terça-feira, 15 de outubro de 2013

Por ser, mesmo quando não era, minha professora, ainda que fosse todos os dias, sem exceção.

No próximo dia 19 faz 4 anos que a minha mãe morreu. Pra mim, verdadeiramente, essa data não faz nenhum sentido, porque a mim me parece que ela morre todos os dias. Todos os dias, sem exceção eu tenho vontade de falar com ela para contar como estão todas as coisas por aqui. Mas não é sobre a chegada da data de sua morte que vou escrever.
Minha mãe, assim como eu, era professora. E era uma professora muito dedicada. Gostava muito do que fazia. Me lembro de muitas situações nas quais ela pensava primeiro na escola e nos alunos.
Tenho certeza de que ser professor tem muito a ver com o fato de ser seu filho. Em casa, eu brincava de corrigir provas, brincava com o mimeógrafo, brincava com o quadro negro e o giz. Diário de classe era, então, um sonho, mas com eles eu não podia brincar, naturalmente.
Todos os dias da sua vida, mesmo às vésperas da sua morte, ela me ligou para me desejar um feliz dias dos professores. No último ano de sua vida, na verdade, quem ligou foi a cuidadora. Ela já não estava conseguindo falar bem ao telefone. Mas deu todas as dicas. Eu fiquei do outro lado ouvindo ela falar baixinho, quase um silêncio.
Se ele estivesse viva, certamente, teria me ligado e seria, eu acho, a felicitação mais verdadeira em relação ao dia da nossa profissão. Diria, com certeza, "Liguei, meu filho, para te dar os parabéns pelo seu dia!!!" Isso faz uma falta tremenda. Isso faz muita falta.
Não vou ficar triste por isso. A vida é desse jeito. Primeiro os pais e depois os filhos.
Valeu, D. Heloísa, por ter me ensinado tanta coisa, por ser, mesmo quando não era, minha professora, ainda que fosse todos os dias, sem exceção.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

É só olhar a bússola...

Faz um mês que desembarquei aqui em Lisboa. Uma coisa era vir a trabalho, ficar uns dias e voltar, logo, para o Brasil. Outra coisa é chegar com uma data apenas definida. Ainda que seja por um ano, pouco tempo, a sensação não é/pode ser a mesma.
Aos poucos começo a ter uma rotina, aos poucos mesmo. As primeiras semanas foram para resolver questões mais práticas: onde morar, número de identificação fiscal (o nosso CPF), cartão para os transportes, conta no banco.
Em seguida, conhecer pessoalmente a supervisora portuguesa na Univ. de Coimbra. Depois dessas etapas superadas, enfim descobrir a outra Lisboa, ou seja, a cidade do dia a dia. Naturalmente, que elas não são as mesmas, ainda que se esbarrem, que se encontrem em alguns momentos e lugares.
E, finalmente, o trabalho para aí sim ter o que se chama "rotina eficiente".
(Vou abrir um pequeno parêntese: Sinto muita falta da minha casa em Cascavel. Muita mesmo. Meus livros, discos e tudo do que preciso à mão e (des)organizado a minha maneira. Aqui, tudo meio provisório, mesmo que não seja essa a proposta, mas, tem data de validade. É um ano e só. Fechando parêntese.)
Estar numa capital tem lá seus encantos. Muitas alternativas para tudo, mas é preciso, primeiro, descobrir aonde tudo está. Além disso, ainda que se fale a mesma língua, o português é outro, os nomes nem sempre batem, os sons nem sempre familiares, e o ritmo do idioma local não ajuda muito. Fiquei/fico algumas vezes sem entender *alguma coisa.
Quando é importante, me desculpo e peço para repetir. Se não for, balanço a cabeça, dou um sorriso e fica por isso.
Descobrir aonde tudo está tem um capítulo maior: nem sempre a direção que eu tomo é a que eu deveria estar. Mas como eu mesmo faço a minha hora, chegar um pouco depois do previsto não é, definitivamente, um grande problema.
Quando me perco, aí o google maps dá uma força. Na verdade, ele dá mais do que uma força, ele me salva mesmo. Difícil é saber, para quem não tem muita direção, aonde fica o sul, o norte, ou pior, o sudeste. Aí acho que é deboche. (Fico sempre pensando no Edézio aqui. Para quem não o conhece, é um grande amigo geógrafo que não sabe chegar sozinho no mesmo lugar. Outro parêntese: um dia desses ele estava indo para Maringá e parou para tomar um café, se confundiu com a direção e estava voltando para Rondon. Isso para vocês terem uma ideia de quão perdido é o sujeito.)
Dizem que é só olhar a bússola porque ela aponta para, para onde mesmo? Vou me perdendo e me encontrando, aos poucos vou descobrindo que aquele lugar não é tão longe daquele outro que é continuação desse e assim vou inscrevendo a cidade na palma da minha mão.
Bem, é isso. Tô feliz por estar aqui. E se fosse só isso, já seria bom demais!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

