quarta-feira, 6 de julho de 2011

Socorro! Chamem o ladrão (texto)

Policiais continuam matando no Rio de Janeiro (no Brasil) e  quem deveria saber dessas práticas tão recorrentes não sabe. Não é impressionante? Não é surpreendente como notícias de policiais envolvidos em mortes no Estado/Cidade do Rio (e não menos em outras cidades), em desaparecimentos de pessoas, em torturas, em roubos, em devios de cargas, em devios de todas as ordens são rememorados pelos meios de comunicação como novidades?
Hoje, dia 06 de julho, chegaram à conclusão de que o corpo encontrado era do menino Juan desaparecido depois de troca de tiros entre policiais militares e bandidos na Baixada Fluminense.
Segundo o G1, dos quatro PMs que foram afastados das ruas por conta desse episódio, dois já estiveram envolvidos em situações em que o suspeito é morto em confronto com a polícia. Um cabo esteve envolvido em autos de resistência oito vezes e o outro 13 vezes.
O irmão do menino, Wanderson, em entrevista ao Fantástico disse que viu quando Juan foi alvejado: “O pequenininho passou na minha frente. E assim que a gente saiu, chegou no finalzinho do beco, aí começou o tiroteio. Eles começaram a atirar. Muito tiro. Aí ele foi baleado, eu tomei três tiros. Eu vi quando ele tomou o tiro. Ele estava na minha frente, então eu vi. As balas vinham de uma direção só”, disse.
Um outro irmão de Juan, Wesley, disse em depoimento que tomou um tiro no pé e também viu o irmão caído, ensanguentado. Ele contou que tentou ajudá-lo, mas recebeu outro tiro, dessa vez no ombro. Então, ele se arrastou para fora do beco. Foi o último momento em que Juan foi visto com vida.
Os PMs disseram que foram ao local por causa de uma denúncia da presença de traficantes feita pelo serviço 190. A chamada registrada na central é de 20h54, depois de os três meninos já terem sido baleados. A gravação não foi divulgada pela polícia.
No registro de ocorrência feito na delegacia, à 1h44, os PMs apresentaram uma arma e drogas como sendo de Wanderson e apontaram Wesley como menor infrator. Mas, 45 minutos depois, mudaram o depoimento: Wesley passou de infrator a testemunha. Wanderson ficou cinco dias algemado à cama, até ter a prisão relaxada pelo juiz.
É ou não impressionante a conduta desses militares?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cada um diz o que pode (Texto)

Enquanto a ex-atriz e deputada estadual (PDT-RJ) Myrian Rios aproxima o homossexual da prática de pedofilia, como padres, pastores, homofóbicos o fazem (mais por falta de informação do que de qualquer outra coisa), a Justiça de São Paulo autorizou nesta segunda-feira (27) o primeiro casamento civil gay do Brasil. Há muito o que se comemorar. Isso é fazer história.
Podemos ficar nessa ladaínha: homossexual = pedófilo = doente = criminoso = pecador etc. ou podemos sair dela e construir outras equações: homossexual = cidadão = normal, por isso tem direitos e deveres.  É isso que queremos. Como é que alguém ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa de um Estado com ideias tão passadas?
A deputada é apenas uma deputada e o que ela diz não tem nenhuma importância além do fato dela representar uma parcela da sociedade: alguns poucos católicos. Apenas isso. Ela diz o que pode e não o que quer.
Ela não sabe, talvez, que 90% da prática de pedofilia aconteça entre heterossexuais dentro das próprias casas, ou seja, homens que abusam sexualmente de filhas, enteadas, sobrinhas, primas, vizinhas etc.
Entre os padres católicos, só como exemplo, o percentual é quase o mesmo, 70% é heterossexual. E as práticas são tb em relação às meninas que frequentam às igrejas. Portanto, o que ela diz não faz nenhum sentido além do sentido da ignorância, da falta de informação, ou, para quem estuda análise de discurso, de um efeito de sentido parafrásticos de discursos de séculos passados.
Nem sei se é preciso responder ao que ela diz. Talvez ela tenha mesmo o direito de não querer um funcionário homossexual em sua casa, assim como acho que tenho o direito de não ter uma deputada com um pensamento tão raso, com uma atuação tão medíocre.
Alguém que confunda a religião, a sua religião, como o Estado não deveria sequer se representar. Falta estofo. Falta conhecimento. Falta quase tudo. Quem é Myrian Rios? O que ela fez para melhorar, por exemplo, o funcionamento do Estado do Rio de Janeiro? Quais são os seus projetos? O que ela faz para justificar a sua presença na assembleia estadual? 
Nunca na história desse país essa deputada tomou alguma atitude que nos surpreendesse em se tratando de pensar o Estado do Rio de Janeiro? Quem ela acha que é para dizer o que diz? O que ela sabe da história da homossexualidade? A partir de quê ela dá essas declarações? 
É para-lamentar o que sai da boca dessa gente que usa uns anos de televisão para conseguir se eleger. Bem feito para quem perde tempo  indo às urnas para jogar o seu voto no lixo.

