quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ludo real (Chico Buarque/Vinícius Cantuária)

Como nem tudo é decepção.



Que nobreza você tem
Que seus lábios são reais
Que seus olhos vão além
Que uma noite faz o bem
E nunca mais
Que salta de sonho em sonho
E não quebra telha
Que passa através do amor
E não se atrapalha
Que cruza o rio
E não se molha
Ê, ê, ê andaia
A lua ê, a lua ê
andaia

Paladar (Fátima Guedes)

"Por quê será que o amor se considera imune?" Hoje, acordei com essa música na cabeça. Fazia tempo que eu não a ouvia.



Onde foi que você perdeu sua crítica
O seu paladar?
Como foi, porquê foi que não soube me amar?
Quando eu estava perto.
O amor morre de cansaço e renasce um carinho do seu
Ressentimento de ainda estar sozinho
Mas não se engane,
Não chame, despeito de saudade
Você não perdeu nem um pouco o costume de me incomodar
Me tirar do sossego pra eu admirar
Sua infelicidade
E logo agora que eu aprendi a conviver com a minha
Eu já morei com medo de acabar sozinha
E agora você pede pra voltar... me humilha mais uma vez
Pensa que eu vou voltar
Me humilha
Por quê será que o amor se considera imune?
Você não perdeu nem um pouco o costume de me incomodar?
Me tirar do sossego pra eu admirar
Sua infelicidade
E logo agora que eu aprendi a conviver com a minha
Eu já morei com medo de acabar sozinha
E agora você pede pra voltar... Me humilha mais uma vez
Pensa que eu vou voltar

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Se eu pudesse (Danuza Leão)


Se eu pudesse, mudava minha vida toda; não que ela esteja ruim, mas só para ver que ela pode ser diferente.
Se eu pudesse, me desfaria de muitas coisas, da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais do que dois pares de sapatos, dois jeans, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando anda pensando em mudar de vida?
Se eu tivesse muitas joias, enterrava todas elas na areia da praia para que um dia alguém enfiasse a mão brincando, assim para nada, e tivesse a felicidade de encontrar um colar de brilhantes. Afinal, dá para viver sem, não dá?
Das algumas garrafas de champanhe guardadas cuidadosamente, na horizontal, daria para abrir mão, sem nenhuma possibilidade de remorso futuro; champanhe, além de engordar, não passa de um espumante metido a alguma coisa, e nem barato dá, de tão fraquinho que é. Dos vinhos, mais fácil ainda; nada melhor do que o velho e bom uísque, com o qual sempre se pode contar.
E as amizades? Aliás, as amizades, não: as relações. Ah, se tivesse coragem, compraria um novo caderno de telefones e passava só aqueles pouquíssimos nomes que realmente têm algum significado, e que são tão poucos que nem precisaria escrever. Guardaria todos de cor, não na cabeça, mas no coração, e um dia me esqueceria de todos eles.
Se eu pudesse, iria recomeçar a vida em outra cidade, talvez em outro país, para nada, só para começar tudo do zero. Para às vezes sofrer bastante, pensando que poderia ter tido mais juízo e não ter feito tantas bobagens, pois se tivesse errado menos poderia ter sido mais feliz -talvez. Mas alguém tem o poder de fazer alguém sofrer, ou a capacidade do sofrimento é um bem pessoal e intransferível?
Se alguém conseguisse ainda me fazer sofrer, seria um acontecimento a ser festejado.
Se eu pudesse -e não tivesse tantos compromissos-, seria vegetariana, passaria as noites em claro e teria muito amor pelos animais e pelas crianças. Mas como tenho horror a qualquer bicho e nenhuma paciência com criancinhas, a não ser com meus bichos e minhas crianças, vou ter que atravessar a vida levando essa pesadíssima cruz -afinal, ficou combinado que de certas coisas não se pode não gostar, e se não se gostar não se pode dizer, que vida.
Se pudesse, largaria tudo e iria embora para um lugar onde ninguém me conhecesse, onde não teria passado nem futuro; para um lugar esquisito no qual não entenderia a língua do povo nem ninguém entenderia a minha. Seríamos todos, assumidamente, estranhos -como somos no edifício onde moramos, no local de trabalho, dentro de nossa família. Ou você pensa que alguém conhece alguém porque dá beijinhos no elevador?
Se eu pudesse, quando acordasse hoje de madrugada saía descalça só com um casaco em cima da pele e ia molhar os pés na água do mar, sozinha. Depois, ia tomar um café no balcão de um botequim, como fazem os homens.
Se eu pudesse, rasgava os talões de cheques, cortava os cartões de crédito com uma tesoura, fazia uma linda fogueira com os casacos de pele e ia saber como é que vivem os que não têm, nunca tiveram e nunca vão ter nada disso. E aproveitava o embalo para cortar os fios dos telefones, jogar o celular na tela da televisão e o computador pela janela -deve ser lindo, um computador voando.
Se eu pudesse, raspava a cabeça, acendia dois cigarros ao mesmo tempo e tomava uma vodca dupla, sem gelo, num copo de geleia. E pegaria uma gilete para picar em pedacinhos a carteira de identidade, o passaporte e o CPF, sem pensar um só instante nas consequências e sem um pingo de medo do futuro.
E jogava na lata de lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu cobertor e engolia minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é só isso.
Se eu pudesse, esquecia o meu nome, o meu passado e a minha história e ia ser ninguém. Ninguém.
Se eu pudesse, não, se eu quisesse. Pois é, tem dias que a gente está assim, mas passa.
Danuza Leão
Danuza Leão, jornalista e escritora, aborda temas ligados às relações entre pais e filhos, homens e mulheres, crianças, adolescentes, além de outros assuntos do dia-a-dia. Publicou seu primeiro livro em 1992. Escreve aos domingos na versão impressa do caderno "Cotidiano".

