sexta-feira, 14 de março de 2014

Trabalho de Conclusão de Curso

O Trabalho de Conclusão de Curso (doravante, TCC), normalmente, é uma das primeiras produções acadêmicas dos estudantes de graduação. Claro que eles vão experimentando a escrita científica ao longo do curso de graduação: nas provas, nos trabalhos, na iniciação científica, no PIBID, entre outras atividades.
No entanto, o TCC é realmente o trabalho que encerra o período da graduação. E para ter sucesso no seu fechamento, é importante que o aluno esteja atento às etapas desse processo:
O primeiro a se fazer é encontrar um tema que realmente seja de interesse. Não dá mesmo para ficar no último ano da graduação com todas as disciplinas que ainda precisam ser concluídas e ainda ter que escrever, ler sobre um assunto que não seja de seu interesse pessoal. Essa decisão tb pode ser tomada juntamente com um professor com o qual o aluno queira trabalhar. Às vezes o aluno fica meio perdido e pensar com outro sempre é melhor: pensar junto sempre é mais produtivo.
Tema decidido, tem que procurar agora um orientador. E, de repente, o tema pode passar por alguns ajustes, porque tb não dá para um professor orientar um tema sobre o qual não tem qualquer interesse, domínio ou leitura, mesmo que seja apenas um trabalho de conclusão de curso. Para o professor é um TCC, mas para o aluno não é tão simples assim.
Superada essa etapa, não se pode mais perder tempo. O ideal é que o aluno já vá pensando no tema no final do penúltimo ano, porque aí no início do último ele já passou por essa fase de indecisão.
O próximo passo é o cronograma, ie., o aluno precisa organizar um passo a passo para realizar todas as tarefas de modo que a data final para a apresentação do trabalho não seja prejudicada por alguma etapa não cumprida. 
Em geral, é bom pensar que o texto final precisará passar por uma revisão, realizada por outra pessoa. E isso demanda tempo e disponibilidade do revisor. Seria bom que o revisor tivesse, pelo menos, uns 15 dias para realizar essa tarefa, e ainda o aluno tivesse uma semana para corrigir possíveis problemas.
Isso quer dizer que o aluno precisa, entre a data de fechamento (revisão, impressão, encadernação) e a data para protocolar as cópias uns 30 dias. Tudo isso deve ser pensado quando da elaboração do cronograma. Este deve ser cumprido rigorosamente para que nada possa atrapalhar o andamento de cada etapa.
Em geral, o primeiro passo é a elaboração do projeto: 
1. Escolha do tema; 
1.1 Delimitação do tema; 
2. Problematização; 
3. Justificativa; 
4. Objetivos; 
4.1 Objetivo geral; 
4.2 Objetivo específico; 
5. Fundamentação teórica; 
6. Metodologia; 
7. Cronograma

O item 1 já foi falado. 
Vamos agora para o item 1.1 É importante que o aluno saiba que um TCC tem que ser feito juntamente com, como já foi falado, as disciplinas do último ano, com as provas dessas disciplinas, com os trabalhos para essas disciplinas, por vezes, ainda, com estágios. Por isso, delimitar o tema é fundamental. Ninguém vai mudar o mundo com um TCC. E nem vai conseguir fazê-lo pensando em diversos objetivos. Não dá tempo. Tem que ser prático, objetivo, racional nessa delimitação. O aluno, e tb o professor, precisa saber que tem que haver foco. Ou seja, apenas um objeto de investigação e mesmo assim um recorte bastante significativo sobre ele.
Por exemplo, vc vai estudar um tema que lhe interessa nos jornais OU revistas de grande circulação. Não dá para pensar que vai conseguir fazer isso em todos os exemplares do jornal ou revista da última década ou ano. Não dá tempo. Vc precisará definir uma quantidade mínima de material para ser analisado de forma que consiga dar conta de toda essa leitura. O senso de realismo é fundamental. Por isso tb que existe a figura do orientador para mostrar isso ao estudando, que, em geral, tem pouco experiência.

2. A problematização: todo trabalho científico se inicia com a formulação de um problema e tem como meta procurar uma solução para ele. A visão clara do tema (veja como é importante a definição do tema) se completa com a sua formulação em termos de problema. Ou seja, o tema escolhido deve ser “problematizado”. A colocação clara do problema desencadeia a formulação de hipóteses a serem comprovadas no decorrer do trabalho.
A problematização é a formulação de uma questão que se buscará responder por meio da pesquisa, ie., o problema é a pergunta que a pesquisa pretende resolver.
Por exemplo, qual a influência dos meios de comunicação de massa na produção escrita dos alunos do ensino médio sobre tal assunto? Uma ex-aluna pesquisou o tema "Casamento entre pessoas do mesmo sexo" e resolveu verificar de que forma o texto de um jornal influenciaria ou não da produção escrita de alunos no último ano do ensino fundamental. Ela pediu que os alunos produzissem um texto sobre esse tema (sem qualquer discussão sobre ele, apenas a partir do que eles já sabiam, tinham ouvido etc.), depois trabalhou com esses alunos  2 textos de diferentes jornais, a partir do mesmo ponto de vista sobre o casamento entre pessoas do mesmos sexo e depois ela pediu que os alunos (re)fizessem a produção textual sobre o tema lido e debatido em sala de aula. A hipótese dela era a de que o texto jornalístico iria influenciar na produção desses alunos.

