Ainda não tive acesso ao kit anti-homofobia que seria distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) nas escolas de ensino fundamental e médio. Sei apenas o que me disseram sobre ele.
Faço parte de um grande grupo virtual de discussão sobre a sexualidade e diversos temas já foram abordados durante essas trocas de e-mails. O kit foi um deles.
Sou a favor de todos os movimentos que se dizem contrários à exclusão, ao preconceito. Além disso, como professor, tenho, por obrigação, que incluir. Quando escrevo obrigação, não estou escrevendo que ela seja de uma forma imposta, além da minha vontade. Não é isso. É atribuição do professor receber todas e quaisquer diversidades em sala de aula, sejam elas, sexuais, religiosas, étnicas etc., sem distinção.
Ensinar o respeito é tb uma das atribuições da escola, justamente porque ali, em sala de aula, ou na escola como um todo, alunos convivem com uma grande diversidade de crianças: cores, sexos, alturas, pesos, religiões e sabemos, sobretudo quem circula nesse ambiente, que pouco ou quase nada se fala sobre isso.
Fala-se de etnia numa data especial, como se fosse uma oportunidade para discutir um tema fora da realidade, assim como se fala do índio apenas no dia 19 abril. Um índio exótico que descerá de uma estrela colorida e brilhante. E as crianças voltam para a casa pintadas como um índio.
Discussões feitas dessa forma são improdutivas, porque é o mesmo que falar que a Terra é redonda ou que o sol é o centro do universo. Não muda nada. É tão distante que não produz efeito nenhum.
A sexualidade não pode ser tratada como um tema fora da realidade. Não pode ser tratada como se ela não nos constituísse. Porque tratada assim, fora da realidade, é que ouvimos, sabemos, vemos acontecer tanta violência contra gays, lésbicas, travestis e transexuais.
Precisamos discutir, fazer com que as crianças saibam que essa diversidade existe, que faz parte da sociedade (e não que está fora dela). O mundo é muito maior do que a nossa casa. Além disso, quando a proposta é discutir a sexualidade, estamos falando em nome, inclusive, do seu filho, não apenas do filho da vizinha. Estamos falando em nome dessa criança que é agredida fisicamente, insultada, injuriada, destratada e que, na melhor das hipóteses, deixa de frequentar a escola porque o ambiente passa a ser perigoso.
O kit-anti homofobia é um material que vai promover uma discussão, ele não tem o poder de transformar ninguém em homossexual. Ele apenas coloca na ordem do dia um assunto que faz parte da ordem do dia, só que com outra abordagem, sem o ranço religioso, sexista, moralista, porque não se pode impor em nome de uma religião, sexualidade, moralidade que a sociedade seja homogêna. Ela não é. Não adianta querer que ela seja, tapar os olhos para o diferente. Não vai adiantar. Seria uma luta inglória.
Precisamos tirar do silêncio, da clandestinidade, da marginalidade todas as minorias. Precisamos incluir. Eu me sentiria muito mal se soubesse que ajudei a promover alguma exclusão. Não quero isso pra mim, não quereria isso pro meu filho nem para o seu.
Não consigo compreender o medo que se tem do tema. Talvez eu compreenda sim. Só não posso compactuar com ele. O kit sozinho não produz nada, mas o kit acompanhado de um professor, que o compreenda e que possa realizar as discussões, pode produzir uma sociedade muito mais acolhedora, uma sociedade capaz de receber bem o outro, seja lá quem ele for.