ossǝʌɐ op: É UM ESPAÇO PARA EU ESCREVER SOBRE O QUE GOSTO E NÃO-GOSTO: FILMES, DISCOS, LIVROS, FOTOGRAFIAS, TV, OUTROS BLOGUES, PESSOAS, ASSUNTOS VARIADOS. NENHUM COMPROMISSO QUE NÃO SEJA O PRAZER. FIQUEM À VONTADE PARA CONCORDAR OU DISCORDAR (SEMPRE COM RESPEITO E COM ASSINATURA), SUGERIR OU OPINAR. A CASA É MINHA, MAS O ESPAÇO É PARA TODOS.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Da Série Contos Mínimos
Ele mesmo contruiu em torno de si uma parede de tijolos. Firme. Rígida. A prova de quase tudo. A curiosidade dos outros não lhe incomodava, mas ele não tinha tempo para essas coisas menores. Como um lendário cawboy ele vivia sozinho e silencioso.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Mas tb me diverti (texto)
Dia 4 de fevereiro, retorno à universidade. Pense em alguém desanimado. Pois é assim que me sinto só de pensar em voltar para tanta coisa (sempre) por fazer.
O trabalho é um buraco sem fundo, não se consegue dar conta dele. Ah, doce ilusão ... a de poder estar mais livre, ou a de, pelo menos, poder fazer apenas aquilo de que se gosta. Missão impossível esta.
Na verdade, mesmo de férias, consegui escrever um projeto e mandar um resumo para um evento. Isso foi um trabalho e tanto, mas tb me diverti: cinema de montão, praia quando deu (janeiro no Rio é tanta chuva que não dá para acreditar), shows da Fátima Guedes, Tulipa Ruiz, Gal Costa (tudo a preço camarada e justo), teatro, amigos por perto (nem todos, é claro). Acordei sem compromisso, descansei muito.
Estou sim com saudades de dar aula, afinal é o que gosto de fazer. Conhecer os novos alunos. Rever alguns alunos antigos. Voltar a uma certa rotina. Isso eu gosto, muito! Saudades tb da minha outra casa, do silêncio da outra casa e dos amigos de Cascavel (alguns são tb da universidade). Pelo visto, voltar não é de todo ruim ... o que me preocupa mesmo são as chatices do trabalho (mas qual não tem um lado ruim?): aquilo que chega, normalmente, hoje mas é para ontem. Êta trem ruim!!!!
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
É tanto sentimento, deve ter algum que sirva
É praticamente impossível digerir uma desgraça da proporção da que atingiu a cidade de Santa Maria, RS. Desde domingo, quando acordei e liguei o meu computador e soube da tragédia (naquele momento ainda não sabia do número de jovens mortos), ando meio sem saber direito o sentimento que mais me afeta diante disso.
Fico aqui pensando o quanto de tristeza pela morte injustificada de tantas pessoas. O tanto de desespero pelo que aconteceu na madrugada de domingo dentro da boate. E a revolta pela descaso que nos acompanha desde sempre em relação ao poder público (o privado quase sempre o descaso é escancarado).
Ouvi o prefeito da cidade tentar justificar a falta de licença da boate, continuei ouvindo-o nas evasivas em relação à responsabilidade da prefeitura no controle das casas que funcionam sem a menor condição.
Tudo isso como se o seu cargo não tivesse nada a ver com o caso, a indiferença de sempre dos governantes diante das catástrofes (sou do Rio e faz tempo, os prefeitos, governadores desta cidade, a cada verão, repetem, como um disco furado, a mesma frase, "estamos trabalhando para resolver", mas no verão seguinte, na-da foi feito). Ou os donos dos estabelecimentos que falam de uma "fatalidade" ou de um "acidente".
Li nas redes sociais sobre o excesso dos meios de comunicação, sobre a insensibilidade de alguns jornalistas, li até que a presidenta da república estaria fazendo média ao sair do Chile e prestar solidariedade aos familiares das vítimas.
Aí, minha preocupação, diante disso tudo: E quando isso acontecer em outro lugar? E quando isso acontecer com os nossos alunos, amigos, em nossas cidades? Porque isso acontece sempre (também como um disco furado, que insiste em permanecer na mesma frase), repetindo, repetindo as mesmas desgraças.
Por que as autoridades que são pagas para supervisionar, fiscalizar, cobrar não fazem nada? Por que nos esquecemos logo desses fatos?
Não seria o caso desse prefeito nunca mais ocupar nenhum cargo público, além, é claro, de responder judicialmente pelas centenas de mortes? E o Corpo-de-bombeiros que não fez a fiscalização devida e não interditou a tal boate? E tantas outras boates que continuam funcionando nas mesmas condições em todas as partes do país?
Não seria a hora de não nos esquecermos nunca mais disso e cobrarmos mudanças imediatas em relação às leis que regem o funcionamento do comércio?
