sábado, 5 de dezembro de 2015

Marília Pêra (1943-2015)

Poucas vezes me senti tão tocado pela morte de um artista como me sinto hoje com a notícia da morte de Marília Pêra. Deixe-me explicar melhor. Alguns artistas parecem ocupar um lugar muito familiar no nosso cotidiano: ele participa da nossa vida diária, através do seu trabalho, seja na TV, no teatro ou seja no cinema, de uma forma muito intensa e presente.
Marília Pêra é um desses casos, na minha vida. Lembro-me que eu deixava de sair de casa aos domingo, quando eu era adolescente, para vê-la atuar num programa humorístico (cujo nome não me recordo agora). Neste programa, ela interpretava personagens engraçadíssimos (ora uma jornalista que não entendia nada de futebol, mas que precisava narra um gol como se estivesse tocada pela jogada, ora uma mulher que não enxergava quase nada, mas não admitia ser míope, e confundia um poste de luz como um homem.). Começa daí a minha admiração por ela. É a minha lembrança mais antiga de sua atuação na TV.
Depois disso, a vi muitas vezes no cinema, algumas no teatro e infinitas vezes na TV. Ultimamente no seriado Pé na Cova, exibido às terças, na Rede Globo ela e eu éramos íntimos. Darlene é uma espécie de personagem que numa mistura de comédia dramática diz aquilo que é preciso ser dito e que diante do que ela diz ficamos atordoados.
Bem, ela se vai cedo demais, se é que há tempo definido para morrer: se é que se morre cedo ou tarde. E deixa um vazio enorme na dramaturgia brasileira. RIP Marília!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O mal é o que sai da boca do homem

Já escrevi tanto sobre esse episódio que nem acho assim tão relevante postar mais alguma coisa, no entanto, vou fazê-lo apenas para registrar o fato aqui no blog.
Participei, na verdade não participei, assisti as duas últimas falas de um evento organizado por um professor do meu colegiado sobre educação e sexualidade (pelo menos era isso a proposta no formulário preenchido por ele para tramitar no Centro de Educação, Comunicação e Artes ao qual somos afetos).
O seminário foi divulgado pelo professor como um evento científico e apesar de eu saber como ele se porta diante do tema (já tivemos mais de uma conflito por conta disso), em virtude de ele ser membro da Renovação Carismática, ter um projeto de extensão sobre Missa em Italiano, e eu, por outro lado, não ter religião e ter projetos sobre sexualidade numa perspectiva libertadora, achei interessante a sua atitude: acho mesmo que a universidade deve estar aberta a todas as formas de pensamento. Se é ciência, por que não? Tem tanta teoria circulando pela universidade das quais não compactuo. Além disso, eu não sou censor e nem tenho vontade de sê-lo.
Bem, os alunos se organizaram para protestar  contra o evento porque dias antes dele acontecer, o mesmo professor enviou um whatsapp (para alguns ex-alunos, alunos e conhecidos) com um conteúdo bastante preconceituoso, conclamando a sociedade para participar do evento que, segundo, a mensagem, corria riscos de não acontecer (o medo sempre é a arma de um bom religioso: o inferno, o diabo, um inimigo comum!). 
Quem me conhece sabe que eu não ando por aí disseminando mentiras, exagerando fatos, aumentando um pontos.
Pela manhã, fui lendo relatos de alunos sobre o evento e decidi eu mesmo ver se aquilo estava acontecendo: revistas, polícia, capangas impedindo a entrada, proselitismo religioso, preconceito, deboches etc. etc. etc.
Cheguei no finalzinho de uma apresentação e o palestrante sabia mais da Judith Butler do que a própria Butler. Ele citava o livro Problemas de gênero para desconstruir, segundo ele, a própria autora.
As duas últimas palestras não foram diferentes. Os convidados estavam ali para justificar uma crença: não erma trabalhos científicos, com métodos, objetos, análises. Eram catequeses, proselitismo religioso (como disse acima).
Não é que a universidade não possa ceder o seu espaço pra isso. Pode e deve, a universidade é de todos nós! Mas um evento religioso não pode/deve ser certificado como um evento acadêmico, porque aí estamos colocando a credibilidade da universidade em xeque. Por que dessa forma colocamos tudo e qualquer coisa no mesmo patamar da ciência, daquela que tem uma teoria que te permite analisar um corpus.
Encontrar na internet aquilo que reforça um pensamento não é fazer ciência! Trazer dados que confirmem a sua posição política tb não é fazer ciência. Bem, não me inscrevi e por isso não pude fazer perguntas nem considerações. Eu o faria com muita educação e gentileza, mas não sairia do auditório assim calado diante de tudo aquilo que ouvi.
Bem, o evento está registrado e pronto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eu, trans

