segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

4 anos (texto)

4 anos de blogue. 1193 postagens (incluindo aí, fotos, charges, músicas, textos de outros autores, poesia, conto etc.). Não é fácil manter um padrão de escrita. O fôlego foi diminuindo a cada ano, mas o prazer de estar aqui permanece o mesmo. 
Não sei mais quem passa por aqui porque os comentários quase que desapareceram, sei que tem gente online, mas apenas identifico o país, a cidade, se estão ou não por aqui e por quanto tempo. O tempo urge ... pra todo mundo, eu sei...
De toda a forma, agradeço muito quem por aqui passa nem que seja para uma olhadinha. Comemorar os 4 anos é, para mim, agradecer também aos colaboradores: Cris, Fátima, Luiz, Tânia Aires, Luiz Hick, Orvalho do ceu, Mayumi, Fabrício Viana, Edhi Pheqheno, Joanir e tantos outros amigos que por aqui passaram nesses 4 anos.
Espero que a mudança no designer do blogue para comemorar o aniversário tenha agradado a todos. Eu, pelo menos, gostei.
Obrigado a todos!!!!

EU ACUSO!


   Parafraseando Émile Zola, eu acuso, mesmo que ninguém me pergunte, diversas pessoas e entidades de Santa Maria, pela tragédia do incêndio da Boate Kiss, neste domingo de luto, dor, lágrimas, morte, perplexidade.         
Quando falo em diversas pessoas, eu quero dizer todos nós, que achamos que a lei de prevenção de incêndio não é para valer. Santa Maria teria sido o primeiro município do Estado a contar com uma lei de prevenção de incêndio, que acabou por ser usada como referência para a lei estadual no mesmo sentido.
         Mas, exatamente aqueles que aprovaram a lei foram os primeiros a descumpri-la, ou seja, até hoje 90% das escolas públicas, municipais e estaduais, não contam com sistema de prevenção de incêndio, depois de mais de trinta anos, colocando em risco a vida e a segurança dos servidores, dos professores e, quem está preocupado com isto?, de milhares de crianças. Eu acuso o Estado e o Município como responsáveis!
         Passei 22 anos brigando para exigir que os locais de aglomeração de público, tais como boates, estádios, prédios de apartamentos, escolas, centros de tradições, clubes, para que tivessem sistema de prevenção e combate a incêndios, tudo em vão. Eu os acuso como responsáveis!
         Inúmeras boates foram fechadas por liminar do Poder Judiciário por falta de condições de segurança contra incêndio, mas reabertas logo a seguir com a cassação da medida antecipatória porque eles provavam ter feito as adaptações necessárias e, logo que recebiam o alvará, desmontavam o sistema. Eu os acuso como responsáveis!
         O esporte favorito de alguns políticos locais era defender boates sem condições de segurança, sob a alegação de que a atividade criava empregos, o que é verdade, mas esquecendo que também criava risco de morte. Eu os acuso como responsáveis!
         Eu me acuso, como membro do Ministério Público, por não ter feito mais, com culpa ou sem culpa. Aí está, desde 1963, o prédio da Avenida Rio Branco sem nenhuma manutenção e há anos com inúmeras decisões judiciais e de pé, como se tivesse sido construído ontem. O esqueleto nos olha desafiador, gozando de nossa cara! Quando cair, quantas pessoas morrerão? Bobagem, o Adede é um idiota, todo mundo sabe, pretensioso e metido a engenheiro. O prédio não vai cair, nunca!
         Eu só não acuso as vítimas, porque estas só queriam viver a vida, e um bando de irresponsáveis não permitiu isto. Um bando de irresponsáveis, do setor público que só pensa nos votos da próxima eleição e do setor privado que só pensa no lucro.
         As vítimas viviam a vida que lhes era própria, com festa, com sorrisos, com cabeça leve e espírito jovem, o que era um direito seu.
         Não podemos crucificar ninguém sem investigação séria e julgamento justo, mas também não podemos minimizar as responsabilidades. Eles podem fugir e se esconder, mas não para sempre.
         Não foi uma fatalidade, mas a soma de irresponsabilidades.
         Que cada um assuma a sua.
         Eu acuso!
texto publicado em:
http://adedeycastro.com/2013/01/27/eu-acuso/

