terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Filhos, melhor não tê-los (texto)

Alguns vão me achar agressivo demais, no entanto, eu me sinto ultrajado quando leio nos jornais casos como o que ocorreu no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, na madrugada do dia 03 de fevereiro, deste ano. Cinco adolescentes espancaram um outro adolescente porque este não se conformou com a agressão daqueles contra um morador de rua.
Vamos à notícia: A tentativa de evitar uma covardia contra o morador de rua que estava passando mal e era agredido por cinco jovens quase terminou em tragédia para o estudante de Desenho Industrial Vítor Suarez Cunha. Ao tentar proteger o homem, que estava sendo chutado pelos agressores, na Praça Jerusalém, no bairro Jardim Guanabara, Ilha do Governador, o estudante foi espancado quase até a morte. Ele está internado com diversas fraturas na face em uma clínica particular.
Ao se aproximar de um dos agressores, pedindo que ele parasse, foi hostilizado, dando início à confusão. Vítor contou que, depois disso, começou a levar chutes e socos no rosto, quando caiu no chão. O estudante disse que só não sofreu danos maiores porque Kléber se jogou sobre ele no momento em que era agredido.
— Eu ainda reconheci um deles, e disse que a gente estava sempre por lá. Disse que era uma covardia o que eles estavam fazendo. Ainda tentei defender meu rosto com o braço. Até que acabei desacordando — contou.
Que tipo de educação esses marginais receberam? O que será que passa pela cabeça desses caras quando se acham no direito de bater em alguém seja lá por qual motivo? Como será que os pais desses pervertidos reagem diante de uma situação como essa? Por que será que essas situações são tão recorrentes? Seria apenas a certeza da impunidade?
Se meu filho agredisse dessa forma uma outra pessoa eu acho que seria a maior das minhas frustrações. Não sei se eu me sentiria pior diante de qualquer outro ato de violência. Seria como se todos os meis esforços para educar alguém ruíssem, e nada pior para um homem quando ele se dá conta de que  nada do que ele investiu em termos de preparar alguém para o mundo não deu certo, pior, deu errado.
Hoje, os jornais nos apresentaram o morador de rua que estava sendo agredido pelos rapazes, João, de 47 anos. Ele foi à delegacia , prestar depoimento, acompanhado de uma assistente social. O rosto dele estava muito inchado. Ele também estava com um ferimento na perna. Ele disse não se lembrar de nada.
Vitor passou por uma cirurgia de reconstituição facial, ele teve implantadas oito placas de titânio e 63 parafusos na cabeça.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Castanha da índia (texto)

Escrever sobre medicina popular tem lá seus perigos. Sobretudo por eu não ser especialista em nada que diz respeito às ervas. No entanto, sei que posso escrever sobre a minha experiência. Por isso, ficamos combinados que estou escrevendo sobre minha impressão.
Tive, alguns sabem disso, uma trombose em 2006. Foi barra pesada. Primeiro por conta do susto, depois por ser obrigado a ficar internado durante 8 dias. Nunca havia me internado por nada. A barra foi só piorando desde então.
Preciso usar diarimente aquelas meias que estimulam a circulação, faça frio ou faça calor (e haja calor!). Além de uma dor constante que tem me acompanhado desde 2006. Nunca mais soube o que é não ter dores nas pernas. Exercícios são uma benção. Durante caminhadas, natação etc. (nada de impacto) as dores somem, mas como não posso, não aguentaria, fazer exercícios durante 24h, e nem todos os dias, uma hora ou outra as dores retornam.
Dia desses, estive numa loja, aqui em Cascavel, de produtos naturais para comprar Noz de Macadâmia, porque me indicaram para diminuir as taxas de colesterol (FICAR VELHO É BOM DEMAIS!) e falei com o vendedor sobre as dores nas pernas, ele me indicou Castanha da Índia (em pó) três vezes ao dia. Basta dissolver num meio copo de água uma colherinha do pó da castanha e beber.
Fiz isso. Hoje é o terceiro dia da expeiência. E, acreditem, vocês, em 6 anos é a primeira vez que eu não sinto nenhuma dor nas pernas. Ontem fiquei a maior parte do dia sem as meias (aqui está fazendo um calor infernal) e não senti nenhum incômodo. Nada. Esqueci até que eu tinha pernas, sem exageros. 
Olha, não sei se a castanha fez efeito ou se o efeito placebo cumpriu seu dever. O que sei é que não sinto aquelas dores. Indico.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Helô (versos)

A tua saudade corta
Como o aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a otra faia
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia ai.

(Estrofe de Cuitelinho, composição de Paulo Vanzolini / Antônio Xandó  )

Esperando Godot (Samuel Beckett)

Um grande amigo me fez uma visita nessas férias, no Rio. Apenas um final de semana (talvez nem tenha sido isso) ficamos juntos. Fomos à praia, à noite ao cinema, assistimos A Música Segundo Tom Jobim. Não é sobre o filme, tão pouco sobre a praia e muito menos sobre o meu amigo que vou escrever, ainda que tudo isso se cruze, não por acaso.
Estava no Rio a trabalho, para uma reunião que aconteceria na segunda-feira, posterior ao final de semana. Antes de ir embora, me deixou o livro que tinha acabado de ler É tudo tão simples (crônicas de Danuza Leão) e me presenteou com o livro de Beckett, Esperando Godot.
Eu não conhecia o livro, digo, nunca havia lido, mas conhecia o enredo porque já havia assistido uma montagem. O livro é um texto para teatro, publicado em 1952 (como a internet nos salva!). Dois amigos que estão esperando, como o título afirma, um tal de Godot (que não aparece).
Pra mim, o texto é uma metáfora da espera improdutiva da vida, da felicidade que não vem ao nosso encontro, mas que, amarrados por algum motivo, não nos precipitamos para ela. Sabemos, porque sabemos, que se não fizermos, nada vai acontecer.
Ontem à noite, finalmente, concluí a leitura desse texto e, como sempre, me senti feliz por isso. Além de ser um texto importante (pela forma como Beckett escreve, pela abordagem etc.) é um tema bastante importante para todos nós. Indico.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Tabacaria (poesia)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

As 10 cidades mais caras do mundo para se hospedar em 2012 (texto)


Uma pesquisa feita pelo site Hotel.info, um serviço de reservas on-line gratuito, que atende mais de 210.000 hotéis no mundo, revelou quais as cidades com as diárias de hóteis mais caras do mundo. Os valores são relativos a novembro de 2011. Seguem os dez mais:
..
1. Nova Iorque (Estados Unidos): 208,96 euros (média de uma diária). 
2. Moscou (Rússia): 183,78 euros. 
3. Oslo (Noruega): 170,89 euros. 
4. Tóquio (Japão): 168,85 euros. 
5. Londres (Inglaterra): 159,83 euros. 
6. Rio de Janeiro (Brasil): 158,78 euros. 
7. Singapura (Singapura): 151,76 euros. 
8. Hong Kong (Hong Kong): 151,09 euros. 
9. Zurique (Suiça): 150,58 euros. 
10. Estocolmo (Suécia): 144,10 euros.
 
Tenho apenas uma questão, já que se trata de uma pesquisa e, em princípio, comparar preços é uma ação bastante objetiva, será que os serviços prestados por essas cidades poderiam ser organizados tb a partir do mesmo ranking?

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contos Mínimos

Teve a impressão de que não estava lhe fazendo bem. Na verdade, percebeu que estava lhe fazendo mal. Mas não sabia como desfazer.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...