sexta-feira, 4 de julho de 2025

O que insiste, mesmo sem nome, tem algo a dizer.




Há sentimentos que parecem se acomodar no silêncio, como se tivessem aprendido a não pedir passagem. Mas, ao contrário do que se imagina, aquilo que não se diz não desaparece. O que é calado, o que não encontra lugar para ser nomeado, permanece vibrando em algum ponto da existência. Não se trata de fraqueza ou incapacidade, mas de um limite da linguagem: há dores que não se deixam traduzir facilmente, e por isso se instalam, discretas, esperando outra forma de aparecer.

Esse “outra forma” nem sempre é previsível. Pode ser um cansaço sem explicação, um nó na garganta, uma irritação constante, um medo que não se justifica. O corpo, às vezes, fala o que não foi possível dizer. E é aí que percebemos que calar não é esquecer, e que conter não é curar. Há experiências que, por não terem sido acolhidas no tempo em que ocorreram, retornam, exigindo ser olhadas. Quando não há espaço para essa escuta, elas encontram seus próprios atalhos.

Por isso, criar condições de escuta — de si, do outro, daquilo que insiste — é gesto de cuidado. Não é preciso compreender tudo, nem encontrar respostas prontas. Mas oferecer abrigo ao que emerge já é um início. O silêncio pode ser necessário, sim, mas nunca deve ser confundido com apagamento. Há um tempo em que é preciso calar, e outro em que é preciso escutar o que esse silêncio guardou. Só assim o que foi vivido pode deixar de pesar como ameaça e passar a compor o que se é.

Viver é também atravessar essas camadas. Não somos feitos apenas do que dizemos, mas também do que não conseguimos dizer. E, por isso mesmo, o trabalho de viver implica em, pouco a pouco, fazer surgir palavras onde antes havia apenas excesso, ausência ou dor. Não se trata de forçar confissões ou buscar alívios rápidos, mas de sustentar o processo de dar lugar ao que insiste. Porque o que insiste, mesmo sem nome, tem algo a dizer.

O que insiste, mesmo sem nome, tem algo a dizer.

Há sentimentos que parecem se acomodar no silêncio, como se tivessem aprendido a não pedir passagem. Mas, ao contrário do que se imagina, aq...