domingo, 24 de abril de 2016

Me pego cantando sem mas nem porque

Minha mãe, outra vez a minha mãe (Freud deve explicar), tinha umas manias engraçadas. Dentre elas, dona Heloísa não gostava de roupas que a apertassem. As camisetas de ficar em casa eram cortadas de forma que não houvesse gola ou mangas.
Ela não usava, em casa, anéis, cordões, relógios, brincos porque ela se sentia sufocada. E eu achava tudo isso uma grande maluquice. Achava engraçado e, verdadeiramente, acreditava que aquele comportamento era mesmo uma anormalidade.
Bem, tempo vai, tempo vem e eu me pego agindo da mesma maneira e se me dou conta dessa repetição, me transbordo em saudade.
Até pouco tempo eu conseguia ir tranquilamente para a cama de relógio. Não mais. Aquela coisa me pesa no pulso de uma determinada maneira que eu não consigo dormir. É uma luta.
Camisetas que me apertem a cintura, o pescoço, ou os braços são imediatamente descartadas.  Dormir de meia se tornou impossível. 
Em casa, gosto mesmo de roupas largas que me deixem à vontade,  escolho aquelas que não me impeçam os movimentos. Do contrário, me sinto sufocado. Vai me dando uma angústia que ou eu saio daquele lugar ou o meu humor vai por água abaixo.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Com muita frequência

Fazia tempo que eu não sonhava tanto com a minha mãe. Isso tem acontecido frequentemente, nestes dias. Sonhos estranhos e tristes que me deixam mal. A única coisa boa disso tudo, é a sensação de estar verdadeiramente com ela. Sentir a textura da pele, o cheiro, ouvir a voz, o toque. Mas ao acordar uma mistura de alívio e de angústia.

Eu ainda tenho uma boa parte de sono pela frente

Acordei achando que era sábado. Em boa parte da manhã agi como se estivesse no dia internacional, Belga, da limpeza semanal. Pensei, inclusive, nos trabalhos que eu tinha/tenho para fazer até segunda-feira pela manhã, antes de voltar para a universidade. Nem me dei conta da semana curta. Ao contrário.
Acho que, como na segunda eu já estava bem cansado (e verdadeiramente, eu estava), achei mesmo que, diante de tanta coisa que aconteceu, eu só podia mesmo estar naquele momento de descanso total e intransferível. O corpo pedia e eu não hesitei em lhe permitir esse descontrole temporal por meia manhã.
Alegria foi descobrir que, ao contrário do que eu pensava, ainda era quinta-feira e eu poderia ficar mais alguns dias assim nesse clima de final de semana prolongado.
A mesma sensação de acordar no meio da noite achando que está na hora de me levantar e descobrir, instantes depois, que eu tenho ainda uma boa parte de sono pela frente.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Da Série: Contos Mínimos

Tudo nele era enorme. Obesidade mórbida. Ele comia as suas tristezas, ele comia as suas angústias, ele comia os seus sentimentos. Tudo virava alimento.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A amizade não se desrespeita

Se existe uma coisa em mim da qual eu não tenho nenhuma dúvida e me orgulho é em relação a minha capacidade de ser amigo. Eu sei muito bem o que isso significa. 
Amizade pra mim é sagrada. Vale mais do que família, do que dinheiro, do que trabalho, do que sexo, do que namorado. Ou seja, vale mais do que todas essas coisas que também são importantes.
Eu sou um homem de alguns bons amigos. Daqueles que sabem a hora de se aproximar porque percebem que alguma coisa está errada. 
E procuro também fazer isso. Procuro me antecipar porque sei que assim eu estou me comportando como eu gostaria que se comportassem comigo.
Tenho desses amigos, a porta de casa sempre aberta. Um prato de comida. Um abraço amigo e um canto pra dormir e sonha, como disse Gonzaguinha.
Mas eu também tenho um grande defeito do qual não tenho nenhum orgulho: não dou segunda chance pra ninguém! Amizade abalada é amizade perdida. Não consigo de jeito nenhum relevar derrapagens, porque elas significam pra mim que houve um desrespeito e não se desrespeita a amizade.

sábado, 9 de abril de 2016

Aos meus orientandos

Resultado de imagem para aos meus orientandosNão é a primeira vez que escrevo sobre o comportamento de  meus orientandos aqui. E escrevo justamente porque assim organizo melhor o que pensar sobre eles.
É claro que nem todos se comportam dessa maneira. Deus existe! Mas ainda que fossem dois ou três, isso já seria um caos, tendo em vista o trabalhão e o aborrecimento que certos comportamentos produzem.
Bem, não consigo pensar nos meus orientandos sem me pensar nessa mesma posição. Lembro-me da insegurança de escrever para que a minha ex-orientadora lesse. Não era fácil. Mas eu sabia que se eu não ultrapassasse essa barreira, a tese não iria aparecer pronta no criado mudo.
Lembro-me tb de que os meus textos vinham repletos de pontos de interrogação, observações e correções para serem feitas. E eu, sinceramente, não encarava isso com desânimo ou como se fosse uma derrota pessoal, derrota intelectual. Não mesmo! Ao contrário! Eu sabia que era a função da orientadora e que se eu fizesse as tais alterações, o meu texto ficaria melhor.
Lembro-me ainda da vontade de sumir. E da dificuldade de encarar a orientadora diante das minhas inseguranças.
Outra lembrança era em relação às indicações de leitura. Eu saía da sua casa e passava, ali mesmo no Largo do Machado, na primeira livraria que encontrava para comprar o tal livro indicado por ela. Além disso, sem que ela tivesse me dito isso em qualquer encontro, eu buscava nas referências dos livros indicados, outros livros que, eu desconfiava, pudessem me ajudar de alguma forma.
Escrever não é fácil, mas não escrever é pior ainda. Sobretudo se dependo disso para dar conta do meu trabalho.
Outra coisa importante era saber que a minha tese era minha e não da minha orientadora. O trabalho era para eu receber um título e não ela. Ela já o tinha.
Bem, tenho orientandos que ao contrário de tudo isso, e mesmo querendo concluir os seus trabalhos, não escrevem! Acham (como é que podem achar isso?) que os textos ficarão bons sem a reescrita.
Além disso, que já é grave, não apresentam leituras consistentes nem da teoria e muito menos da área em que escolheram desenvolver as suas pesquisas. Como pode? Me pergunto depois de cada encontro que acredito jogado fora e perdido.
Me impressiono, verdadeiramente, com uma pesquisa de mestrado em que o aluno não traga nenhuma novidade em relação ao seu tema. O cara escolhe com o que trabalhar e não busca nada em relação ao que "gosta", em tese, de escrever? Ora, alguma coisa está fora da ordem e precisa, urgentemente, ser corrigida.
Terminei a minha tese em novembro de 2015, recebi de volta em dezembro ainda com alguns ajustes para serem feitos. Em janeiro ela estava na mão de uma revisora (que levou um mês para finalizar o trabalho). Em março foi a minha defesa.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Da Série: Contos Mínimos

Depois da cerveja cada um voltou para a sua casa. Eu voltei pra mim mesmo.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...