segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Esquentando os tamborins (texto)

No Rio, dizemos esquentando os tamborins quando estamos próximos do Carnaval e, sobretudo, se frequentando ensaios de escolas de samba, experimentando fantasias, no ritmo da maior festa da cidade, enfim.
A expressão siginifica muito mais do que estar envolvido com o carnaval, dizer esquentando os tamborins é querer dizer que estamos nos aprontando para algum evento, seja ele qual for.
Estou esquentando os tamborins, mas só revelo o motivo em uns dias. Para isso me indicaram a leitura do livro da Sônia Bridi, Laowai, que em chinês quer dizer estrangeiro.
A Sônia, perdoe-me a intimidade, foi com o Paulo (seu marido e tb repórter) morar na China em 2005. Depois de 32 horas de voo, contando as escalas, chegaram no Oriente para montar a primeira base da TV Globo do outro lado do mundo (do outro lado, porque parto sempre da minha referência).
O livro é muito interessante, não só porque nos revela uma cultura tão distinta da nossa, mas porque a jornalista escreve bem e com humor, ainda que tenha passado por poucas e boas (e quando escrevemos por poucas e boas queremos dizer, muitas e más).
São 335 páginas, mais um anexo com as fotografias do Paulo Zero. Estou passando pelo primeiro 1/3 do livro. Comprei-o na quinta-feira e, sempre que me sobra um tempinho, fico grudado nele. Pena que amanhã é segunda-feira e já sei que, por conta do trabalho, não terei muito tempo para ler.
Termino a leitura até sexta-feira, dessa semana. Porque aí sim, começo com uma pequena série que vai durar 15 dias aproximadamente.
Quem se interessa por outras culturas e pelas impressões de uma jornalista que mudou com a família para a China, não pode deixar de ler o livro. A editora é a Letras Brasiliense e já está na sexta edição: Laowai - História de uma repórter brasileira na China.

sábado, 13 de agosto de 2011

"Foi um motim de consumidores excluídos", diz sociólogo Zygmunt Bauman

Um dos mais influentes acadêmicos europeus, já descrito por alguns comentaristas mais entusiasmados como o mais importante sociólogo vivo da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman viu nos distúrbios de Londres uma aplicação prática de suas teorias sobre o papel do consumismo na sociedade pós-moderna. Um assunto que o acadêmico, radicado em Londres desde 1968, quando deixou a Polônia após virar persona non grata para o regime comunista e por conta de uma onda de anti-semitismo no país, explorou bastante em conjunção com as discussões sobre desigualdade social e ansiedade de quem vive nas grandes cidades.
Aos 85 anos, autor de dezenas de livros, como "Amor líquido" e "O mal-estar da pós-modernidade", Bauman não dá sinais de diminuir o ritmo. Há cinco anos, no lançamento de "Vida para Consumo", uma de suas obras mais populares, fez uma turnê por vários países. Em entrevista ao Globo, por e-mail, ele afirma que as imagens de caos na capital britânica nada mais representaram que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social.
- Londres viu os distúrbios do consumidor excluído e insatisfeito.
O GLOBO: O quão irônico foi para o senhor ver os distúrbios se concentrando na pilhagem de roupas e artigos eletrônicos?
ZYGMUNT BAUMAN: Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação. Tais explosões são uma combinação de desigualdade social e consumismo. Não estamos falando de uma revolta de gente miserável ou faminta ou de minorias étnicas e religiosas reprimidas. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados.
O GLOBO:Mas qual a mensagem que poderia ser comunicada?
BAUMAN: Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população.
O GLOBO:Trata-se de um desafio a mais para as autoridades na tarefa de acalmar os ânimos, não?
BAUMAN: O governo britânico está mais uma vez equivocado. Assim como foi errado injetar dinheiro nos bancos na época do abalo global para que tudo voltasse ao normal - isso é, as mesmas atividades financeiras que causaram a crise inicial - as autoridades agora querem conter o motim dos humilhados sem realmente atacar suas causas. A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual.
O GLOBO:Jovens de classe baixa reclamam demais da falta de oportunidades de trabalho e educação. O senhor estranhou não ter visto escolas pegando fogo, por exemplo?
BAUMAN: Qualquer que seja a explicação dada por esses meninos e meninas para a mídia, o fato é que queimar e saquear lojas não é uma tentativa de mudar a realidade social. Eles não se rebelaram contra o consumismo, e sim fizeram uma tentativa atabalhoada de se juntar ao processo. Esses distúrbios não foram planejados ou integrados, como se especulou no início. Tratou-se de uma explosão de frustração acumulada. Muito mais um porquê que um para quê.
O GLOBO:Mesmo o argumento de protesto contra os cortes de gastos do governo não deve ser levado em conta?
BAUMAN: Até agora, não percebi qualquer desejo mais forte. O que me parece é que as classes mais baixas querem é imitar a elite. Em vez de alterar seu modo de vida para algo com mais temperança e moderação, sonham com a pujança dos mais favorecidos.
O GLOBO:Mais problemas são inevitáveis, então?
BAUMAN: Enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, sim. A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento, como no Reino Unido.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A gente se supera (texto)

