sexta-feira, 25 de abril de 2014

Há sempre uma voz dissonante.

Romantizamos muito o passado, não é mesmo? A tendência é contá-lo como se Antes tudo tivesse sido muito melhor. Quase sempre isso é papo furado. 
Hoje, um amigo postou no Face uma frase que, apesar de não fazer referência explícita ao passado, me deu a impressão de que se tratava disso: a frase era sobre a violência no futebol, mas com um trocadilho sobre a violência no Rio de Janeiro.
O Rio sempre foi uma cidade violenta, mas como a violência se instalava, quase sempre, nas favelas ou no subúrbio "tudo estava sob controle": era uma guerra entre traficantes e eles próprios se matavam. "Melhor assim, né?!" Antes que me interpretem mal, isso é uma ironia.
Vezinquando havia um grande assalto, um grande roubo, um assassinato no asfalto da Zona Sul da Cidade Maravilhosa e isso sempre produziu muitas páginas de jornal, muito disse me disse etc. Não que esses crimes não devessem produzir, mas apenas esses circulavam nos jornais como "assustadores". Era a antiga classe média sendo dita. Isso causava alguma comoção no Jornal Nacional (JN), o resto não merecia nem uma notinha. Quase nunca a polícia estava metida, porque polícia boa não se mete com a classe média.
Os demais crimes ilustravam as páginas dos chamados jornais populares (sobre os quais dizíamos "se torcer sangra"), os quais não tinham muita importância, serviam mesmo para embrulhar o peixe do dia seguinte.
A polícia continua, hoje, violenta (quase que ia escrevendo "mais" violenta, mas não dá para romantizar  passado tb pelas vias de um presente deslocado), os bandidos continuam violentos, mas a população mudou demais. E acho que mudou para melhor no que diz respeito ao conhecimento dos seus direitos. Aquele discurso de "somos todos iguais" tem produzido algum deslizamento sobre o comportamento da população, de uma forma geral.
Não faz muito tempo, um caso como o do pedreiro Amarildo, não seria sequer apurado. Ele (o caso e o pedreiro) simplesmente sumiria do mapa e pronto. Não se falaria mais sobre isso.
"Favelado não presta!", "Todos os moradores da favela são envolvidos com o tráfico", portanto, devem ser tratados como marginais. Esse era o pensamento hegemônico sobre a favelado e sobre a violência carioca. Digo, esse que se concentrava exclusivamente nas áreas menos nobres.
Alguém ser arrastado pelas ruas do Rio como um saco de lixo tb não seria uma grande notícia. Sobretudo se uma moradora da favela fosse morta, como sempre, numa troca de tiros entre policiais e traficantes nos Morros da Cidade. Vejam a diferença de cobertura da mídia entre o menino João Hélio e a Cláudia Silva Ferreira. Esta foi denominada por "A arrastada" durante muitas páginas de jornal. Nome pra quê? Moradora de favela só é/pode ser conhecida pelo fato que produziu a notícia.
A população mudou, como eu estava dizendo, e não engole da mesma forma as provocações, não deixa, simplesmente, pra lá os seus direitos, claro que em termos gerais (muita coisa continua em silêncio). Hoje em dia a câmera do celular é um "arma" em punho para registrar tb os excessos da polícia, das autoridades, dos reacionários, de toda e qualquer manifestação de toda ordem. Além disso, a mídia tb tem comprado (uma parte dela que produz bastante barulho) a briga. Até a mídia-hegemônica tem se visto obrigada a dar respostas ao alarde produzido pelos menos privilegiados.
Quem diria que seria matéria do JN uma manifestação de moradores da favela sobre um morador morto em condições estranhas, pelo menos até o momento. Refiro-me ao bailarino DG do programa Esquenta, da Rede Globo (quem diria que um um morador de uma favela poderia ser um bailarino de um programa na Rede Globo).
Bem, tb não dá pra dizer que tudo está a mil. Não mesmo. Mas percebo que há sempre uma voz dissonante, seja para responder seja para cobrar explicações em relação aos fatos que antes não teriam importância nenhuma.
Uma pena que a Polícia tb não tenha acompanhado essas mudanças: ela anda perdendo a oportunidade de ser outra e vai, certamente, pagar um preço bastante alto por isso. Já está faz algum tempo. Quem se sente protegido por essa Instituição levanta o braço! Eu não me sinto. Muito se diz sobre a desmilitarização da PM, mas não se dá um passo nessa direção. A PM não tem um serviço de inteligência e age de qualquer maneira, principalmente se se trata de negro e pobre.
Os governantes do Rio de Janeiro continuam sem fazer absolutamente nada em relação a esta questão. Silêncio total. Pipoca aqui e ali alguma notícia sobre isso quando nos encontramos no auge de um acontecimento, mas vontade dá e passa. Nada se faz. Uma pena para uma cidade que se pensa destino turístico, para uma cidade com vocação para receber bem o estrangeiro. Enquanto isso, salvem-se quem puder!

