sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Arte pra quem, arte pra quê?


O Museu é de Arte Moderna, a exposição da Nan Goldin, mas a cabeça da atendente/caixa era da Idade Média.
Fomos, três amigos e eu, hoje ao MAM assistir a exposição da fotógrafa americana Nan Goldin. Na chegada, compraríamos 3 ingressos inteiros e uma meia entrada para estudante; um dos meus amigos faz mestrado em letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel.
Ele portava a carteira de estudante (sem data de validade) e a declaração de matrícula do ano passado (consta nessa declaração “1º semestre de 2011”). Ela nos barrou dizendo que deveríamos apresentar uma declaração deste ano. Explicamos que o tal curso é anual e que ele ainda estava em férias. Explicamos também que a matrícula do mestrado apenas aconteceria a partir do dia 17 de março de 2012 e que, por isso, não poderíamos apresentar uma declaração deste ano, mas a funcionária foi categórica: argumentou que a Lei estava ali para quem quisesse ler e que ela era bem clara. Contra-argurmentei que uma Lei não pode ser interpretada apenas de uma maneira já que a situação não poderia ser generalizada, haja vista que a instituição na qual o meu amigo estuda funciona de outra maneira. Mas ela não entendeu que não se pode colocar no mesmo quadrado todas as situações, ainda que “trabalhe” com arte moderna.
Pedimos para falar com o gerente. Depois de algum tempo, veio um funcionário se dizendo gerente (e mais tarde se desdizendo porque este estaria em férias...), reforçando que estava bem claro o que se dizia na Lei.
Tornamos a lhe explicar todos os detalhes, em vão. Além desses dois funcionários, uma terceira, que trabalha no balcão, nos disse ser aluna de uma universidade federal cuja matrícula já havia ocorrido em sua instituição. Eu lhe disse que ele, o que era e deixou de ser gerente, estava duvidando do que estávamos falando, mas ele nos disse que eu estava colocando palavras em sua boca, já que em momento algum, segundo ele, havia dito que era mentira o fato de meu amigo estar matriculado num curso que não havia ainda realizado a matrícula de 2012. Enfim, acabamos tendo de pagar a entrada inteira.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Fazia muito tempo que eu não passava o carnaval no Rio de Janeiro, mais ou menos uns 6 anos. E, por isso, acredito, havia me esquecido da delícia que é o nosso carnaval de rua. Milhões de pessoas fantasiadas de tudo o que a imaginação possa permitir (e um pouco mais) e nenhuma violência, nenhum desrespeito, nenhum tumulto fora os normais, ou seja, multidão de pessoas nas ruas, blocos por todos os lados, e a gente ali sem poder atravessar uma rua. Fora isso, apenas riso e surpresas.
Hoje me diverti de montão, saí de peruca verde e voltei de branca de neve (pena não ter uma foto para socializar tanta coragem, afinal sou um professor sério). Acabei de chegar em casa depois de um longo dia atrás de blocos, encontros com amigos e uma passada no cinema (a caráter) para assistir A Dama de Ferro. Dia longo, mas nada que uma bom descanso merecido não me coloque em dia para o domingo de carnaval. Bom carnaval para quem gosta de festa!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quem não gosta de samba bom sujeito não é (texto)

Está aberta, oficialmente, a temporada de blocos de carnaval no Rio de Janeiro. A cidade respira carnaval. E é bom demais!! Um clima bem divertido e descontraído. 
No Face(book), dia desses, vi algumas manifestações de alguns paranaenses sobre quem gosta de carnaval ser vagabundo e fiquei pensando, naqueles dias, sobre o que faz alguém achar que gostar de festa faz de alguém um desocupado. Mas aquele pensamento logo se dissipou ao me lembrar do Porco no Rolete, do Boi no Rolete, da Oktoberfest, das Festas do Seminário (costelaço), da Festa das Nações, dos bailões sertanejos, da Mega Fantasy, das cervejadas, dos Encontros de blocos, das festas de cada curso de graduação e achei melhor nem comentar.
Continuo achando que quem não gosta de festa bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Ou é doente do pé e ruim da cabeça. Um bom feriado de carnaval para todos.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carnaval sem preconceito - Rio 2012


Os filhos da época (poema)

Somos os filhos da época,
e a época é política.
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.
Queiras ou não queiras, teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho p...olítico.
O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.
Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.
Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já não dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.
Oh, querida, que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.
Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.
Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.

(Poema de Wisława Szymborska, traduzido por Ana Cristina César)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O insustentável preconceito do ser (texto)

Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos.

Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....

De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.

Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.

Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.

Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:
 
"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".
 
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.

A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:

"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).

Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?

A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:

- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?

Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!

A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.

A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.

Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
-Só podia ser mendigo!
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!

Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.

PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos.

Rosana Jatobá - jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo.

Acredite em sonhos (Vídeo)


Tudo é caminho (inclusive o desvio)

A gente sai de casa com um plano. Café da manhã reforçado, pensamento positivo, destino traçado. Só esquece de combinar com o mundo . Porque...