domingo, 22 de setembro de 2024

Deixando rastros

 

Como são ardilosas as pessoas? Ou melhor, quanto ardilosos somos? Sempre digo que ficar mais velho não nos traz muitas vantagens... mas, como tudo tem mais de um lado, nos faz enxergar melhor nós mesmos e também os outros.
Sempre é mais fácil culpar o outro pelos nossos deslizes, nossos furos e imaturidades (que não tem nada a ver com a idade cronológica).
Para deixar de fazer alguma coisa, a gente arma uma situação de forma que parece que a culpa nunca é nossa. Mas controlar tudo também não é possível, a gente vai deixando rastros...

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O tempo é um sopro: as pessoas nos escapam


Muito provavelmente, já escrevi aqui sobre um amigo que, infelizmente, e por vontade (já explico) já morreu. Jiovan. Um caro lindo! Inteligente, divertido, alto, estiloso, a frente do seu tempo. Não me lembro bem quando nos conhecemos, mas me recordo que ficamos muito próximos. Fomos apresentados por um amigo comum (este não me lembro mais o nome).

Ele vivia com hiv e carregava um peso enorme por isso. Teve problemas com a família por conta da sua sexualidade. Isso era por volta de 1990, se não me engano. Havia apenas o AZT que não era muito eficaz (a resposta não era nada boa e ainda tinham muitos efeitos colaterais). Era uma loucura estar contaminado nessa época: praticamente um atestado de morte (apenas na metade da década de 1990 surgiu a terapia antirretroviral).

Meu amigo não quis se tratar. Começou a beber muito, dormir pouco, virar noite. Eu às vezes o encontrava pelos bares. Trocávamos algumas palavras...normalmente, eu estava de passagem. Ele sumia. Como à época não existia ainda celular era bem complicado manter contato. 

Acho que eu tinha o número de telefone da casa dele, mas não me sentia muito à vontade para ligar diante do que ele me dizia sobre os seus pais.

Por que estou escrevendo sobre ele? Porque hoje ouvi uma música Por querer (Marina Lima) que sempre me faz lembrar dele. E aí bateu uma saudade enorme desses nossos encontros fugazes.

Quando se é muito jovem, a gente não pensa que as pessoas nos escapam. Parece que tudo estará ali a nossa disposição até não tá mais.

sábado, 6 de julho de 2024

L'Omas, Queen of Desert

Hoje bateu uma saudade enorme de amigos que deixei faz algum tempo porque os (nossos) caminhos se distanciaram. Sem mais nem menos, deparo-me com o filme Priscila, a rainha do deserto (1994 - título original The Adventures of Priscilla, Queen of Desert) no qual três amigos resolvem fazer uma viagem pelo interior da Austrália.

A medida em que o filme se desenrola, vou recordando uma época em que eu me sentia mais acolhido no mundo e o mundo fazia mais sentido para mim. Sábado, por exemplo, era um dia em que estaríamos juntos (Orlando, Marquinhos, Marcos, Paulo, Roberto, Dorian, Rafael e alguns outros que, neste momento, não consigo me lembrar dos nomes, mas seus rostos estão gravados em mim). Passaram-se mais de 30 anos. E parece que foi no sábado passado.

Alguns desses já morreram, outros não sei por onde andam. Alguns ainda tenho contato. Depois de tanto tempo, o que fica dessa amizade é o amor que (todo esse) o tempo não apaga. Foram dias felizes.

Sábado à noite era dia do L'Omas, a boate do Orlando, na Praia de Brisa, subúrbio do Rio de Janeiro. Eu voltava para casa com um sol enorme batendo na minha cara. Cansado de uma noite de risada, de música, de shows, de amizade. Enquanto escrevo vou me lembrando de episódios divertidos que dividíamos.

Acho que o que fica da vida e o que dela a gente leva é o amor que temos uns pelos outros. 

Eram outros tempos. Nem melhor, nem pior, apenas outros tempo. 



sábado, 29 de junho de 2024

Antes tarde do que mais tarde.

Há pessoas que só sabem receber. Há outras que só sabem dar o que sobra. Há algumas que não abrem em suas vidas espaços para os outros. E há também algumas pessoas que são tudo isso ao mesmo tempo.
E há também quem se acostume com essa situação. Você vai se acostumando a ceder, vai se contentando com o que sobra, vai se organizando para viver em um espaço que não o cabe .
Enquanto o outro também vai achando que não precisa dar nada, ceder nada, abrir nenhum espaço, porque está bom desse jeito. E está mesmo! Está tão confortável que o outro não consegue perceber o seu desconforto. É melhor não notar como o outro se sente.
E aí, o outro se justifica que dá o que pode, que o seu esforço não é reconhecido, que tem outras coisas tão importantes para fazer e que você não reconhece isso.
Mas tudo também tem um tempo. Pode demorar um pouco porque o preço de estar sozinho pode ser grande. 
E aí você se dá conta de que sempre esteve sozinho: que sempre se contentou com os restos (do tempo, das sobras etc.).
Antes tarde do que mais tarde.




É preciso estar atento

Se você insiste em uma situação que está perdida, você perde a oportunidade de começar algo que pode ser diferente. Uma coisa é saber o que você tem e como isso funciona, outra coisa é o novo que não necessariamente vai ser melhor, mas que certamente será diferente.

Tenho pensando muito nisso. As oportunidades estão em muitos lugares e precisam ser, pelo menos, vistas. A questão é que para vê-las, a gente precisa estar aberto e atento às oportunidades. O nosso olhar (e coração) nem sempre vê o que ali está (se) passando justamente porque está linkado ao que está perdido.

Não é fácil. Nada é fácil. Arriscar-se também não é.


terça-feira, 18 de junho de 2024

Da Série: Contos Mínimos

Ele ia contar para si que o dia não tinha sido dos melhores: ficou preso a um fato desagradável. Porém, percebeu o tanto de coisas outras que encheram os olhos de alegria.


Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...