ps. Não quero dizer com este último parágrafo que a cidade deve ser pensada apenas para quem vem. Não mesmo. Para ser Maravilhosa precisa estar pronta pra quem já está e tb para quem chega.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Quando a nossa indignação se sobrepuser aos nossos medos.

É claro que a história de Bernardo, o garoto de 11 anos, assassinado no RS, me tocou profundamente. Se tudo o que está sendo dito na mídia sobre o caso for verdade, acho que muita gente anda se sentindo culpada pelo desfecho trágico dessa história: os vizinhos, os amigos mais próximos, os empregados da casa, os professores, as autoridades, enfim, todos que sabiam que algumas coisas estavam erradas, mas que, por algum motivo, não se meteram como deviam na vida dos outros. Ver coisas erradas e não fazer absolutamente nada, me desculpem, é conivência.
Numa rápida retrospectiva: em novembro de 2013, a notícia de abandono afetivo de Bernardo chegou à vara da Infância e da Juventude e foi aberto expediente para apurar o caso. Bernardo era alvo de comentários na cidade.
Em dezembro, o Centro de Assistência Social entregou à promotoria um relatório dizendo que o garoto dormia na casa de conhecidos e tinha desavenças com a madrasta. Passava sábados e domingos na rua. Era alimentado pelos vizinhos.
No dia 24 de janeiro, Bernardo se dirigiu, sozinho, ao fórum de Três Passos, onde funciona o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, e contou das ofensas da madrasta, da falta de atitude do pai e de sua vontade de morar com outras pessoas. Foi levado para falar com a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira. Confirmou a sua própria história.
A promotora deu início a ação na Justiça pedindo que a guarda provisória fosse dada para a avó materna. O juiz preferiu marcar uma audiência com o pai, ocorrida em fevereiro. Leandro, o pai e suspeito de participar do assassinato, quis mais uma chance. Bernardo aceitou. 
No dia 7 de abril, quando soube do desaparecimento, a promotora pediu que a guarda fosse dada para a avó. Mas o juiz determinou que, assim que ele fosse encontrado, ele deveria ser encaminhado a um lar, pois faltavam elementos que comprovassem que a avó poderia assumir a guarda. Tarde demais!
Tragédia descoberta, começa a pipocar na mídia os relatos de todos que sabiam alguma coisa mas não fizeram nada. Vale sempre o ditado "em briga de marido e mulher...". Há momentos em que deve prevalecer a indignação acima de qualquer outro sentimento. Se os próximos tivessem se indignado de verdade...o desfecho poderia ser outro.
Ouvi relato da ex-babá de que madrasta havia tentado sufocá-lo, mas por alguma razão, medo, talvez, de sofrer alguma represália, não contou essa história a ninguém. Bem, agora é tarde, né. Pelo menos para Bernardo.

Da Série Contos Mínimos

Sentia muito medo de morrer enquanto dormia. À noite, sentiu seu coração disparar e falta de ar. A boca ficou seca, o sono foi embora. O peito doía. Tarde da noite não pensava em outra coisa senão nesse medo que o desesperava. 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Da Série Contos Mínimos

Hoje não foi um bom dia. Na verdade, ele ainda não sabia ao certo. Talvez o saiba apenas depois de amanhã, quando estiver em condições de recontá-lo. Re-con-tar a nossa história é sempre um privilégio. Ao contá-la uma, duas ou três vezes temos um outro passado, um outro presente e a possibilidade do dia ser melhor.

