segunda-feira, 27 de junho de 2011

A cultura gay através dos tempos (Antonio Gonçalvesz Filho - O Estado de S.Paulo)

Quatro títulos que falam da evolução da homocultura atestam expansão do mercado

Mais de 2 milhões de pessoas devem acompanhar, hoje, a parada gay na Avenida Paulista. Muitos lembrarão que até mesmo no nome ela deve algo ao movimento gay americano e ao modelo que adotou, vindo dos EUA, mas o fato é que já existe uma homocultura brasileira que permite, por exemplo, o lançamento simultâneo de quatro livros sobre o assunto, um deles escrito por um padre inglês, católico, que escolheu o Brasil para viver, James Alison (leia entrevista nesta página), autor de Fé Além do Ressentimento. Os outros três livros, de alguma forma, dialogam entre si, tratando da evolução dessa homocultura não só no Brasil como no mundo.
Retratos do Brasil Homossexual – Fronteiras, Subjetividades e Desejos reúne ensaios apresentados no IV Congresso da Abeh – Associação Brasileira de Estudos da Homocultura, realizado em 2008. Em Cine Arco-Íris (Edições GLS), o ativista paulistano Steve Lekitsch faz um apanhado de 270 filmes com temática homossexual realizados nos últimos 100 anos. Finalmente, em La Identidad Homosexual – De Platón a Marlene Dietrich, Paolo Zanotti, professor italiano de Literatura, examina a formação da homocultura desde os antigos gregos até Marlene Dietrich, ícone gay por causa de filmes como Marrocos. Nos últimos anos de vida, a atriz estava tão obcecada pela ideia de que podia ser contaminada pelo vírus da aids que evitava abrir cartas de seus fãs homossexuais, encarregando a filha de espalhar, após sua morte, que a mãe se contagiou pelo correio.
Essa revelação de La Identidade Homossexual vem seguida de uma interessante observação do autor. Zanotti, recorrendo à ensaísta americana Susan Sontag, diz que os gays reagiram à aids – e às atitudes adversas como a de Dietrich – usando a estratégia de dar uma imagem de si mesmos a mais saudável possível. Essa imagem de saúde pós-aids, que se traduz nos “sarados” da parada gay, coincide, segundo Zanotti, com o único ideal de autocontrole proposto em nossos dias – “o autocontrole em nome do corpo, da dieta, da forma física”. Desde os anos 1980, esse ideal, diz o autor, se difunde com sucesso. O homem gay, conclui, “se converteu num exemplo mais aperfeiçoado do macho prototípico, um hedonista com corpo de ginasta.”
Zanotti vai mais longe, citando Pasolini. Quando o cineasta italiano se rebelou contra a “nova” homossexualidade, estaria justamente criticando a identificação dos gays com traços da cultura que o oprime. Talvez isso explique o sucesso do filme O Segredo de Brokeback Mountain (foto maior), um dos analisados no livro Cine Arco-Íris, ao envolver dois caubóis rudes num relacionamento que termina de forma trágica, com um deles sendo espancado até a morte por homofóbicos. O autor do livro, Lekitsch, não adota o tom ensaístico de Zanotti. Escreve apenas pequenas sinopses dos filmes, esquecendo títulos fundamentais que tiveram um papel histórico na luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais, como Meu Passado Me Condena (Victim, 1961), o filme de Basil Dearden que ajudou a mudar a lei que considerava a homossexualidade crime na Inglaterra.
A homocultura e os direitos humanos, aliás, é o primeiro capítulo de Retratos do Brasil Homossexual. No texto inaugural, a advogada Maria Berenice Dias analisa a união homoafetiva na Constituição Federal e propõe a elaboração de um Estatuto da Diversidade Sexual, a exemplo dos estatutos do Idoso, da Criança e do Adolescente. A inexistência de um “discurso específico da homocultura”, conclui o escritor João Silvério Trevisan no livro, revela que o movimento pelos direitos homossexuais no Brasil “continua tateando até hoje”.
De qualquer forma, o papel dos pioneiros é lembrado no livro até por estudiosos estrangeiros como o acadêmico Robert Howes, do King”s College de Londres. Ele analisa a obra literária do pouco conhecido escritor pernambucano Gasparino Damata, um dos criadores do Lampião (primeiro jornal gay brasileiro), que foi suboficial no United States Transportation Corps na 2ª Guerra e relatou sua experiência amorosa com um soldado americano em Queda em Ascensão, publicando depois A Sobra do Mar (1955), sobre um marinheiro que é desejado pelo capitão do navio, como o Querelle de Genet. Graças a Damata e outros pioneiros, como Adolfo Caminha, autor de O Bom Crioulo, os gays desfilam hoje, orgulhosos, em carros alegóricos, não em deprimentes viaturas de polícia.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Clímax - Marina Lima (CD)

