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domingo, 19 de abril de 2009

Todo dia era dia de índio (texto)

Andei procurando hoje (19 de abril) nos jornais matérias (fotografias ou ilustrações) sobre o Dia do Índio para ler de que maneira esses meios de comunicação estão pensando/construindo/mostrando a imagem dos primeiros habitantes das terras brasileiras. Encontrei, não para minha surpresa, bem poucos textos sobre o assunto. Fotografias? Apenas duas.
Na Folha de São Paulo, por exemplo, tem um anúncio pago pela Caixa Econômica (na página A9) , ocupando meia página e é uma "Homenagem da Caixa aos seus 500 empregados de origem indígena e a todos os índios do Brasil", fora isso, apenas a coluna do José Simão faz referência ao dia do Índio: "Índio agora não quer mais apito. Índio quer iPod, mochila e tênis! Para fazer a dança da chuva com iPod!"
O anúncio da Caixa tb traz um pequeno texto ("Somos filhos da terra cor de urucum. Dos sons do igarapé e da força do jatobá. Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu. Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci...") e dois indiozinhos, o maior deles abraça o menor (como se o protegesse). São duas crianças e talvez essa escolha produza um efeito de que a nação indígena não esteja se extinguindo, mas crescendo, inclusive (e talvez, principalmente) com o apoio do Governo Federal.
Os comentários/brincadeiras do José Simão além da frase pronta de que "Índio quer apito", (parafraseada a exaustão e presente no imaginário em torno da cultura indígena, reforçando a ideia de que eles querem música e dança, apenas) escreve tb que "Tem mais índio no Sambódromo que na selva amazônica." É bem verdade, que índio virou, e não é novidade, fantasia de carnaval de tão caricata e exótica a forma como são mostrados.
No Rio de Janeiro ou em São Paulo, são quase lendas.
A Gazeta do Paraná traz, em sua primeira página, uma foto colorida (única em cores) de alguns índios, sendo que um deles usa um celular (como não consegui copiar a tal fotografia, fotografei-a). E a manchete: "Índios: culturas que resistem à realidade dos tempos modernos". Forma tb bastante comum, nos meios de comunicação, dos índios serem representados. Ela pode produzir efeito de que a sua cultura está sendo contaminada pela cultura do "homem-branco" e, por isso, eles estão deixando de ser índio.
Sem falar que essa representação muitas vezes é usada para comprovar que se já não são mais índios, devem ser tratados de outra maneira (principalmente no que diz respeito aos direitos de terras etc.)
Na página 7, sob o título "Comemoração pela 'lembrança' de uma cultura" eles são tratados como vítimas. E mesmo quando a voz do índio surge, (re)produz esse sentido. Em vários momentos da matéria são repetidas as ideias de que "sem ter o que comer e onde morar, índios ficam como 'moradores de rua'".
Nos últimos meses e anos, tenho percebido que as imagens produzem ora que são violentos (e são fotografados com armas em punho) ora vítimas do abandono (e perambulam pelas cidades) ou ainda que estão perdendo para cultura do branco (e usam computadores, celulares etc.).
Na maior parte das vezes são silenciados porque sua cultura primitiva não "merece" a nossa atenção, a dos civilizados. Se falam, falam-se do lugar do discurso oficial para (re)produzir os sentidos "hegemônicos"(desses meios de comunicação) sobre si.

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