A cultura gay através dos tempos (Antonio Gonçalvesz Filho - O Estado de S.Paulo)

Quatro títulos que falam da evolução da homocultura atestam expansão do mercado

Mais de 2 milhões de pessoas devem acompanhar, hoje, a parada gay na Avenida Paulista. Muitos lembrarão que até mesmo no nome ela deve algo ao movimento gay americano e ao modelo que adotou, vindo dos EUA, mas o fato é que já existe uma homocultura brasileira que permite, por exemplo, o lançamento simultâneo de quatro livros sobre o assunto, um deles escrito por um padre inglês, católico, que escolheu o Brasil para viver, James Alison (leia entrevista nesta página), autor de Fé Além do Ressentimento. Os outros três livros, de alguma forma, dialogam entre si, tratando da evolução dessa homocultura não só no Brasil como no mundo.
Retratos do Brasil Homossexual – Fronteiras, Subjetividades e Desejos reúne ensaios apresentados no IV Congresso da Abeh – Associação Brasileira de Estudos da Homocultura, realizado em 2008. Em Cine Arco-Íris (Edições GLS), o ativista paulistano Steve Lekitsch faz um apanhado de 270 filmes com temática homossexual realizados nos últimos 100 anos. Finalmente, em La Identidad Homosexual – De Platón a Marlene Dietrich, Paolo Zanotti, professor italiano de Literatura, examina a formação da homocultura desde os antigos gregos até Marlene Dietrich, ícone gay por causa de filmes como Marrocos. Nos últimos anos de vida, a atriz estava tão obcecada pela ideia de que podia ser contaminada pelo vírus da aids que evitava abrir cartas de seus fãs homossexuais, encarregando a filha de espalhar, após sua morte, que a mãe se contagiou pelo correio.
Essa revelação de La Identidade Homossexual vem seguida de uma interessante observação do autor. Zanotti, recorrendo à ensaísta americana Susan Sontag, diz que os gays reagiram à aids – e às atitudes adversas como a de Dietrich – usando a estratégia de dar uma imagem de si mesmos a mais saudável possível. Essa imagem de saúde pós-aids, que se traduz nos “sarados” da parada gay, coincide, segundo Zanotti, com o único ideal de autocontrole proposto em nossos dias – “o autocontrole em nome do corpo, da dieta, da forma física”. Desde os anos 1980, esse ideal, diz o autor, se difunde com sucesso. O homem gay, conclui, “se converteu num exemplo mais aperfeiçoado do macho prototípico, um hedonista com corpo de ginasta.”
Zanotti vai mais longe, citando Pasolini. Quando o cineasta italiano se rebelou contra a “nova” homossexualidade, estaria justamente criticando a identificação dos gays com traços da cultura que o oprime. Talvez isso explique o sucesso do filme O Segredo de Brokeback Mountain (foto maior), um dos analisados no livro Cine Arco-Íris, ao envolver dois caubóis rudes num relacionamento que termina de forma trágica, com um deles sendo espancado até a morte por homofóbicos. O autor do livro, Lekitsch, não adota o tom ensaístico de Zanotti. Escreve apenas pequenas sinopses dos filmes, esquecendo títulos fundamentais que tiveram um papel histórico na luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais, como Meu Passado Me Condena (Victim, 1961), o filme de Basil Dearden que ajudou a mudar a lei que considerava a homossexualidade crime na Inglaterra.
A homocultura e os direitos humanos, aliás, é o primeiro capítulo de Retratos do Brasil Homossexual. No texto inaugural, a advogada Maria Berenice Dias analisa a união homoafetiva na Constituição Federal e propõe a elaboração de um Estatuto da Diversidade Sexual, a exemplo dos estatutos do Idoso, da Criança e do Adolescente. A inexistência de um “discurso específico da homocultura”, conclui o escritor João Silvério Trevisan no livro, revela que o movimento pelos direitos homossexuais no Brasil “continua tateando até hoje”.
De qualquer forma, o papel dos pioneiros é lembrado no livro até por estudiosos estrangeiros como o acadêmico Robert Howes, do King”s College de Londres. Ele analisa a obra literária do pouco conhecido escritor pernambucano Gasparino Damata, um dos criadores do Lampião (primeiro jornal gay brasileiro), que foi suboficial no United States Transportation Corps na 2ª Guerra e relatou sua experiência amorosa com um soldado americano em Queda em Ascensão, publicando depois A Sobra do Mar (1955), sobre um marinheiro que é desejado pelo capitão do navio, como o Querelle de Genet. Graças a Damata e outros pioneiros, como Adolfo Caminha, autor de O Bom Crioulo, os gays desfilam hoje, orgulhosos, em carros alegóricos, não em deprimentes viaturas de polícia.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Clímax - Marina Lima (CD)