sábado, 5 de abril de 2014

"Melhor do que isso só mesmo o silêncio, Melhor do que o silêncio só João" (Caetano Veloso)

Cada um tem seu inferno. Aquele sobre o qual não se quer pensar. Eu tenho, pois, o meu.
Eu amo o silêncio. Pra mim não existe som mais agradável do que o produzido por ele.
Digo isso apenas para introduzir o verdadeiro horror que é para mim estar com alguém que não saiba ficar em silêncio. Tenho um verdadeiro pânico de gente que não cala a boca. De gente que fala sem parar, sem um intervalo.
Bem, vou contar a minha história. Nessa sexta-feira, voltando de Coimbra, acabei pegando o trem (combio, no português de Portugal) em um horário mais cedo do que de costume. Em geral, saio da aula por volta das 13h, vou almoçar com uns amigos de turma e depois desço, porque a universidade fica no alto do morro, até a estação de trem, Coimbra A (tem A porque tem B). Normalmente compro o bilhete na estação Coimbra A e vou até a B para pegar o comboio das 14h47 para Lisboa. 
Nessa sexta, não almocei com os amigos de turma porque eu estava bastante cansado, tinha dormido mal de quinta pra sexta e não estava muito bem humorado, por conta da noite mal dormida. Quando isso acontece, melhor mesmo ficar na minha.
Aí, por essas e por outros, acabei chegando na estação muito mais cedo do que de costume. Peguei então, como disse, o trem que passa às 13h58. É claro que no afã de chegar logo em Lisboa não me dei conta de que este trem poderia ser um parador (ao contrário daquele que pego mais tarde). Só pensei nisso quando já estava acomodado na minha poltrona. 
Já achei bastante estranho o fato do meu vagão (carruagem, no português de Portugal) estar lotado. Percebi, durante os primeiro minutos de viagem, que tinham dois grandes grupos dividindo comigo aquele espaço: um grupo enorme de jovens franceses e outro de jovens japoneses, além, é claro, de portugueses de todas as idades.
Todos falavam ao mesmo tempo. E como todos falavam ao mesmo tempo, todos falavam alto porque queriam ser ouvidos. Uns gritavam, outros berravam, um senhor que estava na poltrona atrás da minha atendia o celular (telemóvel, por aqui) como se estivesse chamando um amigo que estava do outro lado do mundo. 
Duas senhoras, uma estava ao lado desse senhor que berrava ao telefone e a outra ao lado desta, mas do outro lado do corredor, falavam, sem parar, sobre tudo e mais um pouco num volume acima do permitido (60 dB - decibéis, no perímetro comercial).
Eu não me lembro de ter ficado mais angustiado na vida do que durante essa viagem. Estava ali, no meio daquela poluição sonora sem poder fazer nada. Eu estava, definitivamente, enlouquecendo. Minha vontade era de me levantar e pular pela janela. Mas eu não podia fazer isso. Cheguei ao meu limite de angústia: meu coração disparou e comecei a ficar aflito.
A sorte foi me lembrar de que eu tinha um celular no bolso e os meus fones de ouvido em algum lugar na minha bolsa de viagem. Foi como encontrar água no deserto. Procurei o que havia de mais tranquilo entre os artista da minha lista e fui salvo por Rosa Passos cantando Djavan.
Cheguei em Lisboa tão elétrico (sem exagero) que precisei ir ao cardiologista porque achei que ia infartar.
Não infartei, é claro, ou não estaria aqui escrevendo sobre isso. Mas descobri que se inferno existe o meu é um lugar cheio de gente que fala alto, que não respira, que não dá um intervalo entre uma palavra e outra.


Da Série Contos Mínimos

Éramos apenas nós dois e um mundo lá fora, mas pouco ou quase nada tínhamos para trocar. Vivíamos assim um para o outro, sem cobranças, sem medidas. Um amor que se sobrepunha a tudo. Não tínhamos tempo para nada que não fôssemos nós. A vida era completa.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Carta pra minha mãe

