sábado, 10 de julho de 2010

Que horror! (texto)

Assino a Globo.com (G1) faz muito tempo. Acho que desde 2002 da última vez que voltei para o Rio. Desde então, mantenho este mesmo e-mail  pela praticidade (a de não ficar trocando toda hora de endereço).
Aí, cada vez que verifico a minha caixa de entrada, preciso, necessariamente, passar pelo portal G1. Ultimamente o seu assunto preferido é o caso Bruno (o ex-goleiro do Flamengo) supostamente envolvido na morte de uma mulher.
A cada entrada no site, encontro novidades. Cada uma delas mais sem sentido do que a outra. Da última vez, o portal nos informa sobre a camisa do time de futebol (pelada) do goleiro: "Com uniforme ‘amedrontador’, time de pelada de Bruno está parado".
Fiquei curioso (talvez seja mesmo isso que queira o site) e fui, preparado para me assustar, confirmar a tão temida camisa do uniforme do ex-goleiro: a imagem da morte não é nada além do que uma cópia da máscara do filme Pânico. Acho que não vou dormir mais!
Além dessa imagem de terror tem a legenda: "Só os fortem prevalecem. 100% é nóis". Que horror essa legenda!!! Uns três meses sem dormir.

De longe, vejo a cidade (texto)

Estou de férias. Na verdade, estamos em recesso acadêmico. De qualquer maneira, não entro em sala de aula por duas semanas. Bom pros alunos e pra mim tb. Um descanso, merecido, diga-se.
Um semestre inteiro me equilibrando. Viagens apenas fora dos dias letivos para não deixar a disciplina de pernas quebradas. 
Mas não é sobre aula, alunos, que quero escrever. Vou poder encontrar meus amigos. Alguns, pelo menos, já que viajo apenas uma semana. Caminhar no Aterro no final de semana, ir a Ipanema, ao CCBB, ao CCC, ao Carioca da Gema, ao cinema, à feira pertinho de casa, a Santa Teresa, a Paciência (acho que exagerei na programação. Acorde, Alexandre, uma semana apenas!).
Preciso tb resolver questões familiares pendentes. Morrer não é simples, como pode parecer. Não vejo a hora de estar chegando na Cidade...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O goleiro, o político, a polícia, a missionária, a menina assassinada (texto)

Bruno é jogador do Flamengo. Ele tem o maior salário da equipe, entre R$150 e R$200 mil reais por mês. Tudo indica que ele está envolvido na morte de uma mulher.
A imprensa está adorando tudo isso. Não há Jornal Nacional que não dê, em primeira mão, todas as últimas notícias do caso, mas não é sobre a imprensa que quero escrever.
Ah, enquanto eu escrevo, penso tb sobre todos os fatos.
O que será que faz com que um cara jovem como o Bruno, bem sucedido em sua profissão, com dinheiro, se envolva na morte de uma mulher, supostamente, a mãe de seu filho? Será que ele, e todos os outros envolvidos, contava com a impunidade? O goleiro achava que o crime não seria descoberto? Ou ainda que ele seria poupado mesmo depois da descoberta dos detalhes do episódio?
Acho que por muito tempo, por aqui, ter dinheiro/poder significava não responder por seus atos. Temos centenas de exemplos desse tipo. E isso produziu, de certa forma, um pensamento de que se pode tudo sem ser responsabilizado por nada.
Por exemplo, a procuradora espancava, humilhava uma criança diante dos seus funcionário e contava com a impunidade.
O fazendeiro que mandou matar a missionária Dorothy Stang tb contava com a impunidade. E tantos outros exemplos.
Não tenho respostas. Quem as têm? Tenho perguntas. Muitas perguntas e a sensação de indignação diante desse caso. Sei que tantos outros com personagens nem tanto conhecidos continuam ocorrendo enquanto escrevo este pequeno texto.
Preciso acreditar numa justiça, porque não acredito, definitivamente, na solução dos impasses pessoais de forma educada, racional, inteligente.




quarta-feira, 7 de julho de 2010

Blasé demais (texto)

