quinta-feira, 12 de junho de 2014

Copa do Mundo de Futebol de 2014

Eu amo futebol! E estou sentindo muita tristeza por não estar no Brasil para acompanhar a Copa do Mundo de Futebol. Provavelmente, essa seria a minha última oportunidade de assistir (em casa, é verdade) um Mundial de Futebol, no Brasil. Paciência... acompanho daqui de Lisboa.
Hoje, dia 12 de maio, ao assistir o Jornal Nacional, de quarta-feira, dia 11, fiquei mais animado ainda com a possibilidade de acompanhar os jogos.
Aprendi a gostar de futebol com a minha mãe. Ela era uma flamenguista de ir ao Maracanã, de acompanhar todos os jogos, de conhecer os jogadores etc. Acho melhor eu explicar esse etc. Minha mãe gostava de esporte, de todos os esportes.
Época de Copa ou se Jogos Olímpicos, ela não desgrudava da TV e eu, por tabela, acompanhava tb o que ela via. Lembro-me de vários momentos em que ela colocava o relógio para despertar de madrugada para ver os jogos de voleibol ou qualquer outro esporte que fosse transmitido em horários locais (fora do Brasil).
As vezes, eu perguntava o que ela estava fazendo assistindo Irã e México (um exemplo, apenas). Ele me respondia rindo que gostava de saber como os outros países tb gostavam de futebol.
Certa vez, quando eu morava em Curitiba, na época do mestrado, acho que em 1998, fui ao Rio para assistir com ela a final da Copa do Mundo: França e Brasil. Apesar do Brasil ter perdido, de ela ter deixado de assistir ao jogo por conta do desempenho do Brasil (3x0 para a França), da tristeza da derrota, tb nos divertimos muito.
Ela repetia os rituais em todos os jogos. Era divertido ver aquilo: até lançou incensos (de efeito moral) para ver se espantava o desempenho ruim da nossa seleção. O Ricardo, um grande amigo, ria muito daquilo tudo, apesar do nosso desânimo com a final.
Bem, é isso. Hoje começa e não posso perder a partida entre o Brasil e a Croácia, às 17h, horário local e aqui, às 21h. Estarei colado na TV.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O homem que se endereçou (Ignácio de Loyola Btandão)

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua 13, nº 21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde, a empregada o colocou no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara.
E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.


Ignácio de Loyola Brandão

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Harriett (Caio Fernando Abreu - O ovo apunhalado)


Para Luzia Peltier, que soube dela

"No fundo do peito, esse fruto apodrecendo a cada dentada."
(Macalé & Duda Machado: Hotel de Estrelas)


Chamava-se Harriett, mas não era loura. As pessoas esperavam dela coisas como longas tranças, olhos azuis e voz mansa. Espantavam-se com os ombros largos, a cabeleira meio áspera, o rosto marcado e duro, os olhos escurecidos. Harriett ficava sozinha o tempo todo. Mesmo assim, as pessoas gostavam dela.

Quase todo mundo foi na estação quando eles foram embora para a capital. Ela estava debruçada na janela, com os cabelos ásperos em torno das maçãs salientes. Eu fiquei olhando para Harriett sem conseguir imaginá-la no meio dos edifícios e dos automóveis. Acho que senti pena - e acho que ela sentiu que eu sentia pena dela, porque de repente fez uma coisa completamente inesperada. Harriett desceu do trem e me deu um beijo no rosto. Um beijo duro e seco. Qualquer coisa como uma vergonha de gostar.

Essa foi a primeira vez que eu vi os pés dela. Estavam descalços e um pouco sujos. Os pés dela eram os pés que a gente esperava de uma Harriett. Pequenos e brancos, de unhas azuladas como de crianças. Eu queria muito ficar olhando para seus pés porque achei que só tinha descoberto Harriett na hora dela ir embora. Mas o trem se foi. E ela não olhou pela janela.

Um tempo depois a gente viu uma fotografia dela numa revista, com um vestido de baile. Harriett era manequim na capital. Todo mundo falou e comprou a revista. Quase todos os dias a gente via a foto dela nos jornais. Harriett era famosa. A cidade adorava ela, mas ela nunca escreveu uma carta para ninguém.

Muito tempo depois, eu a vi outra vez. Eu estava trabalhando num jornal e tinha que fazer uma entrevista com ela. Harriett estava sozinha e não ficou feliz em me ver. Continuava grande e consumida e tinha nos olhos uma sombra cheia de dor. Fumava. Falei da cidade, das pessoas, das ruas - mas ela pareceu não lembrar. Contou-me de seus filmes, seus desfiles, suas viagens - contou tudo com uma voz lenta e rouca. Depois, sem que eu entendesse por que, mostrou-me uma coisa que ela tinha escrito. Uma coisa triste parecida com uma carta. Tinha um pedaço que nunca mais consegui esquecer, e que falava assim:

sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor
pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava
no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus
como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando
você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma
praça então os meus braços não vão ser suficientes para
abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa
que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você
sem dizer nada só olhando olhando e pensando meu deus
ah meu deus como você me dói vezenquando

Quando terminei de ler, tinha vontade de chorar e fiquei uma porção de tempo olhando para os pés dela. E pensei que ela parecia ter escrito aquilo com seus pés de criança, e não com as mãos ossudas. Eu disse para Harriett que era lindo, mas ela me olhou com aquela cara dura que a gente não esperava de uma Harriett e disse que não adiantava nada ser lindo. Tive vontade de fazer alguma coisa por ela. Mas eu só tinha uma vaga numa pensão ordinária e um número de telefone sempre estragado. Eu não podia fazer nada. E se pudesse, ela também não deixaria. Fui embora com a impressão de que ela queria dizer alguma coisa.

Três dias depois a gente soube que ela tinha tomado um monte de comprimidos para dormir, cortou os pulsos e enfiou a cabeça no forno do fogão a gás. Foi muita gente no enterro e ficaram inventando histórias sujas e tristes. Mas ninguém soube. Ninguém soube nunca dos pés de Harriett. Só eu. Um desses invernos eu vou encontrar com ela no meio duma praça cinzenta e vou ficar uma porção de tempo sem dizer nada só olhando e pensando: que pena - que pena, Harriett, você não ter sido loura. Vezenquando, pelo menos.

Alma


Da Série Contos Mínimos

A janela que dava para o mar não mostrava apenas uma paisagem. Mostrava-me. Nela eu também me significava. Ali eu era.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Como num passe de mágica

Nenhum artigo aparece pronto se vc não se sentar e trabalhar muito.
Estou aqui, outra vez, angustiado com um texto que preciso escrever.
O pior é que nem adianta reclamar muito porque faz parte do meu trabalho. Além de aulas, pesquisar e escrever. 
Bem, melhor então começar.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A expectativa que mora dentro da gente.

Eu estava me sentindo muito triste, nestes últimos dias. Achando que pouca coisa tinha valido a pena até hoje. Pensando, principalmente, se quando a nossa expectativa fura significa, necessariamente, que temos uma parcela grande de culpa nesse furo. Temos sim, mas tb não dá para ficar parado ali. 
Alguns querem ser tratados com atenção, querem se sentir importantes na vida dos outros, mas não conseguem/podem retribuir da forma como a gente cria expectativa sobre isso: porque a medida dessa expectativa está apenas dentro da gente.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...