Sonhei contigo mais uma vez, como sempre tem acontecido desde que vc morreu. Isso não é mesmo uma novidade. Dessa vez, ao contrário de todas as outras, nós conversávamos mesmo sabendo que vc havia morrido. Acordei por conta de algum barulho aqui em casa, mas tive tempo de ouvir a sua resposta sobre uma pergunta feita por mim se (não me lembro do que se tratava) tinha acontecido antes ou depois da sua morte. Naturalmente vc me respondeu que depois de ter morrido. Pena eu não me lembrar do assunto.
Antes, os meus sonhos contigo eram quase todos aflitivos. Eu acordava assustado, depois ficava triste porque me dava conta de que tinha sido um sonho e que vc estava morta. Dessa vez não foi assim. Acho que pelo fato de estarmos conversando "naturalmente", como disse, sobre outras coisas apesar da morte.
Os sonhos são incríveis! São as únicas possibilidades de sentirmos verdadeiramente a presença do outro apesar de tudo: do tempo, da vida.
Nesta semana, fiquei em muitos momentos pensando, por conta dos 50 anos do Golpe Militar, na senhora. Me lembrei de, eu havia me esquecido completamente disso, que havia eleições no Brasil durante a ditadura militar. E que eu sempre ia contigo votar. Lembrei-me de que a senhora votava no Nelson Carneiro e que tb votava num candidato chamado Carrasco, ambos eram do MDB. Lembrei-me tb de outras conversas sobre essas eleições, da senhora me explicar que votava no MDB porque o outro partido era ligado ao governo.
Dizer que eu sinto saudades é chover no molhado...nunca mais vou deixar de sentir: a saudade é essa impossibilidade de poder lembrar juntos dessas nossas histórias. Eu queria muito poder conversar contigo sobre isso.
Ah, lembrei tb durante essa semana de vc me contar sobre o Golpe e me dizer que não sabia muito bem o que estava acontecendo durante algum tempo. Dizer que meu pai fazia reuniões em casa. Dizer que sabia que alguma coisa estava fora do normal, mas não explicar o que era. Seria muito bom poder conversar hoje tb sobre isso, mas não vai dar, né? Eu vou dormir em pouco tempo e já é tarde para ligar.
Olha, queria muito poder te dar/receber um abraço bem apertado, daqueles que trocávamos quando eu chegava ou ia embora, isso antes de vc ficar doente. Depois da doença tudo tinha que ser com o maior cuidado, vc parecia que ia quebrar ao meio se eu fizesse alguma força. Te amo pra sempre.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Trabalho de Conclusão de Curso

O Trabalho de Conclusão de Curso (doravante, TCC), normalmente, é uma das primeiras produções acadêmicas dos estudantes de graduação. Claro que eles vão experimentando a escrita científica ao longo do curso de graduação: nas provas, nos trabalhos, na iniciação científica, no PIBID, entre outras atividades.
No entanto, o TCC é realmente o trabalho que encerra o período da graduação. E para ter sucesso no seu fechamento, é importante que o aluno esteja atento às etapas desse processo:
O primeiro a se fazer é encontrar um tema que realmente seja de interesse. Não dá mesmo para ficar no último ano da graduação com todas as disciplinas que ainda precisam ser concluídas e ainda ter que escrever, ler sobre um assunto que não seja de seu interesse pessoal. Essa decisão tb pode ser tomada juntamente com um professor com o qual o aluno queira trabalhar. Às vezes o aluno fica meio perdido e pensar com outro sempre é melhor: pensar junto sempre é mais produtivo.
Tema decidido, tem que procurar agora um orientador. E, de repente, o tema pode passar por alguns ajustes, porque tb não dá para um professor orientar um tema sobre o qual não tem qualquer interesse, domínio ou leitura, mesmo que seja apenas um trabalho de conclusão de curso. Para o professor é um TCC, mas para o aluno não é tão simples assim.
Superada essa etapa, não se pode mais perder tempo. O ideal é que o aluno já vá pensando no tema no final do penúltimo ano, porque aí no início do último ele já passou por essa fase de indecisão.
O próximo passo é o cronograma, ie., o aluno precisa organizar um passo a passo para realizar todas as tarefas de modo que a data final para a apresentação do trabalho não seja prejudicada por alguma etapa não cumprida. 
Em geral, é bom pensar que o texto final precisará passar por uma revisão, realizada por outra pessoa. E isso demanda tempo e disponibilidade do revisor. Seria bom que o revisor tivesse, pelo menos, uns 15 dias para realizar essa tarefa, e ainda o aluno tivesse uma semana para corrigir possíveis problemas.
Isso quer dizer que o aluno precisa, entre a data de fechamento (revisão, impressão, encadernação) e a data para protocolar as cópias uns 30 dias. Tudo isso deve ser pensado quando da elaboração do cronograma. Este deve ser cumprido rigorosamente para que nada possa atrapalhar o andamento de cada etapa.
Em geral, o primeiro passo é a elaboração do projeto: 
1. Escolha do tema; 
1.1 Delimitação do tema; 
2. Problematização; 
3. Justificativa; 
4. Objetivos; 
4.1 Objetivo geral; 
4.2 Objetivo específico; 
5. Fundamentação teórica; 
6. Metodologia; 
7. Cronograma

