Segunda-feira tem um gosto estranho. É começo, mas nunca parece recomeço. A semana mal começa e já estou no compasso acelerado: trabalho pela manhã, aula de francês à tarde, reunião do Cartel à noite. Parece que tudo insiste em se concentrar justo nesse primeiro dia. E talvez seja por isso que a segunda me cansa tanto — ela já nasce cheia, exigente, sem espaço para respirar. É como se a semana me puxasse pelo braço antes mesmo de eu conseguir abrir bem os olhos.
Mas hoje há algo que suaviza o peso: terminei uma etapa de um trabalho que parecia interminável. Aquilo que se arrastava há meses finalmente ganhou um ponto final. Uma sensação de leveza se mistura ao cansaço — um alívio que quase compensa as olheiras e a tensão acumulada nos ombros. Há uma alegria silenciosa em poder dizer “foi”, mesmo que o corpo diga “ainda não dá”. Porque encerrar algo é também uma forma de recomeçar, mesmo quando isso acontece num dia em que tudo grita por pausa.
E a noite chega, como sempre chega, com aquela exaustão que não pede licença. O corpo já não acompanha mais o ritmo da cabeça. Ainda assim, sigo. Porque a segunda-feira, para mim, só termina quando realmente acaba. E há um certo orgulho nisso também — o de sustentar a travessia mesmo quando os passos ficam pesados. Amanhã será outro dia, mas por enquanto, só queria o silêncio de um banho quente, o descanso merecido e, quem sabe, o sonho leve de quem, apesar de tudo, fez o que precisava ser feito.