Dois casos distantes geograficamente guardam em comum a inabilidade e o despreparo para tratar com seres sejam adultos que fogem dos padrões ou crianças prodígio, que não deixam de ser seres em mutação, formação e transformação, como todos nós. A responsabilidade de produtores e apresentadores que levam ao limite a psique de artistas como Susan Boyle e a menina Maísa, de 6 anos, (do SBT) tem de ser questionada e levada mais a sério, e em nivel profissional. No caso de Susan, mesmo que ela tivesse fragilidades, a forma com que a mídia mundial a ela se referiu foi ofensiva e deselegante (foi alcunhada de "feiosa", "solteirona", "desequilibrada" e "vítima de internação em hospital psiquiátrico" - quando tudo o que importava era a sua bela voz), após ter sido injustamente afastada do primeiro lugar em um concurso ("show"?) de calouros, onde jurados se exibem em cima da exposição dos candidatos. mostrando que a relação sádica é o que conta nessas produções para atrair o gosto popular mediano. A menina Maísa, por sua vez, foi chamada de "medrosa" (o apresentador comandava e o público repetia, como marionete, aos gritos e risadas, a palavra diminuidora e humilhante: "medrosa!", medrosa!", o que nos EUA já é identificado como o crime de "bullying"). Foi também chamada de "menina cheia de banca", quando, constrangida, e mesmo tendo dito que "amava" o apresentador, a criança teve suas lágrimas e pavor de um menino maquiado de monstro ignorados e ridicularizados perante o Brasil. Numa segunda apresentação, em vez de ignorar o ocorrido, Silvio Santos tentou tocar de novo no assunto, a despeito dos pedidos educados da menina de que não o fizesse. Ele ignora as lágrimas da pequerrucha (visivelmente abalada e tentando em vão compor-se) e torna a fazer com que ela se sentisse constrangida em seu programa de auditório voltado para o entretenimento humorístico, espetacularizando a dor infantil e transformando em exibição midiática a incapacidade humana de relacionar-se, inclusive a dele: uma nova exibição da Comunicação do Grotesco dos anos 1970, quando Chacrinha fez um popular comer uma barata ao vivo, em troco de um Fusca. Ser-lhe-ia dado um carrinho de plástico!. . Estas produções milionárias deveriam por LEI ter em seu bojo orientação psicológica e psiquiiátrica obrigatória, além de acompanhamento e aconselhamento pedagógico compulsórios, pois seres inocentes poderão sofrer de estresse pós-traumático para o resto de suas vidas devido à má condução que visa o lucro e a audiência crescente a todo custo. Danos incalculáveis decorrem de tais ocorrências, ferindo a sensibilidade interna e externa daqueles que assistem e nada podem fazer, sendo assim disseminadas a impotência popular e a anestesia acrítica. Uma lástima da contemporaneidade.
*Professor Rogério Zola Santiago - jornalista e crítico de mídia pela Universidade de Indiana, USA,
*Professor Rogério Zola Santiago - jornalista e crítico de mídia pela Universidade de Indiana, USA,