segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Em defesa da defesa (texto)

Não há dissertação ou tese que não tenha problemas. Futucando bem, todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina...só a bailarina que não tem*. Isso é já-dito.
Todos nós sabemos, porque isso faz parte do nosso dia a dia, que erros de digitação, concordâncias mal feitas, empregos de palavras equivocados, conceitos mal entendidos, parágrafos longos, também fazem parte de quase todos os trabalhos entregues.  Mesmo os que passam por uma revisão daquelas. Acho que não há dúvida quanto a isso. Acho.
No entanto, o que não se deve achar tão comum é uma defesa sem defesa. Vou me explicar melhor. Quando um componente da banca aponta algum engano no nosso trabalho, e esse engano é legítimo, mas não foi percebido a tempo, ele deve ser explicado. Ninguém tem a obrigação de ser perfeito, mas uma dissertação/tese deve ser explicada.
Não se pode fingir que não se tem o que dizer. Isso é vergonhoso. Não tenho dúvida. Quem faz o apontamento está aguardando uma explicação sobre a leitura feita, sobre a palavra mal empregada, sobre a bibliografia que não apareceu, sobre a conclusão a que se chegou.
Não se pode receber, nessas ocasiões, um puxão de orelha da mesma forma que se recebe um elogio. A cara para o puxão deve ser uma e para o elogio, outra. Não se engane!
O momento de uma defesa é um momento único, já dizia a minha ex-orientadora: É o tempo que nós temos para falar a respeito daquele trabalho realizado. Ou vc toma as rédeas e se torna o responsável pelo que entregou ou não vai para a defesa.
O que não dá, e isso é realmente inaceitável, é para se calar diante de equívocos, se houver, como se eles não existissem.
*Ciranda da Bailarina (Edu Lobo / Chico Buarque)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Atravessamos o deserto do Saara (texto)

Ainda que meu exílio político dure quase vinte anos e seja bem aqui no Oeste no Paraná, mais precisamente em Cascavel, minha cabeça continua no ritmo de uma cidade, relativamente mítica, acidentalmente distante, absolutamente presente na minha constituição.
Às vésperas da maior festa carioca meu coração anda batento na cadência do samba. Mas o resto do corpo, incluindo aí até as  partes que não andam muito bem, como as pernas, por exemplo, anda forçosamente no compasso do trabalho.
Por aqui não se fala em carnaval, não se respira carnaval, não se ouve carnaval. Tudo continua como se ele sequer existisse. Nem aquele batuque ao longe, como eu estaria possivelmente ouvindo, do Bloco das Quengas, meus vizinhos mais ilustres na Lapa, se materializa nos meus sonhos. Na-da.
Nem ruas interditadas para os blocos que insistem em sair antes do sábado de carnaval (Sábado de carnaval existe? Perguntariam uns.). Nem um ensaiozinho do Bloco da Preta no Circo Voador às quartas-feiras. Apenas planos intermináveis para esta semana, aula, defesa de mestrado, grupo de estudo, projetos, processo de transferência externo etc & tal.
Como é que se pode pensar tanto em trabalho num momento único como este? Carnaval acontece apenas uma vez por ano (minha gente), são 4 diazinhos que exigem concentração, preparo físico, espírito de folião. E isso não se consegue assim de véspera como um passe de mágica: amanhã é sábado de carnaval e eu acordei animado. Não! Não é assim que a banda toca. Carnaval exige força na peruca, passagens pelos brechós, encontros com Vanise, idas à Ipanema, conhecimento musical, ou seja, um amontoado de grandes detalhes que nos dão o tom da festa.
Beleza, não tem mesmo jeito. Não vai ser esse texto que vai produzir nos meus chefes: João, Sanimar, Cida, Helenita, Cascar e Alcebíades uma outra organização do trabalho em função da festa que acontece a sei lá quantos quilômetros. Conformado (nem tanto) volto à leitura de uma dissertação porque a defesa é quinta. Bom carnaval pra quem é de carnaval!