Vc é  um cagonildo, diria um grande amigo sobre mim. Eu teria que, em parte, concordar com ele. Sou mesmo um cara medroso. Inseguro até o pescoço. Mas eu disse que a concodância é apenas em parte, porque ainda que eu seja um cara com os meus medos (e quem não os tem?), ele não me paralisa. Não me impede de acreditar que pode ser diferente.
Já achei que ia morrer, já morreram grandes amigos, já perdi minha mãe (grande perda), já perdi muitos amores, outros amigos foram morar longe, já fui morar longe, fui reprovado algumas vezes, ouço "não" quase todos os dias, já passei altas vergonhas, mas não deixo que o medo me impeça de resistir. Passei por todos esses momentos e quando se está atravessando um deles não dá, quase sempre, para achar que há superação.
Eu posso dizer que há. Até a morte a gente supera. A gente supera a dor. A gente se supera. E por mais que nos pareça impossível, insuportável, dolorido, angustiante, intransponível, sufocante, por mais forte que seja a pressão, vai acalmar. Bem, não estou falando de solução, não escrevo sobre isso, mas sobre a tranquilidade que, mais cedo ou mais tarde, chega.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Guia classifica universidades receptivas a alunos LGBT (texto/pesquisa)

A organização britânica Stonewall, que luta contra a homofobia, criou, no ano passado, o primeiro guia online que classifica as universidades como preparadas ou não para receber estudantes LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
Financiado pelo Google, o Gay by Degree está em sua segunda edição e analisou 160 instituições a partir da informação disponível em seus sites. São dez critérios – entre eles, se há funcionários treinados para evitar incidentes homofóbicos no campus. Apenas quatro universidades conseguiram a pontuação máxima nesta edição: Universidade College (UCL) e Imperial College, ambas em Londres, e duas no interior – a de Wolverhampton e a de Portsmouth. Na primeira edição, ninguém chegou lá.

Leia a seguir a reportagem completa:

Quais são os critérios que levam os jovens a escolher uma ou outra universidade? Além da qualidade do ensino, eles e elas querem saber se vão ser bem recebidos.
Foi por isso que a Stonewall, organização britânica que luta contra a homofobia desde 1989, criou, no ano passado, o Gay by Degree - o primeiro guia on-line que classifica as universidades como preparadas ou não para receber estudantes LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
Uma pesquisa da organização, de 2007, indicou que 65% dos estudantes LGBT enfrentavam em suas escolas o bullying homofóbico. Um terço das agressões, no ensino fundamental, vinha dos próprios professores.
“Os universitários que consultam nosso guia ficam felizes em saber que sua próxima experiência pode ser diferente”, afirma Chris Dye, um dos responsáveis pela realização do Gay by Degree (http://www.gaybydegree.org.uk/).
Não há um ranking, mas 160 universidades do Reino Unido são avaliadas sob a luz de dez critérios.

