domingo, 17 de maio de 2020

Quanta tristeza!

Entenda o perigo da covid-19 se comparada a outras doenças | Poder360No final de março, dia 27 para ser mais exato, postei aqui uma fotografia que nos mostrava a quantidade de mortos na Itália: eram 10 mil mortos por lá. Tão longe da gente que nem precisávamos mostrar empatia, tristeza ou solidariedade...
A foto era uma forma de expressar a minha indignação diante das manifestações, daquele dia, no Brasil contra o isolamento social Hoje, por aqui, passamos dos 15 mil mortos. 15 mil 663 mortos oficiais para ser mais exato. E a impressão é a de que esses 15 mil e 663 mortos tb não nos dizem respeito: estão lá, em outras cidades e capitais, em sua maioria, são pessoas estranhas e por isso não precisamos nos solidarizar.
Que tristeza!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Resultado de imagem para despedida“E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval, uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito, depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso. E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras, com flores e cantos. O inverno, te lembras, nos maltratou; não havia flores, não havia mar...Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.”

Do livro "A Traição das Elegantes", Rubem Braga.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Cada um no seu quadrado

Resultado de imagem para cada um no seu quadradoNão é fácil compreender que a gente não está no controle de nada. De nada que tenha a ver conosco e muito menos que tenha a ver com o outro. 
Sou professor, acho que já escrevi isso aqui mais de mil vezes, num curso de letras (na graduação e na pós graduação). Tenho orientandos tanto aqui quanto lá. Os de lá estão, naturalmente, iniciando uma jornada científica. Tudo muito básico. Os de cá já têm uma experiência profissional que os coloca numa etapa mais adiantada: são formados, em geral trabalham, sabem ler e escrever com autonomia. Tudo isso funciona na teoria, apenas na teoria.
Tenho alunos da iniciação científica que dão shows em suas apresentações, que escrevem com muita maturidade e que leem muito bem.
Por outro lado, tenho alunos do mestrado e do doutorado que dão o maior trabalho. Vc diz uma coisa e eles fazem outra. Você sugere uma leitura e eles nem aí para a sua sugestão. Você indica uma correção e eles te ignoram completamente.
Aprendi (mais ou menos) a conviver com esses alunos de forma que não confundo mais o trabalho deles com os meus. Eu leio com muita atenção o que me mandam, faço todos os comentários que julgar necessário, estabeleço um prazo para a reentrega e o resto é por conta deles. 
Se fizerem o trabalho direitinho, vão apresentá-los para uma banca e vou defendê-los. Se não fizeram.... 
Havia um tempo em que eu ficava me culpando pelo trabalho mal feito. Não faço mais isso. Cada um tem uma função nessa relação e pronto.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Para nunca esquecer, de outubro de 2009.

"Alexandre: as mães não morrem. Elas ficam por  aí, piscando o olho pra gente - "cuidado, menino"; "ponha o casaco"; "vai mais um café, meu filho?", iluminando de memória o que a vida nos reservaDe memória e de ternurapode crer.

Um abraço, com carinho, Bea."


domingo, 29 de dezembro de 2019

2019 (em desconstrução)

Resultado de imagem para 20192019 foi o ano da estupidez. Ano que ouvimos de pessoas próximas e de outras, nem tão próximas assim, absurdos que sequer pensávamos poder ouvir no séc. XXI. Melhor não repeti-los para preservarmos a nossa sanidade.
Retrocedemos. Não tenho dúvida! Retrocedemos na forma de olhar para o outro, voltamos para tempos obscuros em termos de humanidade, de solidariedade, de afetos.
Valorizaram a violência em todos os sentidos: o discurso da exclusão, do racismo, da homofobia, da intolerância religiosa estiveram presentes nesses tristes 360 e poucos dias deste ano. 
Foi o ano da mentira institucionalizada. De mentiras tão sem propósitos que me senti num filme de ficção: mamadeira de piroca! socialismo! comunismo! meninos vestem azul e meninas rosa! o peixe é inteligente! balbúrdia nas universidades! E por aí vai...
2019 foi um ano marcado pela presença e destaque de imbecis na vida pública e na privada (de onde eles nunca deveriam ter saído). Pautaram o nosso pensamento e aquilo que circulou nas redes sociais e nos jornais diários. 
Era tanta pequenez, tanta estultice, tanta falta de noção que uma montanha de estrume não seria suficiente para comparar com tudo aquilo que foi dito e escrito.
O fundamentalismo religioso se meteu na educação e na saúde e, é claro, impediu que professores falassem sobre sexualidade, sobre violência, sobre equidade, sobre diversidade, sobre diferenças. Impediu também que crianças fossem vacinadas e que as doenças há muito controladas se fizessem outra vez presentes. A laicidade do Estado foi esquecida por parte da sociedade. 
Não foi um ano fácil para quem pensa na inclusão com necessidade, na diferença como patrimônio, na raça como orgulho e como inscrição e marca da nossa história. 
Como tudo, o ano de 2019 está acabando e vai passar.
Senti-me enfraquecido em muitos momentos, mas fui confortado  (e confortei) pelos amigos, pelos companheiros de trabalho e não soltamos as mãos uns dos outros. Nos abraçamos e resistimos e sobrevivemos aos 2019.
A luta continuará. Não tenho dúvida! Vamos resistir a todo atraso que nos impuseram este ano. E quando o dia raiar, porque o dia vai raiar, nós vamos sair pelas ruas mais fortes.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...