Já houve tempo em que eu ficava aguardando, cheio de ânsia, o lançamento do novo CD da cantora e compositora carioca Marina (depois Marina Lima). Lembro-me do primeiro show em que ela dividia o palco com Belchior, no Projeto Seis e Meia, no teatro João Caetano no Centro do Rio, em 1982. Fui a este show com um amigo, Simão.
Neste Projeto um artista consagrado apresentava um artista iniciante. Eu já gostava dela, já ouvia Simples como Fogo, primeiro CD. Já cantava Transas de Amor, A chave do mundo, Não há cabeça e Muito. Daí pra frente não parei mais de comprar CD, ir aos shows, acompanhar a carreira. Tudo o que um fã normalmente faz.
Um outro show da cantora que me lembro bem foi o lançamento do CD Marina Lima de 1991. Assisti ao show no, falecido, Mistura Fina, zona sul do Rio, na companhia de amigos, distante uns 3 mestros do palco, que ficava na altura da plateia.
Criança, Grávida, O meu sim, Acontecimentos, Não sei dançar foram as mais tocadas. Já cheguei ao show sabendo todas essas letras. A discografia é enorme, acho que por volta de 18 discos (não tenho nenhuma certeza).
Este mês a cantora e compositora que já foi o símbolo da música carioca, lançou o CD Clímax. Não o aguardei com a mesma ansiedade de outras épocas, mas confesso que me sinto feliz pelo novo trabalho. É como se relembrasse de um tempo com amigos por perto, com a casa sempre cheia, com música tocando o tempo todo, com festas de aniversário, com a minha mãe por ali participando das conversas.
Aos 55 anos Marina Lima continua buscando. Aos 55 anos, guitarra em punho, música pop, atitude rock and roll. Voz um pouco prejudicada, mas antes já diziam que a sua voz não era boa. A voz agora é essa e pronto. Quem quiser outra voz que busque outra cantora. A dela é a que está registrada nos últimos CD´s.
O CD é bom. Tenho ouvido bastante. Algumas músicas me lembram outras já lançadas. O CD é bem original: SP Feelings e Call me são as minhas preferidas. A parceria com Samuel Rosa, a participação especial de Vanessa da Mata renderam bons resultados.
Eu indico.

Quando as redes sociais camuflam a sensação de estarmos sozinhos (texto)

Tenho conhecidos/amigos que não assistem TV porque acham que elas emburrecem. Não param diante de nenhum programa de televisão porque "se tivessem esse tempo sobrando estariam produzindo mais, lendo mais, escrevendo mais". Tudo da boca pra fora, porque os encontro sempre conectados em redes socias (doravante RS).
Não vejo nenhum diferença entre uma coisa e outra. Na verdade vejo sim, vejo muitas diferenças. Nas RS além do mesmo gasto de tempo (pra ser sincero, muito mais gasto do tempo), uma camuflagem da solidão. Por outro lado, tem programação nas TV´s (sobretudo nas pagas, quero dizer nas mais pagas, né?) que nos proporcionam grande conhecimentos, além de diversão, distração etc. (quanto ao etc. eu ão sei bem o que é).
Sei de pessoas que gastam mais de 80% do seu dia trocando mensagens, seja numa RS, no celular, ou e-mail, numa expectativa constante de receber respostas para não se sentirem sozinhas. Como se o fato de estarem conectadas, trocando breves mensagens com aquelas centenas de "amigos", significasse que não estão isoladas.
Alguns são incapazes de estabelecer relações pessoais fora do ambiente de trabalho. O computador nos isola quase sempre, mas é claro que não é apenas isso. O buraco é muito mais fundo e necessitaria de uma análise muito mais social do que essa rasa que aqui proponho.
Claro que não conseguiríamos estabelecer uma relação com a mesma facilidade com um amigo que se encontra do outro lado do mundo. O mundo virtual nos dá essa oportunidade, mas o que me chama atenção é o fato de não conseguirmos estabelecer relações com os que estão próximos.
Como dosar nossa conectividade? Como nos desconectar e não nos sentirmos tão sós? Por que quando desligamos o nosso celular e computador temos a sensação de estarmos perdendo alguma coisa?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Ado, ado, cada um no seu quadrado (texto)

Começo esse post com parte de fala de uma entrevista concedida pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek à revista Época na semana do dia 29.05.2011

ÉPOCA – O que o senhor acha das críticas a Lars Von Triers, que disse que entendia Hitler? 
Zizek – Não devemos ser livres para celebrar Hitler, nada disso. Claro que Hitler fez coisas horríveis. No caso de Lars tem outra questão: o artista deve ser julgado pelo que ele faz. Eu odeio essa ideia de que, se você conversar com um diretor ou com um autor, você vai descobrir algo incrível, algum segredo. O que eles sabem está no que eles produzem. Muitos deles são idiotas. David Lynch, francamente, é um idiota. Ele está agora numa empreitada para coletar milhões de dólares para construir uma imensa cúpula de meditação porque ele acha que se mais de dez pessoas meditarem num lugar isso vai liberar energia que vai trazer paz ao mundo. Mas nos filmes ele é um gênio.(grifos meus).