Elizeth Cardoso

Ontem, fiquei, quase que o dia inteiro, enquanto trabalhava, enquanto comia, enquanto entrava e saía de sites diversos, ouvindo Elizeth Cardoso. Pra mim, senão a melhor, uma das melhores vozes que a música brasileira (MPB) já teve e soma-se a isso (porque voz não é tudo - vide diversas cantoras ótimas que estragam a voz em virtude de um repertório) uma seleção irretocável de músicas e compositores de importância ímpar para a memória da MPB.
Conheci a Divina, era dessa forma que se referiam a ela, através da minha mãe. Na verdade, todas as cantoras contemporâneas à Elizeth Cardoso e as anteriores me foram apresentadas pela minha mãe (eu poderia citar, desconfiando sempre da minha memória, Marlene, Ademilde Fonseca, Emilinha, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Carmem e Aurora Miranda, Nora Ney, Maísa, Carmélia Alves, Zezé Gonzaga, Ellen de Lima, Alaíde Costa, entre tantas outras). Considero esta uma herança riquíssima em se tratando de cultura brasileira e de audição musical, porque, sem dúvida, essas vozes e seus repertórios me fizeram (re)conhecer mais e melhor a nossa língua e a nossa história.
E é claro que depois disso procurei outras cantoras, mais músicas, novos compositores porque investi muito nesse aspecto. 
Tenho aqui comigo em Cascavel, no Rio tenho ainda outros tantos, três CDs prá lá de perfeitos de Elizeth: Canção do Amor demais (1958), Todo sentimento (1989) e Ary Amoroso (1990). Prefiro o que ela divide com Rafael Rabello, Todo o sentimento,  porque "faixineira das canções" (de Joyce), "Camarim" (de Cartola/Hermínio Bello de Carvalho) e "Refém da solidão" (de Baden Powell/Paulo César Pinheiro) que abrem o disco me emocionam até aquele fio de cabelo que faz muito não tenho mais.
Além dessas, "Doce de coco" (de Jacob do Bandolim/Hermínio Bello de Carvalho), "Violão" (de Vitório Junior/Wilson Ferreira) e "Janelas abertas" (de Tom Jobim/Vinícius de Moraes) tocam fundo na alma de quem gosta de música.
As interpretações de Elizeth não são datadas. Parece que ela se reinventou e não perdeu, como tantas, infelizmente, o feeling musical.
Ouvi-la é ouvir tb a minha mãe cantando em casa. Tenho uma foto da minha mãe em um show de Elizeth no falecido Canecão (foi durante muitos anos a maior e melhor casa de espetáculos do Rio de Janeiro). 
Ontem, portanto, foi um dia de boas lembranças. Quem canta...encanta...os males espanta.

domingo, 19 de agosto de 2012

Nas cinzas do meu sonho...


