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O Parasita (jornal dos alunos do Curso de Farmárica da USP) desculpou-se, em nota, pelo "exagero cometido na última edição", aquela na qual os editores incentivam os leitores para jogarem fezes em gays, segundo o jornal, viadinhos"). Eles denominam exagero a discriminação por orientação sexual. O fato de se desculparam não ameniza, em hipótese alguma, a intenção primeira.
A forma como justificam a matéria, o fato do jornal possuir um humor escrachado, também não suaviza o incentivo à violência. Se fosse um texto que incentivasse os leitores a praticarem violência, jogar fezes ou o que quer que fosse, contra negros, por exemplo, eles teriam praticado crime de racismo e poderiam ser indiciados por conta disso, mas fezes em gays, viadinhos, bichinhas ou bichonas é humor.
Ontem, dia 23 de abril, no Programa do Jô, o Historiador, Antropólogo, Fundador do Grupo Gay da Bahia, professor doutor Luiz Mott falou sobre diversos assuntos. Sempre muito bem informado e com um humor ácido discutiu questões sobre a Inquisição na Bahia.
O convite para participar do programa foi por conta da publicação do seu novo livro Bahia - Inquisição & Sociedade que é uma amostra selecionada do que representou a ação da Santa Inquisição em Salvador e pelo interior da Capitania. São oito artigos reunidos, publicados entre 1986 e 1995, em diferentes revistas científicas, apresentando um cardápio variado e amplo dos aspectos mais significativos do que representou esta instituição em terras baianenses, em seus quase trezentos anos de atuação entre nós.
No entanto, ter a presença do professor, estudioso, pesquisador, ativista gay (entre outras funções) e não falar sobre a homossexualidade, seria uma perda enorme de oportunidade. Jô Soares não a perdeu e conversou com Mott sobre questões importantes: união civil, diversidade sexual, gêneros sexuais, pedofilia, a homossexualidade na adolescência, sobre a ciência e a homossexualidade, sobre teorias científicas que tentam explicar a homossexualidade, sobre religião, sobre adoção de crianças por homossexuais.
Destaco nessa passagem pelo programa a forma simpática,bem humorada e provocativa com que trata questões sérias e caras na luta contra a homofobia. Em certa altura da entrevista, ele, diz ao Jô que "a maioria desses machões que saem por aí falando mal ou espancando travesti têm dentro de si um bicha louca acorrentada", arrancando gargalhadas da plateia e do apresentador. Mott concluiu a sua entrevista citando Fernando Pessoa:O amor é que é essencial, o sexo é só um acidente, pode ser igual ou diferente.
Um jornal dos alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP causou repúdio no meio estudantil e acadêmico ao realizar uma promoção polêmica. "O Parasita" oferece um convite a uma "festa brega" aos estudantes do curso que, em troca, jogarem fezes em um gay. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo teve conhecimento do texto (leia-o na íntegra abaixo) e informou nesta sexta-feira (23) à noite que irá denunciar o periódico semestral por homofobia à Comissão Processante Especial da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
Além disso, a Coordenadoria de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual afirmou que irá registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra o jornal por crime de injúria e incitação à violência.
O texto abaixo foi extraído de "O Parasita" de março e abril deste ano. O periódico de seis páginas exibe na sua página 2 um discurso contra dois gays que se beijaram numa festa da Faculdade de Medicina no ano passado.
"Lançe-merdas e Brega será na Faixa - Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado. Na última festa dos bixos, os mesmos viadinhos citados acima, aprontaram uma pior ainda. Os seres se trancaram em uma cabine do banheiro, enquanto se ouviam dizeres do tipo "Aí, tira a mão daí." Se as coisas continuarem assim, nossa faculdade vai virar uma ECA. Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos. Joãozinho Zé-Ruela", escreve "O Parasita".
O autor do texto acima, "Joãozinho Zé-Ruela", aparece como editor de eventos. O G1 não conseguiu localizar os responsáveis pelo jornal para comentar o assunto. Nove nomes aparecem no expediente de "O Parasita". A reportagem também ligou para um dos colaboradores, deixou recado, mas até a publicação da matéria não havia recebido retorno. Estudantes da faculdade ouvidos pelo G1 confirmaram que a publicação é feita por alunos da Farmácia. Entretanto, segundo eles, o jornal não é ligado a nenhuma entidade estudantil oficial. O texto chegou ao conhecimento de alunos de outras faculdades da USP nesta sexta pela internet. Muitos criticavam o conteúdo e a incitação homofóbica. Segundo um dos alunos de ciências farmacêuticas, "Muitas [pessoas reagem] com raiva, outras com descaso e algumas acham um jornal 'legal'."
Homofobia
De acordo com a defensora Maíra Diniz, coordenadora do núcleo de combate à discriminação, racismo e preconceito, "O Parasita" infringiu a Lei Estadual 10.948 que trata do combate à homofobia.
