quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Da Série Contos Mínimos

Não sabia o que fazer com algumas das minhas coisas assim que me mudei da casa de meus pais: uma cama de solteiro, os livros da escola, alguns gibis, uma vela queimada, objetos da minha infância que não caberiam no meu novo quarto. Onde colocaria os meus soldadinhos? O que fazer com aquela coleção de moedas? Nada disso dizia mais sobre mim ao mesmo tempo que aquilo ainda me tinha muito mais do que o novo lugar que me esperava. Foi assim que passei a viver em dois mundos distintos. Um outro sem história. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu olho para o outro do meu lugar

Listas generalizando um país ou o comportamento de pessoas da mesma nacionalidade são, para mim, sempre uma chatice. Não gosto de ouvir/ler que franceses são assim ou assados ou que brasileiros fazem isso ou aquilo em alguma situação, ou ainda que os portugueses sempre se comportam da mesma maneira quando o assunto é ... e em geral não dou qualquer atenção.
Mas, hoje, recebi via Facebook uma lista de um americano que se aventurou por São Paulo. Casado com uma brasileira,  morou na maior cidade da América Latina por três anos. Durante esse tempo observou os brasileiros e alguns comportamentos nossos além do funcionamento da cidade e do país.
Não foram boas as observações e impressões do americano em relação ao Brasil e aos brasileiros. Algumas dessas observações/impressões sobre nós eu não concordo, acho, como já disse acima, que não passam de generalizações, mas não duvido de que tenham ocorrido em algum momento. Outras observações são bastante comuns e não me orgulho delas. É claro que não vou comentar todas elas, porque a lista é enorme, mas as que mais me impressionaram (e incomodaram) sobre como agimos ou somos, vou comentar:

Assim ele começar a lista:
1. Os brasileiros não têm consideração com as pessoas fora do seu círculo de amizades e muitas vezes são simplesmente rudes. Por exemplo, um vizinho que toca música alta durante toda a noite… E mesmo se você vá pedir-lhe educadamente para abaixar o volume, ele diz-lhe para você “ir se fud**”. E educação básica? Um simples “desculpe-me “, quando alguém esbarra com tudo em você na rua simplesmente não existe.

3. Os brasileiros não têm respeito por seu ambiente. Eles despejam grandes cargas de lixo em qualquer lugar e em todos os lugares, e o lixo é inacreditável. As ruas são muito sujas. Os recursos naturais abundantes, como são, estão sendo desperdiçados em uma velocidade surpreendente, com pouco ou nenhum recurso.

4. Brasileiros toleram uma quantidade incrível de corrupção nos negócios e governo. Enquanto todos os governos têm funcionários corruptos, é mais comum e desenfreado no Brasil do que na maioria dos outros países, e ainda assim a população continua a reeleger as mesmas pessoas.

5. As mulheres brasileiras são excessivamente obcecadas com seus corpos e são muito críticas (e competitivas com) as outras.

Bem, vou começar pelo número 5. Uma grande parte das mulheres  e homens brasileiros é mesmo obcecada pelo corpo, mas isso não é uma característica exclusivamente nossa em detrimento de outras culturas ocidentais. O número de cirurgias plásticas realizadas por mulheres/homens americanos de todas as idades é maior do que o que acontece no Brasil, só por exemplo. 
Além disso, basta ter acesso aos canais americanos de TV para compreender como esse comportamento muito mais americano do que brasileiro é cultuado nas terras do Tio Sam.
Além de tudo isso, o padrão de beleza reproduzido quase que mundo afora "imprime" uma padronização nos corpos. Por exemplos, as brasileiras não gostavam de peitos grandes, mas hoje em dia a quantidade de prótese de silicone tamanho G é muito comum entre elas ou, pelo menos, no imaginário do que seja o tamanho ideal de peitos.
Os dados abaixo são de uma pesquisa de 2011.