Não seria o momento de sairmos às ruas para cobrar dos prefeitos eleitos, dos vereadores, dos deputados, enfim, dos políticos que são eleitos por nós e que, portanto, nos devem satisfação dos seus atos?
Gente, são mais de 200 mortos, são filhos, alunos, mães, irmãos e irmãs, namorados e namoradas de todos nós que estavam em uma boate na noite de sábado apenas para se divertir.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
4 anos (texto)
4 anos de blogue. 1193 postagens (incluindo aí, fotos, charges, músicas, textos de outros autores, poesia, conto etc.). Não é fácil manter um padrão de escrita. O fôlego foi diminuindo a cada ano, mas o prazer de estar aqui permanece o mesmo.
Não sei mais quem passa por aqui porque os comentários quase que desapareceram, sei que tem gente online, mas apenas identifico o país, a cidade, se estão ou não por aqui e por quanto tempo. O tempo urge ... pra todo mundo, eu sei...
De toda a forma, agradeço muito quem por aqui passa nem que seja para uma olhadinha. Comemorar os 4 anos é, para mim, agradecer também aos colaboradores: Cris, Fátima, Luiz, Tânia Aires, Luiz Hick, Orvalho do ceu, Mayumi, Fabrício Viana, Edhi Pheqheno, Joanir e tantos outros amigos que por aqui passaram nesses 4 anos.
Espero que a mudança no designer do blogue para comemorar o aniversário tenha agradado a todos. Eu, pelo menos, gostei.
Obrigado a todos!!!!
EU ACUSO!
Parafraseando Émile Zola, eu acuso, mesmo que ninguém me pergunte, diversas pessoas e entidades de Santa Maria, pela tragédia do incêndio da Boate Kiss, neste domingo de luto, dor, lágrimas, morte, perplexidade.
Quando falo em diversas pessoas, eu quero dizer todos nós, que achamos que a lei de prevenção de incêndio não é para valer. Santa Maria teria sido o primeiro município do Estado a contar com uma lei de prevenção de incêndio, que acabou por ser usada como referência para a lei estadual no mesmo sentido.
Mas, exatamente aqueles que aprovaram a lei foram os primeiros a descumpri-la, ou seja, até hoje 90% das escolas públicas, municipais e estaduais, não contam com sistema de prevenção de incêndio, depois de mais de trinta anos, colocando em risco a vida e a segurança dos servidores, dos professores e, quem está preocupado com isto?, de milhares de crianças. Eu acuso o Estado e o Município como responsáveis!
Passei 22 anos brigando para exigir que os locais de aglomeração de público, tais como boates, estádios, prédios de apartamentos, escolas, centros de tradições, clubes, para que tivessem sistema de prevenção e combate a incêndios, tudo em vão. Eu os acuso como responsáveis!
Inúmeras boates foram fechadas por liminar do Poder Judiciário por falta de condições de segurança contra incêndio, mas reabertas logo a seguir com a cassação da medida antecipatória porque eles provavam ter feito as adaptações necessárias e, logo que recebiam o alvará, desmontavam o sistema. Eu os acuso como responsáveis!
O esporte favorito de alguns políticos locais era defender boates sem condições de segurança, sob a alegação de que a atividade criava empregos, o que é verdade, mas esquecendo que também criava risco de morte. Eu os acuso como responsáveis!
Eu me acuso, como membro do Ministério Público, por não ter feito mais, com culpa ou sem culpa. Aí está, desde 1963, o prédio da Avenida Rio Branco sem nenhuma manutenção e há anos com inúmeras decisões judiciais e de pé, como se tivesse sido construído ontem. O esqueleto nos olha desafiador, gozando de nossa cara! Quando cair, quantas pessoas morrerão? Bobagem, o Adede é um idiota, todo mundo sabe, pretensioso e metido a engenheiro. O prédio não vai cair, nunca!
Eu só não acuso as vítimas, porque estas só queriam viver a vida, e um bando de irresponsáveis não permitiu isto. Um bando de irresponsáveis, do setor público que só pensa nos votos da próxima eleição e do setor privado que só pensa no lucro.
As vítimas viviam a vida que lhes era própria, com festa, com sorrisos, com cabeça leve e espírito jovem, o que era um direito seu.
Não podemos crucificar ninguém sem investigação séria e julgamento justo, mas também não podemos minimizar as responsabilidades. Eles podem fugir e se esconder, mas não para sempre.
Não foi uma fatalidade, mas a soma de irresponsabilidades.
Que cada um assuma a sua.
Eu acuso!
texto publicado em:
http://adedeycastro.com/2013/01/27/eu-acuso/
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Uma criança = papai + mamãe (Ruth de Aquino)
Esse era um dos cartazes, empunhados com
orgulho hétero, na manifestação gigante de Paris no dia 13: Un enfant = un papa
+ une maman. Centenas de milhares de franceses saíram do armário para dizer
“não” ao projeto de lei do governo socialista de François Hollande de “mariage
pour tous” (casamento para todos). No país da “liberté, égalité et fraternité”,
os homossexuais ainda não têm direito ao casamento civil – e avós, papais,
mamães, jovens e criancinhas defenderam nas ruas uma versão idealizada e
romântica da família contra “a ameaça gay”.
