segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eu, trans

Hoje, através de uma postagem de uma amiga virtual de um rede social, conheci o site Eu, trans. 
Bem, acho que nem seria necessário eu dizer que gostei muito do que encontrei por lá.
Muita matéria importante, muito texto informativo, muito esclarecimento sobre a sexualidade de cada um de nós: quer sejamos héteros, homossexuais, bissexuais quer sejamos travestis, transgênero, pansexuais etc.
Há muitos depoimentos em forma de vídeo. Em cada um deles eu encontrei informações importantíssimas, riquíssimas sobre o outro: a forma como ele se sente diante da sociedade que o julga, o preconceito, a violência, a sua identidade, a forma como lida consigo e com a própria sexualidade, a sua relação com a família, com a profissão, com o seu nome social, com o seu corpo.
Vi/ouvi todos os vídeo e um deles me marcou muito: aquele que uma mulher diz: "Quem sou eu pra dizer pra alguém o que ela/ele deve ser ou não ser, quem sou eu pra dizer se a sua sexualidade é ou não adequada. Cada um se constrói a partir do seu desejo."
Bem, vale muito dar uma passada por lá e aprender.

domingo, 22 de novembro de 2015

Nanci, Vera e Robson, vocês se lembram?

Não sei como é pra vc, mas pra mim, começar a escrever sempre é muito difícil. Sempre fico meio atordoado em meio ao turbilhão de palavras que me rondam constantemente. Parece que sou coagido por elas para que eu as use, para que eu as coloque na ordem do meu discurso. É impressionando como isso acontece sempre que preciso/quero escrever.
Não sei nunca por onde começar, por qual caminho ir. As vezes pego um atalho, como estou fazendo agora, e aí fica mais complicado voltar para a ideia inicial, aquela que me fez deixar de fazer outra coisa para me sentar diante do computador, abrir meu blog, clicar em nova postagem e escrever.
Não era isso! Não era sobre isso este texto! Era sobre lembrança! Escrevi o título antes de tudo (coisa rara!) porque era sobre lembrança que eu ia escrever. Sempre errado por linhas certas!
Bem, quem sabe não é dessa vez. Vou tentar mais uma vez.
Estava hoje pensando que a cada dia fica mais complicado encontrar quem eu possa fazer a pergunta: Você se lembra? A sensação é a de que os amigos, esses que dividiram comigo a maior parte da minha vida, foram ficando em alguma parte dela, lá atrás em algum compartimento. Longe, cada vez mais longe...
Tenho três grandes amigos que eu sei que posso perguntar: Você se lembra? E vamos rir ou chorar juntos porque dividimos os bons e os maus momentos. Os novos amigos, esses que a gente vai somando depois da maturidade são importantes, mas não sabem de nós. Ele têm pistas do que fomos, por onde andamos, mas faltou o dia a dia. Faltou memória.
Encontrar o Robson, a Vera e a Nanci é me encontrar um pouco. É me reencontrar, pra ser sincero. Cada um deles sabe porque esteve junto, estava próximo, foi consultado, participou, acompanhou de longe, comemorou, sentiu muito.
Minha formatura no ensino médio. Minha formatura na faculdade. Meus amores perdidos. Os amores encontrados. As doenças. As alegrias. As minhas perdas. Os meus achados. As minhas viagens. As minhas chegadas. Minhas partidas. Os meus altos e as minhas baixas. 
Sei que daqui pra frente essa pergunta vai ficando mais rara: quero dizer, ela precisa ser tornar mais recente pra produzir alguma resposta: riso ou choro. Cada vez a resposta é mais atual e menos memória.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fátima Guedes - Transparente


...mas não pensei com palavras,
porque as palavras,
outra espécie de vazio,
não me vestiam quando eu sentia frio.

(Criatura - 1985 - Sétima Arte)




Nós, brasileiros, sobretudo, e todos os cidadãos do mundo (que gostam de música), somos privilegiados pela quantidade e qualidade de vozes femininas que temos por aqui. 
Gosto de tanta cantora que seria impossível escolher uma para chamar de minha. Não dá! Sou, praticamente, de todas elas.
Hoje, Fátima Guedes, lança o seu mais recente CD: Transparente. Apesar de ter apenas 4 músicas "inéditas" (E agora? já havia sido gravada, se não me engano, pela cantora Carol Saboya) e 10 regravações, o CD é muito bom! Não, o CD é espetacular!
Ela me ganha pela voz e pela interpretação. Além de eu ter em relação as suas músicas uma afetividade enorme: minha adolescência foi cheia das suas músicas!
Mesmo as regravações chegam com um gostinho de novidade. Tava passando da hora de um disco novo. 
É tanta coisa boa que fico perdido: A vida que a gente leva (2005), Cheiro de mato (1980), Criatura (1985), Condenados (1979), Onze fitas (1979), Faca (1992), Flor-de-ir-embora (1990), só pra gente ter uma ideia do que ela nos presenteou. Vamos ouvir sem parar!
Ética, uma das novas canções, é demais! Fico impressionado como ela consegue colocar música em certas palavras. Que delícia de CD!