Bem, faz alguns anos, mais precisamente em 1992, o cantor e compositor Lulu Santos deu declarações sobre os músicos e a música sertajena num programa do Faustão que provocou certo incômodo na mídia.
Lobão, não faz muito tempo, num programa da Jovem Pan, acho que com o pessoal do Pânico, falou mal de Luan SantanaRestart e Fiuk.
E para completar o trio de patetas (na verdade não sei se é mais pateta quem dá tais declarações ou se quem as ouvem como se isso fosse alguma coisa para se prestar atenção), Ed Motta no Facebook fala mal de mulheres feias, da feiúra dos brasileiros, que não são do Sul ou de São Paulo, de Paula Toller, de Caetano Veloso, entre outros. E isso repercute como se fosse uma importante declaração.
Bem, concordo em gênero, número e caso com o Zizek, artistas devem ser bons naquilos que fazem como artistas. Portanto, Lulu Santos, Lobão e Ed Motta cumprem com bastante competência essa cláusula. E devíamos nos satisfazer com isso. O resto não deveria ser levado a sério, cada um diz o que pode e não o que quer.
Criar categoria de gosto é uma tremenda estultice. Tudo bem que não tenho em casa, e não entra, cd, dvd de Luan Santana, Restart ou Fiuk, porque na minha casa quem manda sou eu. Mas daí para decidir o gosto dos outros....meio demais né?
Não quero tb transformar nenhum cantor, compositor, ator, atriz, apresentador de programa, jornalista, padre-cantor etc. em guia espiritual, intelectual ou qualquer coisa desse gênero. Cada um no seu quadrado. O que eles fazem como artistas pode ou não me agradar. Tudo muito subjetivo. Agora se eles consideram isso ou aquilo importante, se gostam de certos lugares em detrimentos de outros, se usam certas marcas de roupa ou cortam os cabelos assim ou assado, se pensam isso sobre determinado assunto, definitivamente, não me interessa. Não tenho nenhum respeito pelo que dizem além do respeito de achar que devem dizer. Assim como eu faço aqui no meu blog.
Tudo o que eu escrevo é a minha forma de pensar sobre alguma coisa, não é verdade absoluta sobre nada. Não tenho nenhuma pretensão de dizer coisas interessantes, de sair do senso comum. Digo o que acho que devo dizer e estou abertíssmo às críticas, aos que pensam de outra maneira.

domingo, 19 de junho de 2011

A calcinha da Luluzinha (Ruth de Aquino)

Época
República do salto alto, da saia justa, do gineceu. Bobagem! Homem ou mulher, quem comanda precisa é ser competente e honesto.