"É uma coisa horrível. Eu fui surpreendida de ver que estudantes de farmácia, que têm obrigação de esclarecer o público, pensam dessa maneira. Não é só uma mera opinião, isso configura homofobia", afirmou a defensora Maíra na tarde desta sexta. "Vamos apurar quem é o responsável pelo jornal, inclusive oficiando a faculdade. Vamos oferecer denúncia na comissão processante com base na lei estadual de homofobia." O G1 também tentou entrar em contato com o centro acadêmico de Farmácia da USP, mas não localizou ninguém.
Segundo Maíra, os responsáveis pelo jornal serão julgados por uma comissão, que irá apurar se eles cometeram homofobia. "Homofobia não é crime, por isso é apurado por essa comissão. É um processo administrativo que pode render uma advertência ou uma multa mínima, no valor de R$ 15 mil, se os acusados forem considerados culpados", disse a defensora. O valor é destinado para fundos de políticas para diversidade sexual.
Caso de polícia
O advogado Dimitri Sales, coordenador para Políticas de Diversidade Sexual do Estado de São Paulo, afirmou nesta sexta que irá levar o caso até à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), onde pretende registrar queixa contra o jornal.
"A homofobia é a aversão e ódio às pessoas que têm orientação sexual diversa da heterossexual, mas no caso deste jornal, se enquadra também na injúria. É lamentável que alunos de uma instituição, como esta da USP, colocam isso. Essa postura desse jornal é repudiada de forma veemente. Tem de ser praticada uma pena dura. Eles desconsideram duas coisas. A primeira é que reafirmam a postura da discriminação contra o casal que se beijou na festa. A segunda é mandar estudantes agredir gays. Essas coisas agora vão virar crimes de injúria e incitação à violência", afirmou o coordenador Dimitri Sales.
Ainda, segundo Dimitri, se a citada "festa brega" realmente tiver uma data para ocorrer, a coordenadoria fará o possível para que ela seja cancelada. "Ainda não sei se essa festa é uma piada ou se realmente ocorrerá. Mas se ocorrer, vamos tomar alguma medida jurídica para impedir a realização dessa festa porque ela estaria se baseando num conceito homofóbico", disse.
Reprimir O G1 procurou a Universidade de São Paulo para comentar o assunto. A assessoria da USP informou que somente a diretoria de farmácia poderia comentar o assunto.
Procurada, a faculdade informou: "A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) não tem conhecimento nem apóia essa publicação, inclusive desconhece os seus autores. A Faculdade tomará as medidas jurídicas cabíveis para reprimir este tipo de publicação", em nota enviada por e-mail por sua assessoria de imprensa.
Quando Cabral descobriu no Brasil o caminho das índias
Falou ao Pero Vaz para Caminha escrever para o rei
Que terra linda assim não há, com tico-ticos no fubá
Quem te conhece não esquece que o Brasil é com S
O caçador de esmeraldas achou uma mina de ouro Caramuru deu chabu e casou com a filha do pajé
Terra de encanto amor e sol
Não falo inglês nem espanhol
Quem te conhece não esquece meu Brasil é com S
E pra quem gosta de boa comida aqui é um prato cheio
Até Dom Pedro abusou do tempero e não se segurou
Óh natureza generosa está com tudo e não está prosa
Quem te conhece não esquece meu Brasil é com S
Na minha terra onde tudo na vida se dá um jeitinho
Ainda hoje invasores namoram a tua beleza
Que confusão veja você, no mapa mundi está com Z
Quem te conhece não esquece meu Brasil é com S.
Feriado na quarta-feira?! É um refresco num deserto. Bom demais não ter horário. Bom demais não pensar no trabalho! Acordar, dormir, acordar outra vez sem o relógio te chamando. Insistindo. Te lembrando. Feriado na quarta-feira um alívio para os olhos.
Hoje faz seis meses que a minha mãe morreu. Eu, finalmente, abri um caixinha com alguns pertences dela: anéis, cordões, alguns enfeites, uma bolinha chinesa. Estão comigo apenas. Sinto muita saudade. Muita falta daquela voz tranquila me dizendo sempre com calma. Os sonhos continuam como se nada tivesse acontecido. Tenho feito, sempre que lembro, preces para o seu espírito. Pedindo sempre que ela esteja bem. Já que cumpriu com sabedoria o seu tempo. Agradeço sempre pela sorte de tê-la por perto. Peço para que eu tenha a metade de sua sabedoria para lidar com a vida.
Conheceram-se por acaso numa viagem a São Paulo. Ele da direita para esquerda no Viaduto do Chá, ela da esquerda para a direita no Santa Efigênia. Só mesmo o dedo do acaso! Andaram pela Paulista em dias diferentes. Visitaram amigos: ele no Jardim Europa, ela no Alto de Pinheiros. Mas uma cruzada de olhar enquanto atravessavam, para lados opostos, a Alameda Gabriel Monteiro da Silvaselava para sempre as suas vidas.