Talvez a gente devesse repensar essa pressa em querer mudar o mundo. Não que o mundo não precise de mudanças — ele precisa, e muito. Mas essa urgência espetaculosa, essa necessidade de transformar tudo em causa pública com selo de aprovação digital, talvez seja mais barulho do que ação. E se, ao invés de mirar grandes transformações, a gente começasse pelo mínimo? Pelo gesto quase invisível, pela gentileza que não vira legenda, pelo cuidado que não pede audiência.
Fazer o mínimo não é desistir — é escolher um caminho menos narcísico. É abrir mão do palco para ocupar a rua, a fila do banco, o almoço de domingo. O mínimo pode ser oferecer escuta, evitar uma grosseria, devolver o carrinho do supermercado no lugar certo. Parece pouco, mas é mais do que curtidas acumuladas em discursos indignados que terminam em nada. O mundo não muda com slogans; muda quando alguém, em silêncio, se dispõe a atravessar o desconforto de agir.
Se cada um fizesse um pouco, e esse pouco não buscasse aplauso, talvez a vida ficasse mais habitável. Esses mínimos iriam se sobrepondo, se acumulando de forma quase imperceptível, e quando a gente se desse conta, teria uma paisagem menos áspera ao redor. Não seria o mundo ideal, mas seria um mundo com mais delicadeza — e isso já é muito.
Sem post, sem selfie, sem likes. Só o gesto. Só a escolha cotidiana de não piorar o que já está difícil. Fazer a nossa parte não precisa ser épico. Pode ser discreto, quase secreto. E ainda assim — ou talvez justamente por isso — fazer diferença.