terça-feira, 12 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Era engraçado observar como as pessoas se comportavam diante daquela situação. Definitivamente, não era possível ficar indiferente. Mas as pernas trêmulas, os olhares desconfiados, as bocas a produzir sons de desaprovação, os joelhos batendo e as mãos suadas também não eram a melhor forma de lidar com aquilo. 

Da Série Contos Mínimos

Aquele som me acalmava como nada e ninguém havia conseguido nos últimos anos. Pena mesmo era não conseguir reproduzi-lo sem que a angústia da busca me consumisse a paciência. Era, então, uma via de mão dupla: eu precisava me estressar para me acalmar por algum tempo.

Da Série Contos Mínimos

Tive um sonho estranho pra variar, sonhei que não andava muito feliz. E no sonho eu buscava os motivos da infelicidade, mas não os encontrava fora de mim: tinha a ver com a idade, com a barriga  maior do que eu desejava, com a saúde que não andava boa, com o sono que não me descansava, com a solidão, com as escolhas e as suas consequências. Não acordei feliz. Não acordei.

domingo, 10 de maio de 2015

Uma carta para Cláudia

Estou ainda triste com a notícia que você compartilhou na sua página, numa rede social, sobre a morte do seu companheiro. Tentei inutilmente dizer a você, também, via rede, o quanto eu me sentia tocado com aquela história, mas sei que as palavras não soam como gostaríamos que soassem no ouvido do outro, porque elas são porosas de sentido. Eles, os sentidos, vão se refazendo a medida que atravessam de um ouvido ao outro. E sabe-se lá a quantas significam ao chegar do outro lado da ponte.
Bom mesmo é um abraço forte. Um ombro amigo. Olho no olho pra dizer o quanto a gente se sente e pode, se for o caso, ajudar naquilo que for requisitado. Bom mesmo é um aperto de mãos, um sorriso, um olhar de compaixão, mas a distância, nesse momento, me impede de fazê-los.
Bem, o Flávio um dia também foi muito próximo. Trabalhamos durante algum tempo numa mesma escola, no Rio de Janeiro, em Campo Grande. Ele era um homem gentil, bonito, um bom profissional respeitado pelos alunos, pelos professores e gestores daquela escola. Mas a vida vai nos levando para outros caminhos e depois que me mudei para o Paraná nunca mais soube dele. Mais de 20 anos sem notícias. Até me esbarrar com uma foto postada por você e depois disso aquela sensação de que ele me era familiar. 
A gente muda fisicamente, muda muito a ponto de manter apenas alguns traços físicos do que a gente era. Mas a foto trazia um sorriso que a minha memória não apagou.
Nós, eu e você, Cláudia, um dia também fomos próximos. Me lembro que não éramos muito amigos mas que sempre que nos encontrávamos pelas ruas batíamos um longo papo. Eu tenho por você um grande carinho, ainda que a gente não tenha mantido contatos nesses últimos anos. Você nem se lembrou de mim de cara, quando eu mandei para você a solicitação de amizade. Foram muitos anos longe. Eu fiquei careca, envelheci, estou muito diferente fisicamente do que eu era, mas guardei comigo muito daquilo que sempre fui e tive. Os amigos principalmente.
Você teve sorte e deve por isso agradecer sempre por ter vivido, como você mesma diz, um grande amor. Isso é raro. A gente não encontra todos os dias e em todas as esquinas pessoas especiais. Ao contrário, a gente encontra o fácil, o passageiro, aqueles que numa primeira dificuldade vão embora. E se esquecem de tudo o que aconteceu. A gente encontra os que partem por qualquer motivo.
Uma relação é investimento. Eu sei disso, mas contar com alguém num momento tão frágil das nossas vidas é para ser grato(a) para sempre. E sinto que você é grata ao Flávio também por isso.
Sei, pelo que você escreveu e socializou nas fotografias postadas que vocês tiveram muitos bons momentos juntos. Que viveram dias felizes. E isso é raro, como eu já disse aqui.
Minha querida, as palavras são porosas de sentido, mas elas podem também carregar um abraço forte, daqueles bem apertados e demorados. E eu te envio por aqui um abraço bem apertado daqueles que nos faz sentir de verdade o amor que merecemos. Se eu tivesse por aí certamente ia te procurar para bater um papo e ouvir você.
Um beijo grande e o meu desejo de que seu coração e alma se sintam confortados um dia pela sorte de ter conhecido alguém tão especial. 


Da Série Contos Mínimos


Um dia chuvoso. A casa mais ou menos bagunçada. E eu acordei no meio da manhã sem disposição alguma para colocar ordem na vida. Fiquei apenas com um pensamento fixo como quando uma música não sai da nossa cabeça. 

sábado, 9 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para mesmo se por dentro se estivesse mortaEla me disse que a coisa mais importante da vida era sorrir mesmo se por dentro se sentisse morta. Só muito depois compreendi os seus motivos: não dava para sair daquele buraco se não tivesse um pontinho de salvação. E ele estava, justamente, na coragem de sorrir.

Da Série Contos Mínimos

Resultado de imagem para nao se abandona nada nem ninguémA história era sobre duas pessoas que se separam e uma sofre, a outra não. Entendi que não devemos ter medo de ir embora. Porque tudo que nos importa não nos abandona. Mesmo quando não queremos. No fim, não se abandona nada nem ninguém.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...