sábado, 19 de julho de 2025

A arte de se despedir



Envelhecer não tem manual, mas tem roteiro: ele começa com um entusiasmo juvenil e vai se convertendo, aos poucos, em uma coleção de despedidas. Deixa-se para trás o que parecia eterno, mas era só entusiasmo mal disfarçado. Abandonam-se certezas que já não servem, convicções apertadas como calça jeans da década passada. Amadurecer é aprender a sair das coisas — de algumas ideias, de algumas relações, de algumas versões de si mesmo. E fazer isso sem dramatizar (tanto), porque o que pesa não é o que se perde, é o que se arrasta sem mais sentido.

É que a gente vai crescendo e descobrindo que algumas amizades eram infláveis, que certos amores tinham prazo de validade escondido na parte de trás, e que nem toda promessa feita no verão sobrevive ao primeiro outono. A gente perde: a ilusão, a paciência, o WhatsApp de quem não responde. E, no lugar disso tudo, ganha umas boas olheiras e uma dose extra de ironia. Porque amadurecer também é rir do que antes nos tirava o sono — e perder o sono por coisas que antes nos fariam rir.

No fundo, quem amadurece sabe que perder faz parte do jogo. Perde-se o medo de decepcionar, a vergonha de dizer não, e até a vontade de agradar todo mundo. A arte está em saber se despedir: com leveza, com graça, às vezes com um suspiro — mas quase sempre com um ufa. E quando a gente aprende isso, aí sim dá pra dizer que cresceu. Ou pelo menos, que tá se virando bem. Com ou sem cabelo.

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