O item 1 já foi falado. 
Vamos agora para o item 1.1 É importante que o aluno saiba que um TCC tem que ser feito juntamente com, como já foi falado, as disciplinas do último ano, com as provas dessas disciplinas, com os trabalhos para essas disciplinas, por vezes, ainda, com estágios. Por isso, delimitar o tema é fundamental. Ninguém vai mudar o mundo com um TCC. E nem vai conseguir fazê-lo pensando em diversos objetivos. Não dá tempo. Tem que ser prático, objetivo, racional nessa delimitação. O aluno, e tb o professor, precisa saber que tem que haver foco. Ou seja, apenas um objeto de investigação e mesmo assim um recorte bastante significativo sobre ele.
Por exemplo, vc vai estudar um tema que lhe interessa nos jornais OU revistas de grande circulação. Não dá para pensar que vai conseguir fazer isso em todos os exemplares do jornal ou revista da última década ou ano. Não dá tempo. Vc precisará definir uma quantidade mínima de material para ser analisado de forma que consiga dar conta de toda essa leitura. O senso de realismo é fundamental. Por isso tb que existe a figura do orientador para mostrar isso ao estudando, que, em geral, tem pouco experiência.

2. A problematização: todo trabalho científico se inicia com a formulação de um problema e tem como meta procurar uma solução para ele. A visão clara do tema (veja como é importante a definição do tema) se completa com a sua formulação em termos de problema. Ou seja, o tema escolhido deve ser “problematizado”. A colocação clara do problema desencadeia a formulação de hipóteses a serem comprovadas no decorrer do trabalho.
A problematização é a formulação de uma questão que se buscará responder por meio da pesquisa, ie., o problema é a pergunta que a pesquisa pretende resolver.
Por exemplo, qual a influência dos meios de comunicação de massa na produção escrita dos alunos do ensino médio sobre tal assunto? Uma ex-aluna pesquisou o tema "Casamento entre pessoas do mesmo sexo" e resolveu verificar de que forma o texto de um jornal influenciaria ou não da produção escrita de alunos no último ano do ensino fundamental. Ela pediu que os alunos produzissem um texto sobre esse tema (sem qualquer discussão sobre ele, apenas a partir do que eles já sabiam, tinham ouvido etc.), depois trabalhou com esses alunos  2 textos de diferentes jornais, a partir do mesmo ponto de vista sobre o casamento entre pessoas do mesmos sexo e depois ela pediu que os alunos (re)fizessem a produção textual sobre o tema lido e debatido em sala de aula. A hipótese dela era a de que o texto jornalístico iria influenciar na produção desses alunos.

3. Justificativa: 
Como o próprio nome indica, a justificativa é dizer o porquê da importância de produzir tal pesquisa. Por que vc acha que desenvolver o seu tema é importante? Em que ele pode contribuir para melhorar alguma coisa? Para se pensar mais sobre algum assunto etc.? Não é o lugar para ficar exaltando de forma enlouquecida o tema por vc escolhido. Não é isso. Pode-se justificar o tema pela importância social de se discutir aquele assunto. Ou de saber o funcionamento daquele assunto junto aos alunos, numa comunidade etc. 

