Cada um tem seu inferno. Aquele sobre o qual não se quer pensar. Eu tenho, pois, o meu.
Eu amo o silêncio. Pra mim não existe som mais agradável do que o produzido por ele.
Eu amo o silêncio. Pra mim não existe som mais agradável do que o produzido por ele.
Digo isso apenas para introduzir o verdadeiro horror que é para mim estar com alguém que não saiba ficar em silêncio. Tenho um verdadeiro pânico de gente que não cala a boca. De gente que fala sem parar, sem um intervalo.
Bem, vou contar a minha história. Nessa sexta-feira, voltando de Coimbra, acabei pegando o trem (combio, no português de Portugal) em um horário mais cedo do que de costume. Em geral, saio da aula por volta das 13h, vou almoçar com uns amigos de turma e depois desço, porque a universidade fica no alto do morro, até a estação de trem, Coimbra A (tem A porque tem B). Normalmente compro o bilhete na estação Coimbra A e vou até a B para pegar o comboio das 14h47 para Lisboa.
Nessa sexta, não almocei com os amigos de turma porque eu estava bastante cansado, tinha dormido mal de quinta pra sexta e não estava muito bem humorado, por conta da noite mal dormida. Quando isso acontece, melhor mesmo ficar na minha.
Nessa sexta, não almocei com os amigos de turma porque eu estava bastante cansado, tinha dormido mal de quinta pra sexta e não estava muito bem humorado, por conta da noite mal dormida. Quando isso acontece, melhor mesmo ficar na minha.
Aí, por essas e por outros, acabei chegando na estação muito mais cedo do que de costume. Peguei então, como disse, o trem que passa às 13h58. É claro que no afã de chegar logo em Lisboa não me dei conta de que este trem poderia ser um parador (ao contrário daquele que pego mais tarde). Só pensei nisso quando já estava acomodado na minha poltrona.
Já achei bastante estranho o fato do meu vagão (carruagem, no português de Portugal) estar lotado. Percebi, durante os primeiro minutos de viagem, que tinham dois grandes grupos dividindo comigo aquele espaço: um grupo enorme de jovens franceses e outro de jovens japoneses, além, é claro, de portugueses de todas as idades.
Todos falavam ao mesmo tempo. E como todos falavam ao mesmo tempo, todos falavam alto porque queriam ser ouvidos. Uns gritavam, outros berravam, um senhor que estava na poltrona atrás da minha atendia o celular (telemóvel, por aqui) como se estivesse chamando um amigo que estava do outro lado do mundo.
Duas senhoras, uma estava ao lado desse senhor que berrava ao telefone e a outra ao lado desta, mas do outro lado do corredor, falavam, sem parar, sobre tudo e mais um pouco num volume acima do permitido (60 dB - decibéis, no perímetro comercial).
Eu não me lembro de ter ficado mais angustiado na vida do que durante essa viagem. Estava ali, no meio daquela poluição sonora sem poder fazer nada. Eu estava, definitivamente, enlouquecendo. Minha vontade era de me levantar e pular pela janela. Mas eu não podia fazer isso. Cheguei ao meu limite de angústia: meu coração disparou e comecei a ficar aflito.
A sorte foi me lembrar de que eu tinha um celular no bolso e os meus fones de ouvido em algum lugar na minha bolsa de viagem. Foi como encontrar água no deserto. Procurei o que havia de mais tranquilo entre os artista da minha lista e fui salvo por Rosa Passos cantando Djavan.
Cheguei em Lisboa tão elétrico (sem exagero) que precisei ir ao cardiologista porque achei que ia infartar.
Não infartei, é claro, ou não estaria aqui escrevendo sobre isso. Mas descobri que se inferno existe o meu é um lugar cheio de gente que fala alto, que não respira, que não dá um intervalo entre uma palavra e outra.
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