Da Série Contos Mínimos

Conectava-se a cada instante na esperança de encontrar a mensagem que insistia não chegar.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Alegre (para Caio Fernando Abreu)

Ontem, soube, através de uma mensagem pessoal no Messenger de um amigo de Porto Alegre, que fazia 15 anos da morte de Caio Fernando Abreu, autor  (contos, romances) que fez a minha cabeça nos anos 80/90 e continua fazendo a cada vez que releio algum escrito seu. 
E agora ouvindo um CD da Vânia Bastos, Belas e Feras (1999), no qual grava músicas compostas por mulheres, encontrei a música  Alegre de Adriana Calcanhotto que homenageia o escritor gaúcho.
E como forma tb de relembrar o Caio, posto a letra aqui (pena eu não ter encontrado a música na web.):

Alegre
Hoje tem uma alegria em mim
Hoje eu acordei alegre
Nem nada mudou tanto assim
mas qualquer coisa em mim
urge
arde em febre
Hoje serei enfim
quem você quiser de mim, me leve
que eu hoje vou dizer: sim
ao que quer que me espere
me espere
(Adriana Calcanhotto)

Da Série Contos Mínimos

Não havia antalhos entre nós. Ele estava no início da sua vida e eu no final da minha.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Da Série Contos Mínimos

Gritos ecoaram de um distante continente: líbios, egípcios, argelinos, tunisianos, jordanianos, iraquianos e lemenitas sacudiram as bandeiras, invadiram as praças.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Entre um encontro e a postagem (texto)

Nesse fim de semana reencontrei dois grandes amigos. Bastante tempo sem contato. Um deles eu ainda "encontrava", vezinquando,  via orkut o outro já contavam 12 anos sem uma única notícia.
Eu os conheci em Curitiba quando do meu mestrado. Éramos bem próximos, mas o trabalho, a vida pessoal, a família, os novos  projetos, a nossa casa, tudo isso vai mudando um pouco a nossa rotina e quando a gente se dá conta (se se dá) estamos vivendo outra vida.
Mas essas mesmas ondas que vão nos levando para outras direções tb nos trazem de volta até a beira da praia. E se estamos com sorte, assim como estávamos, nos (re)encontramos. Colocamos quase tudo em dia. Foi muito bom!
Não é exatamente sobre esse reencontro o motivo desse post, ainda que ele me tenha inspirado, de alguma maneira. Mesmo que possa não parecer que tenha alguma relação entre o encontro e o que vou escrever.
Fiquei hoje o dia inteiro lendo textos de alunos (orientandos), textos da pós-graduação e relatórios de iniciação científica. Nos intervalos dessas leituras e observações que eu fazia nesse material (a parada para um chá, o telefone que tocava, a hora do almoço, a instalação de um novo computador, a configuração da nova impressora) eu me pegava com um pensamente recorrente: a alegria de não parecer a idade que se tem.
Não consegui me lembrar de onde surgiu essa ideia insistente, mas, creio, agora aqui pensando sobre esse pensamento, que ele tenha aparecido por conta dessa percepção in loco do tempo que se foi.
Por que tenho tanto medo de envelhecer? Talvez porque a velhice seja (é claro que estou pensando numa vida que ultrapasse todas as  suas fases canônicas) a última etapa de nossas vidas e pensar que se morre sem saber verdadeiramente o que acontece depois não é nada tranquilo, pelo menos pra mim.
Talvez (sempre há muitas possibilidades, e na ausência do Paulo Fernando para me ajudar aqui com essas preocupações, tenho que me virar sozinho mesmo) porque envelhecer seja perder algumas coisas e não lido muito bem com isso (alguém lida?) Perde-se (é esse o verbo, deixar de ter alguma coisa que se tinha, de certa forma, importante, porque se assim não o fosse, não se perdia) a juventude num mundo em que ela é extremamente valorizada. E por mais que se diga não se afetar pelo senso comum...estou eu aqui pensando que ter 40e muitos e não aparentar é um privilégio.
E fiquei pensando ainda nos recorrentes reforços dessa juventude eterna: num espírito jovem, na boa aparência, naquela alegria juvenil como se fosse uma obrigação ter 50, 60, 70 e poucos anos, mas manter-se inatingível pelo tempo.
Não tenho mais trinta. E como é difícil atravessar essa barreira. Queria muito me ver como eu sou e poder ser quem sou sem me preocupar mais do que eu devia (tá aí outro problema, a medida da preocupação) com o que eu não devia me preocupar. Não quero ter espírito jovem nenhum, quero ter o espírito que me cabe com o que eu sou e fui acumulando durante esses anos todos.
Não quero e nem preciso ser um senhor moderno daqueles que ninguém é capaz de dizer a idade que tem porque virou um intervalo entre os 30 e os 60. Quero ser um senhor_senhor que saiba aonde possa ir, o que vestir, ter uma boa saúde a medida do possível sem as obrigações de ser eternamente jovem. Não terei nunca mais 30, nem 40, nem 45 pra sempre, assim como não terei 50, 60  por um período maior do que 365 dias. E viva a idade que se tem!!!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O primeiro dia de aula (texto)