4. Objetivos:
Eles constituem a finalidade do trabalho, ie., a meta que se pretende atingir com a elaboração da pesquisa.
São eles que indicam o que um pesquisador realmente deseja fazer. Sua definição clara ajuda em muito na tomada de decisões quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa.
Podemos distinguir dois tipos de objetivos em um trabalho científico: 4. Os objetivos gerais e os 4.1 Os objetivos específicos.
Como o próprio nome diz, os objetivos gerais são aqueles mais amplos. São os de longo alcance. Em geral, o primeiro e maior objetivo do pesquisador é o de obter uma resposta satisfatória ao seu problema de pesquisa.
Para se cumprir os objetivos gerais é preciso delimitar metas mais específicas dentro do trabalho. São elas que, somadas, conduzirão ao desfecho do objetivo geral. Essa metas mais específicas são os objetivos específicos. Se faz mediante o emprego de verbos no infinitivo: contribuir, analisar, descrever, investigar, comparar...

5. Fundamentação teórica:  

Opções teóricas só podem nascer das exigências internas que o problema da pesquisa cria. Para optar, precisamos conhecer as alternativas que se apresentam. Isso implica conhecimento da bibliografia existente.
As escolhas teóricas, que somos necessariamente levados a fazer, não podem ser frutos de um impulso, ainda menos de uma imposição, ou para estar de acordo com a especialidade do orientador de uma pesquisa, ou, o que é ainda pior, simplesmente para agradá-lo. 
A fundamentação é também chamada de "embasamento teórico" ou de "teoria de base", o quadro teórico de referência é algo que brota diretamente do levantamento bibliográfico para a elaboração do estado da arte de um problema de pesquisa. Tendo brotado do estado da arte, a fundamentação teórica implica um avanço em relação àquele, na medida em que resulta de uma escolha consciente, crítica e avaliativa da teoria ou compósito teórico que está melhor equipado para fundamentar o desenvolvimento da pesquisa, em consonância com a metodologia que designa.
O quadro de referência teórico consiste no corpo teórico no qual a pesquisa encontrará seus fundamentos. Todo projeto deve conter os pressupostos teóricos aos quais as interpretações irão se conformar. Eles são inevitáveis simplesmente porque não podemos evitar os pressupostos, sob pena de ficarmos imersos tão somente no senso comum.

6. Metodologia
:

Para começar a falar sobre método científico e sua história, uma boa dica é exibir o filme sobre a vida de Galileu Galilei, que empreendeu uma verdadeira revolução no pensamento científico, desenvolvendo as bases do que ficou conhecido como método experimental.
As aplicações do método científico e seus procedimentos também podem ser analisadas a partir dos filmes Fim dos Tempos e Óleo de Lorenzo. Este último, dirigido por um médico e que trata de um empreendimento de descoberta científica levada adiante pelos pais do menino Lorenzo, portador de leucodistrofia.
Evidentemente, o cinema reinterpreta a ciência em todos esses filmes. Por isso mesmo, nos ajudam a pensar sobre ciência (não de maneira fria, como em um manual científico), mas a partir de suas questões éticas e os dilemas humanos.

É no momento da indicação dos procedimentos metodológicos que o pesquisador deve localizar o tipo de pesquisa que está realizando, teórica ou aplicada, histórica ou tipológica, crítica ou sistêmica, empírica com trabalho de campo ou de laboratório etc. A metodologia está SEMPRE estreitamente ligada a essa tipologia. 
Além disso, os métodos devem estar perfeitamente afinados com o problema proposto e com as hipóteses. Tendo o problema em mente, o pesquisador deve se perguntar: "como e com que meios" poderei resolvê-lo? Este "como e com que meios" entrelaça as hipóteses e o método. 
As hipóteses funcionam como sinalizações para o caminho a ser percorrido. Por isso, o método deve estar sintonizado nessas sinalizações. Além disso, não pode haver contradição entre o método e a fundamentação teórica, pois, muitas vezes, o método advém diretamente do quadro teórico.