Olha, vejam vocês (seja lá quem sejam vocês), pra mim não tem comportamento mais brochante do que alguém blasé. Tem gente que, não sei se um tipo, se uma incapacidade, ou se apenas não pode mesmo, por uma séria de motivos, se comover com determinados fatos, que comoveriam pelo menos a maioria das pessoas.
Refiro-me àquele que exprime completa indiferença pela novidade ou pelo que deve chocar etc.
Sabe quando vc está animadíssmo e conta o motivo dessa sua alegria (não me refiro a um desconhecido, pq os desconhecidos podem ter quaisquer comportamentos) e o outro, sabe-se lá porquê, responde: "legal"(?). 
Legal? Legal? Ah, vá para o ponte que partiu! Dê uma voltinha e veja se eu estou na esquina. E caso eu esteja, por favor, passe sem me cumprimentar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O crime de Lady Gaga - Marcia Tiburi analisa o pós-feminismo pop de Lady Gaga



Lady Gaga é o mais recente ídolo pop da cena internacional. Entenda-se por ídolo pop um indivíduo que encanta as massas com a habilidade artística de que é capaz sendo seu autor ou o mero representante de uma estética inventada por publicitários e estrategistas de produtos culturais. Nesse sentido, todo ídolo pop age como o flautista de Hamelin conduzindo por certo efeito de hipnose uma quantidade sempre impressionante de pessoas. Ele é também um guia estético e moral das massas. A propósito, entenda-se por massa um grupo de indivíduos que, ao se encontrar com outros, perde justamente a individualidade, tornando-se sujeito de sua própria dessubjetivação. Em outras palavras, ele é hipnotizado como se estranhamente desejasse sê-lo. A Indústria Cultural depende desse mecanismo, por meio do qual oferece ao indivíduo a oportunidade de se perder com a sensação de que está ganhando. O ídolo pop é a humana mercadoria que permite o gozo pelo logro que o espectador logrado aplica a si mesmo.
Lady Gaga certamente veio para nos lograr. Mas, como disse Walter Benjamin sobre livros (e também putas), muitas vezes a mercadoria vale muito mais do que o dinheirinho que pagamos por ela.

O paradoxal desejo das massas
Antes de mais nada, é preciso ver que Lady Gaga, a despeito da qualidade boa ou má de si mesma e do que ela produz, vem a nós com números impressionantes. Se na internet seus vídeos são vistos por milhões de pessoas (certamente, quando você ler este artigo, os números serão ainda maiores) é porque ela mesma sabe – ou o diretor e roteirista de seus belos videoclipes nos quais a quantidade aparece, seja na nota de dólar com o rosto de Gaga como no vídeo de “Paparazzi”, seja em “Bad Romance” nos índices na cena dos computadores – que se trata em sua obra da questão da quantidade, mais do que da qualidade. A Indústria Cultural sempre tem na quantidade uma questão mais importante do que a qualidade, mas, se Lady Gaga sabe disso e não o esconde, é porque elevou o cinismo a discurso, mas, ao mesmo tempo, lança-nos uma ironia capaz de fazer pensar.
A questão da quantidade adquire um contorno subjetivo na mentalidade dos indivíduos aniquilados no todo. Assim, uma característica expositiva da condição das massas de nosso tempo é o próprio “desejo de ser massa”. Trata-se da ânsia de adesão ao todo que se disfarça no desejo de saber o que todo mundo sabe, ver o que todo mundo vê. Complicado falar de desejo das massas, quando a “massa” remonta à possibilidade de se deixar moldar pela ação exterior justamente por ausência de desejo. Podemos, no entanto, entendê-lo usando uma imagem gasta como a da ovelha a participar do rebanho. Um modo de ter lugar desaparecendo mimeticamente no todo. Nesse sentido, o desejo de ser massa é o mesmo que nos coloca na situação de fazer parte da audiência fazendo com que liguemos a televisão no programa mais visto, que queiramos ver o filme com a maior bilheteria, que, caso cheguemos a desejar um livro, seja da lista dos mais vendidos. Fazer parte da audiência é a garantia de que em algum momento estaremos juntos, que faremos parte de uma comunidade mesmo que ela seja apenas “espectro”. A angústia da solidão, da separação e da própria individuação desaparece por um passe de mágica da imagem do ídolo pop.

