Não se escandalizem, crianças! Não se espantem, rapazes! Talvez vocês não se lembrem de um filme famoso intitulado "Os brutos também amam", mas lhes informo que não apenas os brutos e os jovem, mas os velhos também amam. É isso que estou lendo numa revista francesa séria, que tem uma manchete que equivale a: "Nossa Senhora, a Vovó também trepa". E lá está a foto de dois idosos ( que palavra incômoda!) se acarinhando.
E a reportagem é uma pesquisa com pessoas que têm cerca de 80 anos. Elas estão inteiraças e mandando bala. Os especialistas criaram até uma nova expressão "os novos octos" (a qualquer a hora a imprensa do Rio e São Paulo vai começar a falar disto). Os franceses gostam de encurtar certas palavras, "prof" no lugar de professor, "filo" no lugar de filosofia, etc.. Pois aí estão os "novos octos" , os "novos octogenários".
E o repórter vai dando nomes e idades aos personagens entrevistados. Madalena, 80 anos, está febril para encontrar o seu Louis que chega de avião de Boston; Maria, assistente social de 81 anos, está felicíssima por que encontrou Dominique, 13 anos mais jovem, e lá se foi a solidãol Marcel de 77 anos faz surfe com Ivone. E assim por diante. Enfim, pelo menos 70% desses idosos declaram que carecem de sexo, de uma maneira mais ou menos urgente, mas carecem.
Quem, teoricamante, primeiro escancarou a atualidade e a urgência desse assunto foi Simone de Beauvoir num livro clássico "A velhice". Há que ler.
É como se a humanidade estivesse numa frenética reinvenção de si mesma. Vocês sabem que crianças são uma invenção recente, antes de Rousseau e outros elas apenas faziam parte do cenário alheio. Outra invenção recente é a mulher, outra o índio, outra o negro, outra o homossexual, e assim por diante. A imprensa e a sociologia estabeleceram que os jovens foram inventados nos anos 60 - o "poder jovem".
Pois aí é que surge uma coisa curiosa sobre esses que estão chegando aos 80. Todos os governos dos Ocidente deveriam erguer uma estátua em homenagem a eles, porque são pessoas que atravessaram historicamente alguns dos momentos cruciais dos últimos anos. Eles viveram a revolução sexual dos anos 60. (Olha aí o "maio 68" de novo, olha aí a vida que não quer morrer). As mulheres atravessaram a revolução feminista, viram seus filhos virarem hippies, arriscaram-se em várias experiências pessoais, sociais, familiares e agora estão aí cruzando os 80.
Dizem as estatísticas que entre 1980 e 2009 aumentou a percentagem dos que atingem os 75 anos. E o número dos que terão 85 anos deverá quadruplicar os de 75 daqui a algumas décadas.
Não se trata de fazer uma paráfrase do "poder jovem" e decretar "o poder aos velhos". Nada disto. Parece que esses que chamávamos de velhinhos estão querendo outra coisa, e isto, sim, é sinal de sabedoria. Peguem a palavra aposentadoria. Antigamente havia uma noção de aposentadoria totalmente danosa: o indivíduo se aposentava, ficava inativo e havia um pressuposto de que aposentava também seu sexo. Aposentado era um morto que se esqueceu de deitar. Havia, no entanto, uma expressão contraditória, pois dizia-se: "gozar a aposentadoria".
Havia aposentadoria. Faltava o gozo. E é isto o que os de oitenta anos estão buscando.