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terça-feira, 23 de março de 2010

Isabella, imprensa, efeitos de sentido

Impossível ficar indiferente ao julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar Isabella, de 5 anos, em 2008, diante do bombardeio jornalístico em torno do caso. Lembro-me muito bem do que a imprensa produziu em março de 2008: uma profusão de notícias diárias em todos os meios de comunicação brasileiros durante, aproximadamente, um mês: a imagem (a partir de indícios periciais) que se repetia incansavelmente da menina sendo jogada da janela; os pais de classe média de São Paulo envolvidos no crime; a mãe inconsolada; os amiguinhos da escola; os avós; os vizinhos; os populares. Não podíamos não nos envolver com toda aquela situação. Não podemos não nos envolver com este desdobramento do caso.
Lembro-me tb que nos meses que se seguiram ao caso Isabella, outros casos semelhantes acontecerem: mas a imprensa não deu o mesmo tratamento. Ouvi amigos dizerem que eles, esses outros casos, não se tratavam de crianças da classe média. Outros ainda disseram que a questão girava em torno do esgotamento da mesma notícia. Não sei mesmo o motivo, sei apenas dizer que o tratamento da imprensa foi diferente.
Agora somos outra vez bombardeados com notícias do julgamento do pai e madrasta da menina. Quase uma catequese. Não temos muitas escolhas, a não ser  assistir a CNN, ler um livro, escrever, ficar aqui na internet (sem abrir sites de notícias, é claro). Parece que nada mais importante acontece na imprensa brasileira. As imagens são insistentemente repetidas que deixam de produzir o mesmo efeito: "repetir a fossa, repetir o inquieto repetitório".
Sei que a função da imprensa não é outra senão criar a sensação de que esta é A Notícia, e, pior, a sensação de que necessitamos dela para ficarmos bem informados. Resta-nos pouuco, bem pouco: ou nos curvamos ao Jornal Nacional (e todas as outras versões dele) ou deixamos que o mundo lá fora siga o seu rumo.

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