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Uma criança = papai + mamãe (Ruth de Aquino)




Esse era um dos cartazes, empunhados com orgulho hétero, na manifestação gigante de Paris no dia 13: Un enfant = un papa + une maman. Centenas de milhares de franceses saíram do armário para dizer “não” ao projeto de lei do governo socialista de François Hollande de “mariage pour tous” (casamento para todos). No país da “liberté, égalité et fraternité”, os homossexuais ainda não têm direito ao casamento civil – e avós, papais, mamães, jovens e criancinhas defenderam nas ruas uma versão idealizada e romântica da família contra “a ameaça gay”.
A crise econômica e o desemprego atingem seriamente a Europa, mas o que leva uma imensa multidão a marchar no inverno parisiense não é a exigência de “trabalho para todos” – eles só querem impedir que homossexuais casem nos cartórios. Segundo as autoridades, foram 340 mil manifestantes. Segundo os organizadores, de 800 mil a 1 milhão. A disparidade dos números é um indício da irracionalidade do debate. La France n’est pas un pays sérieux.
Por que esse pânico, que beira a histeria? O que muda realmente na vida de um casal heterossexual se outro casal, homossexual, decide transformar sua união estável em casamento? Qual o resultado pernicioso dessa lei? Que significado teria, além de celebrar a igualdade de direitos civis numa democracia republicana laica, e não numa teocracia?
O que está em jogo não é o ritual da cerimônia, nem os papéis assinados ou os direitos à pensão ou herança. O que apavora os homofóbicos costuma vir logo depois do casamento: os filhos, a família. Os héteros mais fanáticos surtam só de pensar que um casal gay, de homens ou mulheres, tenha direito à paternidade ou à maternidade. Aí é demais. Contraria a natureza. O que será desses meninos e meninas, meu Deus?
Como se tivéssemos produzido gerações de crianças e adultos “normais”, livres de neuroses e traumas. Como se a heterossexualidade de pai e mãe assegurasse um vínculo afetivo sadio, um ambiente familiar exemplar. O argumento de que gays, por gostarem de pessoas do mesmo sexo, criarão filhos infelizes ou desajustados é de uma prepotência difícil de engolir.
“É natural o receio de que essas crianças sofram alguma discriminação na escola”, afirma a psicanalista e terapeuta familiar Junia de Vilhena. “Atendo no consultório um casal de mães homossexuais que se preocupam com a filha de 10 anos na escola. Mas a menina está muito bem integrada num meio liberal. As amiguinhas não questionam. Normalmente, quando existe preconceito, vem dos pais dos alunos, mesmo nas escolas mais avançadas. Sou esperançosa. A sociedade aos poucos aceitará. Pior e mais cruel é o preconceito contra crianças gordas. Elas enfrentam barbaridades.”

Ser pai ou mãe, mais que uma possibilidade biológica, é um aprendizado. “Podemos encarar a família como uma prisão ou um lugar de abrigo. Um espaço de trocas ou de isolamento coletivo. Um agente de mudanças ou um dispositivo de alienação. De qual família estamos falando?”, diz Junia.Mesmo nos países com leis progressistas, como o Brasil, desconfio que a maioria silenciosa da população seja contra o direito de um casal gay de educar uma criança como seu filho. Não importa o método: adoção, inseminação, fertilização in vitro ou acordos domésticos com amigos ou amigas. Há uma turma que considera a criança mais bem assistida num orfanato do que na casa de pais ou mães homossexuais.
“Dificilmente, hoje, encontramos essa família idealizada de um filho, um papai e uma mamãe, uma visão ligada à ideia do amor romântico e eterno”, diz Junia. A família de núcleo patriarcal é hoje minoria. Crianças vivem só com a mãe solteira, separada e provedora. Ou com padrastos, madrastas e meio-irmãos. “A classe alta não está nem aí para as regras. A classe baixa está fora desse sistema – em vez de sonhar com o casamento ideal, foca na sobrevivência. Quantos pais nem sequer reconhecem seus filhos. Ou têm amantes. Essa família arrumadinha e feliz nunca existiu, mas ainda é uma aspiração da classe média. Muitos homens e mulheres ficam juntos e infelizes até morrer.”
Estranho pensar que muitas de nós lutaram pelo direito de não casar de papel passado nem na igreja. Tive dois filhos, de dois homens, jamais casei oficialmente por ser contra associar o amor a qualquer contrato ou rito perante um juiz ou um padre. Há 40 anos, num mundo ainda com utopias, era uma transgressão. Formei minha família com erros e acertos.
Alguns heterossexuais convictos alegam que gays só formam um casal, e não uma família. Um homem e uma mulher sem filhos tampouco são uma família. Mas conviver com filhos biológicos ou adotados, exercer a paternidade e a maternidade, deveria ser, sim, um direito de todos. O mundo caminha nessa direção. É irreversível. Nenhuma “parada hétero” reverterá esse processo.