3. Justificativa: 
Como o próprio nome indica, a justificativa é dizer o porquê da importância de produzir tal pesquisa. Por que vc acha que desenvolver o seu tema é importante? Em que ele pode contribuir para melhorar alguma coisa? Para se pensar mais sobre algum assunto etc.? Não é o lugar para ficar exaltando de forma enlouquecida o tema por vc escolhido. Não é isso. Pode-se justificar o tema pela importância social de se discutir aquele assunto. Ou de saber o funcionamento daquele assunto junto aos alunos, numa comunidade etc. 

4. Objetivos:
Eles constituem a finalidade do trabalho, ie., a meta que se pretende atingir com a elaboração da pesquisa.
São eles que indicam o que um pesquisador realmente deseja fazer. Sua definição clara ajuda em muito na tomada de decisões quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa.
Podemos distinguir dois tipos de objetivos em um trabalho científico: 4. Os objetivos gerais e os 4.1 Os objetivos específicos.
Como o próprio nome diz, os objetivos gerais são aqueles mais amplos. São os de longo alcance. Em geral, o primeiro e maior objetivo do pesquisador é o de obter uma resposta satisfatória ao seu problema de pesquisa.
Para se cumprir os objetivos gerais é preciso delimitar metas mais específicas dentro do trabalho. São elas que, somadas, conduzirão ao desfecho do objetivo geral. Essa metas mais específicas são os objetivos específicos. Se faz mediante o emprego de verbos no infinitivo: contribuir, analisar, descrever, investigar, comparar...

5. Fundamentação teórica:  

Opções teóricas só podem nascer das exigências internas que o problema da pesquisa cria. Para optar, precisamos conhecer as alternativas que se apresentam. Isso implica conhecimento da bibliografia existente.
As escolhas teóricas, que somos necessariamente levados a fazer, não podem ser frutos de um impulso, ainda menos de uma imposição, ou para estar de acordo com a especialidade do orientador de uma pesquisa, ou, o que é ainda pior, simplesmente para agradá-lo. 
A fundamentação é também chamada de "embasamento teórico" ou de "teoria de base", o quadro teórico de referência é algo que brota diretamente do levantamento bibliográfico para a elaboração do estado da arte de um problema de pesquisa. Tendo brotado do estado da arte, a fundamentação teórica implica um avanço em relação àquele, na medida em que resulta de uma escolha consciente, crítica e avaliativa da teoria ou compósito teórico que está melhor equipado para fundamentar o desenvolvimento da pesquisa, em consonância com a metodologia que designa.
O quadro de referência teórico consiste no corpo teórico no qual a pesquisa encontrará seus fundamentos. Todo projeto deve conter os pressupostos teóricos aos quais as interpretações irão se conformar. Eles são inevitáveis simplesmente porque não podemos evitar os pressupostos, sob pena de ficarmos imersos tão somente no senso comum.

6. Metodologia
:

Para começar a falar sobre método científico e sua história, uma boa dica é exibir o filme sobre a vida de Galileu Galilei, que empreendeu uma verdadeira revolução no pensamento científico, desenvolvendo as bases do que ficou conhecido como método experimental.
As aplicações do método científico e seus procedimentos também podem ser analisadas a partir dos filmes Fim dos Tempos e Óleo de Lorenzo. Este último, dirigido por um médico e que trata de um empreendimento de descoberta científica levada adiante pelos pais do menino Lorenzo, portador de leucodistrofia.
Evidentemente, o cinema reinterpreta a ciência em todos esses filmes. Por isso mesmo, nos ajudam a pensar sobre ciência (não de maneira fria, como em um manual científico), mas a partir de suas questões éticas e os dilemas humanos.

É no momento da indicação dos procedimentos metodológicos que o pesquisador deve localizar o tipo de pesquisa que está realizando, teórica ou aplicada, histórica ou tipológica, crítica ou sistêmica, empírica com trabalho de campo ou de laboratório etc. A metodologia está SEMPRE estreitamente ligada a essa tipologia. 
Além disso, os métodos devem estar perfeitamente afinados com o problema proposto e com as hipóteses. Tendo o problema em mente, o pesquisador deve se perguntar: "como e com que meios" poderei resolvê-lo? Este "como e com que meios" entrelaça as hipóteses e o método. 
As hipóteses funcionam como sinalizações para o caminho a ser percorrido. Por isso, o método deve estar sintonizado nessas sinalizações. Além disso, não pode haver contradição entre o método e a fundamentação teórica, pois, muitas vezes, o método advém diretamente do quadro teórico.