_Está tudo muito mal

Hoje, enquanto o meu almoço não vinha eu prestava atenção a uma senhora que estava a minha frente: sozinha em uma mesa, mas acompanhada de um cafezinho e um copo de água. Companhias frequentes dos portugueses de todas as idades, além, é claro, do cigarro.
O dono da tasca lhe perguntou como ela estava. Ela sequer respondeu. O garçom,  um pouco mais adiante, refez a pergunta. E ela, curta e grossa para os padrões brasileiros, respondeu: _"Está tudo muito mal, por quê?" (com uma cara de poucos amigos) Ele nada lhe disse. Ela não tocou no café e muito menos no copo de água enquanto eu me encontrei por ali.
O dono da taberna insistiu: _"D. Maria do Céu, a senhora está bem? Não vieste ontem!" Ela apenas balançou a cabeça em negativa (a cara, mantinha-a intacta). Ele continuou: _"Fulana de tal (não me recordo o nome da outra senhora a quem ele se referia) esteve aqui ontem a sua procura. Acho que queria ter contigo".
D. Maria do Céu não estava nos seus melhores dias. Resmungou, e entre os dentes nos disse: _"Não veio a minha procura, deve ter vindo por causa da outra senhora". Silêncio.
Eu já estava comendo. Não olhava para um ou para outro, apenas comia. 
Eis que entra uma outra senhora, tão idosa quanto D. Maria do Céu,  e se dirige a esta, se sentando à mesa. _"Estás bem?". Ela nada responde. A segunda senhora pergunta: _"Posso me sentar?" já se sentando. D. Maria, secamente, para não perder o hábito lhe diz: _"Se quiser..."
A segunda senhora insiste: __"Não esteve aqui ontem." D. Maria: _"Eu venho se me apetecer." Silêncio. A segunda senhora: _"Mas vinhas todos os dias." D. Maria do Céu nada lhe responde.
A segunda senhora tentou uma conversa falando do tempo. Perguntou sobre alguém, mas D. Maria do Céu, definitivamente, não estava para conversa.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sabe-lá o que vê, sabe-se lá para onde olha...

Da janela do meu quarto eu vejo outros prédios. Hoje e nos últimos 5 dias, pouco abri as janelas porque chovia/chove. 
Quase não vejo movimento nesses prédios vizinhos. Sei que existem moradores porque de vez em quando avisto um ou outro estendendo roupas, batendo o tapete, fazendo algum trabalho. 
Ontem avistei uma senhora passando roupas. Mas isto é raro. Acho que por ali poucos frequentam as janelas ou estão dispostos a permanecer por muito tempo diante de outros ... prédios.
Vejo quase tsempre, em alguma hora do dia, uma senhorinha bem idosa, que parece estar sozinha, o tempo todo. Ela estende roupas, bate o tapete e abre e fecha as persianas. 
Mesmo chovendo ela aparece à janela para repetir esse ritual... não se preocupa com o tempo que faz lá fora, se chove ou se faz sol há muitas roupas para serem estendida.
Ah, vezinquando tb ela fica a espiar... sabe-lá o que vê, sabe-se lá para onde olha.
A sua janela, no momento dessa foto, estava aberta, mas ela não se encontra por ali. Talvez estivesse envolvida com outros afazeres ou, quem sabe, preparando as roupas para serem estendidas amanhã.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mas que era curiosa, era sim

