sábado, 14 de junho de 2014

Marlene ou Marlena

Minha mãe era do fã clube da cantora Marlene, na época em que ela rivalizava com a Emilinha o posto de cantora mais popular do Brasil. Essas histórias eram recontadas em casa sempre que uma ou outro apareciam na TV. Eu nasci numa época em que elas pouco apareciam em público e não existia mais aquela briga entre os fã-clubes (Marlene vs. Emilinha), acho que nem existia mais essa história de fã clube ou, pelo menos, isso era considerado um pouco cafona.
Mas, e não podia ser diferente, acho, tb pela admiração que eu sentia pela minha mãe e por seu gosto musical, ficou, pra mim, como herança, a simpatia por Marlene. Tenho, no Rio, o último CD gravado pela cantora (não me lembro a data) e na Ópera do Malandro, de Chico Buarque, a minha música predileta Viver de Amor, interpretado por ela, ou Canção Desnaturada dividida com o Chico.
A última vez que vi Marlene foi num Carnaval de Rua na Cinelândia, Rio de Janeiro, entre 2002 e 2006, ela não estava muito bem fisicamente, cantou Lata d'água na Cabeça e eu ali feliz por saber que a música ainda movia a Grande cantora.
Acho que a morte de Marlene finaliza uma época para todos nós: a das grandes marchinhas de carnaval e tb a das grandes cantoras divas brasileiras e 

...É por isso que se há de entender
que o amor não é um ócio
e compreender
que o amor não é um vício
o amor é sacrifício
o amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
- como um missionário.
(Chico Buarque - Viver de Amor)

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Da Série Contos Mínimos

Dormiram juntos por mais de 5 anos. À noite, véspera do dia dos namorados, ele declarou mais uma vez o seu amor. Ela prometeu que o café da manhã seria na cama. Ele agradeceu. Ela, enquanto se dirigia à cozinha, foi esfaqueada mortalmente pelas costas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Copa do Mundo de Futebol de 2014

Eu amo futebol! E estou sentindo muita tristeza por não estar no Brasil para acompanhar a Copa do Mundo de Futebol. Provavelmente, essa seria a minha última oportunidade de assistir (em casa, é verdade) um Mundial de Futebol, no Brasil. Paciência... acompanho daqui de Lisboa.
Hoje, dia 12 de maio, ao assistir o Jornal Nacional, de quarta-feira, dia 11, fiquei mais animado ainda com a possibilidade de acompanhar os jogos.
Aprendi a gostar de futebol com a minha mãe. Ela era uma flamenguista de ir ao Maracanã, de acompanhar todos os jogos, de conhecer os jogadores etc. Acho melhor eu explicar esse etc. Minha mãe gostava de esporte, de todos os esportes.
Época de Copa ou se Jogos Olímpicos, ela não desgrudava da TV e eu, por tabela, acompanhava tb o que ela via. Lembro-me de vários momentos em que ela colocava o relógio para despertar de madrugada para ver os jogos de voleibol ou qualquer outro esporte que fosse transmitido em horários locais (fora do Brasil).
As vezes, eu perguntava o que ela estava fazendo assistindo Irã e México (um exemplo, apenas). Ele me respondia rindo que gostava de saber como os outros países tb gostavam de futebol.
Certa vez, quando eu morava em Curitiba, na época do mestrado, acho que em 1998, fui ao Rio para assistir com ela a final da Copa do Mundo: França e Brasil. Apesar do Brasil ter perdido, de ela ter deixado de assistir ao jogo por conta do desempenho do Brasil (3x0 para a França), da tristeza da derrota, tb nos divertimos muito.
Ela repetia os rituais em todos os jogos. Era divertido ver aquilo: até lançou incensos (de efeito moral) para ver se espantava o desempenho ruim da nossa seleção. O Ricardo, um grande amigo, ria muito daquilo tudo, apesar do nosso desânimo com a final.
Bem, é isso. Hoje começa e não posso perder a partida entre o Brasil e a Croácia, às 17h, horário local e aqui, às 21h. Estarei colado na TV.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O homem que se endereçou (Ignácio de Loyola Btandão)

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua 13, nº 21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde, a empregada o colocou no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara.
E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.