7. Cronograma:

O cronograma da pesquisa deve ser estabelecido com indicação das etapas da pesquisa que serão cumpridas em cada período mencionado.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Rede Social tem dessas, você mira uma mosca e acerta um unicórnio

Ontem me meti mais um vez numa discussão sem fim no Facebook. Postei um comentário sobre amigos que postam mensagens e uma amiga tomou as dores, como se eu estivesse me referindo a ela. Não estava. Nem sei, na verdade, o porquê da sua reação. Sei apenas que ela é evangélica e que o seu filtro sempre é o religioso: seja lá qual for o assunto.
Ela entrou na minha página e postou o que queria (como se fosse uma resposta à minha postagem), mas não soube lidar com a minha contra-resposta ao seu comentário. Sentiu-se ofendida e me acusou de ser grosseiro, mal-educado, sem ética profissional pelo o que eu lhe disse. Ainda perdeu o senso de humor quando eu fiz uma brincadeira sobre a "nossa opinião" (Mas acho que a gente pensa assim...).
Não me senti na obrigação de (re)explicar o que eu queria dizer, o que eu lhe disse, enfim, deixei que ela do seu lugar resolvesse as suas questões. É assim que me viro quando dou a minha opinião sobre algum assunto. O que faço com o que me respondem pertence apenas a mim e a ninguém mais.
Ela ainda me disse que se eu não sabia lidar com as opiniões dos outros eu deveria abandonar o Face e o meu blog. Ops, mas eu sei sim lidar com as opiniões dos outros. Tanto sei que mantenho aqui e lá os comentários opostos aos meus pontos-de-vista. Desde que eles estejam devidamente assinados, é claro. Não dá para permitir opinião anônima.
Bem, tem um botãozinho no Face ("seguindo", entre "amigos" e "mensagem") que funciona exatamente como um controle de TV, ou seja, se vc não quiser seguir o que algum amigo posta, basta desmarcá-lo e pronto (está insatisfeito com uma programação, mude de canal). Nem é preciso deletá-lo do seu grupo de amigos. Faço isso com frequência quando acho que alguém é reacionário, quando acho que não sou obrigado a ver certos compartilhamentos. É assim que funciona. Inclusive o Face dessa amiga, por quem tenho um grande carinho, está desmarcado, não sigo as suas postagens. Façam o mesmo comigo se acham que deve ou me excluam, se acharem tb que é mais acertado. Já fui excluído do círculo de alguns amigos e não morri por isso. Ninguém, acho, morre por isso.
O que não dá para admitir é que eu tenha que me comportar a partir do que julgam alguns. Já pensou que roubada?! Uns dizem para me comportar assim e outros me dirão para me comportar de outro jeito. Melhor me comportar do jeito que julgo mais acertado.
Rede Social tem dessas, vc mira uma mosca e acerta noutro alvo.
Bem, acho melhor eu voltar ao trabalho porque o tempo ruge, ops, urge.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Ex-aluno e grande amigo

Tenho muitos amigos que são ou que foram meus alunos entre os meus melhores amigos. Nunca separei o fato de ser aluno da possibilidade de fazer parte da minha vida, até porque eles, querendo ou nao, por um período, pelo menos, fazem/fizeram parte da minha vida.
E posso fazer aqui uma lista enorme de ex-alunos que eu tenho um carinho enorme. Só não o farei porque sei que, certamente, vou me esquecer de algum e não quero parecer injusto.
É claro que tb tenho ex-alunos que nao gostam de mim ou que querem me ver morto, mas o post nao é sobre essa raça-ruim. (rs)
Faz uns 20 anos que saí do Rio de Janeiro para trabalhar no Paraná e bem antes disso eu já estava em sala de aula, no ensino fundamental e médio. Trabalhei em diversas escolas no Rio de Janeiro, quase todas na zona oeste (principalmente em Campo Grande, Santa Cruz, Itaguaí, entre outros bairros). E deixei por lá grande amigos.
Alguns eu consegui reencontrar ou não perdi o contato, mesmo estando longe durante todo esse tempo. Na verdade, eu quero dizer que eu estava trabalhando fora do Rio, mas mantinha contato com a cidade por conta da família, dos amigos etc. As férias, quase todas eu passava no Rio e encontrava alguém em algum momento.
Mas, não foi assim com todos eles. 
Eu tinha um aluno chamado Marcelo, do Colégio Analice, em Campo Grande, que já era um grande amigo por vários motivos: ele era muito bem humorado, era engraçado, me tratava da mesma forma como ele tratava os seus amigos, era inteligente, gente boa, meio malandro, ou seja, tinha todas as características que fazem de alguém uma pessoas especial, pelo menos, pra mim.
Ficamos muitos anos sem nos ver, sem nos falar etc. Aí com essa história de Rede Social tomando conta da internet no Brasil eu passei a procurá-lo, sem qualquer sucesso desde 2009, quando participava do Orkut. 
Sempre dava um jeitinho de, ao encontrar algum amigo em comum, perguntar se tinha alguma informação da criatura ou procurar entre os amigos se ela estava por lá. Tudo em vão, foram mais de 15 anos sem notícia, sem qualquer notícia e a chance de reencontrá-lo ficava cada vez mais distante porque em 15 anos um adolescente muda muito.
Aí, sem que eu estivesse pensando nele ou procurando, vejo uma fotografia, numa página de uma amiga que eu sequer imaginava amiga dele, parecida com ele. Olhei, olhei, olhei outra vez...vi a marcação Marcelo Pereira e me lembrei do sobrenome, esquecido durante todo esse tempo. Batata!!!! Era aquele cara lá do final dos anos 80.
Mandei uma menagem inbox e fiquei ansioso esperando por alguma resposta. E veio logo a confirmação de que se tratava da mesma pessoa. Foi uma felicidade enorme reencontrá-lo, principalmente porque estava bem, feliz, realizado. 
A forma como ele se dirigiu a mim não me deixou com qualquer dúvida: ainda éramos amigos.
Sei que redes sociais servem tb para isso. Sei que ela cumpriu o seu dever de aproximar, ainda que virtualmente, os nossos dias. Foi um reencontro especial. 