Hoje, vi uma cena cada vez mais comum entre algumas faixas etárias: as redes sociais são mais importantes do que a interação real entre os membros dessas comunidades virtuais. 
O virtual é mais urgente do que o que se passa a volta, mais real do que a própria realidade. O que se vê não desperta nenhum interesse, a não ser se for para postar imediatamente nas redes. 
Fiquei pensando ao ver a cena e fotografá-la se eles não estariam interagindo via smartphones, uma forma muito mais produtiva, diga-se de passagem, porque, pensei eu (me divertindo com o pensamento), digita-se muito mais rápido do que se pode falar, além de ser muito mais agradável digitar num aparelho que cabe na mão, do que articular sons, respiração, ideias, sentidos etc.
Brincadeiras à parte, a cena me chamou a atenção justamente porque eles estavam muito atentos ao que se passava no smartphone e nada atentos ao que se passava em volta deles.
Essa fotografia foi tirada na Rua do Comércio, local de muito movimento (talvez se possa ver o movimento no reflexo na vitrine), grande circulação de pessoas de grande parte do mundo, além, é claro, do que se pode ver nessa rua: construções históricas, pessoas de todos os tipos, artistas de rua.
Não que eles já não pudessem ter prestado atenção a sua volta, não que esta cena, fotografada por mim, não fosse apenas um milésimo de segundo de todo o tempo que eles passaram ali, mas que era curiosa, ah, isso era.
Acabei de me tocar que eu tb estava com o smartphone em punho, pronto para sacar uma imagem e postá-la nas redes sociais.

domingo, 29 de setembro de 2013

Pra pensar

Milhões de pessoas que sonham com a imortalidade não sabem seque o que fazer numa tarde chuvosa de domingo. Susan Ertz

Se chover, melhor nem acordar

Lisboa não combina com chuva assim como o Rio de Janeiro. Ambas as cidades são feitas para que vc vá para a rua, saia para caminhar, curta o dia e tb a noite.
Meu primeiro final de semana debaixo d'água. Saí para almoçar em um shopping (ainda que eu deteste fazer isso), mas nessas circunstâncias, tempo chuvoso, não restava outra alternativa senão enfrentar lojas, pessoas, comidas plastificadas, crionças etc.
Certamente, não foi o melhor domingo da minha vida, mas diante de toda a vida, nem dá mesmo para reclamar.
Acabei de chegar em casa. Apenas os cabelos não molharam (e para quem me conhece isso não é nenhuma vantagem). O bom foi comprar um chapéu de chuva (isso mesmo: chapéu de chuva, é assim que se diz por aqui) já que, pelo visto, tão cedo o tempo não muda. Bom domingo para quem acabou de almoçar ou como eu se prepara para jantar.

sábado, 28 de setembro de 2013

Se não fizer o comentário certo, a resposta te deixa sem ação

Não é fácil viver a cultura do outro, fácil é falar dela. Fácil é dizer que é nossa a obrigação de compreendê-la etc. etc. etc. Mas na hora H...
Aqui, em Portugal, Lisboa, tenho certas dificuldades na interação. E olha que não sabia disso, e olha tb que me julgava bastante resolvido nessas questões. Bem, acho melhor explicar o que chamo de "interação". Sabe quando vc entra num restaurante e quer puxar uma conversa com o garçon só para entender melhor o funcionamento das coisas? É isso, aquela conversa sem profundidade, que começa, no Brasil, sobre o bom ou mal tempo, sobre o frio ou sobre o calor e que daí vc engata outros assuntos.
Aqui isso não funciona da mesma maneira. E ainda não descobri qual é a maneira portuguesa de se iniciar uma conversa.
Dia desses, num restaurante, perguntei se a comida seria suficiente para a mim. _Será que esse prato é suficiente? Eis que ouço: _ Não sei o tamanho da sua fome!
Ou ainda, "acho que vou a tal lugar", disse eu para uma moça que estava me atendendo na univ. E ela me responde, "acho bom!"
Bem, por hoje, é isso.