7. Cronograma:

O cronograma da pesquisa deve ser estabelecido com indicação das etapas da pesquisa que serão cumpridas em cada período mencionado.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Rede Social tem dessas, você mira uma mosca e acerta um unicórnio

Ontem me meti mais um vez numa discussão sem fim no Facebook. Postei um comentário sobre amigos que postam mensagens e uma amiga tomou as dores, como se eu estivesse me referindo a ela. Não estava. Nem sei, na verdade, o porquê da sua reação. Sei apenas que ela é evangélica e que o seu filtro sempre é o religioso: seja lá qual for o assunto.
Ela entrou na minha página e postou o que queria (como se fosse uma resposta à minha postagem), mas não soube lidar com a minha contra-resposta ao seu comentário. Sentiu-se ofendida e me acusou de ser grosseiro, mal-educado, sem ética profissional pelo o que eu lhe disse. Ainda perdeu o senso de humor quando eu fiz uma brincadeira sobre a "nossa opinião" (Mas acho que a gente pensa assim...).
Não me senti na obrigação de (re)explicar o que eu queria dizer, o que eu lhe disse, enfim, deixei que ela do seu lugar resolvesse as suas questões. É assim que me viro quando dou a minha opinião sobre algum assunto. O que faço com o que me respondem pertence apenas a mim e a ninguém mais.
Ela ainda me disse que se eu não sabia lidar com as opiniões dos outros eu deveria abandonar o Face e o meu blog. Ops, mas eu sei sim lidar com as opiniões dos outros. Tanto sei que mantenho aqui e lá os comentários opostos aos meus pontos-de-vista. Desde que eles estejam devidamente assinados, é claro. Não dá para permitir opinião anônima.
Bem, tem um botãozinho no Face ("seguindo", entre "amigos" e "mensagem") que funciona exatamente como um controle de TV, ou seja, se vc não quiser seguir o que algum amigo posta, basta desmarcá-lo e pronto (está insatisfeito com uma programação, mude de canal). Nem é preciso deletá-lo do seu grupo de amigos. Faço isso com frequência quando acho que alguém é reacionário, quando acho que não sou obrigado a ver certos compartilhamentos. É assim que funciona. Inclusive o Face dessa amiga, por quem tenho um grande carinho, está desmarcado, não sigo as suas postagens. Façam o mesmo comigo se acham que deve ou me excluam, se acharem tb que é mais acertado. Já fui excluído do círculo de alguns amigos e não morri por isso. Ninguém, acho, morre por isso.
O que não dá para admitir é que eu tenha que me comportar a partir do que julgam alguns. Já pensou que roubada?! Uns dizem para me comportar assim e outros me dirão para me comportar de outro jeito. Melhor me comportar do jeito que julgo mais acertado.
Rede Social tem dessas, vc mira uma mosca e acerta noutro alvo.
Bem, acho melhor eu voltar ao trabalho porque o tempo ruge, ops, urge.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Ex-aluno e grande amigo

Tenho muitos amigos que são ou que foram meus alunos entre os meus melhores amigos. Nunca separei o fato de ser aluno da possibilidade de fazer parte da minha vida, até porque eles, querendo ou nao, por um período, pelo menos, fazem/fizeram parte da minha vida.
E posso fazer aqui uma lista enorme de ex-alunos que eu tenho um carinho enorme. Só não o farei porque sei que, certamente, vou me esquecer de algum e não quero parecer injusto.
É claro que tb tenho ex-alunos que nao gostam de mim ou que querem me ver morto, mas o post nao é sobre essa raça-ruim. (rs)
Faz uns 20 anos que saí do Rio de Janeiro para trabalhar no Paraná e bem antes disso eu já estava em sala de aula, no ensino fundamental e médio. Trabalhei em diversas escolas no Rio de Janeiro, quase todas na zona oeste (principalmente em Campo Grande, Santa Cruz, Itaguaí, entre outros bairros). E deixei por lá grande amigos.
Alguns eu consegui reencontrar ou não perdi o contato, mesmo estando longe durante todo esse tempo. Na verdade, eu quero dizer que eu estava trabalhando fora do Rio, mas mantinha contato com a cidade por conta da família, dos amigos etc. As férias, quase todas eu passava no Rio e encontrava alguém em algum momento.
Mas, não foi assim com todos eles. 
Eu tinha um aluno chamado Marcelo, do Colégio Analice, em Campo Grande, que já era um grande amigo por vários motivos: ele era muito bem humorado, era engraçado, me tratava da mesma forma como ele tratava os seus amigos, era inteligente, gente boa, meio malandro, ou seja, tinha todas as características que fazem de alguém uma pessoas especial, pelo menos, pra mim.
Ficamos muitos anos sem nos ver, sem nos falar etc. Aí com essa história de Rede Social tomando conta da internet no Brasil eu passei a procurá-lo, sem qualquer sucesso desde 2009, quando participava do Orkut. 
Sempre dava um jeitinho de, ao encontrar algum amigo em comum, perguntar se tinha alguma informação da criatura ou procurar entre os amigos se ela estava por lá. Tudo em vão, foram mais de 15 anos sem notícia, sem qualquer notícia e a chance de reencontrá-lo ficava cada vez mais distante porque em 15 anos um adolescente muda muito.
Aí, sem que eu estivesse pensando nele ou procurando, vejo uma fotografia, numa página de uma amiga que eu sequer imaginava amiga dele, parecida com ele. Olhei, olhei, olhei outra vez...vi a marcação Marcelo Pereira e me lembrei do sobrenome, esquecido durante todo esse tempo. Batata!!!! Era aquele cara lá do final dos anos 80.
Mandei uma menagem inbox e fiquei ansioso esperando por alguma resposta. E veio logo a confirmação de que se tratava da mesma pessoa. Foi uma felicidade enorme reencontrá-lo, principalmente porque estava bem, feliz, realizado. 
A forma como ele se dirigiu a mim não me deixou com qualquer dúvida: ainda éramos amigos.
Sei que redes sociais servem tb para isso. Sei que ela cumpriu o seu dever de aproximar, ainda que virtualmente, os nossos dias. Foi um reencontro especial. 