Ignácio de Loyola Brandão

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Harriett (Caio Fernando Abreu - O ovo apunhalado)


Para Luzia Peltier, que soube dela

"No fundo do peito, esse fruto apodrecendo a cada dentada."
(Macalé & Duda Machado: Hotel de Estrelas)


Chamava-se Harriett, mas não era loura. As pessoas esperavam dela coisas como longas tranças, olhos azuis e voz mansa. Espantavam-se com os ombros largos, a cabeleira meio áspera, o rosto marcado e duro, os olhos escurecidos. Harriett ficava sozinha o tempo todo. Mesmo assim, as pessoas gostavam dela.

Quase todo mundo foi na estação quando eles foram embora para a capital. Ela estava debruçada na janela, com os cabelos ásperos em torno das maçãs salientes. Eu fiquei olhando para Harriett sem conseguir imaginá-la no meio dos edifícios e dos automóveis. Acho que senti pena - e acho que ela sentiu que eu sentia pena dela, porque de repente fez uma coisa completamente inesperada. Harriett desceu do trem e me deu um beijo no rosto. Um beijo duro e seco. Qualquer coisa como uma vergonha de gostar.

Essa foi a primeira vez que eu vi os pés dela. Estavam descalços e um pouco sujos. Os pés dela eram os pés que a gente esperava de uma Harriett. Pequenos e brancos, de unhas azuladas como de crianças. Eu queria muito ficar olhando para seus pés porque achei que só tinha descoberto Harriett na hora dela ir embora. Mas o trem se foi. E ela não olhou pela janela.

Um tempo depois a gente viu uma fotografia dela numa revista, com um vestido de baile. Harriett era manequim na capital. Todo mundo falou e comprou a revista. Quase todos os dias a gente via a foto dela nos jornais. Harriett era famosa. A cidade adorava ela, mas ela nunca escreveu uma carta para ninguém.

Muito tempo depois, eu a vi outra vez. Eu estava trabalhando num jornal e tinha que fazer uma entrevista com ela. Harriett estava sozinha e não ficou feliz em me ver. Continuava grande e consumida e tinha nos olhos uma sombra cheia de dor. Fumava. Falei da cidade, das pessoas, das ruas - mas ela pareceu não lembrar. Contou-me de seus filmes, seus desfiles, suas viagens - contou tudo com uma voz lenta e rouca. Depois, sem que eu entendesse por que, mostrou-me uma coisa que ela tinha escrito. Uma coisa triste parecida com uma carta. Tinha um pedaço que nunca mais consegui esquecer, e que falava assim:

sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor
pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava
no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus
como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando
você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma
praça então os meus braços não vão ser suficientes para
abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa
que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você
sem dizer nada só olhando olhando e pensando meu deus
ah meu deus como você me dói vezenquando

Quando terminei de ler, tinha vontade de chorar e fiquei uma porção de tempo olhando para os pés dela. E pensei que ela parecia ter escrito aquilo com seus pés de criança, e não com as mãos ossudas. Eu disse para Harriett que era lindo, mas ela me olhou com aquela cara dura que a gente não esperava de uma Harriett e disse que não adiantava nada ser lindo. Tive vontade de fazer alguma coisa por ela. Mas eu só tinha uma vaga numa pensão ordinária e um número de telefone sempre estragado. Eu não podia fazer nada. E se pudesse, ela também não deixaria. Fui embora com a impressão de que ela queria dizer alguma coisa.

Três dias depois a gente soube que ela tinha tomado um monte de comprimidos para dormir, cortou os pulsos e enfiou a cabeça no forno do fogão a gás. Foi muita gente no enterro e ficaram inventando histórias sujas e tristes. Mas ninguém soube. Ninguém soube nunca dos pés de Harriett. Só eu. Um desses invernos eu vou encontrar com ela no meio duma praça cinzenta e vou ficar uma porção de tempo sem dizer nada só olhando e pensando: que pena - que pena, Harriett, você não ter sido loura. Vezenquando, pelo menos.