Hoje, através de uma postagem de uma amiga virtual de um rede social, conheci o site Eu, trans. 
Bem, acho que nem seria necessário eu dizer que gostei muito do que encontrei por lá.
Muita matéria importante, muito texto informativo, muito esclarecimento sobre a sexualidade de cada um de nós: quer sejamos héteros, homossexuais, bissexuais quer sejamos travestis, transgênero, pansexuais etc.
Há muitos depoimentos em forma de vídeo. Em cada um deles eu encontrei informações importantíssimas, riquíssimas sobre o outro: a forma como ele se sente diante da sociedade que o julga, o preconceito, a violência, a sua identidade, a forma como lida consigo e com a própria sexualidade, a sua relação com a família, com a profissão, com o seu nome social, com o seu corpo.
Vi/ouvi todos os vídeo e um deles me marcou muito: aquele que uma mulher diz: "Quem sou eu pra dizer pra alguém o que ela/ele deve ser ou não ser, quem sou eu pra dizer se a sua sexualidade é ou não adequada. Cada um se constrói a partir do seu desejo."
Bem, vale muito dar uma passada por lá e aprender.

domingo, 22 de novembro de 2015

Nanci, Vera e Robson, vocês se lembram?

Não sei como é pra vc, mas pra mim, começar a escrever sempre é muito difícil. Sempre fico meio atordoado em meio ao turbilhão de palavras que me rondam constantemente. Parece que sou coagido por elas para que eu as use, para que eu as coloque na ordem do meu discurso. É impressionando como isso acontece sempre que preciso/quero escrever.
Não sei nunca por onde começar, por qual caminho ir. As vezes pego um atalho, como estou fazendo agora, e aí fica mais complicado voltar para a ideia inicial, aquela que me fez deixar de fazer outra coisa para me sentar diante do computador, abrir meu blog, clicar em nova postagem e escrever.
Não era isso! Não era sobre isso este texto! Era sobre lembrança! Escrevi o título antes de tudo (coisa rara!) porque era sobre lembrança que eu ia escrever. Sempre errado por linhas certas!
Bem, quem sabe não é dessa vez. Vou tentar mais uma vez.
Estava hoje pensando que a cada dia fica mais complicado encontrar quem eu possa fazer a pergunta: Você se lembra? A sensação é a de que os amigos, esses que dividiram comigo a maior parte da minha vida, foram ficando em alguma parte dela, lá atrás em algum compartimento. Longe, cada vez mais longe...
Tenho três grandes amigos que eu sei que posso perguntar: Você se lembra? E vamos rir ou chorar juntos porque dividimos os bons e os maus momentos. Os novos amigos, esses que a gente vai somando depois da maturidade são importantes, mas não sabem de nós. Ele têm pistas do que fomos, por onde andamos, mas faltou o dia a dia. Faltou memória.
Encontrar o Robson, a Vera e a Nanci é me encontrar um pouco. É me reencontrar, pra ser sincero. Cada um deles sabe porque esteve junto, estava próximo, foi consultado, participou, acompanhou de longe, comemorou, sentiu muito.
Minha formatura no ensino médio. Minha formatura na faculdade. Meus amores perdidos. Os amores encontrados. As doenças. As alegrias. As minhas perdas. Os meus achados. As minhas viagens. As minhas chegadas. Minhas partidas. Os meus altos e as minhas baixas. 
Sei que daqui pra frente essa pergunta vai ficando mais rara: quero dizer, ela precisa ser tornar mais recente pra produzir alguma resposta: riso ou choro. Cada vez a resposta é mais atual e menos memória.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fátima Guedes - Transparente


...mas não pensei com palavras,
porque as palavras,
outra espécie de vazio,
não me vestiam quando eu sentia frio.

(Criatura - 1985 - Sétima Arte)




Nós, brasileiros, sobretudo, e todos os cidadãos do mundo (que gostam de música), somos privilegiados pela quantidade e qualidade de vozes femininas que temos por aqui. 
Gosto de tanta cantora que seria impossível escolher uma para chamar de minha. Não dá! Sou, praticamente, de todas elas.
Hoje, Fátima Guedes, lança o seu mais recente CD: Transparente. Apesar de ter apenas 4 músicas "inéditas" (E agora? já havia sido gravada, se não me engano, pela cantora Carol Saboya) e 10 regravações, o CD é muito bom! Não, o CD é espetacular!
Ela me ganha pela voz e pela interpretação. Além de eu ter em relação as suas músicas uma afetividade enorme: minha adolescência foi cheia das suas músicas!
Mesmo as regravações chegam com um gostinho de novidade. Tava passando da hora de um disco novo. 
É tanta coisa boa que fico perdido: A vida que a gente leva (2005), Cheiro de mato (1980), Criatura (1985), Condenados (1979), Onze fitas (1979), Faca (1992), Flor-de-ir-embora (1990), só pra gente ter uma ideia do que ela nos presenteou. Vamos ouvir sem parar!
Ética, uma das novas canções, é demais! Fico impressionado como ela consegue colocar música em certas palavras. Que delícia de CD!