terça-feira, 4 de março de 2014

Seis meses depois de chegar em Portugal e eu ainda descobrindo coisas e me descobrindo.

Dia 14 próximo faz seis meses que desembarquei em Portugal para, como alguns sabem (engraçado achar que estou escrevendo para alguém), estudar.
Foram, como dizem, muitas emoções, desde as mais estressantes, como a burocracia, comum a todos, sem exceção, os países, ou ainda como resolver, foi uma peregrinação inútil, as questões para receber uma medicação do Brasil (que nao existe a dosagem por aqui), até as sensações mais agradáveis, como sair de um lugar de coitadinho, de vítima, de colonizado e passar a gerir o meu dia a dia ocupando um lugar de quem não está pedindo qualquer favor a nenhum português ou a nenhuma instituição portuguesa. Tenho uma bolsa de estudos do Brasil e o meu contato na univ. de Coimbra tb tem benefícios com a minha vinda para o programa.
Hoje, ando pelas ruas de Lisboa, principalmente, sem aquela insegurança primeira que me deixava angustiado. Preciso chegar a algum lugar e voltar para casa e nada pode/deve me atrapalhar.
Claro que não passei por todos os lugares, nem conheço um terço dessa cidade, pequena, é verdade, mas sei me localizar bem. Depois de algumas esquinas desconhecidos, consigo saber aonde estou e como devo fazer para chegar/sair, voltar ou começar tudo outra vez.
A saudade é proporcional ao tempo afastado, mas, preciso ser honesto, depois que comecei a frequentar as aulas na Univ. de Coimbra me sinto um pouco mais integrado ao país. Antes eu estava apenas fazendo coisas sozinho demais: indo à biblioteca nacional e passando uma grande parte do meu dia lendo os jornais portugueses.
Na sexta-feira passada, todas as sextas tenho aulas na pós-graduação da comunicação social em Coimbra, fui convidado por duas colegas de aula para almoçar e isso me deixou muito feliz. É uma integração. São duas brasileiras, há, em sala de aula, um número enorme de brasileiros se pensarmos que estamos em outro país, que, não compartilhamos, quase sempre, o mesmo ponto de vista sobre os temas discutidos, mas que são, como eu, adultas o suficiente para separar uma coisa da outra. Foi um almoço agradável, falamos, praticamente sobre o carnaval em Portugal.
As viagens tb são outra parte importantes dessa minha chegada por aqui. Estou perto de quase todos os lugares que gostaria de conhecer. Me prometi, a partir de fevereiro, viajar, pelo menos, uma vez por mês para os lugares desconhecidos. O que seria mais do que suficiente e muito mais do que eu imaginei fazer durante a minha vida.
Viajar para um brasileiro não é nada fácil. Nós, professores, podemos vezinquando viajar para algum congresso com algum auxílio da própria universidade, já que ela tb se beneficia desse subsídio.
Bem, acho que é isso, por enquanto.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Da Série Contos Mínimos

Não sabia o que fazer com algumas das minhas coisas assim que me mudei da casa de meus pais: uma cama de solteiro, os livros da escola, alguns gibis, uma vela queimada, objetos da minha infância que não caberiam no meu novo quarto. Onde colocaria os meus soldadinhos? O que fazer com aquela coleção de moedas? Nada disso dizia mais sobre mim ao mesmo tempo que aquilo ainda me tinha muito mais do que o novo lugar que me esperava. Foi assim que passei a viver em dois mundos distintos. Um outro sem história. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu olho para o outro do meu lugar

Listas generalizando um país ou o comportamento de pessoas da mesma nacionalidade são, para mim, sempre uma chatice. Não gosto de ouvir/ler que franceses são assim ou assados ou que brasileiros fazem isso ou aquilo em alguma situação, ou ainda que os portugueses sempre se comportam da mesma maneira quando o assunto é ... e em geral não dou qualquer atenção.
Mas, hoje, recebi via Facebook uma lista de um americano que se aventurou por São Paulo. Casado com uma brasileira,  morou na maior cidade da América Latina por três anos. Durante esse tempo observou os brasileiros e alguns comportamentos nossos além do funcionamento da cidade e do país.
Não foram boas as observações e impressões do americano em relação ao Brasil e aos brasileiros. Algumas dessas observações/impressões sobre nós eu não concordo, acho, como já disse acima, que não passam de generalizações, mas não duvido de que tenham ocorrido em algum momento. Outras observações são bastante comuns e não me orgulho delas. É claro que não vou comentar todas elas, porque a lista é enorme, mas as que mais me impressionaram (e incomodaram) sobre como agimos ou somos, vou comentar:

