“ …. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde.
Como talvez seja mais tarde, prepara-te
para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de
Alice: “Devo estar diminuindo de novo”.
Em algum lugar há cogumelos que nos
fazem crescer novamente. E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha
diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo.
Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o
contrário também acontece.
E é um outro escritor inglês que nos
fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a
ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo.
A alma da gente é uma máquina complicada
que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que
parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito
é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para
enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de
camundongo.
E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.
Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros;
uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma;
por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões.
Chamo de grandes ocasiões os momentos
perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a
tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos
umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às
vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal
complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o
seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice,
depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada,
afogando-me em minhas próprias lágrimas”.
Conclusão: a própria dor deve ter a sua
medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira
de nossa dor, Maria da Graça. “
Obs.: Uma amiga postou parte desse texto no Facebook. Fazia tanto tempo ... que e não lembrava dele. Aí, achei lindo outra vez. E resolvi compartilhar. Tomara que alguém goste tanto que possa, como eu fiz, compartilhá-lo. Ele vai para Lucília, Lauro e Cris, com saudades.