É claro que cada vez que conto a minha história, reconto de uma maneira diferente porque estou, na recontagem, já em outro lugar. E é desse outro lugar que escrevo agora para refletir um pouco melhor sobre o que anda me incomodando (muito) nessas últimas semanas.
Estou me organizando para morar em Portugal por um ano. Diante disso, preciso deixar uma centena de trabalho, compromissos profissionais em dia, primeiro, porque, para que eu possa me afastar do trabalho, isso é uma condição; depois, porque, como tenho alunos que dependem do meu trabalho para organizarem as suas vidas, eu tb preciso finalizar esses compromissos já que existe um trato/respeito e é questão de educação para com a vida dos outros.
Eu podia iniciar essa post dizendo que não se fazem mais alunos como antigamente, mas aí eu não seria honesto comigo. Portanto, escrevo que não se fazem mais orientandos como antigamente. Aí acho que sou mais justo.
Pois bem, todos os meus orientandos sabiam que se eu ganhasse a bolsa para Portugal eu deveria viajar no início de setembro. É isso que pretendo fazer. Para eu viajar nesse período, tudo o que diz respeito à defesa, qualificação, finalização de texto etc. tem que estar pronto e acabado. O que isso quer dizer? Que todos eles deveriam se organizar também diante dessa possibilidade. Certo? Errado! Estou no meio do olho do furacão porque quase tudo foi deixado para última hora. Não tem nada que me deixe mais irritado (na verdade, tem sim) do que falta de compromisso com prazos.
Parece que eu estou fazendo um favor e não que os alunos têm obrigação de cumprir o combinado. Na verdade, não foi um acordo, foi A CONDIÇÃO para que trabalhássemos juntos. Ou era dessa maneira ou, simplesmente, não ia dar para ser.
Tenho passado os meus dias da semana e os finais de semana, com todos aqueles cem compromissos para fazer, tendo que ler/reler/ler outra vez/ler mais uma vez os textos dos alunos que:
1) não conseguem entender as anotações feitas em seu texto, porque não conseguem resolver os problemas que eles mesmos criam quando escrevem;
2) não entendem que um texto precisa de revisão e que eles não podem/devem fazer esse trabalho já que não conseguem ver mais o que escrevem;
3) não entendem que para escrever é preciso ler teoria. É preciso ler outros trabalhos prontos e defendidos para terem uma noção da organização do seu próprio trabalho;
4) não compreendem que algumas das referências bibliográficas que serão usadas para o seu trabalho estão nas referências desses trabalhos que devem ser lidos;
5) que existe um prazo institucional que deve ser cumprido e que esse prazo não tem nada a ver com o orientador, mas com o funcionamento da pós-graduação;
6) que e-mails do orientador devem ser respondidos e isso não é uma opção, mas uma das atribuições do orientando já que sem resposta a gente não consegue saber em que pé o trabalho se encontra.
7) que a formatação do texto e a correção ortográfica não é trabalho do orientador. Um texto deve minimamente trazer isso resolvido, caso contrário perde-se tempo com o que não é o mais importante.
Olha, ando tão de saco cheio dessa gente que a vontade é de dar o troco usando as mesmas armas. Ignorando todos os compromissos assumidos. E deixando cada um a sua própria sorte.
Mas acho mesmo, de verdade, que esse descompromisso é um critério para saber com quem estamos lidando...outros dias virão ... outras seleções acontecerão e estarei, se deus quiser, com essa lembrança viva para não esquecer na hora de lembrar. Ufa!!!