NÚMERO DE PROCEDIMENTOS REALIZADOS EM 2011
Estados Unidos
1.094.146
Brasil
905.124
China
415.140
Japão
372.773
Itália
316.470
México
299.835
Coreia do Sul
258.350
India
207.049
França
191.439
Alemanha
187.193

O brasileiro não tem mesmo cuidado com o meio ambiente (3) e joga lixo em toda parte, mas outra vez isso não acontece apenas no Brasil. Viajo com certa frequência e poucas vezes vi cidades limpas ou nativos muito preocupados com a limpeza da sua cidade. O que já ouvi e isso também é bastante comum são os nativos culpando os estrangeiros da sujeira que se vê espalhada rua afora: "Tá assim porque tem turista demais!".
A Corrupção (4) também não é apenas suportada em território brasileiro. Isso não é próprio do Brasil. Mas que temos um grau elevado de suportabilidade desse comportamento, não se pode negar. Acho até que agimos assim porque em algum grau consideramos a corrupção um mal menor. O que é uma pena.
Por exemplo, estou em Portugal e por aqui o comportamento em relação ao político corrupto não é diferente do Brasil. Claro que isso não justifica a forma como agimos em relação a isso na Terra de Santa Cruz, mas também não dá para afirmar que é um comportamento do brasileiro. Não é mesmo!!!!!
A falta de respeito (1) com o próximo me envergonha muito. Já passei por situações semelhantes à descrita pelo americano, mas também já presenciei o contrário, um grande respeito. Por isso dizer que o brasileiro não respeita não é verdade. Existem brasileiros educados e mal educados, não dá para generalizar. Ponto.
E também já presenciei muito gringo grosso, sem um pingo de educação. Já fui maltratado fora do Brasil.

15. A comida pode ser mais fresca, menos processada e, geralmente, mais saudável do que o alimento americano ou europeu, mas é sem graça, repetitivo e muito inconveniente. Alimentos processados, congelados ou prontos no supermercado são poucos, caros e geralmente terríveis.

Dizer que a comida brasileira é sem graça é um problema pontual desse americano: ou ele cozinha mal pra burro ou ele gosta apenas de hambúrguer e comida processada. Mas aí é uma questão bem pessoal, porque temos uma variedade enorme de comidas. Dá pra dizer que em cada um dos estados brasileiros têm tempero, sabor, pratos diferentes.

18. Eletricidade e serviços de internet são absurdamente caros e ruins.

Tenho que concordar em gênero e número. Pagamos muito por um serviço bosta de internet, eletricidade, telefonia, TV, entre outros.

22. Calçadas no meu bairro são cobertos com mijo e coco de cães que latem dia e noite.

Isso é possível que aconteça, como ele mesmo escreve, no bairro onde ele morou, mas também não é próprio do Brasil. Aqui em Lisboa, por exemplo, e em Paris, as calçadas são repletas de cocô e mijo de cachorro. Quase ninguém recolhe as fezes de seus animais. Dia desses, que raiva, enterrei minha bota numa cocô enorme que estava na saída do prédio onde moro.

40. Todas as cidades brasileiras (com exceção talvez do Rio e o antigo bairro do Pelourinho em Salvador), são feias, cheias de concreto, hiper-modernas e desprovidas de arquitetura, árvores ou charme. A maioria é monótona e completamente idênticas na aparência. Qualquer história colonial ou bela mansão antiga é rapidamente demolida para dar lugar a um estacionamento ou um shopping center.

Não dá para comparar uma cidade de sei lá quantos anos com nenhuma cidade brasileira. Mas é verdade quando ele diz que não preservamos o nosso patrimônio, pelo menos de uma forma geral. Faz pouco tempo que compramos a ideia de preservar a história. Muita coisa se perdeu. Ou por conta de grandes investimentos imobiliários, isso tem acontecido muito no Rio de Janeiro, que enchem os bolsos de alguns e excluem tantos, a história é tombada, mas esse tombamento tem o sentido de pôr abaixo.
Também vi em alguns lugares do chamado Primeiro Mundo lugares mal conservados. Estacionamento e shopping onde poderia/deveria ser uma outra coisa.
Acho, pra ser bem sincero, que a gente vê muito aquilo que quer. Posso olhar para as coisas boas ou olhar exclusivamente para o que é ruim e não presta. Posso também entender que tudo é um processo e que alguns comportamentos que para mim são comuns e importantes não o são para os outros. 
Posso me deslumbrar com um outro país e achar o meu uma porcaria. Posso, ao contrário, supervalorizar o nacional em detrimento do outro sem me dá conta de que o meu olhar é filtrado pelo que eu sou.

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