trabalho sujo (filme)

É claro que não vou indicar nenhum filme. Não faço mais isso. Tem sites, blogues especializados, profissionais espalhados em todos os meios de comunicação disponíveis que fazem disso um trabalho. Não é o meu caso. Tb não vou resenhá-lo aqui (refiro-me ao filme Trabalho sujo), há resenhas em quaisquer jornais, revistas, etc & tal.
No entanto, a partir do que vi e do que conversei com a minha companhia preferida, preciso dizer que às vezes estamos numa merda e tanto, atolados até o pescoço e ainda cavando o nosso próprio buraco (seja por conta de alguém que não nos quer, por conta de alguém que morreu, por conta de um trabalho que não nos dá prazer algum, por falta de grana, por uma doença ou seja lá o que nos faça sentir péssimos. Motivos não nos faltam!), a auto-estima no pé, sem perspectiva etc. etc. etc.
Tudo isso seria suficiente para atirar na própria cabeça e por fim a tudo o que nos incomoda. Mas, podemos tb, por outro lado com o que nos é possível naquele momento fazer dessa meda toda (que é a vida real, aquela lá fora que sente fome, dor, solidão, tristeza etc.) dizer: ok, tá tudo ruim e o que faço com isso tudo? Me entrego a essa bosta totalmente ou desse limão faço uma caipiroska?
Dessa vez opto pela bebida.

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...