quinta-feira, 11 de junho de 2015

A mulher crucificada, Pablo Morenno - Zero Hora

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A polêmica representação da transgênero crucificada na parada GLBT sofreu, ao meu ver, um equívoco de leitura: foi interpretada como protesto contra o cristianismo, quando na verdade é uma denúncia sob a linguagem cristã. Ou seja, a imagem comunica desde dentro do cristianismo, e não de fora. Ela não se opõe ao simbolismo da cruz, mas o atualiza e o explicita, o traduz e o contemporiza. O processo simbólico é o mesmo, por exemplo, quando se representa Jesus como negro, como índio, como cigano, ou como gaúcho. Mas por que, nesses casos, poucos se ofendem?
Porque o desconforto causado não é pela representação em si da crucificação. Isso acontece na Sexta-feira Santa, em filmes, peças teatrais, sem alvoroço. A “ofensa” é porque os ofendidos não acham digno o corpo sobre a cruz, uma vez que “impuro”. É blasfêmia.
Parece-se à visão sobre Jesus dos homens de seu tempo. Ele era impuro, porque vivia com impuros (prostitutas, leprosos, cobradores de impostos).
Jesus várias vezes enfrentou a ideia de impureza nos meios religiosos da época. Mas um relato me parece especial: quando trouxeram até ele uma prostituta para ser apedrejada. Quem não tiver pecado algum atire a primeira pedra. E cada um, começando pelos mais velhos, largou a sua pedra e foi embora.
Os que trouxeram a mulher queriam salvar a religião do que achavam ser uma ofensa a princípios religiosos. Jesus demonstra que o tempo do apedrejamento já tinha passado. A Lei exigia outra interpretação.
A cena na Paulista não foi um protesto. Foi uma denúncia, e como “instalação” artística cumpriu seu papel de causar desconforto. Porém, o desconforto não tem de ser com a instalação em si, um simulacro, mas contra aquilo do qual ela é metonímia: a violência real sofrida pelos gays.
Sou cristão, católico praticante, e não me senti ofendido, mas incomodado. Não com a cena. Mas porque acusam seus realizadores pelo mesmo pecado que levou Jesus à crucificação: blasfêmia.

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