domingo, 6 de julho de 2014

O Homem duplicado

Eu já disse aqui mais de uma vez que nao iria mais fazer nenhum comentário sobre filmes, porque isso e aquilo, e mais uma vez não cumpro com a minha palavra.
O motivo é apenas um: tem blogs especializados nisso, além de pessoas com muito mais competência que eu para fazer crítica.
Bem, agora que iniciei, vamos adiante. hoje assisti ao Homem Duplicado e fiquei com uma vontade de entender o filme quando ele acabou. Me pareceu, ainda que eu tenha gostado da adaptação, que na telona alguma coisa deixou a desejar. O filme não conseguiu atingir o realismo mágico do livro de Saramago. E por isso, ficou faltando um pedaço que desse liga à trama.
No entanto, gostei demais da interpretação do ator Jake Gyllenhaal. Vale ver o filme.


Quem escuta o meu Sim?


















quinta-feira, 3 de julho de 2014

A sensação de felicidade

Hoje, concluí mais um artigo do estágio de pós-doutorado: escrevi sobre o Brasil e o brasileiro a partir do que é recorrente nos jornais portugueses, de 2011, quando se fala da nossa economia: de um país emergente, da sensação de felicidade que a economia produz na população como se isso fosse uma equação linguística: economia emergente = população feliz.
É muito interessante perceber os efeitos de sentidos produzidos quando se naturaliza a relação entre a felicidade, o consumo e o poder aquisitivo da população. 
Não há espaço para que se efetive nada de negativo quando se pensa num país emergente, nesses jornais: nada é falado, por exemplo, sobre uma má distribuição de renda, sobre um número crescente de miseráveis, sobre os que estão do outro lado do balcão enquanto o consumo acontece, dos que nao têm moradia, dos que não tem alimentação ou educação, dos que não têm segurança, nada se fala das margens. Não há um outro lado, nesses jornais quando se pensa nas economias emergentes, sobretudo quando se fala nos países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). 
É claro que não se pode esquecer do lugar de Portugal, das condições de produção desses textos jornalísticos, quando o assunto é economia: a crise da zona do euro, sobretudo a que atinge os países periféricos da Europa: Portugal, Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, principalmente, no ano de 2011. A crise maior acontece no ano seguinte, mas o susto, o que paralisa, se dá em 2011.
Fala-se apenas de se consumir tudo e da sensação (imaginária) de felicidade que o consumo produz. A falta, constitutiva do sujeito sendo "preenchida" pelo consumo.
Tudo é consumível: desde o novo aparelho mais sofisticado de telefone celular, da televisão em 3D, até de um novo relacionamento, como se tudo isso pudesse preencher um vazio que nos subjetiva. Tudo é coisificado quando se pensa dessa formação discursiva do consumo como um caminho para ser feliz.
É tão natural a relação que se faz entre o otimismo dos indianos, dos brasileiros e dos chineses e a economia emergente que os sentidos parecem colados nas palavras.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Da Série Contos Mínimos

É claro que ele sabia que ao escolher aquele livro deixaria todos os outros, ainda que por um tempo, de lado.

Da Série Contos Mínimos

Quis a todo custo desler aquele livro e desviver aquela vida.

Da Série Contos Mínimos

Pegou um livro qualquer na estante, abriu aleatoriamente numa página e se descobriu em um parágrafo: "Olhou-se no espelho e achou que era cedo demais para ganhar os traços de sua mãe."

A culpa que pesa o corpo e o faz afundar

Soube através de um amigo que mora em Cascavel do suicídio de duas adolescentes na Ponte da Amizade, pra quem não se localiza bem, é a ponte que liga o Paraguai ao Brasil. Contou-me que elas se jogaram abraçadas dessa ponte em direção ao Rio Paraná. Coutou-me tb que imediatamente após serem avisados, o corpo de bombeiros de ambos países saíram em buscas das meninas, mas que não encontraram nada. É um rio perigoso, com correntezas violentas, um rio profundo.
Além disso, que já me deixou bastante chocado, me contou também que estão dizendo por lá e pelas redes sociais que as meninas se jogaram no rio porque tinham uma relação afetiva, eram namoradas, e que suas famílias não aceitavam a relação. Aí de chocado fiquei arrasado porque fico sempre pensando, diante dessas situações, como é que ainda hoje tantas famílias não aceitam o amor de seus filhos porque julgam que amar alguém do mesmos sexo seja pecado, erro, anormalidade, doença, crime. E como é que essa pressão ainda impõe em muitas pessoas um peso tão grande de culpa a ponto de fazê-las não vislumbrar outra solução que não seja a de por fim a própria vida.
Fiquei pensando, mesmo sem saber nada sobre as meninas, sem sequer poder compartilhar com elas a dor que sentiram, o medo que sentiram, a solidão em que se encontravam, se não haveria outra forma de enfrentar essa dor sem por fim a própria vida.
Alguém vale a dor que a gente sente? O que dizem a nosso respeito deve ser levado tão a sério a ponto de fazer com a gente se anule para dar satisfação? Esse ato modifica alguma coisa?
E aí fiquei me imaginando, me colocando no lugar dessas meninas, adolescentes, provavelmente sozinhas, rodeadas dessa enorme moral religiosa fundamentalista que produz ódio no lugar do amor, que separa quando devia juntar, que denigre quando devia compreender.
Não deve ser fácil mesmo enfrentar um bando de santos espalhados em quase todas as religiões. Os Santos que falam em nome de Jesus, em nome Deus, em nome de uma Família sagrada e que sabem/podem julgar como se ocupassem um outro lugar e mais, como se julgar, não fosse passível de julgamento, porque santificados que são, podem tudo, inclusive, produzir essa culpa que as meninas carregaram a ponto de se matarem. A culpa que ajudou a pesar para afundar o corpo das adolescentes.
É, talvez a atitude delas modifique sim alguma coisa: talvez a família possa, mesmo que tardiamente, é verdade, repensar a sua posição em relação ao amor que elas sentiam. Talvez possam em algum momento compreender o que é o amor. Talvez possam, a partir disso, repensar as suas maneiras de encarar a vida dos outros.
Ou, cheios até a alma de suas religiões-de-ódio julgar ainda o suicídio, como se ele independente dessa moral-religiosa-fundamentalista tivesse uma vida própria.
Tenho certeza de que vamos nos envergonhar muito ainda dessas posições cristalizadas sobre a homossexualidade, assim como nos envergonhamos hoje de antigos preconceitos. Tenho certeza de que precisaremos nos explicar um dia, como já foi feito tantas vezes, diante de tanto sofrimento por alguma coisa que diz respeito, sobretudo, ao privado. Como é que podemos julgar as formas do amor? Como é que podemos pensar que há uma única maneira dele se manifestar: a que julgo certa?
Não sei se as meninas puseram fim as suas vidas por conta disso, mas de qualquer forma, se não fizeram por isso, outros o fazem todos os dias.

Da séria: Contos mínimos

A conversa era narcísica. Ele me dizia o que eu queria ouvir porque amava ser amado. Havia um time de futebol apaixonado por ele e havia goz...