O foco malicioso na calcinha branca de Gleisi foi o clímax de uma semana de besteirol político. O frenesi pró e contra as mulheres no poder empobreceu o debate de ideias do regoverno Dilma. Nunca li tanta bobagem sobre a decisão de um(a) presidente. República da Luluzinha. Do salto alto. Da saia justa. No Planalto do gineceu, agora, só se contrata quem usa saia. Dilma voltou a usar terninho. Gleisi é normalista com nariz arrebitado. Ideli gosta de cantar e ama sargento triatleta 12 anos mais novo. São duras, mas são mães.
Elas gostam de mandar (é mesmo?). São tratores (é ruim?). Briguentas mas doces. E por aí vai. Gastou-se o verbo para analisar algo que não é substantivo. Não tem a menor importância se quem comanda é homem ou mulher. Precisa ser competente e honesto. Duas qualidades raras em Brasília. Qualquer que seja o sexo.
Uma jornalista escreveu que, “como mulher”, se orgulha de ver três mulheres no poder – mas desconfia que não vai dar certo porque nenhuma delas tem experiência. Elas não passam de “umas coadjuvantes”. Normal, não? Nos jornais diários e nas empresas, mulheres costumam ser coadjuvantes.
Os homens fizeram gozações de botequim sobre o triunvirato feminino. E pontificaram: o matriarcado é alto risco. Como se o patriarcado tivesse resolvido nossas mazelas de corrupção e falta de compromisso com o bem público e o futuro do país.
Abomino cotas sexuais ou raciais. Não acredito que Dilma tenha chamado Gleisi e Ideli por serem mulheres. Lula não chamou Zé Dirceu, Gushiken e Palocci por serem homens. Foram atrás de confiança. Torpedeada, Dilma nomeou fiéis escudeiras. Lula também, mas precisou se livrar dos amigões do peito. Dilma, antes mesmo de assumir, abriu mão de Erenice. Todos os companheiros foram derrubados por acusações de desvio de verba pública e abuso de poder.
Não consigo engolir Ideli. Exatamente por representar a política de sempre no Brasil, o fisiologismo que é coisa nossa no Congresso. Não confio em Ideli por ter defendido Renan Calheiros e Sarney. Por prometer cargos e fundos para aplacar a oposição (o PT e o PMDB). O fato de ser vaidosa não influencia em nada meu julgamento. É mau sinal que a própria Ideli, acusada de arrogante, caia na esparrela de prometer “uma operação limpa prateleira, coisa de mulher” e afirmar que nenhuma das três perderá “o lado mãezona”. Vamos trabalhar, minha gente varonil.
Não tem importância se quem comanda é homem ou mulher – precisa é ser competente e honesto
Há uns 15 anos, uma juíza rigorosa e irônica, minha amiga, comentou que só poderíamos comemorar a igualdade entre os sexos “quando as mulheres incompetentes também fossem promovidas, e não apenas as mulheres três vezes mais competentes”. Espero que não seja o caso porque torço pelo Brasil, pelas reformas, pela estabilidade. E acho um nojo essas disputas palacianas que visam apenas ao bem-estar dos políticos. Não passam de chantagens. Ideli já foi avisada. Se os pedidos de grana não forem atendidos, o governo vai sofrer novas derrotas em votações no Congresso. É o bolso, e não a consciência, que está em jogo.
Criticar as três por não serem políticas profissionais demonstra certa condescendência com o estado de coisas. Estamos todos satisfeitos com o exercício convencional da política em Brasília? O toma lá dá cá. As conspirações, os desmandos e as infidelidades partidárias. A República das gravatas listradas ou vermelhas. Dos mocassins. Dos ternos apertados nas barrigas estufadas. Do suor. Dos cabelos precocemente acajus. Das amantes e filhos bastardos. Dos casados com moças que poderiam ser suas netas. Mas, pensando bem, seria ridículo criticar o vice-presidente e os congressistas apenas por serem homens.
Me cansa esse discurso viciado de que a presidente e as ministras, “apesar de mulheres, têm fogo nas ventas”. É clichê demais. Não me orgulho porque temos três mulheres no poder. Minha torcida é pelo Brasil. Nomear uma ministra só por ser mulher é muita tolice. Menosprezá-la só por ser mulher é mais tolice ainda. É fraqueza. Não faz jus a machos e fêmeas minimamente inteligentes.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Bastião da moralidade (texto)

Por que será que falar/escrever palavrões de cunho sexual ofende tanto certas pessoas? Por que será que atitudes de outra ordem, por exemplo, a falta de respeito velada não ofendem na mesma intensidade?
Não estou de forma alguma fazendo apologia ao palavrão, ainda que ele não mais me ofenda (não me diga, absolutamente, nada). Já fui xingado algumas vezes. Já fui injuriado tantas outras, e aprendi, a duras penas, que o que não me mata, me fortalece (mesmo que isso possa parecer senso comum para alguns). 
As injúriam pertencem ao injuriador, dizem respeito àpenas a ele. A carga ofensiva tá na boca de quem diz. Pena eu ter me dado conta disso muito tempo depois. Mas o que é a vida senão aprender aos poucos, com o tempo?
É impressionante como vozes se elevam, dedos se põem em ristes, humores se alteram, pessoas se ofendem quando se trata de palavrão de cunho sexual. Parace até que alguma coisa mexe com os seus desejos mais íntimos. Parece também que há um ultraje revelando noites atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis
Palavrões são palavras dicionarizadas que, por acaso, foram classificadas por outras palavras como obscenas, grosseiras etc. E que podem ou não ofender. 
Quem nunca disse um filha da puta que atire a primeira pedra! Já fui ofendido e já ofendi sem usar um só palavrão. Já usei palavrão sem que isso tenha sido ofensivo.
Não suporto, definitivamente, quem se diz bastião da moralidade, porque não acredito mais nisso. Acretido sim que se sentir tão atingido por bunda, pau, cu revela muito mais o que nos constitui.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...