Tenho notado, nos últimos dias, que eu ando elétrico demais, como se não me restasse muito tempo. A impressão é a de que se eu demorar mais do que cinco minutos para resolver qualquer coisa, o mundo pode acabar e eu posso perder a entrada do ônibus espacial que vai me levar para um outro lugar.
A cidade, por outro lado, está calma. E eu destoo dessa paisagem. Hoje, é o meu primeiro final de semana na casa nova. Descobri a sacada do apartamento: um bom lugar para ler o jornal online, tomar um cafezinho e olhar o que se passa.
Muita coisa se passa por aqui, muita gente, muitos carros. As pessoas passam e não me notam no terceiro andar.
Fazia muito tempo que eu não curtia estar num lugar como estou curtindo estar por aqui: uma moça anda tranquilamente falando ao telefone; um rapaz atravessa calmamente a rua; duas senhoras com um carrinho de criança atravessam sem pressa para o lado oposto daquele rapaz. Eles se cruzam em um ponto da rua, mas nem se olham.
Passarinhos voltam para algum lugar num voo rasante. Essas observações me acalmam.
De repente, motos em alta velocidade, carros correndo demais passam por mim. Um grupo de ciclistas pedala numa velocidade alucinante: não sou capaz de reconhecer um rosto. Venta um pouco. Meu café num último gole. Minha vontade era a de poder ficar por ali durante toda a manhã. Queria que o dia fosse apenas essa manhã. Apenas essa manhã.