Hoje meu primeiro dia em sala de aula com os calouros/2011 do curso de LeTRaS. Gostei da rapaziada (língua preconceiotuosa essa, rs, tem muito mais meninas que meninos e eu os chamando de rapaziada, melhor refazer), ops, gostei da moçada (que já tem outra conotação: jovens de ambos os sexos).
A aula um pouco nervosa, eu fico tenso sempre na primeira semana ou na primeira aula, além da tensão fico gago, surdo e falo tão rápido que preciso me policiar ou ser policiado (mais fácil assim).
De qualquer forma, a aula foi boa, no que diz respeito a primeira impressão. Gostei mesmo do jeitinho dos novos alunos(as). Tomara que seja uma turma turma e não um amontoado de gente que divide o mesmo espaço.
Tomara tb que gostem (muito) de ler e tenham (muito) interesse pela escrita, pela disciplina.
Sejam bem-vindos!!!

Fiquei me lembrando do meu primeiro dia de aula, não na universidade, mas no primeiro ano do ensino fundamental. E vai tempo...
Nunca estranhei a escola. Eu fui criado, praticamente, dentro de escolas. Minha mãe foi professora primária durante muitos anos. E em quase todos os seus anos de magistério eu a acompanhava, vezinquando, porque não havia com quem ficar.
Minha diversão era usar a máquina de escrever. Não me lembro bem a impressão que tinha a respeito dessa máquina, mas acho que devia ser o mesmo fascínio que o computador desperta nas crianças, hoje em dia.
Eu não pensava em ser professor. Quando me peguntavam o que eu seria quando  crescesse, tinha a resposta na ponta-da-língua: médico. Acho que todos os meninos da minha geração queriam ser médicos (é possível que não fosse assim). Sorte da medicina eu ter mudade de opção. Até seringa me arrepia, e veja bem, não estou falando de agulhas.
Lembro-me bem desse primeiro dia, Tia Terezinha, nome da primeira professora. Ela era um amor comigo. E eu ali, fantasiado de aluno de escola pública: tênis preto, calça azul marinho e camisa branca. E aí a Tia Terezinha perguntou quem queria ler um texto. Meu braço já devia estar levantado bem antes de ela pensar em escolher alguém.
Eu já sabia ler, na verdade eu achava que sabia ler.  Pra ser sincero, eu conhecia as letras e as juntava acreditando que faziam algum sentido.
Eu gostava mesmo de aparecer. Nem sei como me transformei numa cara tão tímido. Queria fazer tudo. Sabe aquele tipo de aluno que não dá nem tempo para um outro se oferecer? Era eu. Insuportável isso.
É claro que o mais divertido era a hora do recreio. Fiquei apenas um ano nessa escola (escola em que minha mãe trabalhava). No ano seguinte fui para uma escola mais próxima de onde morávamos.
Uma pequena lembrança desse início rumo à academia. Depois disso, nunca mais deixei de estudar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Doar palavras (Campanha)