Veja abaixo os dez critérios de classificação usados no Gay by Degree.
1. Há uma política interna que protege os alunos LGBT de bullying?
2. Os funcionários são treinados para lidar com alunos LGBT e/ou impedir incidentes homofóbicos?
3. Existe alguma agremiação de alunos LGBT?
4. Há informação disponível aos estudantes sobre temas relacionados a LGBT?
5. A instituição tem o selo Stonewall Diversity Champion, tipo de credenciamento para quem participa da rede em prol da diversidade nos ambientes de trabalho?
6. Há eventos especialmente realizados para alunos LGBT?
7. Há algum tipo de apoio financeiro exclusivamente oferecido aos estudantes LGBT?
8. Há uma ouvidoria específica para alunos LGBT?
9. Há aconselhamento profissional específico para alunos LGBT?
10. Há uma rede atuante de funcionários LGBT?

Segundo os realizadores do guia, “para que a informação pública e de fácil acesso seja um critério a priori”.
“Algumas escolas avançaram. Elas estão usando o guia para comparar-se umas às outras e melhorar a qualidade como recebem os novos alunos. Muitas fizeram mudanças nos sites para que as informações ficassem mais visíveis”, diz Dye.

DIVERSIDADE
A Universidade College de Londres, uma das que aparecem no topo do Gay by Degree, conta com um departamento de igualdade e diversidade desde os anos 1990. “É um ponto muito importante para uma universidade que abriga alunos de 140 países. É preciso sempre reforçar o respeito às diferenças”, diz Fiona McClement, conselheira do departamento.
Davina Moss, que começa em Cambridge em setembro, usou o guia no ano passado para poder “desempatar” escolhas. “Entre minhas dez eleitas, usei a informação para saber mais sobre a postura da universidade”, diz.
Cambridge, aliás, uma das universidades mais velhas e tradicionais do mundo, com mais de 800 anos de idade, é considerada pelo guia a mais “gay friendly” do Reino Unido - apesar de atingir apenas oito critérios da lista.
Anthony Woodman não vê nenhuma contradição nisso.
“Rigor intelectual e pensamento crítico sempre andaram juntos aqui, e a escola sempre esteve à frente nas questões de seu tempo”, diz o presidente da organização estudantil CUSU-LGBT, que afirma ter 700 membros em sua lista virtual de discussão.

LIVRE PENSAR
Para Alexander Bramham, estudante e coordenador de eventos da Sociedade LGBT da Universidade de Oxford - mais um grande nome entre as tradicionais e antigas universidades inglesas -, não há surpresa em ver essas duas instituições com boas avaliações no Gay by Degree (Oxford também atende a oito critérios).
“Oferecer um espaço de qualidade para a educação tem a ver com promover a igualdade e a tolerância no campus”, afirma Bramham.
A organização em que trabalha, liderada por um comitê de alunos eleitos anualmente, nasceu em 1969. Hoje, sua página oficial no Facebook, segundo o estudante, já tem mais de 200 membros.
“A universidade deve ser um lugar onde as pessoas possam aprender mais sobre si mesmas. Eu não teria escolhido Oxford se não visse essa abertura aqui”, completa.
“Não conheço outro guia parecido“, afirma Chris Dye, da Stonewall, que comemora os já ultrapassados 7.000 visitantes únicos desta edição.
Na era dos rankings no ensino superior, eles serão apenas o primeiro?

Pergunta do editor: Depois de ler o artigo acima, você tem alguma sugestão de universidade inclusiva, com boa receptividade as pessoas LGBT, ao menos que tenha um discurso próximo da Educação Sexual de forma Transversal? Universidades deveriam ter disciplina de Educação Sexual, também? Sim ou não, porque?


Na hora H, no dia D (texto)

Odeio quando algumas questões são resolvidas no último dia, na última hora, no prazo final. Não suporto a pressão de, por exemplo, um site que não abre devido ao grande número de acesso ou coisa parecida. Sobretudo se não funciona por "coisa parecida".
Mas quando a (ir)responsabilidade não é sua, quando não depende apenas da sua própria vontade, tempo, disponibilidade, quando vc já tentou de todas as formas e nada adiantou, não há muito o que fazer senão esperar. Tô fazendo isso.
Estou faz, aproximadamente, duas horas diante do computador tentando entrar no site da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) para fazer a inscrição de um aluno para apresentar um trabalho.
Hoje é o último dia, um outro irresponsável não fez o que lhe cabia, e sobrou, claro, pra mim. Vou resolver mais essa pendenga. Faz parte do dia a dia do professor lidar com todo tipo de gente. Inda bem que encontramos com certa facilidade gente honesta, disponível, organizada, bem intencionada. O resto é o resto e não se tem muito mais o que dizer. A vida ensina.
O problema é que não consigo, posso, fazer outra coisa, a não ser dar uma passadinha aqui e postar um texto, já que se eu não fizer o que devo hoje, não faço mais em outro dia.
Fico apenas pensando num tempo perdido diante do computador. E o site não abre. E a hora te consome. E nada acontece.
Não dá nem para culpar a universidade. Quem mandou deixar para a última hora?! Todos nós sabemos que isso é recorrente. Ai que pena de mim!