terça-feira, 4 de março de 2014

Seis meses depois de chegar em Portugal e eu ainda descobrindo coisas e me descobrindo.

Dia 14 próximo faz seis meses que desembarquei em Portugal para, como alguns sabem (engraçado achar que estou escrevendo para alguém), estudar.
Foram, como dizem, muitas emoções, desde as mais estressantes, como a burocracia, comum a todos, sem exceção, os países, ou ainda como resolver, foi uma peregrinação inútil, as questões para receber uma medicação do Brasil (que nao existe a dosagem por aqui), até as sensações mais agradáveis, como sair de um lugar de coitadinho, de vítima, de colonizado e passar a gerir o meu dia a dia ocupando um lugar de quem não está pedindo qualquer favor a nenhum português ou a nenhuma instituição portuguesa. Tenho uma bolsa de estudos do Brasil e o meu contato na univ. de Coimbra tb tem benefícios com a minha vinda para o programa.
Hoje, ando pelas ruas de Lisboa, principalmente, sem aquela insegurança primeira que me deixava angustiado. Preciso chegar a algum lugar e voltar para casa e nada pode/deve me atrapalhar.
Claro que não passei por todos os lugares, nem conheço um terço dessa cidade, pequena, é verdade, mas sei me localizar bem. Depois de algumas esquinas desconhecidos, consigo saber aonde estou e como devo fazer para chegar/sair, voltar ou começar tudo outra vez.
A saudade é proporcional ao tempo afastado, mas, preciso ser honesto, depois que comecei a frequentar as aulas na Univ. de Coimbra me sinto um pouco mais integrado ao país. Antes eu estava apenas fazendo coisas sozinho demais: indo à biblioteca nacional e passando uma grande parte do meu dia lendo os jornais portugueses.
Na sexta-feira passada, todas as sextas tenho aulas na pós-graduação da comunicação social em Coimbra, fui convidado por duas colegas de aula para almoçar e isso me deixou muito feliz. É uma integração. São duas brasileiras, há, em sala de aula, um número enorme de brasileiros se pensarmos que estamos em outro país, que, não compartilhamos, quase sempre, o mesmo ponto de vista sobre os temas discutidos, mas que são, como eu, adultas o suficiente para separar uma coisa da outra. Foi um almoço agradável, falamos, praticamente sobre o carnaval em Portugal.
As viagens tb são outra parte importantes dessa minha chegada por aqui. Estou perto de quase todos os lugares que gostaria de conhecer. Me prometi, a partir de fevereiro, viajar, pelo menos, uma vez por mês para os lugares desconhecidos. O que seria mais do que suficiente e muito mais do que eu imaginei fazer durante a minha vida.
Viajar para um brasileiro não é nada fácil. Nós, professores, podemos vezinquando viajar para algum congresso com algum auxílio da própria universidade, já que ela tb se beneficia desse subsídio.
Bem, acho que é isso, por enquanto.

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...