domingo, 25 de outubro de 2015

Meu conto dos outros

Eu mal podia esperar pelo fim da chuva. Estava angustiado com tanta história que acabava de ouvir e mal sabia o que fazer com ela. Fazia tempo que eu não ouvia uma história que me incomodasse tanto. 
Eu escutava os mortos desde criança. Não era um ritual que eu me preparasse para as audições. Nada disso. Se eu estivesse sozinho (por muito tempo eu evitei ficar assim) eles me encontravam.
Depois dessa história, digamos, ruim, eu queria dar uma volta pra esvaziar a minha cabeça, mas a chuva e os ventos fortes não me davam a opção de sair de casa. Não, pelo menos, do jeito que eu gostaria.
Era uma ponte circular sobre o nada: se eu estivesse sozinho, as vozes me encontrariam, e na impossibilidade de sair, eu necessariamente estaria só e as elas voltariam.
Estou morando sozinho desde a morte da minha mãe. Isso faz dez anos. Nunca tive um relacionamento que me fizesse pensar em dividir um espaço. 
Namorei muito, mas sempre cada um em sua casa. Tenho dificuldades para dividir espaços, silêncios e sons.
As vozes eram muitas, de todas as idades e de muitos lugares. Eram velhos, crianças, homens e mulheres. A maioria deles nem sabia que tinha morrido. 
A primeira vez que isso me aconteceu eu fiquei muito assustado. Achei que era brincadeira, depois que eu estava maluco. E, sem entender muito bem, fui me acostumando com a situação. Quer dizer, "acostumando" não é exatamente o que acontece, mas como não consigo fazer diferente, fui vivendo assim.
Hoje, uma senhora me contou sobre estar sozinha. Reclamou dos filhos, dos parentes e dos velhos amigos que nunca mais a procuraram. Me contou que se sentia abandonada pelo mundo. Me disse também que mais ou menos era ela a responsável pelo abandono. 
Disse-me que em certa altura da sua vida (enquanto estava viva) se afastou de praticamente todas as pessoas. Ela havia abandonado o mundo a sua volta. E aos poucos, todos foram sumindo. Depois morrendo. E finalmente ela se viu assim, sem ninguém.
Me contou que sua morte foi descoberta apenas depois de 15 anos. Seu corpo ficou caído no chão do quarto. Nem os vizinhos, nem ninguém se deu conta da sua ausência. O corpo ficou ali apodrecendo até restarem apenas os ossos e o silêncio dos cômodos da sua pequena casa. Ela morava num vilarejo de poucas casas.
As correspondências foram se acumulando e um dia, só depois de todo esse tempo, é que desconfiaram de que alguma coisa poderia ter acontecido.
A história me tocou muito porque me vi exatamente vivendo da mesma forma que a velha senhora viveu. Sozinho, longe de todos pela pura incapacidade de saber conviver com os outros ou por um acúmulo de mágoa que eu não conseguia esquecer ou transformar em outro sentimento.
Ela era ressentida. Resmungona. Mal humorada. E eu achava certa graça da sua personalidade. Me contou também que se tivesse nascido em outra época não teria se casado ou tido filhos. Ela queria estudar, mas que tanto ela como suas amigas foram criadas apenas para casar, servir ao marido, depois os filhos. Assim que devia ser. E assim foi. 
Me contou também sobre a saudade que sentia da sua infância, das brincadeiras e do medo de ficar sozinha em casa. Depois que o seu pai morreu, tinha medo do escuro e a sensação de estar sendo vigiada.
Me falou ainda que se sentia feliz por poder conversar comigo e que soube de mim através de outros espíritos. Me disse também que poder falar sobre o passado tinha sido uma boa forma de pensar na vida que levou, mesmo sabendo que não faria qualquer diferença. Acho que conversar com ela, me foi mais valioso do que eu podia acreditar, ainda que eu nao quisesse, pelo menos agora, mudar de vida.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Um grande privilégio!