Canção de amor
Saudade torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que não sei de onde vem
Deixaste meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te meu bem
Nas cinzas do meu sonho
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão
Que me invade
Canção de amor, saudade !
Saudade

(Chocolate e Elano de Paula)

Saudade nunca termina no final


Saudade
Saudade a lua brilha na lagoaSaudade a luz que sobra da pessoaSaudade igual farol engana o marE imita o solSaudade sal e dor que o vento traz
Saudade o som do tempo que ressoaSaudade o céu cinzento a garoaSaudade desigualNunca termina no finalSaudade eterno filme em cartaz
A casa da saudade é o vazioO acaso da saudade fogo frioQuem foge da saudadePreso por um fioSe afoga em outras águasMas do mesmo rio

No meio do caminho

Fazia tempo que eu não andava de bicicleta por aqui, primeiro por conta da preguiça, depois por causa do frio e do vento, mas desde ontem, depois que um amigo postou algumas fotos dos Ipês em sua cidade, fiquei a fim de dar umas voltas.
Aí levei o celular e enquanto pedalava (se é que se pode chamar essa volta de "andar de bicicleta" ou de "pedalar") fiz as fotos abaixo.
A pista está linda, florida. Além dos Ipês roxos, amarelos e brancos, há flores espalhadas pelo chão .











sábado, 18 de agosto de 2012

Professora defende tese e conquista título de 1ª doutora travesti do país

Luma Andrade na defesa de tese nesta sexta-feira (20) na Universidade Federal do Ceará (Foto: Igor Grazianno/UFC)

Cearense estudou a aceitação de travestis nas escolas.
Trabalho foi apresentado na Universidade Federal do Ceará nesta sexta.

Luma Andrade na defesa de tese nesta sexta-feira (17) na Universidade Federal do Ceará (Foto: Igor Grazianno/UFC)

A professora cearense Luma Andrade defendeu tese nesta sexta-feira (17), em Fortaleza, e se tornou aos 35 anos a primeira travesti a ter título de doutorado no país. A banca de cinco professores que avaliaram o trabalho durante três horas indicou o material à publicação, segundo Luma. “Para além da nota, a indicação para publicação de um livro é ainda mais importante porque mostra que eles consideraram o trabalho de extrema relevância'', disse. Luma pretende agora seguir carreira política e preparar-se para o pós-dourado.
 
saiba mais 
A doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) estudou o tratamento dado a travestis em escolas de três cidades cearenses para elaborar a tese ''Travestis na Escola: Asujeitamento e Resistência à Ordem Normativa'' . Nas páginas da tese, ao pesquisar 95 casos, Luma diz ter visitado a própria história. Segundo ela, o estudo conclui que há uma ''evasão involuntária'' de travestis nas escolas cearenses e, que em geral, ''a família aceita e a escola não''.
Filha de agricultores analfabetos, Luma nasceu João Filho Nogueira de Andrade na cidade de Morada Nova, a 163 quilômetros de Fortaleza, mas no dia da mulher de 2010, ganhou o direito de mudar os documentos sem a operação de mudança de sexo. “Canalizei toda a energia para os estudos e, assim, fui conquistando respeito de todos. Busquei no estudo uma alternativa de vida melhor”, afirmou.
Aos 18 anos, Luma passou no vestibular para o curso de Ciências da Universidade Estadual do Ceará (Ceará), no campus de Limoeiro do Norte. Em 1998, foi aprovada no concurso para professor efetivo da rede municipal de Morada Nova e também começou a ensinar em escolas estaduais e particulares e depois obteve o título de mestre em Desenvolvimento do Meio Ambiente em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Com o título de mestre, em 2003, ela prestou concurso para a rede estadual de ensino de Aracati e, de quatro vagas, foi a primeira e única aprovada.
 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A flor e o espinho (música)


A flor e o espinho

(Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha)

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
É minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nada por mim (Marina Lima)


Nada Por Mim

Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui

Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai, e eu não fui

Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu

Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar

Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar

A solidão (Alceu Valença)


Solidão

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.
A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...