Já houve tempo em que eu ficava aguardando, cheio de ânsia, o lançamento do novo CD da cantora e compositora carioca Marina (depois Marina Lima). Lembro-me do primeiro show em que ela dividia o palco com Belchior, no Projeto Seis e Meia, no teatro João Caetano no Centro do Rio, em 1982. Fui a este show com um amigo, Simão.
Neste Projeto um artista consagrado apresentava um artista iniciante. Eu já gostava dela, já ouvia Simples como Fogo, primeiro CD. Já cantava Transas de Amor, A chave do mundo, Não há cabeça e Muito. Daí pra frente não parei mais de comprar CD, ir aos shows, acompanhar a carreira. Tudo o que um fã normalmente faz.
Um outro show da cantora que me lembro bem foi o lançamento do CD Marina Lima de 1991. Assisti ao show no, falecido, Mistura Fina, zona sul do Rio, na companhia de amigos, distante uns 3 mestros do palco, que ficava na altura da plateia.
Criança, Grávida, O meu sim, Acontecimentos, Não sei dançar foram as mais tocadas. Já cheguei ao show sabendo todas essas letras. A discografia é enorme, acho que por volta de 18 discos (não tenho nenhuma certeza).
Este mês a cantora e compositora que já foi o símbolo da música carioca, lançou o CD Clímax. Não o aguardei com a mesma ansiedade de outras épocas, mas confesso que me sinto feliz pelo novo trabalho. É como se relembrasse de um tempo com amigos por perto, com a casa sempre cheia, com música tocando o tempo todo, com festas de aniversário, com a minha mãe por ali participando das conversas.
Aos 55 anos Marina Lima continua buscando. Aos 55 anos, guitarra em punho, música pop, atitude rock and roll. Voz um pouco prejudicada, mas antes já diziam que a sua voz não era boa. A voz agora é essa e pronto. Quem quiser outra voz que busque outra cantora. A dela é a que está registrada nos últimos CD´s.
O CD é bom. Tenho ouvido bastante. Algumas músicas me lembram outras já lançadas. O CD é bem original: SP Feelings e Call me são as minhas preferidas. A parceria com Samuel Rosa, a participação especial de Vanessa da Mata renderam bons resultados.
Eu indico.

Quando as redes sociais camuflam a sensação de estarmos sozinhos (texto)