Alma


Da Série Contos Mínimos

A janela que dava para o mar não mostrava apenas uma paisagem. Mostrava-me. Nela eu também me significava. Ali eu era.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Como num passe de mágica

Nenhum artigo aparece pronto se vc não se sentar e trabalhar muito.
Estou aqui, outra vez, angustiado com um texto que preciso escrever.
O pior é que nem adianta reclamar muito porque faz parte do meu trabalho. Além de aulas, pesquisar e escrever. 
Bem, melhor então começar.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A expectativa que mora dentro da gente.

Eu estava me sentindo muito triste, nestes últimos dias. Achando que pouca coisa tinha valido a pena até hoje. Pensando, principalmente, se quando a nossa expectativa fura significa, necessariamente, que temos uma parcela grande de culpa nesse furo. Temos sim, mas tb não dá para ficar parado ali. 
Alguns querem ser tratados com atenção, querem se sentir importantes na vida dos outros, mas não conseguem/podem retribuir da forma como a gente cria expectativa sobre isso: porque a medida dessa expectativa está apenas dentro da gente.

Pensando, pensando

Tava aqui pensando, pensando, antes de começar a escrever um artigo que precisa ser escrito, nesses meses todos aqui em Portugal (são 8 meses longe do Brasil).
Nunca havia pensando em ficar tanto tempo longe de casa (e casa aqui pode/deve ter o sentido de casa, propriamente dita, mas tb da cidade que escolhi para trabalhar e, consequentemente, para viver, Cascavel e o meu país).
Me sinto, hoje, um pouco mais tranquilo, não menos saudoso, mas mais calmo com a ideia de estar longe. Acho que muito da minha angústia nesses meses era por conta de não saber como seria a conclusão desse estágio de pós-doutorado. Continuo não sabendo, mas tb estou menos preocupado com isso: preciso fazer o que prometi e vou fazer porque é para isso que estou aqui.
Engraçado como me dei conta agora depois de escrever a palavra "estágio". Eu estou fazendo mesmo um estágio aqui em Portugal, um estágio na Universidade de Coimbra, já que o meu vínculo com ela passa pelo vínculo com a minha supervisora. É um estágio. Bem, vamos adiante.
Morar fora não é para todos. Eu tenho muitas dúvidas se eu deveria mesmo ter feito esta escolha. Há aí um narcisismo em conseguir um bolsa concorrida, há tb uma certa imagem de competência que se quer construir, há um respeito que se quer para si, há tantas coisas em torno dessa viagem que talvez eu não soubesse até chegar aqui. Há tb questões pessoais (não que as profissionais tb não sejam pessoais. São, certamente).
Não estou fazendo um balanço desses oito meses. Não mesmo, até porque escrevo para organizar melhor o que eu penso sobre isso, como estaria falando para me ouvir melhor tb a esse respeito (mas na impossibilidade de falar, eu escrevo).
A impressão que tenho é de que não faria isso outra vez. Não, pelo menos, para ficar um ano fora. Um ano é muito tempo. Tb não sei se menos seria suficiente para entender o que é estar longe de casa.
O que sinto mais falta por aqui é a de encontrar por aí meus amigos. Fui ficando menos sociável por aqui. Pouca coisa me interessa. Pouca gente me interessa.
Eu ando por Lisboa como se estivesse em Cascavel, há lugares por onde nunca passei (lá e cá), mas eu tenho uma certa noção de espaço e direção. Bastam algumas quadras para me encontrar novamente.
Eu estava muito enclausurado, ultimamente. Pouco saía de casa. Faltava vontade. De repente eu percebi que estava ficando triste demais com isso (eu estou numa fase de escrever, e para isso a gente precisa estar mais concentrado e não se concentra andando por aí). Mas, de qualquer forma, eu tenho tido outra vez vontade de sair pela cidade e conhecer os lugares ainda desconhecidos.
Não vou reler o que escrevi. Vou deixa exatamente como está para mais tarde ver o que ando pensando sobre esses dias.