Assim ele começar a lista:
1. Os brasileiros não têm consideração com as pessoas fora do seu círculo de amizades e muitas vezes são simplesmente rudes. Por exemplo, um vizinho que toca música alta durante toda a noite… E mesmo se você vá pedir-lhe educadamente para abaixar o volume, ele diz-lhe para você “ir se fud**”. E educação básica? Um simples “desculpe-me “, quando alguém esbarra com tudo em você na rua simplesmente não existe.

3. Os brasileiros não têm respeito por seu ambiente. Eles despejam grandes cargas de lixo em qualquer lugar e em todos os lugares, e o lixo é inacreditável. As ruas são muito sujas. Os recursos naturais abundantes, como são, estão sendo desperdiçados em uma velocidade surpreendente, com pouco ou nenhum recurso.

4. Brasileiros toleram uma quantidade incrível de corrupção nos negócios e governo. Enquanto todos os governos têm funcionários corruptos, é mais comum e desenfreado no Brasil do que na maioria dos outros países, e ainda assim a população continua a reeleger as mesmas pessoas.

5. As mulheres brasileiras são excessivamente obcecadas com seus corpos e são muito críticas (e competitivas com) as outras.

Bem, vou começar pelo número 5. Uma grande parte das mulheres  e homens brasileiros é mesmo obcecada pelo corpo, mas isso não é uma característica exclusivamente nossa em detrimento de outras culturas ocidentais. O número de cirurgias plásticas realizadas por mulheres/homens americanos de todas as idades é maior do que o que acontece no Brasil, só por exemplo. 
Além disso, basta ter acesso aos canais americanos de TV para compreender como esse comportamento muito mais americano do que brasileiro é cultuado nas terras do Tio Sam.
Além de tudo isso, o padrão de beleza reproduzido quase que mundo afora "imprime" uma padronização nos corpos. Por exemplos, as brasileiras não gostavam de peitos grandes, mas hoje em dia a quantidade de prótese de silicone tamanho G é muito comum entre elas ou, pelo menos, no imaginário do que seja o tamanho ideal de peitos.
Os dados abaixo são de uma pesquisa de 2011.

NÚMERO DE PROCEDIMENTOS REALIZADOS EM 2011
Estados Unidos
1.094.146
Brasil
905.124
China
415.140
Japão
372.773
Itália
316.470
México
299.835
Coreia do Sul
258.350
India
207.049
França
191.439
Alemanha
187.193

O brasileiro não tem mesmo cuidado com o meio ambiente (3) e joga lixo em toda parte, mas outra vez isso não acontece apenas no Brasil. Viajo com certa frequência e poucas vezes vi cidades limpas ou nativos muito preocupados com a limpeza da sua cidade. O que já ouvi e isso também é bastante comum são os nativos culpando os estrangeiros da sujeira que se vê espalhada rua afora: "Tá assim porque tem turista demais!".
A Corrupção (4) também não é apenas suportada em território brasileiro. Isso não é próprio do Brasil. Mas que temos um grau elevado de suportabilidade desse comportamento, não se pode negar. Acho até que agimos assim porque em algum grau consideramos a corrupção um mal menor. O que é uma pena.
Por exemplo, estou em Portugal e por aqui o comportamento em relação ao político corrupto não é diferente do Brasil. Claro que isso não justifica a forma como agimos em relação a isso na Terra de Santa Cruz, mas também não dá para afirmar que é um comportamento do brasileiro. Não é mesmo!!!!!
A falta de respeito (1) com o próximo me envergonha muito. Já passei por situações semelhantes à descrita pelo americano, mas também já presenciei o contrário, um grande respeito. Por isso dizer que o brasileiro não respeita não é verdade. Existem brasileiros educados e mal educados, não dá para generalizar. Ponto.
E também já presenciei muito gringo grosso, sem um pingo de educação. Já fui maltratado fora do Brasil.

15. A comida pode ser mais fresca, menos processada e, geralmente, mais saudável do que o alimento americano ou europeu, mas é sem graça, repetitivo e muito inconveniente. Alimentos processados, congelados ou prontos no supermercado são poucos, caros e geralmente terríveis.

Dizer que a comida brasileira é sem graça é um problema pontual desse americano: ou ele cozinha mal pra burro ou ele gosta apenas de hambúrguer e comida processada. Mas aí é uma questão bem pessoal, porque temos uma variedade enorme de comidas. Dá pra dizer que em cada um dos estados brasileiros têm tempero, sabor, pratos diferentes.

18. Eletricidade e serviços de internet são absurdamente caros e ruins.

Tenho que concordar em gênero e número. Pagamos muito por um serviço bosta de internet, eletricidade, telefonia, TV, entre outros.

