Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
(Cecília Meireles)
Eu escrevo para me esvaziar, as linhas se vão preenchendo, aos poucos, enquanto meu peito, meu pulso, minha cabeça adormecem. Escrevo porque é necessário, através da escrita penso, me penso, me refaço.
Não sou poeta, não sou alegre, nem sou triste, como descreve a poesia, estou no mundo aprendendo. Carrego comigo este sentimento.
Ando com medo dos dias que chegam, mas entendo que não há controle nenhum sobre eles. Sei apenas o que sei. Hoje é quinta e tenho hoje, apenas. Mais nada. Trago comigo a esperança de dias melhores, mas sei que esses dias já me chegaram.
O passado não é meu, não me pertence. Eu o reconto, mas sem a certeza de que assim ele foi. Me orgulho dos meus amigos e carrego comigo muita saudade (não é melancolia). É daqui pra frente. Às vezes não compreendo muito bem o que faço por aqui, descubro mil motivos, mas nenhum me convence.
Trago comigo uma insatisfação do mundo. Sabe-se lá aonde a encontrei. Uma angústia, uma inquietação, uma insônia. Gostaria de me compreender melhor. E quem não gostaria? Mas tenho limites.
Hoje, não sei bem porquê, estou tranquilo. E essa música que não para de tocar...