domingo, 25 de outubro de 2015

Meu conto dos outros

Eu mal podia esperar pelo fim da chuva. Estava angustiado com tanta história que acabava de ouvir e mal sabia o que fazer com ela. Fazia tempo que eu não ouvia uma história que me incomodasse tanto. 
Eu escutava os mortos desde criança. Não era um ritual que eu me preparasse para as audições. Nada disso. Se eu estivesse sozinho (por muito tempo eu evitei ficar assim) eles me encontravam.
Depois dessa história, digamos, ruim, eu queria dar uma volta pra esvaziar a minha cabeça, mas a chuva e os ventos fortes não me davam a opção de sair de casa. Não, pelo menos, do jeito que eu gostaria.
Era uma ponte circular sobre o nada: se eu estivesse sozinho, as vozes me encontrariam, e na impossibilidade de sair, eu necessariamente estaria só e as elas voltariam.
Estou morando sozinho desde a morte da minha mãe. Isso faz dez anos. Nunca tive um relacionamento que me fizesse pensar em dividir um espaço. 
Namorei muito, mas sempre cada um em sua casa. Tenho dificuldades para dividir espaços, silêncios e sons.
As vozes eram muitas, de todas as idades e de muitos lugares. Eram velhos, crianças, homens e mulheres. A maioria deles nem sabia que tinha morrido. 
A primeira vez que isso me aconteceu eu fiquei muito assustado. Achei que era brincadeira, depois que eu estava maluco. E, sem entender muito bem, fui me acostumando com a situação. Quer dizer, "acostumando" não é exatamente o que acontece, mas como não consigo fazer diferente, fui vivendo assim.
Hoje, uma senhora me contou sobre estar sozinha. Reclamou dos filhos, dos parentes e dos velhos amigos que nunca mais a procuraram. Me contou que se sentia abandonada pelo mundo. Me disse também que mais ou menos era ela a responsável pelo abandono. 
Disse-me que em certa altura da sua vida (enquanto estava viva) se afastou de praticamente todas as pessoas. Ela havia abandonado o mundo a sua volta. E aos poucos, todos foram sumindo. Depois morrendo. E finalmente ela se viu assim, sem ninguém.
Me contou que sua morte foi descoberta apenas depois de 15 anos. Seu corpo ficou caído no chão do quarto. Nem os vizinhos, nem ninguém se deu conta da sua ausência. O corpo ficou ali apodrecendo até restarem apenas os ossos e o silêncio dos cômodos da sua pequena casa. Ela morava num vilarejo de poucas casas.
As correspondências foram se acumulando e um dia, só depois de todo esse tempo, é que desconfiaram de que alguma coisa poderia ter acontecido.
A história me tocou muito porque me vi exatamente vivendo da mesma forma que a velha senhora viveu. Sozinho, longe de todos pela pura incapacidade de saber conviver com os outros ou por um acúmulo de mágoa que eu não conseguia esquecer ou transformar em outro sentimento.
Ela era ressentida. Resmungona. Mal humorada. E eu achava certa graça da sua personalidade. Me contou também que se tivesse nascido em outra época não teria se casado ou tido filhos. Ela queria estudar, mas que tanto ela como suas amigas foram criadas apenas para casar, servir ao marido, depois os filhos. Assim que devia ser. E assim foi. 
Me contou também sobre a saudade que sentia da sua infância, das brincadeiras e do medo de ficar sozinha em casa. Depois que o seu pai morreu, tinha medo do escuro e a sensação de estar sendo vigiada.
Me falou ainda que se sentia feliz por poder conversar comigo e que soube de mim através de outros espíritos. Me disse também que poder falar sobre o passado tinha sido uma boa forma de pensar na vida que levou, mesmo sabendo que não faria qualquer diferença. Acho que conversar com ela, me foi mais valioso do que eu podia acreditar, ainda que eu nao quisesse, pelo menos agora, mudar de vida.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Um grande privilégio!

A Saudades nunca acaba. Bem ao contrário, ela, naturalmente, apenas cresce. Hoje faz 6 anos que a minha mãe morreu. De repente, bateu aquela lembrança dela e aí me dei conta de que se tratava do dia 19 de outubro.
Bem, não lembro dela apenas com tristeza. Na verdade, na maior parte das vezes, lembro-me dela com muita alegria. Já disse, muito provavelmente, isso aqui algumas vezes.
Sinto-me feliz por ter vivido 44 anos em sua companhia. Isso é um privilégio!

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...