Bolsonaro e as calcinhas (texto - Debora Diniz)


Para antropóloga, imagem do deputado em propaganda de roupa íntima seria desrespeito às mulheres e aos gays

DEBORA DINIZ*

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi convidado para ser garoto-propaganda da Duloren, empresa especializada em roupas íntimas. Bolsonaro não é nenhum deus grego que inspire mulheres a comprar calcinhas. Não é seu corpo que importa à Duloren, mas suas opiniões sobre sexo, gays e mulheres. A atual campanha da Duloren de moda para homens no site da empresa traz a imagem de um desses modelos perfeitos sendo admirado por um pit bull. O slogan da campanha é "perigoso, viril e arrebatador". Minha dúvida foi se a chamada era para o cachorro ou para o modelo. O cachorro e o modelo estão de cueca, a diferença é que o cachorro a usa entre os dentes. Imaginei a atualização da campanha com Bolsonaro como modelo para a venda de calcinhas. Com o slogan "machão, conservador, homofóbico", Bolsonaro ocuparia bem o lugar do pit bull.
O comércio de roupas íntimas transita entre símbolos contraditórios sobre o corpo e a sexualidade: o proibido e o desejado, o vulgar e o íntimo. Bolsonaro e as calcinhas representarão a força do vulgar, mas com alta dose de desrespeito às mulheres e aos gays. Não consigo imaginá-lo vestindo calcinha na campanha, o que seria um contrassenso ainda maior, considerando sua posição de parlamentar. Portanto, sua aparição deve ser como a de quem admira ou aprova mulheres vestindo calcinhas. Exatamente o lugar de censor moral no qual hoje ele vocifera como deputado ou, na iconografia da Duloren, o lugar do pit bull que admira os homens: o senhor da heterossexualidade, a favor de que as mulheres retornem à casa e ao cuidado dos filhos, e contra a igualdade sexual. Há outras cores de conservadorismo na voz do quase modelo da Duloren: revisionismo da ditadura como opressão, defesa da pena de morte, além das recentes controvérsias sobre racismo.
O que fez a Duloren imaginar que Bolsonaro inspiraria as mulheres a comprar calcinhas? Apostar na ironia seria o caminho confortável e menos controverso, mas também pouco provável para uma empresa que se rege pelo lucro. Bolsonaro não seria um modelo, mas um contramodelo para a intimidade feminina. Ao comprar uma calcinha aprovada por ele, as mulheres negariam os valores subliminares da campanha. Bolsonaro não seria o censor que se imagina ser, mas uma paródia de seu colega Tiririca no campo da sexualidade feminina: o humor sexual moveria o comércio das calcinhas. Acho pouco provável uma aposta de risco como essa. Uma campanha de sucesso é aquela cuja mensagem não deixa dúvida sobre sua eficácia, semelhante à promovida pela Duloren que envolvia um padre e uma modelo com roupas íntimas, ambientada na Praça de São Pedro. A modelo segurava uma cruz em direção ao padre, sugerindo que a lingerie provocaria o espírito libidinoso dos padres. Não havia dúvidas quanta à mensagem dessa campanha, o que deixou a Igreja Católica justamente indignada.
Minha aposta sobre o sentido da campanha é outra. Não há subliminaridades em Bolsonaro como garoto-propaganda, assim como no uso da cruz e do padre na campanha anterior. A Duloren aposta no símbolo do machão como o de um bom vendedor de calcinhas, assim como apostou no modelo perfeito e no pit bull para vender cuecas para homens. É o sentido do machão na cultura brasileira que será negociado pela campanha. Gostar de mulheres e, mais ainda, de mulheres lindas vestindo calcinhas sedutoras, seria um ato de masculinidade. Para admirar mulheres na intimidade, somente homens machões. Mas machão aqui não se resume à ordem heterossexual do desejo - confunde-se com a homofobia, a opressão de gênero e a redução das mulheres a objeto de posse dos homens. O machão censor da sexualidade e do corpo das mulheres está em baixa e a Lei Maria da Penha é um sinal vigoroso da sociedade brasileira sobre essa mudança de mentalidade e práticas de gênero.
Não sei se Bolsonaro ajudará a Duloren a vender calcinhas, mas a Duloren o ajudará a se manter como o deputado federal censor da sexualidade. Afirmar-se como machão e defensor da heteronormatividade faz os parlamentares se projetarem, nem que seja pelo espanto medieval. O sinal mais recente dessa atualização do machão foi a aprovação da lei para a criação do Dia do Orgulho Heterossexual pela Câmara Municipal de São Paulo. Foram 31 votos pela aprovação contra 19, com forte hegemonia dos partidos conservadores na defesa da lei. Assim como na campanha da Duloren, há várias incongruências na lei, sendo a mais importante a inversão da ordem moral - quem é discriminado é o gay, e não o heterossexual. Não se mata um casal heterossexual na rua, mas se violentam pai e filho que expressam carinho em público. A homofobia mata, mas é a heteronormatividade que define as leis e, como gorjeta, pode ajudar o capitalismo a vender calcinhas.

* DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA, PROFESSORA DA UnB E PESQUISADORA DA ANIS - INSTITUTO DE BIOÉTICA, DIREITOS HUMANOS E GÊNERO

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pensando bem, é um tiro em cada pé (texto)

Nem sempre a competição é saudável. Pensando bem, quase nunca ser competitivo é legal. Pra ser sincero, gente que vive disputando qualquer coisa é chata pra cacete.
Como alguns sabem, sou professor. Estou nessa de sala de aula faz muitos anos. Pra ser bem específico, são exatamente 26 anos de entra e sai de sala de aula, bom dia, boa tarde e boa noite. Em virtude disso, desses tantos anos de escola (ensino fundamental, médio e universitário), experimentei muitas faces de alunos e colegas de profissão.
É interessante como turmas de alunos (e professores) comportam-se mais ou menos de forma homogênea em se tratando de competição. Já tive turmas muito competitivas e turmas nada competitivas, tive, infelizmente, poucas turmas equilibradas em relação à competição. Não sou do tipo, acho, que estimula a competição em sala de aula. Bem ao contrário, penso. Acho que o mais importante é compartilhar conhecimento para que a maioria se saia bem...
*Alunos competitivos são chatos. Alunos que comparam notas são insuportáveis. Alunos que disputam lattes então, melhor não comentar. Acho que fica faltando um sei lá o quê de interessante em pós-adolescentes que se tornam técnicos demais.
Sou das letras, ainda que eu dê aulas de linguística, sou das artes, da literatura (e não pense que professores de literatura sejam mais artistas, não mesmo! Alguns são tão ou mais técnicos do que os que trabalham com a linguística dura), da música, da poesia, do bate-papo e da filosofia. A linguística dura é da porta da sala de aula para a prova, não me ocupa mais do que nesses espaços.
A competição nos torna insensíveis (e nem me venham com essa de que competição tem lá suas vantagens...nunca soube de nenhuma que fosse saudável.), não se vê, ao ser tomado por ela, o fim do túnel, porque ela passa ser um buraco negro. Nossas visões ficam turvas diante dela, e, somos, portanto, tomados pela vontade de ser mais, ter mais, conseguir juntar a maior quantidade de todas as coisas.
É claro que a maneira como funciona a universidade, por exemplo, estimula a competição. O nosso espaço é dimensionado pela produção, mas nem sempre uma produção de qualidade. Até porque não se tem um meio para avaliar tanto trabalho (mesmo que estejamos falando de Qualis), no fim das contas o que conta é a quantidade. Mesmo que seja medíocre. Por outro lado, esse funcionamento (o da quantidade) é uma imposição a qual nos submetemos sem sequer questioná-la, somos prisioneiros e carcereiros, escravos e senhor.
A competição nos torna vítima e algoz.

*alunos e professores.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...