sexta-feira, 22 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Me dobrei como se dobra uma folha de papel até ficar bem pequenininho. De forma que eu coubesse na palma da minha mão. Fui me transformando em quadrados cada vez menores até atingir um ponto em que não me era possível virar-me sobre mim mesmo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Memórias

Faz muito tempo que recebi esse recadinho triste e carinhoso de uma amiga que sabe o que diz e sabe como dizer:

"Alexandre, as mães não morrem. Elas ficam por aí piscando o olho pra gente - "cuidado, menino"; "ponha o casaco"; "vai mais um café, meu filo?", iluminando de memória o que a vida nos reserva. De memória e de ternura, pode crer." (Bea)

E sabe-se lá porquê eu não me lembrava mais dele, até que, de repente, me confronto, numa busca por mim mesmo, com um pedacinho de página online e lá estava ele me esperando.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O homem quase nu

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Das situações que não acontecem apenas nas crônicas de Fernando Sabino ... Fiquei preso do lado de fora do meu apartamento. 
Tal qual O homem nu, resolvi, logo depois de acordar, fazer um café, mas me lembrei da plantinha que fica à porta de entrada do meu apartamento: ela estava reclamando água, faz alguns dias.
Café no fogo vou até a plantinha para lhe dar água. Um vento + uma porta que abre apenas por dentro = combinação dos infernos.
A porta bateu. Fico atordoado por alguns minutos. Mas me lembro de que estou sozinho, o café está no fogo e ninguém mais além de mim e da diarista (que está sabe lá onde) tem as chaves de casa. Desespero. Desespero total.
Estou com a roupa de dormir, com a cara amassada, barba amassada. Por que molhar aquela maldita planta justamente naquele momento? Me perguntei algumas vezes antes de pensar no que fazer. 
Desço correndo os três andares. Sinto cheiro de café. Abro a porta da rua e interfono para o apartamento da síndica. Ninguém atende. O alarme da porta da rua dispara (depois de 30 segundos). Fecho a porta. Abro-a novamente e interfono para meu único conhecido no prédio. Ninguém atende. Subo desesperado os 3 andares (agora me pergunto, pra quê?). Fico parado diante da minha porta alguns eternos segundos. Continuo atordoado. O café está pronto.
Desço dois andares, bato na porta do tal vizinho (único conhecido). A sua esposa me atende. Explico esbaforido a situação (alguém teria que abrir a porta da rua para eu entrar). Saio enlouquecido em busca de um chaveiro. Corro como nunca havia feito antes. Em menos de duas quadras encontro um e explico, quase sem fôlego, a situação. Um rapaz me acompanha. O cheiro de café inunda todo o bairro. Subimos os três andares em meio minuto. Ele abre a porta, em 3 segundos, usando apenas uma chave de fenda.

As pernas ainda bambas, entro na cozinha e apago o fogo. Ofereço café para o rapaz que não aceita e agradece. Eu lhe pago, ele vai embora e aproveito o café que já está pronto faz algum tempo

terça-feira, 12 de maio de 2015

Da Série Contos Mínimos

Era engraçado observar como as pessoas se comportavam diante daquela situação. Definitivamente, não era possível ficar indiferente. Mas as pernas trêmulas, os olhares desconfiados, as bocas a produzir sons de desaprovação, os joelhos batendo e as mãos suadas também não eram a melhor forma de lidar com aquilo. 

Da Série Contos Mínimos

Aquele som me acalmava como nada e ninguém havia conseguido nos últimos anos. Pena mesmo era não conseguir reproduzi-lo sem que a angústia da busca me consumisse a paciência. Era, então, uma via de mão dupla: eu precisava me estressar para me acalmar por algum tempo.

Da Série Contos Mínimos

Tive um sonho estranho pra variar, sonhei que não andava muito feliz. E no sonho eu buscava os motivos da infelicidade, mas não os encontrava fora de mim: tinha a ver com a idade, com a barriga  maior do que eu desejava, com a saúde que não andava boa, com o sono que não me descansava, com a solidão, com as escolhas e as suas consequências. Não acordei feliz. Não acordei.

domingo, 10 de maio de 2015

Uma carta para Cláudia

Estou ainda triste com a notícia que você compartilhou na sua página, numa rede social, sobre a morte do seu companheiro. Tentei inutilmente dizer a você, também, via rede, o quanto eu me sentia tocado com aquela história, mas sei que as palavras não soam como gostaríamos que soassem no ouvido do outro, porque elas são porosas de sentido. Eles, os sentidos, vão se refazendo a medida que atravessam de um ouvido ao outro. E sabe-se lá a quantas significam ao chegar do outro lado da ponte.
Bom mesmo é um abraço forte. Um ombro amigo. Olho no olho pra dizer o quanto a gente se sente e pode, se for o caso, ajudar naquilo que for requisitado. Bom mesmo é um aperto de mãos, um sorriso, um olhar de compaixão, mas a distância, nesse momento, me impede de fazê-los.
Bem, o Flávio um dia também foi muito próximo. Trabalhamos durante algum tempo numa mesma escola, no Rio de Janeiro, em Campo Grande. Ele era um homem gentil, bonito, um bom profissional respeitado pelos alunos, pelos professores e gestores daquela escola. Mas a vida vai nos levando para outros caminhos e depois que me mudei para o Paraná nunca mais soube dele. Mais de 20 anos sem notícias. Até me esbarrar com uma foto postada por você e depois disso aquela sensação de que ele me era familiar. 
A gente muda fisicamente, muda muito a ponto de manter apenas alguns traços físicos do que a gente era. Mas a foto trazia um sorriso que a minha memória não apagou.
Nós, eu e você, Cláudia, um dia também fomos próximos. Me lembro que não éramos muito amigos mas que sempre que nos encontrávamos pelas ruas batíamos um longo papo. Eu tenho por você um grande carinho, ainda que a gente não tenha mantido contatos nesses últimos anos. Você nem se lembrou de mim de cara, quando eu mandei para você a solicitação de amizade. Foram muitos anos longe. Eu fiquei careca, envelheci, estou muito diferente fisicamente do que eu era, mas guardei comigo muito daquilo que sempre fui e tive. Os amigos principalmente.
Você teve sorte e deve por isso agradecer sempre por ter vivido, como você mesma diz, um grande amor. Isso é raro. A gente não encontra todos os dias e em todas as esquinas pessoas especiais. Ao contrário, a gente encontra o fácil, o passageiro, aqueles que numa primeira dificuldade vão embora. E se esquecem de tudo o que aconteceu. A gente encontra os que partem por qualquer motivo.
Uma relação é investimento. Eu sei disso, mas contar com alguém num momento tão frágil das nossas vidas é para ser grato(a) para sempre. E sinto que você é grata ao Flávio também por isso.
Sei, pelo que você escreveu e socializou nas fotografias postadas que vocês tiveram muitos bons momentos juntos. Que viveram dias felizes. E isso é raro, como eu já disse aqui.
Minha querida, as palavras são porosas de sentido, mas elas podem também carregar um abraço forte, daqueles bem apertados e demorados. E eu te envio por aqui um abraço bem apertado daqueles que nos faz sentir de verdade o amor que merecemos. Se eu tivesse por aí certamente ia te procurar para bater um papo e ouvir você.
Um beijo grande e o meu desejo de que seu coração e alma se sintam confortados um dia pela sorte de ter conhecido alguém tão especial. 


Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...