segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Na hora H, no dia D (texto)

Odeio quando algumas questões são resolvidas no último dia, na última hora, no prazo final. Não suporto a pressão de, por exemplo, um site que não abre devido ao grande número de acesso ou coisa parecida. Sobretudo se não funciona por "coisa parecida".
Mas quando a (ir)responsabilidade não é sua, quando não depende apenas da sua própria vontade, tempo, disponibilidade, quando vc já tentou de todas as formas e nada adiantou, não há muito o que fazer senão esperar. Tô fazendo isso.
Estou faz, aproximadamente, duas horas diante do computador tentando entrar no site da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) para fazer a inscrição de um aluno para apresentar um trabalho.
Hoje é o último dia, um outro irresponsável não fez o que lhe cabia, e sobrou, claro, pra mim. Vou resolver mais essa pendenga. Faz parte do dia a dia do professor lidar com todo tipo de gente. Inda bem que encontramos com certa facilidade gente honesta, disponível, organizada, bem intencionada. O resto é o resto e não se tem muito mais o que dizer. A vida ensina.
O problema é que não consigo, posso, fazer outra coisa, a não ser dar uma passadinha aqui e postar um texto, já que se eu não fizer o que devo hoje, não faço mais em outro dia.
Fico apenas pensando num tempo perdido diante do computador. E o site não abre. E a hora te consome. E nada acontece.
Não dá nem para culpar a universidade. Quem mandou deixar para a última hora?! Todos nós sabemos que isso é recorrente. Ai que pena de mim!

Bolsonaro e as calcinhas (texto - Debora Diniz)


Para antropóloga, imagem do deputado em propaganda de roupa íntima seria desrespeito às mulheres e aos gays

DEBORA DINIZ*

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi convidado para ser garoto-propaganda da Duloren, empresa especializada em roupas íntimas. Bolsonaro não é nenhum deus grego que inspire mulheres a comprar calcinhas. Não é seu corpo que importa à Duloren, mas suas opiniões sobre sexo, gays e mulheres. A atual campanha da Duloren de moda para homens no site da empresa traz a imagem de um desses modelos perfeitos sendo admirado por um pit bull. O slogan da campanha é "perigoso, viril e arrebatador". Minha dúvida foi se a chamada era para o cachorro ou para o modelo. O cachorro e o modelo estão de cueca, a diferença é que o cachorro a usa entre os dentes. Imaginei a atualização da campanha com Bolsonaro como modelo para a venda de calcinhas. Com o slogan "machão, conservador, homofóbico", Bolsonaro ocuparia bem o lugar do pit bull.
O comércio de roupas íntimas transita entre símbolos contraditórios sobre o corpo e a sexualidade: o proibido e o desejado, o vulgar e o íntimo. Bolsonaro e as calcinhas representarão a força do vulgar, mas com alta dose de desrespeito às mulheres e aos gays. Não consigo imaginá-lo vestindo calcinha na campanha, o que seria um contrassenso ainda maior, considerando sua posição de parlamentar. Portanto, sua aparição deve ser como a de quem admira ou aprova mulheres vestindo calcinhas. Exatamente o lugar de censor moral no qual hoje ele vocifera como deputado ou, na iconografia da Duloren, o lugar do pit bull que admira os homens: o senhor da heterossexualidade, a favor de que as mulheres retornem à casa e ao cuidado dos filhos, e contra a igualdade sexual. Há outras cores de conservadorismo na voz do quase modelo da Duloren: revisionismo da ditadura como opressão, defesa da pena de morte, além das recentes controvérsias sobre racismo.
O que fez a Duloren imaginar que Bolsonaro inspiraria as mulheres a comprar calcinhas? Apostar na ironia seria o caminho confortável e menos controverso, mas também pouco provável para uma empresa que se rege pelo lucro. Bolsonaro não seria um modelo, mas um contramodelo para a intimidade feminina. Ao comprar uma calcinha aprovada por ele, as mulheres negariam os valores subliminares da campanha. Bolsonaro não seria o censor que se imagina ser, mas uma paródia de seu colega Tiririca no campo da sexualidade feminina: o humor sexual moveria o comércio das calcinhas. Acho pouco provável uma aposta de risco como essa. Uma campanha de sucesso é aquela cuja mensagem não deixa dúvida sobre sua eficácia, semelhante à promovida pela Duloren que envolvia um padre e uma modelo com roupas íntimas, ambientada na Praça de São Pedro. A modelo segurava uma cruz em direção ao padre, sugerindo que a lingerie provocaria o espírito libidinoso dos padres. Não havia dúvidas quanta à mensagem dessa campanha, o que deixou a Igreja Católica justamente indignada.
Minha aposta sobre o sentido da campanha é outra. Não há subliminaridades em Bolsonaro como garoto-propaganda, assim como no uso da cruz e do padre na campanha anterior. A Duloren aposta no símbolo do machão como o de um bom vendedor de calcinhas, assim como apostou no modelo perfeito e no pit bull para vender cuecas para homens. É o sentido do machão na cultura brasileira que será negociado pela campanha. Gostar de mulheres e, mais ainda, de mulheres lindas vestindo calcinhas sedutoras, seria um ato de masculinidade. Para admirar mulheres na intimidade, somente homens machões. Mas machão aqui não se resume à ordem heterossexual do desejo - confunde-se com a homofobia, a opressão de gênero e a redução das mulheres a objeto de posse dos homens. O machão censor da sexualidade e do corpo das mulheres está em baixa e a Lei Maria da Penha é um sinal vigoroso da sociedade brasileira sobre essa mudança de mentalidade e práticas de gênero.
Não sei se Bolsonaro ajudará a Duloren a vender calcinhas, mas a Duloren o ajudará a se manter como o deputado federal censor da sexualidade. Afirmar-se como machão e defensor da heteronormatividade faz os parlamentares se projetarem, nem que seja pelo espanto medieval. O sinal mais recente dessa atualização do machão foi a aprovação da lei para a criação do Dia do Orgulho Heterossexual pela Câmara Municipal de São Paulo. Foram 31 votos pela aprovação contra 19, com forte hegemonia dos partidos conservadores na defesa da lei. Assim como na campanha da Duloren, há várias incongruências na lei, sendo a mais importante a inversão da ordem moral - quem é discriminado é o gay, e não o heterossexual. Não se mata um casal heterossexual na rua, mas se violentam pai e filho que expressam carinho em público. A homofobia mata, mas é a heteronormatividade que define as leis e, como gorjeta, pode ajudar o capitalismo a vender calcinhas.

* DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA, PROFESSORA DA UnB E PESQUISADORA DA ANIS - INSTITUTO DE BIOÉTICA, DIREITOS HUMANOS E GÊNERO

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pensando bem, é um tiro em cada pé (texto)

Nem sempre a competição é saudável. Pensando bem, quase nunca ser competitivo é legal. Pra ser sincero, gente que vive disputando qualquer coisa é chata pra cacete.
Como alguns sabem, sou professor. Estou nessa de sala de aula faz muitos anos. Pra ser bem específico, são exatamente 26 anos de entra e sai de sala de aula, bom dia, boa tarde e boa noite. Em virtude disso, desses tantos anos de escola (ensino fundamental, médio e universitário), experimentei muitas faces de alunos e colegas de profissão.
É interessante como turmas de alunos (e professores) comportam-se mais ou menos de forma homogênea em se tratando de competição. Já tive turmas muito competitivas e turmas nada competitivas, tive, infelizmente, poucas turmas equilibradas em relação à competição. Não sou do tipo, acho, que estimula a competição em sala de aula. Bem ao contrário, penso. Acho que o mais importante é compartilhar conhecimento para que a maioria se saia bem...
*Alunos competitivos são chatos. Alunos que comparam notas são insuportáveis. Alunos que disputam lattes então, melhor não comentar. Acho que fica faltando um sei lá o quê de interessante em pós-adolescentes que se tornam técnicos demais.
Sou das letras, ainda que eu dê aulas de linguística, sou das artes, da literatura (e não pense que professores de literatura sejam mais artistas, não mesmo! Alguns são tão ou mais técnicos do que os que trabalham com a linguística dura), da música, da poesia, do bate-papo e da filosofia. A linguística dura é da porta da sala de aula para a prova, não me ocupa mais do que nesses espaços.
A competição nos torna insensíveis (e nem me venham com essa de que competição tem lá suas vantagens...nunca soube de nenhuma que fosse saudável.), não se vê, ao ser tomado por ela, o fim do túnel, porque ela passa ser um buraco negro. Nossas visões ficam turvas diante dela, e, somos, portanto, tomados pela vontade de ser mais, ter mais, conseguir juntar a maior quantidade de todas as coisas.
É claro que a maneira como funciona a universidade, por exemplo, estimula a competição. O nosso espaço é dimensionado pela produção, mas nem sempre uma produção de qualidade. Até porque não se tem um meio para avaliar tanto trabalho (mesmo que estejamos falando de Qualis), no fim das contas o que conta é a quantidade. Mesmo que seja medíocre. Por outro lado, esse funcionamento (o da quantidade) é uma imposição a qual nos submetemos sem sequer questioná-la, somos prisioneiros e carcereiros, escravos e senhor.
A competição nos torna vítima e algoz.

*alunos e professores.

domingo, 31 de julho de 2011

Um pouco de poesia para iluminar a vida

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

Manoel de Barros

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Da Série Contos Mínimos

Comemorariam três décadas juntos se não fossem surpreendidos por novidades desagradáveis. A vida nunca espera data, hora certa, dia da semana, mês mais propício para se anunciar. Chega como a dona do pedaço, não escolhe palavras, atravessa o nosso dia como se o dia fosse apenas seu.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...