Finalmente, aliás, no entanto

Finalmente, depois de tanta reclamação o blog volta a funcionar. Faz dias, tento, sem sucesso, entrar aqui, e ainda, faz dias tento reaver via google e via globo.com administrar essa página. Nem uma e nem outra deram qualquer bola para a minha irritação.
As páginas de reclamação do google não funcionam. Vc envia uma solicitação e eles, sejam lá quem sejam eles, sequer respondem.   Ainda que tenham uma canal para reclamação, uma página para o cliente postar perguntas: tudo falso, ou, pelo menos, sem efeito, o que dá no mesmo.
Os/as atendentes da Globo.com não sabem o que estão fazendo por ali, fingem boa vontade, demoram demais para uma resposta, e, como não resolvem nada, desligam a conexão. E aí, todo mundo já sabe como é: começar outra vez, explicando todos os detalhes, enviando todos os protocolos de atendimento. Um saco e meio cheio. Aliás, sem saco nenhum para isso.
Mas o que vale, de verdade, é pode escrever, ainda que eu tenha perdido esses dias com as reclamações e não tenha seguido o conselho do Alexandre (Zanella), para ir escrevendo e guardando os textos na esperança de que um dia o blog voltasse. Ainda que os textos não tenham sido escritos, eles estão guardados em algum lugar a espera de uma luz para seguir em frente.
Vou com calma.
A foto acima foi tirada em Coimbra, depois da visita a minha supervisora de pós-doc (o que dá um post).

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar...

Já falei, na postagem anterior, sobre a eficiência de alguns serviços aqui em Portugal, ops, aqui em Lisboa. Mas hoje me dei conta de que não se vive apenas disso, ou, só disso.
Lisboa, sem dúvida, é uma linda cidade, e moro numa zona de fácil acesso aos bairros que me interessam, aos lugares aonde preciso ir para fazer o meu trabalho.
Por aqui, assim como no Rio de Janeiro, as pessoas têm animais em casa. E tb como no Rio ou em qualquer outro lugar, acredito, precisam ir às ruas para passear com os seus pets para que eles possam se exercitar, fazer as necessidades etc. E o fazem com frequência. Hoje, enquanto eu resolvia questões de banco, percebi que haviam muitos cachorros e seus donos a passear pelas ruas. No entanto, tb percebi que os cachorros fazem as suas necessidades em todos os lugares e o que fazem ficam ali sem que seus donos se preocupem, sem que seus donos limpem os feitos de seus cães.
Existem praças lindas repletas de cocô de cachorro, existem espaços entre prédios que é impossível circular por conta da quantidade de bosta canina. Fiquei bastante surpreso com essa despreocupação portuguesa.
Aos poucos vamos percebendo como a cidade funciona. Amanhã quero escrever sobre o (mal) humor que é muito comum por aqui.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Em Potugal

Bem, cheguei faz 4 dias. Nesse pouco tempo deu para ter uma ideia de como funciona Lisboa. E, sinceramente, estou gostando muito do que tenho visto. Os serviços têm funcionado bem. Em dois dias, consegui fazer o NIF (Número de Identificação Fiscal) que me permite residir em Portugal, o passe para pagar o metro (metrô) com desconto e a conta corrente. Fui sempre bem tratado. De uma forma geral, os serviços são feitos com agilidade.
Tem coisa pior no Brasil do que as filas em bancos? Claro que tem. Aqui os bancos funcionam bem, sem filas e prestam serviços sem aquela sensação de que estão nos fazendo um favor.
Além disso, tenho comido bem. Tenho comigo, na verdade, muito bem. E a grande vantagem de Liboa, Portugal de uma forma geral, é a comida com um preço justo. Para quem gosta de frutos do mar, é um prato cheio.
Não vou falar hoje dos pontos turísticos da cidade. Isso fica para adiante. Até porque já postei, por aqui, quando de outras vindas ao país, fotos e comentários.
Por hoje é só.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...