Não é a primeira vez que escrevo sobre o comportamento de meus orientandos aqui. E escrevo justamente porque assim organizo melhor o que pensar sobre eles.
É claro que nem todos se comportam dessa maneira. Deus existe! Mas ainda que fossem dois ou três, isso já seria um caos, tendo em vista o trabalhão e o aborrecimento que certos comportamentos produzem.
Bem, não consigo pensar nos meus orientandos sem me pensar nessa mesma posição. Lembro-me da insegurança de escrever para que a minha ex-orientadora lesse. Não era fácil. Mas eu sabia que se eu não ultrapassasse essa barreira, a tese não iria aparecer pronta no criado mudo.
Lembro-me tb de que os meus textos vinham repletos de pontos de interrogação, observações e correções para serem feitas. E eu, sinceramente, não encarava isso com desânimo ou como se fosse uma derrota pessoal, derrota intelectual. Não mesmo! Ao contrário! Eu sabia que era a função da orientadora e que se eu fizesse as tais alterações, o meu texto ficaria melhor.
Lembro-me ainda da vontade de sumir. E da dificuldade de encarar a orientadora diante das minhas inseguranças.
Outra lembrança era em relação às indicações de leitura. Eu saía da sua casa e passava, ali mesmo no Largo do Machado, na primeira livraria que encontrava para comprar o tal livro indicado por ela. Além disso, sem que ela tivesse me dito isso em qualquer encontro, eu buscava nas referências dos livros indicados, outros livros que, eu desconfiava, pudessem me ajudar de alguma forma.
Escrever não é fácil, mas não escrever é pior ainda. Sobretudo se dependo disso para dar conta do meu trabalho.
Outra coisa importante era saber que a minha tese era minha e não da minha orientadora. O trabalho era para eu receber um título e não ela. Ela já o tinha.
Bem, tenho orientandos que ao contrário de tudo isso, e mesmo querendo concluir os seus trabalhos, não escrevem! Acham (como é que podem achar isso?) que os textos ficarão bons sem a reescrita.
Além disso, que já é grave, não apresentam leituras consistentes nem da teoria e muito menos da área em que escolheram desenvolver as suas pesquisas. Como pode? Me pergunto depois de cada encontro que acredito jogado fora e perdido.
Me impressiono, verdadeiramente, com uma pesquisa de mestrado em que o aluno não traga nenhuma novidade em relação ao seu tema. O cara escolhe com o que trabalhar e não busca nada em relação ao que "gosta", em tese, de escrever? Ora, alguma coisa está fora da ordem e precisa, urgentemente, ser corrigida.
Terminei a minha tese em novembro de 2015, recebi de volta em dezembro ainda com alguns ajustes para serem feitos. Em janeiro ela estava na mão de uma revisora (que levou um mês para finalizar o trabalho). Em março foi a minha defesa.