Vejam só que projeto bacana e que depende apenas de um minutinho nosso: O Hospital Mário Penna, em Belo Horizonte, que cuida de doentes de câncer, lançou um projeto que se chama "Doe Palavras". Fácil, rápido e todos podem doar um pouquinho.
Você acessa o site, escreve uma mensagem de otimismo, curta (como no twitter) e ela aparece no telão para os  pacientes que estão fazendo o tratamento – na sala de quimioterapia. 
Não é incrível? Podemos ajudar milhões de pessoas enquanto elas passam pelo tratamento como nossas mensagens, essa ajuda acontece de muitas formas: apoio, reconforto, distração (ocupam o tempo que ali passam recebendo a quimio), reprogramação mental, otimismo, e muitas outras, algumas bem subliminar, mas muito efetiva. Dizem que é linda a reação de esperança e a fé dos pacientes.
Participem, não apenas hoje mas, todos os dias. Deem um pouquinho das suas palavras e de seus pensamentos. Nos custa quase nada (só um pouco de tempo) e pode realmente trazer grandes benefícios aos que sofrem dessa doença que tem tratamento de efeitos colaterais terríveis, e podem ou não promover a cura. Porém apoio e mensagens de otimismo são um tratamento delicioso sem efeitos colaterais negativos e ajudam muito na cura e/ou no processo de apoio – é uma carícia positiva.
Então? Não economizem palavras: use-as nesse projeto maravilhoso.
Divulguem!!!! 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Radar Gay ou Gaydar (texto)

Aplicativos destinados ao público gay para iPhone, iPad e iPod touch já contam com mais ou menos 1,3 milhões de perfis cadastrados em aproximadamente 180 países (fonte: revista Época edição 665 de 14 de fev. de 2011). Esses aplicativos são uma espécie de GPS gay, ou seja, basta que um perfil seja cadastrado para que o sistema de geoposicionamento via satélite ajude a localizar os gays,  bissexuais, simpatizantes ou curiosos que estão nas redondezas.
As redes dão informações básicas dos usuários, tais como idade, cor, peso, altura e uma breve descrição pessoal. Uma vez que o usuário faz o seu cadastro, o seu celular fornece, em tempo real, os dados sobre a sua localização para outros membros da rede.
É um facebook, orkut ou quaisquer que sejam outras redes  sociais semelhantes, com o acréscimo da informação da distância entre os usuários. A organização se dá pela distância: do mais próximo ao mais distante.
É possível trocar fotos, bater papo em salas específicas.
Dentre os mais populares estão o Grindr, o boyahoy, o Purpll e o Qrushr este com uma versão para as lésbicas.
Podem ser baixados gratuitamente, embora alguns tenham uma versão paga.
No Brasil, pouco mais de 13 mil usuários estão cadastrados. Um alcance relativamente baixo, não se levarmos em conta o preço dos aparelhos.
Dizem que o público gay masculino ainda domina os aplicativos, "talvez porque os homens são mais abertos a conhecer parceiros via on-line e sempre foram os que primeiro abraçaram as oportunidades que as novas tecnologias trazem na busca de relacionamento," afirma o criador de um dos aplicativos.
No entanto, o criador do Grindr afirma que versões para o público heterossexual está sendo desenvolvida. É baixar e fazer um teste. Quem sabe aquele amigo(a), amor ou a aventura sexual não esteja bem ao seu lado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Múmia deixa o Egito (texto)

Mubarak renuncia no Egito e entrega poder ao Exército, diz vice-presidente. Presidente tinha ido para balneário no Mar Vermelho, segundo seu partido. Povo, que pedia saída imediata havia 18 dias, celebra nas ruas do Cairo.

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...