domingo, 18 de maio de 2014

Da Série Contos Mínimos

Andava bastante cansado, ultimamente. Ainda que ele não me contasse nada, eu sabia que ele já acordava com a sensação de dia que não acaba. E ainda restava um longo período e as suas atribuições. 

domingo, 11 de maio de 2014

Da Série Contos Mínimos

Hoje não nos falamos. Não, pelo menos, do jeito que se fala quando se está longe: não fiz nenhuma ligação, não enviei uma mensagem para o seu celular. Nos conectamos de uma forma mais sofisticada e com menos ruídos e interferências. Nos encontramos por um canal direto: metades que se chamam saudades.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A campanha está no NOIR.

Bem, alguns estão discutindo, no Brasil, se pode ou não propaganda eleitoral antes de 19 de agosto de 2014. Não pode, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Haverá multa, subtração do tempo durante a campanha, além de outras punições previstas em lei.
No entanto, a campanha à presidência da república está no ar faz algum tempo. Basta abrir os jornais, as páginas dos jornais na internet, assistir aos telejornais brasileiros para ver explicitamente a campanha a todo vapor.
Não há um dia sequer que a página do G1 não traga alguma notícia, em destaque, sobre problemas no governo federal. Não há um dia sem referência à CPI da Petrobrás. Um dia sem que algum político do PT envolvido no #MensalãodoPT (isso virou marca registrada) não seja mencionado. Não há um dia sem que haja incursões explícitas às mazelas do Estado Petista, seja federal ou estadual, quando esse ocupa o governo.
Vi, dia desses, no JN uma mostra absurda de referência ao PT. William Bonner e Patrícia Poeta, apresentadores do jornal, fazendo questão de evidenciar a sigla PT quando se tratava de notícia negativa e PSDB quando positiva (isso é mesmo redundante, porque só é veiculado matérias negativas sobre a sigla PT e positivas em relação à sigla PSDB).
Bem, não estou querendo dizer que não haja problemas nos governos Federal e Estaduais. Há. Tenho muitas reclamações para fazer. E acho que eles devem ser apurados e tb socializados. O que estou querendo discutir é se há ou não campanha disfarçada de notícia, nos meios de comunicação.
Vou abrir agora, dia 07 de maio, às 17h25, horário em Portugal, o site do G1 e veja o que encontro: Em primeiro plano, a escalação dos jogadores da seleção brasileira (em verde); abaixo, em vermelho, as seguintes manchetes: 'Não está tudo bem', diz Dilma sobre a inflação. E ainda, IBGE: produção industrial recua 5% em março.
Abri a primeira matéria e não há qualquer fala da presidenta sobre esse 'Não está tudo bem' em relação à inflação. Acompanhe o trecho:

A economia brasileira dominou boa parte da conversa, e Dilma disse haver uma "má vontade tremenda" nas análises do país. Para a presidente, "a inflação está sob controle, mas não está tudo bem". Ela diz que a sensação de "mal estar" em relação aos preços se explica pela diferença de taxa de crescimento dos bens com a taxa de crescimento dos serviços. 
(http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/05/o-brasil-nao-vai-explodir-em-2015-vai-e-bombar-diz-dilma.html)

Ou seja, a manchete produz um efeito de reforço negativo, pela própria presidenta, sobre a economia do país quando, ao contrário, ela afirma que O Brasil vai Bombar em 2015Mas isso só pode ser percebido quando se entra na matéria. O 'Não está tudo bem" diz respeito à "Má vontade tremenda nas análises sobre o país" e não sobre à inflação.
Vou continua daqui acompanhando alguns dos meios de comunicação para depois escrever sobre isso. 
O que vocês acham?

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...