A Saudades nunca acaba. Bem ao contrário, ela, naturalmente, apenas cresce. Hoje faz 6 anos que a minha mãe morreu. De repente, bateu aquela lembrança dela e aí me dei conta de que se tratava do dia 19 de outubro.
Bem, não lembro dela apenas com tristeza. Na verdade, na maior parte das vezes, lembro-me dela com muita alegria. Já disse, muito provavelmente, isso aqui algumas vezes.
Sinto-me feliz por ter vivido 44 anos em sua companhia. Isso é um privilégio!

sábado, 10 de outubro de 2015

Aqui ou em qualquer lugar

Que chatice que virou essa tomação de conta online. Antes era com o celular: alguém te ligava e achava que você tinha a obrigação de atender porque o celular te acompanha pra todos os lados. Agora virou um inferno: o WhatsApp, o Messenger (principalmente) e tudo o mais que denuncia a sua presença ali.
Sabemos todos que a tecnologia existe pra facilitar a nossa vida. E facilita mesmo, MAS estar online não significa necessariamente que você está com vontade de conversar, com vontade de ler, com vontade de escrever.
Se você estiver com vontade na mesma hora de quem te enviou a mensagem: sorte de todos. Se não, por favor, tenha calma, fique na sua que uma hora (ou não) o seu interlocutor vai te dar uma resposta. Se ele não der, paciência. Ninguém é obrigado a fazer o que não quer. E as consequências disso dizem respeito a cada um.
Às vezes, a gente está dormindo, noutras, a gente está no banheiro, em algumas, a gente está lendo (será que as outras pessoas não fazem isso?), cozinhando, conversando com um amigo, vendo tv, escrevendo, preparando aula ou, simplesmente, não fazendo nada e querendo ficar assim.
Sem falar nas mensagens que chegam dessa maneira: Oi (enter). Tudo bem? (enter). Preciso falar com você! (enter). Tá aí? (enter). Putz, manda logo o que é necessário e pronto.
Aí você responde e a pessoa não dá sequência à conversa que havia inciado antes, ela parte do zero e começa tudo outra vez: Oi. (enter) Tudo bem? (enter). Preciso falar com você! (enter). Tá aí? (enter). Haja paciência e calma pra aguentar esse comportamento.
Fale de uma vez, criatura! Mande a mensagem inteira e depois a gente vê como resolve.
Além disso, que não é pouco, esse comportamento psicótico com os smartphones tem produzido a cada dia mais gente com a necessidade de fazer o check-in em todos os lugares, postar uma fotografia e acompanhar minuto a minuto as curtidas. E, é claro, responder todos os comentários assim que eles entram no novo status.
Se você está sozinho num restaurante. Se está em sua casa sem fazer nada. Mas se você convidou alguém pra almoçar, jantar, tomar um café, por favor, curta a presença do outro, acompanhe minuto a minuto os comentários que estão sendo feitos ali. Do contrário, não seria melhor estar sozinho?
As pessoas não conseguem mais ficar sem ligar o telefone. Seja no cinema, na sala de aula, no almoço, no hospital. Não tem mais hora e lugar. É inacreditável que a maioria não se toque de que se comportando assim você não está em lugar nenhum: nem no mundo virtual nem no mundo real. Se é que existe diferença!
Será mesmo necessário checar se não tem uma nova mensagem a cada dois minutos? A impressão que tenho é a de que a carência tomou conta de todas as relações e você não pode mais estar sozinho. Ficar sozinho é sinônimo de ser esquecido. Ninguém curtir a sua postagem é sinônimo de ser desinteressante.
Tem gente que não se toca dessa dependência. Logo, logo, chegam por aqui as clínicas de reabilitação para tratar da dependência da tecnologia pessoal. Depois a gente não sabe os motivos das nossas crises de ansiedade. Essa necessidade de dar conta de tudo ao mesmo tempo, de estar em todos os lugares e acompanhar tudo o que acontece do Oiapoque ao Chuí. Uma hora o corpo pede socorro. Vamos nos ouvir, pelamordedeus!