22. Calçadas no meu bairro são cobertos com mijo e coco de cães que latem dia e noite.

Isso é possível que aconteça, como ele mesmo escreve, no bairro onde ele morou, mas também não é próprio do Brasil. Aqui em Lisboa, por exemplo, e em Paris, as calçadas são repletas de cocô e mijo de cachorro. Quase ninguém recolhe as fezes de seus animais. Dia desses, que raiva, enterrei minha bota numa cocô enorme que estava na saída do prédio onde moro.

40. Todas as cidades brasileiras (com exceção talvez do Rio e o antigo bairro do Pelourinho em Salvador), são feias, cheias de concreto, hiper-modernas e desprovidas de arquitetura, árvores ou charme. A maioria é monótona e completamente idênticas na aparência. Qualquer história colonial ou bela mansão antiga é rapidamente demolida para dar lugar a um estacionamento ou um shopping center.

Não dá para comparar uma cidade de sei lá quantos anos com nenhuma cidade brasileira. Mas é verdade quando ele diz que não preservamos o nosso patrimônio, pelo menos de uma forma geral. Faz pouco tempo que compramos a ideia de preservar a história. Muita coisa se perdeu. Ou por conta de grandes investimentos imobiliários, isso tem acontecido muito no Rio de Janeiro, que enchem os bolsos de alguns e excluem tantos, a história é tombada, mas esse tombamento tem o sentido de pôr abaixo.
Também vi em alguns lugares do chamado Primeiro Mundo lugares mal conservados. Estacionamento e shopping onde poderia/deveria ser uma outra coisa.
Acho, pra ser bem sincero, que a gente vê muito aquilo que quer. Posso olhar para as coisas boas ou olhar exclusivamente para o que é ruim e não presta. Posso também entender que tudo é um processo e que alguns comportamentos que para mim são comuns e importantes não o são para os outros. 
Posso me deslumbrar com um outro país e achar o meu uma porcaria. Posso, ao contrário, supervalorizar o nacional em detrimento do outro sem me dá conta de que o meu olhar é filtrado pelo que eu sou.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A sua vontade não pode ir além disso. Isso não é normal!

Tenho ouvido ultimamente, com mais frequência, manifestações  em prol da "Família", da "família tradicional", da "família cristã", da "família normal" etc. E, é claro, que isso tem com muita frequência  também me irritado muito, me irritado demais, me irritado profundamente a ponto de eu ficar horas pensando a respeito dessas "manifestações". Elas, as manifestações, partem de muitos lugares, sobretudo de pessoas ligadas às religiões.
Isso mesmo, manifestações ligadas às pessoas que pregam o "amor ao próximo", um dos mais importantes princípios religiosos. Contraditório, né? Somos assim, contraditórios.
Essas manifestações não são na verdade em favor dessa ou daquela composição familiar, as citadas acima, mas, na verdade, contrárias as ditas "novas" formas de organização de famílias. Sobretudo, ou principalmente, às famílias organizadas a partir de duas pessoas do mesmo sexo: homem e homem ou mulher e mulher, ou seja, as famílias homoafetivas.
O que me deixa verdadeiramente irritado é o fato de que quem se manifesta contrariamente às "novas" formas de composição familiar não faz ideia (na verdade, finge não fazer) de que o que se adjetiva por "nova" não tem novidade alguma. A novidade está no fato de as pessoas, esses que compõem a "nova organização familiar", não mais se esconderem dentro de suas casas envergonhados de seus sentimentos.  E isso, pelo visto, é o que anda incomodando tantas pessoas, a possibilidade de se demonstrar que o amor não é, ou melhor, nunca foi restrito às pessoas heterossexuais. Amor não escolher orientação sexual, por falar nisso.
Sempre existiu homossexuais. Isso é fato, mas a novidade está justamente na insatisfação de ter que se comportar como se não fosse.  Isso incomoda mesmo muita gente, mas por quê?
Primeiro, por uma incapacidade de agir em outras frentes. Se se tivesse outras coisas para fazer e se preocupar, muito provavelmente, não haveria tempo para discutir o desejo do outro. Quem tem muito o que fazer, quem tem a sua vida para se preocupar não tem tempo para isso. Ou, quem se preocupa muito com a vida dos outros está, na verdade, deixando de olhar para a sua própria vida, talvez porque assim seja mais fácil viver.
Depois, se a preocupação fosse mesmo com o que se entende por "família normal", aquela composta por um casal heterossexual e seus filhos, deveria haver uma organização contrária à  tudo o que desestabilizasse essa organização. E esse movimento não existe.
E ainda, em "nome da família tradicional" soa mal pra cacete, primeiro porque se as famílias nunca foram compostas exclusivamente dessas maneira. Minha família, por exemplo, era formado por mim e minha mãe, apenas. Ficamos assim durante muito tempo. E olha que eu não era exceção, eu tinha muitos amigos que viviam da mesma forma. Além de outras formadas por um homem e seus filhos, por avós e netos, por irmãos apenas etc. etc. etc.
Sempre houve, como já estamos cansados de saber, pessoas do mesmo sexo vivendo como casais. Isso é histórico. Não há novidade alguma nisso. A novidade está, repito-me, no desejo de requerer esse direito do Estado, ou seja, não mais se acomodar fingindo que aquele com quem se divide a casa é um primo, sobrinha, amigo, colega de trabalho etc.
Fico sempre me perguntando se essas manifestações não estariam mesmo acontecendo justamente porque não há mais volta em relação a isso. Daqui para frente os ganhos, pelo menos, no Brasil, serão todos, mais cedo ou mais tarde, na direção do Estado reconhecer os direitos de todos os cidadãos, sem distinção.
Daqui para frente, e não adianta, achar que poderia ser diferente, não vai ser, não há mais tempo para isso, os homossexuais (incluo aqui todos da sigla LGBTT) vão exigir direitos e espaços nunca antes exigidos, porque eles, os espaços e direitos, são de todos.
Não adianta espernear, pedir a Deus (até porque Deus não vai entender seus argumentos "velhos" e "tradicionais), chorar, é um caminho sem volta: todos temos os mesmos direitos. E a sua vontade não pode ir além disso. Você não pode querer que todas as pessoas se comportem de uma mesma maneira. Isso não é normal!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Nunca mais consigo ser a mesma pessoa

