Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho (Vinícius de Moraes), o resto é mar...
Ontem acabou mais uma novela, não novela no sentido retórico, mas novela dessas que se iniciam no primeiro capítulo prometendo muitas novidades e terminam no último iguaizinhas a todas as outras novelas (isso se deve apenas ao gênero?!). Não acredito nisso.
Vamos aos motivos que me trouxeram a esse texto. Primeiro dizer que acompanhei Ti-ti-ti, novela das 19h30 da Rede Globo, porque as novelas desse horário, com raríssimas exceções, são divertidas; depois, como nesse horário eu costumo jantar, quero estar diante de um programa (não costumo jantar ouvindo música) que não me exija muito e se possível me faça rir (diante disso, nada melhor do que novelas). E ainda, os dois motivos anteriores já me seriam bastante, pelo elenco. Gosto demais da Cláudia Raia, sou apaixonado pela Dira Paes, Rodrigo Lopes é um ótimo ator e por aí vai...
Dito isso, vamos ao texto, propriamente dito.
Os últimos capítulos de Ti-ti-ti foram dedicados aos princípios de felicidade cristalizados em parte de nossa sociedade, ou seja, casar e ter filhos. Ninguém poderia, portanto, ser feliz sozinho.
Esse foi o final supreendente prometido pela autora da novela. Todos se arranjaram, com raríssimas exceções. Quem não ficou feliz junto de alguém recebeu dinheiro (ou fama) como recompensa. Alguns receberam dinheiro e companhia para reforçar ainda mais essa equação: felicidade é = casamento e dinheiro.
Acho que não é apenas o gênero-novela que define como vai ser a direção desses folhetins. Sei que o público tem, porque novela sem audiência não vende, não tem patrocío etc e tal, um papel fundamental na continuidade dos capítulos. Há, inclusive, uma equipe de telespectadores que dá retorno aos autores e diretores. E isso é determinante nesse processo de escritura da novela, no caso dessa, reescritura porque é uma remake dos anos 1985-1986.
O que mais me surpreendeu nesse reforço todo, foi o exagero de encontros que aconteceu nessa última semana, até os vilões se deram bem (quem sabe a surpresa anunciada não fosse essa?). Chegaram novos atores para evitar que as prováveis solteiras ficassem sozinhas. Homens de tudo quanto foi lado.
O casal gay Thales e Julinho (Armando Babaioff e André Arteche) ficaram mesmo no abraço enquanto todos os outros casais héteros caíram nos beijos.
Só não teve par quem não tinha muita importância na trama, aqueles personagens que existem apenas para introduzir os personagens centrais.
Uma pena, eu pelo menos acho, que um programa com tanta audiência não possa, justamente por ser muito assistido, descristalizar estereótipos, subverter as ordens, inovar.
Fiquei um pouco, um pouco porque isso não tem importâcia nenhuma na minha vida, decepcionado diante de tanta possibilidade e de tão pouca ousadia. Uma pena que as novelas tb sirvam para nos catequizar.