A crise econômica e o desemprego atingem
seriamente a Europa, mas o que leva uma imensa multidão a marchar no inverno
parisiense não é a exigência de “trabalho para todos” – eles só querem impedir
que homossexuais casem nos cartórios. Segundo as autoridades, foram 340 mil
manifestantes. Segundo os organizadores, de 800 mil a 1 milhão. A disparidade
dos números é um indício da irracionalidade do debate. La France n’est pas un
pays sérieux.
Por que esse pânico, que beira a
histeria? O que muda realmente na vida de um casal heterossexual se outro
casal, homossexual, decide transformar sua união estável em casamento? Qual o
resultado pernicioso dessa lei? Que significado teria, além de celebrar a igualdade
de direitos civis numa democracia republicana laica, e não numa teocracia?
O que está em jogo não é o ritual da
cerimônia, nem os papéis assinados ou os direitos à pensão ou herança. O que
apavora os homofóbicos costuma vir logo depois do casamento: os filhos, a
família. Os héteros mais fanáticos surtam só de pensar que um casal gay, de
homens ou mulheres, tenha direito à paternidade ou à maternidade. Aí é demais.
Contraria a natureza. O que será desses meninos e meninas, meu Deus?
Como se tivéssemos produzido gerações de
crianças e adultos “normais”, livres de neuroses e traumas. Como se a
heterossexualidade de pai e mãe assegurasse um vínculo afetivo sadio, um
ambiente familiar exemplar. O argumento de que gays, por gostarem de pessoas do
mesmo sexo, criarão filhos infelizes ou desajustados é de uma prepotência
difícil de engolir.
“É natural o receio de que essas
crianças sofram alguma discriminação na escola”, afirma a psicanalista e
terapeuta familiar Junia de Vilhena. “Atendo no consultório um casal de mães
homossexuais que se preocupam com a filha de 10 anos na escola. Mas a menina
está muito bem integrada num meio liberal. As amiguinhas não questionam.
Normalmente, quando existe preconceito, vem dos pais dos alunos, mesmo nas
escolas mais avançadas. Sou esperançosa. A sociedade aos poucos aceitará. Pior
e mais cruel é o preconceito contra crianças gordas. Elas enfrentam
barbaridades.”
Ser pai ou mãe, mais que uma
possibilidade biológica, é um aprendizado. “Podemos encarar a família como uma
prisão ou um lugar de abrigo. Um espaço de trocas ou de isolamento coletivo. Um
agente de mudanças ou um dispositivo de alienação. De qual família estamos
falando?”, diz Junia.Mesmo nos países com leis progressistas, como o Brasil,
desconfio que a maioria silenciosa da população seja contra o direito de um
casal gay de educar uma criança como seu filho. Não importa o método: adoção,
inseminação, fertilização in vitro ou acordos domésticos com
amigos ou amigas. Há uma turma que considera a criança mais bem assistida num
orfanato do que na casa de pais ou mães homossexuais.
“Dificilmente, hoje, encontramos essa
família idealizada de um filho, um papai e uma mamãe, uma visão ligada à ideia
do amor romântico e eterno”, diz Junia. A família de núcleo patriarcal é hoje minoria.
Crianças vivem só com a mãe solteira, separada e provedora. Ou com padrastos,
madrastas e meio-irmãos. “A classe alta não está nem aí para as regras. A
classe baixa está fora desse sistema – em vez de sonhar com o casamento ideal,
foca na sobrevivência. Quantos pais nem sequer reconhecem seus filhos. Ou têm
amantes. Essa família arrumadinha e feliz nunca existiu, mas ainda é uma
aspiração da classe média. Muitos homens e mulheres ficam juntos e infelizes
até morrer.”
Estranho pensar que muitas de nós
lutaram pelo direito de não casar de papel passado nem na igreja. Tive dois
filhos, de dois homens, jamais casei oficialmente por ser contra associar o
amor a qualquer contrato ou rito perante um juiz ou um padre. Há 40 anos, num
mundo ainda com utopias, era uma transgressão. Formei minha família com erros e
acertos.
Alguns heterossexuais convictos alegam
que gays só formam um casal, e não uma família. Um homem e uma mulher sem
filhos tampouco são uma família. Mas conviver com filhos biológicos ou adotados,
exercer a paternidade e a maternidade, deveria ser, sim, um direito de todos. O
mundo caminha nessa direção. É irreversível. Nenhuma “parada hétero” reverterá
esse processo.
(texto publicado na Revista Época)
domingo, 20 de janeiro de 2013
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