Não é num tom de surpresa que escrevo este pequeno texto, mas de estranhamento diante do que continuo lendo na imprensa.
Em 2006 concluí uma tese (sob a orientação da professora Dra. Bethania C. Mariani na Universidade Federal Fluminense) que discorria sobre a
homossexualidade e a AIDS na imprensa oficial (analisei durante os anos de 1985-1990 as revistas semanais
Veja e
Istoé e a mensal
Superinteressante) para compreender como se materializava a relação entre ser homossexual e portador do vírus da AIDS. A partir dessa análise percebi que
regiões discursivas filiavam-se, nessa imprensa oficial, à homossexualidade e seu estilo de vida:
pecado,
doença e
crime (entre outras paráfrases) significavam os homossexuais durante esses anos.
A tese, teoricamente, já se mostrava velha se pensássemos que em 2006 havia passado, pelo menos, 16 anos.
No entanto, hoje, domingo dia 12 de julho, ao ler o jornal O Globo, no caderno O Mundo, página 34, deparo-me com uma matéria sobre uma manifestação contrária à descriminalização de gays na Índia, intitulada: "Índia reação contra descriminalização de gays - astrólogo revoltado com decisão histórica aciona a Suprema Corte, que colhe o pedido" .
O que primeiro me chamou atenção foi a forma como, mesmo depois do tanto que se fala, discute, briga, a denominação "homossexualismo" continua produzindo os seus sentidos na imprensa oficial. Por mais que o grupos de defesa dos direiros dos homossexuais mostre que esse sufixo produza sentido de doença (tais como, tabagismo, alcoolismo, nanismo etc.) e que a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença em 1980 nos E.U.A. pela Associação Psiquiátrica Americana e aqui no Brasil, em 1985, pelo Conselho Federal de Medicina, ele insiste em pemanecer colado à homossexualidade quando significada nos meios de comunicação (é claro que para fazer sentido no meios de comunicação, o termo precisa ter história).
Depois, todos aqueles sentidos já considerados caducos ainda são naturalizados sobre a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT): tabu, repressão, antinatural, agressão aos valores e à cultura, por em risco a instituição do casamento, anormalidade, sexo com animais, contra a tradição do casamento, doenção que pode ser curada com meditação e ioga, desequilíbrio hormonal, sentimento do amor focado na direção errada, queda no crescimento da população, privação do seu potencial de recursos humanos, campanha contra a legalização do homossexualismo, líderes de várias religiões, código penal que pude o sexo entre pessoas do mesmo gênero, 10 anos de prisão, mesmo patamar da pedofilia e o sexo com animais.
Mas como as condições de produção são outras e diversos acontecimentos discursivos produziram outros sentidos sobre os homossexuais, fazem sentidos tb neste texto ideias tais como: político em cima do muro para não desagradar eleitores, anacronismo da lei, ativistas conservadores, abertura econômica, influência ocidental, noites gays organizadas, atores de Bollywood passaram a fazer abertamete campanha pelos direitos dos homossexuais, atriz que se tonou madrinha do movimento gay, andar com orgulho, cabeças erguidas, realização de passeata gay, evento a cada ano mais concorrido, aos poucos os gays se revelam, o príncipe que se declarou gay em 2005 e que se tornou uma espécie de embaixado, comunidade gay indiana, celebridade internacional, entrevistado pelo famoso programa de TV americano "Oprah Winfrey Show", reality show da rede britânica BBC, Parada Gay de São Paulo, verdadeira democracia liberal.
Sentidos novos e velhos produzindo sentidos, mas agora existe um embate de forças já que os homossexuais se organizaram (primeiro na luta contra a contaminação pelo HIV, e agora na luta pelos diretos civis dos homossexuais) e têm voz , e podem, portanto, efetivar outros sentidos sobre os homossexuais e seu estilo de vida.