(texto publicado na Revista Época)

domingo, 20 de janeiro de 2013

Da série Contos Mínimos

Dentro de todo caRIOca, tem um Rio. De todo PAUlistano, um Pau. De todo CUritibano, um cu.

20 de Janeiro

Hoje seria, se não tivesse sido diferente, o aniversário de um grande amigo. Ele não está por aqui, assim, digamos, para que eu possa ligar, desejar sorte e saúde, abraçar bem apertado, sair para comemorar a data, mas estará em pensamento comigo em todos os dias da minha vida.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

É o que tem pra hoje (texto)

Eu sei que não se muda o mundo. Sei também que a contradição é parte constitutiva do ser humano. Sei que não devia me incomodar com coisas que não vão, mesmo que eu faça a maior força, ser de outro jeito, mas tenho visto tanta coisa errada, tanta injustiça, tanta coisa fora do lugar.
Hoje mesmo, não me contive: cidades, no país inteiro, sem saúde pública digna, sem educação, sem água. Como é que essas situações acontecem e nada é feito para punir quem tem responsabilidade?
A impressão que tenho é de que é exatamente porque nada acontece que essa situação continua igual faz tanto tempo. Desde que eu me entendo por gente, e bota tempo nisso, ouço, vejo, acompanho notícias como essas pela TV, pelos jornais e revistas, e me parece que tudo continua quase igual (em algumas situações o igual piorou).
Hoje um menino de 12 anos era entrevistado no Jornal Hoje (da TV Globo). Ele dizia que gostava de ler, mas que não tinha tempo para as leituras porque ficava o dia inteiro de um lado para o outro levando água para casa e transportando pessoas. Um outro, da mesma idade, ajudava o pai a cavar um buraco de lama para dar de beber aos animais. Algumas prefeituras foram saqueadas em virtude da posse dos novos prefeitos. Uma prefeita eleita afirmou que encontrou na conta de prefeitura R$2,10 (isso mesmo: dois reais e dez centavos!!!!).
Alguma coisa devia ser feita diante disso. Não dá para esperar as pessoas terem consciência, serem honestas, justas. Isso não vai acontecer nunca.
Ontem, à noite, no Fantástico, matéria sobre uma senhora de quase 100 anos que era agredida por uma cuidadora e pela cozinheira que deviam tomar conta dela (que recebiam dinheiro para cuidar da senhora, não era favor não!!!). O crime só foi descoberto porque o filho, desconfiado, instalou uma câmera na sala da casa de sua mãe. Não fosse isso, ela, a senhora, estaria, quem vai saber, até agora sofrendo essas agressões. Quantas não estão a esta hora passando pela mesma situação? As duas negaram as agressões. Mas como negar diante das imagens?
Aqui, na calçada do meu prédio, no Centro do Rio, há moradores de rua: crianças, senhores, senhoras vivendo como animais. Comendo restos de comida, dormindo sob a chuva, frio da madrugada, correndo risco de violência, esperando a morte, imagino. E nada é feito. Eu poderia ficar aqui escrevendo ad eterno sobre o que vejo. Mas por hoje chega!

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...