Smartphone não é extensão do nosso corpo, gente. Ele é imprescindível, eu sei. Uso muito o meu, mas não confundo a sua função no mundo com os outros prazeres.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Das músicas que me tocam



Meu
(Djavan)

Você sabe fazer
Tudo o que faz
Nada existe em você
Que eu não goste demais
Quando você diz
Me apaixonei por você, "meu"
Faz a cara feliz
De quem sabe o que é seu
Eu nunca vi nada assim "ô loco"!!!
É como faz o amor
Pra se proteger
Dá um "zignal" na dor
É vetado sofrer
Discordar, discutir
Nada é mais saudável, não, não, não
Um olhar neném de ser
Logo fecha a questão
Eu nunca vi nada assim "ô loco"
Ar, só com você
Mar, com você qualquer fundura dá
Tudo é tão meu
Quando você vem se chegando,
De um modo só seu

sábado, 26 de setembro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Em meio a um silêncio ensurdecedor, ele foi despertado ainda de madrugada. Meio acordado, meio dormindo, teve a sensação de estar sendo observado por alguém.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Dumont vivia nas nuvens, em algum lugar acima dos outros. Não por arrogância, mas pela ausência de tato para lidar com o mundo real. Fechava-se sempre que o tempo mudava: nem pouso nem decolagem. Ele não arredava o pé. E, emburrado, nem com reza forte mudava o humor. Ele não era fácil, diziam os pais, os avós, os tios, mas ele não entendia o que "difícil" queria dizer.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Das coisas que não acontecem apenas nas crônicas de Fernando Sabino

Chego em casa, depois do trabalho e o meu telefone fixo toca. DDD 51. Não faço a mínima ideia de onde parta a ligação. A única coisa que sei é que vou me arrepender depois de atendê-la. Tenho quase certeza de que no DDD 51 não pode ser nem o meu padrasto, nem o Robson (meu amigo do Rio) os únicos que me ligam no telefone fixo. Mas vou em frente na decisão de matar a minha curiosidade. 
É uma voz que está me oferecendo um Seguro de Vida. Digo-lhe imediatamente que já tenho um, mas a voz não me ouve, a voz apenas fala e fala muito. 
A voz fala sem parar. Sem me dar qualquer espaço pra eu roubar o turno da conversa. Ela me diz entre outras coisas que está me oferecendo um seguro “diferenciado”. E diz DI-FE-REN-CI-A-DO de uma maneira diferenciada. 
Segundo a voz, o tal seguro me oferece vantagens em vida. Diferente de todos os outros que em vida não me oferecem absolutamente NA-DA. “Nada” também sai de uma forma nada parecida com todos os “nadas” que ouvi na vida. 
E começa: vamos supor que o senhor perca um dedo, seja atropelado, quebre a cabeça, seja mordido por um animal (fiquei apavorado com essa possibilidade), tenha um problema que o impeça de andar, por exemplo, e fique, depois disso, com uma sequela pequena... o senhor ganhará R$350.000,000 reais. 
Tento interrompê-la mais uma vez, mas a voz não me ouve. Como eu disse, ela apenas fala e fala muito. 
A voz continua me animando com as vantagens para eu adquirir o tal seguro. A voz me pergunta se sou casado. Eu lhe digo que sim. Percebam que estou dando corda para saber até onde a voz vai. Ela não satisfeita me pergunta quantos filhos eu tenho. Digo que não tenho nenhum. A voz fica um pouco desapontada, mas não a ponto de se despedir. Ela continua: o nosso seguro dá a seus herdeiros um valor de R$350.000,00 caso o senhor MORRA. 
Fiquei muito animado com isso! Eu pago o seguro de vida e deixo para alguém todo esse valor. A voz se mantém firme no seu objetivo e me pergunta se eu costumo viajar. Eu digo que sim. Rio baixinho imaginando o que vem pela frente.
A voz, então, tem mais opções de desgraças para me oferecer: vamos supor que o senhor em uma viagem tenha um ataque do coração, sofra um acidente de carro, um infarto, um derrame, um desmaio que seja. O nosso seguro garante o seu deslocamento para um hospital. 
E os R$350.000,00? Não era a hora dela me oferecer um agrado? Acho que não! Dessa vez, pelo menos, a voz não me ofereceu nada. Era apenas o deslocamento. Mas também querer ganhar essa grana só porque sofreu um ataque do coração...
Eu tento dizer mais uma vez que não estou interessado. A voz continua surda. Bem, a solução foi mesmo simular um desmaio e desligar. Não estou definitivamente interessado nos R$350.000,00 do tal seguro, sobretudo se para recebê-lo seja necessário tanta desgraça prum corpo só. Um corpo é pouco.

Embora

Indo embora depois de um mês no Rio de Janeiro . Foi bom estar por aqui: encontrei amigos, descansei,  me diverti um pouco. Vivi dias absurd...