Tenho conhecidos/amigos que não assistem TV porque acham que elas emburrecem. Não param diante de nenhum programa de televisão porque "se tivessem esse tempo sobrando estariam produzindo mais, lendo mais, escrevendo mais". Tudo da boca pra fora, porque os encontro sempre conectados em redes socias (doravante RS).
Não vejo nenhum diferença entre uma coisa e outra. Na verdade vejo sim, vejo muitas diferenças. Nas RS além do mesmo gasto de tempo (pra ser sincero, muito mais gasto do tempo), uma camuflagem da solidão. Por outro lado, tem programação nas TV´s (sobretudo nas pagas, quero dizer nas mais pagas, né?) que nos proporcionam grande conhecimentos, além de diversão, distração etc. (quanto ao etc. eu ão sei bem o que é).
Sei de pessoas que gastam mais de 80% do seu dia trocando mensagens, seja numa RS, no celular, ou e-mail, numa expectativa constante de receber respostas para não se sentirem sozinhas. Como se o fato de estarem conectadas, trocando breves mensagens com aquelas centenas de "amigos", significasse que não estão isoladas.
Alguns são incapazes de estabelecer relações pessoais fora do ambiente de trabalho. O computador nos isola quase sempre, mas é claro que não é apenas isso. O buraco é muito mais fundo e necessitaria de uma análise muito mais social do que essa rasa que aqui proponho.
Claro que não conseguiríamos estabelecer uma relação com a mesma facilidade com um amigo que se encontra do outro lado do mundo. O mundo virtual nos dá essa oportunidade, mas o que me chama atenção é o fato de não conseguirmos estabelecer relações com os que estão próximos.
Como dosar nossa conectividade? Como nos desconectar e não nos sentirmos tão sós? Por que quando desligamos o nosso celular e computador temos a sensação de estarmos perdendo alguma coisa?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Ado, ado, cada um no seu quadrado (texto)

Começo esse post com parte de fala de uma entrevista concedida pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek à revista Época na semana do dia 29.05.2011

ÉPOCA – O que o senhor acha das críticas a Lars Von Triers, que disse que entendia Hitler? 
Zizek – Não devemos ser livres para celebrar Hitler, nada disso. Claro que Hitler fez coisas horríveis. No caso de Lars tem outra questão: o artista deve ser julgado pelo que ele faz. Eu odeio essa ideia de que, se você conversar com um diretor ou com um autor, você vai descobrir algo incrível, algum segredo. O que eles sabem está no que eles produzem. Muitos deles são idiotas. David Lynch, francamente, é um idiota. Ele está agora numa empreitada para coletar milhões de dólares para construir uma imensa cúpula de meditação porque ele acha que se mais de dez pessoas meditarem num lugar isso vai liberar energia que vai trazer paz ao mundo. Mas nos filmes ele é um gênio.(grifos meus).

Bem, faz alguns anos, mais precisamente em 1992, o cantor e compositor Lulu Santos deu declarações sobre os músicos e a música sertajena num programa do Faustão que provocou certo incômodo na mídia.
Lobão, não faz muito tempo, num programa da Jovem Pan, acho que com o pessoal do Pânico, falou mal de Luan SantanaRestart e Fiuk.
E para completar o trio de patetas (na verdade não sei se é mais pateta quem dá tais declarações ou se quem as ouvem como se isso fosse alguma coisa para se prestar atenção), Ed Motta no Facebook fala mal de mulheres feias, da feiúra dos brasileiros, que não são do Sul ou de São Paulo, de Paula Toller, de Caetano Veloso, entre outros. E isso repercute como se fosse uma importante declaração.
Bem, concordo em gênero, número e caso com o Zizek, artistas devem ser bons naquilos que fazem como artistas. Portanto, Lulu Santos, Lobão e Ed Motta cumprem com bastante competência essa cláusula. E devíamos nos satisfazer com isso. O resto não deveria ser levado a sério, cada um diz o que pode e não o que quer.
Criar categoria de gosto é uma tremenda estultice. Tudo bem que não tenho em casa, e não entra, cd, dvd de Luan Santana, Restart ou Fiuk, porque na minha casa quem manda sou eu. Mas daí para decidir o gosto dos outros....meio demais né?
Não quero tb transformar nenhum cantor, compositor, ator, atriz, apresentador de programa, jornalista, padre-cantor etc. em guia espiritual, intelectual ou qualquer coisa desse gênero. Cada um no seu quadrado. O que eles fazem como artistas pode ou não me agradar. Tudo muito subjetivo. Agora se eles consideram isso ou aquilo importante, se gostam de certos lugares em detrimentos de outros, se usam certas marcas de roupa ou cortam os cabelos assim ou assado, se pensam isso sobre determinado assunto, definitivamente, não me interessa. Não tenho nenhum respeito pelo que dizem além do respeito de achar que devem dizer. Assim como eu faço aqui no meu blog.
Tudo o que eu escrevo é a minha forma de pensar sobre alguma coisa, não é verdade absoluta sobre nada. Não tenho nenhuma pretensão de dizer coisas interessantes, de sair do senso comum. Digo o que acho que devo dizer e estou abertíssmo às críticas, aos que pensam de outra maneira.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...