Hoje, me mandaram um vídeo de dois homens gays sendo espancados com pedaços de madeira até a morte. Esse horror aconteceu diante de alguns policiais e de muita gente. Foram as cenas mais violentas que consegui ver na minha vida. Fiquei, ainda estou, em choque com o que vi.
Sei de muita violência, sei de coisas terríveis que acontecem mundo afora. Sei do que o homem é capaz. Sei que se mata por qualquer coisa. Sei que as pessoas são tomadas por um ódio e em nome dele fazem coisas inacreditáveis, mas nunca tinha visto cenas tão chocantes.
É claro que não vi todo o vídeo, porque não tive estômago para tanto. Não gosto nem que me contem essas coisas, porque fico imaginando a situação. Sei, é claro, que não querer saber não muda absolutamente nada, mas eu sofro menos. E me projeto sim dessa violência sobre a qual eu nada posso fazer.
Depois que eu voltei para a minha casa (eu, depois de ver o vídeo, saí para dar uma volta para ver se conseguia tirá-lo da minha cabeça), procurei na internet informações sobre ele (Two gay men beaten to death with lumps of wood) porque não queria acreditar que aquilo era verdade, por isso descobri que aquelas cenas terríveis se passavam em Kiambu, que fica no Quênia, e que, infelizmente, o vídeo era verdadeiro.
Há controvérsias sobre o que motivou o espancamento dos homens,  em alguns comentários dizem que eles eram ladrões e noutros que morreram por ser homossexuais. Mas todos os que comentaram o vídeo mostravam-se horrorizados, assim como eu me senti. As postagens estavam em inglês e o meu inglês não me permite compreender tudo o que se escreve, mas consegui ler o suficiente para saber que aquilo também deixara outras pessoas, ao redor do mundo, tão chocadas quanto eu ("I dont need to see the visual of such gruesome violence or force it upon my friends. The story is awful enough. Questioning the need to view brutal killings doesn't make me any less comitted to equal rights.").
Acho que nunca mais consigo ser a mesma pessoas depois dessas cenas.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"O que é que eu tenho com isso?"

Bem, tb quero entrar nessa discussão. Não dá mesmo para ficar indiferente quando o assunto é racismo. Ou melhor, ficar indiferente seria tão racista quanto o racista mais radical. Só que protegido por um silêncio aparente. Protegido pelo "vamos manter a calma nessa hora." Impossível!
Não sei se a atriz e apresentadora Fernanda Lima disse mesmo que ela "não tinha nada a ver com isso" referindo-se ao fato da FIFA -Federação Internacional de Futebol Associado - ter (des)escolhido a também atriz Camila Pitanga e o ator Lázaro Ramos, ambos negros, e colocado em seus lugares o ator Rodrigo Hilbert e a própria Fernanda Lima.
De qualquer forma, vamos fingir que ela não disse isso e que a declaração tenha sido uma invenção da jornalista Mônica Bérgamo.  Das duas uma: se alguém diz que eu disse alguma coisa, tem que provar. Caso contrário corre um grande risco de ser processado por calúnia e difamação, né verdade? E ainda, eu jamais ficaria indiferente a uma declaração de que eu tive uma atitude equivocada, principalmente, o silêncio, porque, como diz o ditado, quem cala diz duas vezes.
Todos nós temos muito a ver com isso, e todos nós devíamos nos manifestar diante desse episódio para fazer com que a FIFA tenha que se explicar sobre isso. Não se pode simplesmente usar o nome de alguém e de uma instituição dessa forma sem que ambas se expliquem. Sem que ambas deixem claríssimo que houve algum mal entendido, algum erro, ou algum tropeço que tenha que ser reparado.
No entanto, penso eu, o simples fato de não fazer nada em relação a isso já nos diz que "ela tem sim tudo a ver com isso". Nos diz que "ela" não vê qualquer problema no fato de atores negros serem substituídos por atores brancos porque isso faz parte da normalidade. Sempre foi assim. Por que agora seria diferente, sobretudo quando eu fui a escolhida para substituir? Isso é apenas um trabalho. E a FIFA tem o direito de escolher e desescolher quando quiser e quem quiser.
Só que não deveria ser bem assim. A atriz Fernanda Lima tinha a obrigação de não aceitar esse convite feito a seis meses ou a seis horas diante do ocorrido. Ou, depois de refletir melhor sobre o acontecido, declinar do convite mesmo que nunca mais fosse escolhida pela FIFA para qualquer coisa. Não é só uma questão de trabalho, não é só um direito de convidar e depois desconvidar, é uma questão muito mais séria, é uma questão de caráter, de posicionamento diante de uma possível manifestação racista.
Não fazer nada ou achar que "não tem nada com isso" é sim compactuar, é sim perpetuar uma posição de privilégio, é sim contribuir com os sentidos já cristalizados sobre ser negro no Brasil. Sobre o lugar do negro no Brasil. Sobre o que pode o negro no Brasil e, principalmente, sobre o que não pode.
Não conheço a atriz e apresentadora Fernanda Lima, mas gosto muito da abordagem do seu programa Amor e sexo porque lá se tenta desmistificar o sexo como tabu, porque lá tenta se tratar da sexualidade de forma natural e não-sexista, porque lá a questão da homossexualidade é tratada de forma tão natural quanto à heterossexualidade o é, portanto, acho que a apresentadora devia sim não deixar que o seu nome e a sua "boa" reputação fossem manchados por disse me disse. A gente tem sim que se importar com aquilo que dizem que nós fizemos, falamos, achamos, sobretudo quando somos públicos e quando o nosso exemplo pode influenciar outros comportamentos.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Completei dois aniversários numa fila em Lisboa