Uma estética pop para o pós-feminismo?
A obra da jovem Lady Gaga não é objeto descartável como a maioria das mercadorias promovidas no contexto da indústria e do mercado cultural. Se nos detivermos em sua música, em sua dança ou em sua imagem isoladamente, não entenderemos o todo da mercadoria. Portanto, é preciso estar atento à performance que ela realiza. A apreciação disto que devemos hoje chamar de obra-produto ou produto-obra deve começar por aí, tendo em vista que, acima de tudo, Lady Gaga é uma performer que agrega em seus vídeos diversas formas artísticas que vão da música ao cinema, passando pela dança e chegando a uma relação curiosa com um aspecto inusitado da produção contemporânea nas artes visuais. Lady Gaga tange em seus vídeos mais famosos questões que estão presentes na obra de artistas contemporâneas que podemos chamar de vanguardistas por falta de expressão melhor, tais como Cindy Sherman, Daniela Edburg e Chantal Michel. No Brasil, Karine Alexandrino, Paola Rettore ou o pernambucano Bruno Vilella praticam a mesma suave ironia até o mais cáustico deboche com trabalhos sobre mulheres mortas.
O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.
No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens. Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem. Um contraponto é criado no vídeo entre a imagem do rosto da própria Gaga levissimamente maquiado, demarcando o caráter angelical de sua personagem, em contraposição ao caráter doentio da personagem da mesma Gaga de cabelos arrepiados e olhos esbugalhados. Entre eles a bailarina sensual junto de suas companheiras faz o elogio do corpo que é obrigado a se erotizar diante de um grupo de homens.
A noiva é queimada. Sobre a cama, no fim, a noiva como um robô um pouco avariado, mas ainda viva, contempla o noivo cadáver. A ironia é o elogio do amor-paixão, do amor-doença e morte ao qual foi reduzido o amor romântico pela estética pop da ninfa pós-feminista. O feminismo só tem a agradecer.
Em “Telephone”, a estética eleita é a da lésbica e da pin-up. Ambas criminosas. A primeira por ser uma forma de vida feminina que dispensa os homens, a segunda por ameaçá-los com uma estética da captura (a mulher-imagem-de-papel, a mulher “cromo”, a mulher-desenho-animado que configura o conceito do “broto”, do “pitéu”). No mesmo vídeo o personagem de Gaga compartilha com Beyoncé uma cumplicidade incomum entre mulheres.
Esse sinal é dado no meio do vídeo, quando Beyoncé vai resgatar Gaga na prisão e ambas mordem um pedaço de pão, que logo é lançado fora como algo desprezível. A comida mostra-se aí como o objeto do crime. O vídeo é mais que um elogio ao assassinato do mau romance, ou da vingança contra o evidente amor bandido de quem a personagem de Beyoncé quer se vingar. Trata-se de uma profanação da comida pelo veneno que nela é depositado. O amor bandido é morto pela comida, uma arma simbólica muito poderosa associada à imagem da mulher-mãe, da mulher-doação, dedicada a alimentar seu homem na antipolítica ordem doméstica.
O palco é a lanchonete de beira de estrada como em Assassinos por Natureza, de Oliver Stone. O assassinato é o objetivo do serviço das duas moças perversas que, no fim do vídeo, dançam vestidas com as cores da bandeira norte-americana – meio Mulher Maravilha – diante dos cadáveres de suas vítimas, já que, além do amor bandido, todos morreram. Cinismo? Sem dúvida, mas como paradoxal autodenúncia.
Mas o maior crime de Gaga, aquilo que fará com que tantos a odeiem, não será, no entanto, o feminismo sem-vergonha que ela pratica como uma brincadeira em que o crime é justamente o que compensa? E, como ídolo pop, não poderá soar aos mais conservadores como um modo de rebelar as massas de mulheres subjugadas pela perversa autorização ao gozo, doa a quem doer? (grifos meus).

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Belo Horizonte por um carioca que mora no Paraná (texto)

Minha primeira vez em Belo Horizonte (BH). Não me encantei de cara com a cidade, como de costume. Acho que ir a trabalho faz toda a diferença. Cheguei quarta-feira à noite morto de tanto viajar. Meia hora embaixo do chuveiro, meia hora desfazendo a pequena mala. Uma saída estratégica para jantar.
Todos os restaurantes encontrados na intenet não estavam mais no lugar indicado. E a fome só aumentando.
O taxista, sugeriu um. Aceitei porque com fome não dá para encarar nada. Nem o sono. É claro que não me lembro o nome, mas foi uma super-sugestão. Era uma churrascaria com tempeiro mineiro, com atendimento mineiro (quero dizer, com toda atenção e um pouco mais).
Na quinta pela manhã, fui conhecer a cidade. Eu estava hospedado no Centro e ficou bem fácil andar pelas ruas desconhecidas. Aos pouco a ficha caiu: como um centro da cidade de uma capital de um grande estado como Minas pode ser tão limpa? Tenho como parâmetro o Centro do Rio e lá é uma tristeza!
O trânsito não é dos melhores e o mineiro não é calmo, como diz  a lenda. 
Eu estava bem próximo do Palácio das Artes e do Mercado Central. Aproveitei para sentir o clima no mercado. Gente de tudo o que é tipo, tudo o que se imagina à venda.
Dei umas cinco mil voltas pelos corredores, observando cada uma das mercadorias. Tem de tudo, pra todos os gostos. Não comprei (nada). Uma mala pequena cheia de casaco. E além disso, pouca grana já que estava bancando toda a viagem.
Almocei no Mercado. Comida mineira, é claro! E, é claro tb, que a melhor culinária brasileira (E tem culinária em outro estado? Uma amiga-carioca_mineira diria que não, só nas Minas Gerais têm doçaria, entrada e pratos. Concordo.)
Aí quase o resto do tempo foi trabalho e uma pequena parada para o jogo do Brasil X Holanda. Sem comentários.
Na sexta-feira à noite, depois da Casa dos Contos (restaurante maravilhoso) uma esticadíssima na noite da cidade: A Obra, Velvet e outra boate da qual não me recordo o nome. Sei dizer que foi uma viagem bem bacana. Cara, é verdade, mas produtiva. Além do meu Grupo de Trabalho na Anpoll ter sido bastante interessante.
Bom demais ter ido a BH. Vontade de me mudar mês que vem pra cidade. Vontade dá e passe, como dizem. A minha tb vai passar.

domingo, 4 de julho de 2010

Em trânsito (texto)

Ainda estou em trânsito. Agora em CWB. Chego em Foz por volta das 18h50 e de lá ainda vou para Cascavel. Ninguém merece isso. Nem mesmo o professor de Estudos Linguísticos I.
De qualquer forma, seja lá o que isso signifique, estou feliz por ter ido a BH. O congresso foi muito bom. Muito melhor do que eu imaginava ser. Gostei demais das apresentações. Gostei tb do texto que preparei para a minha linha de pesquisa.
O clima no GT de Análise do Discurso foi bom demais. É quase um grupo de trabalho único, com pessoas que estão ali para ouvir umas as outras, sem estrelismo, apesar de muitas estrelas no pedaço (no bom sentido, é claro!).
Desde de 2006 eu não participava da Anpoll porque sempre é muito longe (o que não é longe de Cascavel?) e por isso muito caro tb. E não há ajuda da instituição nem para uma ida ao banheiro. Há promessa, mas quem viaja através de promessas é santo ou beato.
Amanhã posto uma pequeno texto sobre BH, porque tem muita coisa para contar. Muita gente e muita risada danada de boa para relatar.
Bem, embarque sendo chamado. Preciso ir. Até amanhã.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...