Diz a lenda que o baiano é lento. Que o atendimento na Bahia tem a velocidade de uma lesma grávida atravessando uma floresta, provavelmente a amazônica. Que o único baiano nervoso e estressado demorou 7 meses tendo um ataque do coração. Que se vc gritar no ouvido de um baiano "fogo", ele em cinco minutos está fora da cadeira. Que ele dá ao filho o nome de "Oi" para cumprimentar e chamar ao mesmo tempo e não ter, naturalmente, dois trabalhos. E por aí vai. Essa velocidade, apelidada de Dorival Caymmi (o baiano mais tranquilo da Bahia), desliza para tantos outros sentidos possíveis em relação ao estilo de vida na Bahia.
No entanto, nada se compara ao atendimento aqui em Portugal. Na-da. Refiro-me ao atendimento ao público em lojas, especificamente, porque, por exemplo, em um restaurante, somos sempre bem atendidos. O serviço é rápido e bem feito, além, é claro, da comida deliciosa, mas vamos ao que me interessa. Fico abrindo e fechando muitos parênteses antes de dizer o que realmente importa.
Bem, por aqui, os atendimentos se dão da seguinte maneira: para tudo tem uma senha. Seja farmácia, padaria, banco, correio, caixa de loja etc. E até vc ser chamado é sempre uma novela, dessas da Gloria Peres, chatas e sem fim.
Entre quem está sendo atendido e vc, tem, pelo menos, um hiato de umas 50 senhas sem um dono, porque as pessoas desistem no meio do caminho. O que, de certa forma, é bom porque agiliza o atendimento em umas 3 horas.
O lisboeta ao ser chamado não tem pressa. Ele conversa com o atendente, que lhe dá toda a atenção do mundo. Aquele pergunta o que quer, quantas vezes for necessário, por um tempo sem fim. E vc alí esperando como se nada tivesse acontecendo, pra vc, naturalmente.
Aí, quando vc pensa que o atendimento acabou, vem o gerente para tentar resolver alguma pendência, alguma questão que ficou sem resposta. Ele conversa mais um pouco, explica mais alguma coisa, repete alguma informação e vc alí, achando que, finalmente, o próximo será chamado. Mas não é assim que acontece. A primeira atendente continua a saga. E vc alí sem um livro, sem um telefone, sem alguém para conversar, esperando, já que vc é estrangeiro, que algum nativo reclame. Nada nesse sentido acontece. Nada acontece. Tudo na maior normalidade de sempre.
E se vão horas, se vão dias nesse atendimento sem fim. Vc fica se perguntando o que tanto o cliente quer saber e que tanto só o atendente sabe, ou não sabe, para responder.
Finalmente esse atendimento termina. Vc acha que o atendente chama logo a outra senha? Não chama, é claro. Ele entra para não se sabe onde e demora alguns minutos para, continuar um trabalho que vc não compreende o porquê. Naquele momento, principalmente.
Depois de algum tempo, ele, finalmente, chama a próxima senha, mas é claro que ainda não é a sua vez e vc continua ali aguardando. Fiz dois aniversários numa fila em Lisboa. Fiquei careca. Me casei. Tive dois filhos. Escrevi uma tese e corrigi 10000 redações do ENEM e ainda fiquei 15 minutos aguardando a minha vez.
Bem, se baiano é lento, digamos que o lisboeta morreu e não foi enterrado.

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...