Hoje, tive com os alunos do primeiro ano do curso de Letras uma conversa bastante séria. Daquelas de professor para aluno. Fiquei muito incomodado com o resultado das provas, sobretudo porque apostava que elas seriam, depois dos exercícios, monitoria, explicações, leituras de um texto bem simples etc., bem melhores do que foram. Nem a conversa foi boa nem o pós-conversa me foi satisfatório. Primeiro, porque não acredito que ela, a conversa, produza qualquer efeito. Não vejo nenhum momivento de mudança. Depois, porque me coloquei num lugar que não gosto de ocupar: o professor preocupado com as despreocupações desses(as) meninos(as).
Vou me explicar melhor para não parecer que não estou nem aí para eles(as). Estou, é claro, mas não acho que na universidade a gente tenha essa função, a de dizer ao aluno como ele deveria se comportar para ser um aluno melhor. Sobretudo porque se o cara escolhe determinado curso, pressupõe, pelo menos para mim, que ele tenha afinidades com as disciplinas do projeto político pedagógico.
Mas nem sempre é desse jeito, ou melhor, nunca é assim. Num curso de Letras, normalmente, os alunos chegam porque é um curso relativamente tranquilo para a entrada numa universidade pública. Tranquilo quer dizer, menos concorrido, se comparado a outros cursos.
Isso, quase sempre, quer dizer que temos alunos que queriam fazer medicina, jornalismo, psicologia, veterinária, engenharia, e tantos outros cursos possíveis oferecidos pela instituição, mas que, por algum motivo, não acreditavam que passariam na seleção desses outros cursos e por isso optaram pelas Letras.
E isso quer dizer tb que ao optarem por um curso que não era a sua primeira opção, acabam se desestimulando porque a quantidade de leitura, de produção de textos, de cobrança em termos de escrita e leitura é imensa. Além, é claro, de conhecimento da língua que eles quase nunca têm.
É um curso que parte, talvez equivocadamente, do princípio de que esses alunos tenham conhecimentos básicos de gramática, experiência de leitura e escrita o que não corresponde à realidade. E fora algumas disciplinas (as que trabalham com leitura e produção de texto, exclusivamente), as demais esperam resultados. E eles não chegam, satisfatoriamente, no tempo dessas disciplinas.
Fiquei aqui me lembrando da miha vida escolar. E por isso o título do post (Ao mestre com carinho), justamente porque foi um filme que marcou a minha adolescência (revi diversas vezes na sessão da tarde). Nessa história, um professor negro, interpretado pelo grande ator Sidney Poitier, enfrenta (e o verbo é esse mesmo) uma turma bastante arredia em relação a sua presença (o fato dele ser negro, sobretudo). É claro que o filme, Hollywoodiano, acaba bem. O professor conquista a turma e é conquistado por ela. Nem sempre a realidade corresponde aos filmes de Hollywood.
Senti saudades de alguns professores: Terezinha (primeira professora), Márcia, Aidê, Elder, Mademoiselle Regina, Delnavi, Rubens, Conceição, Gustavo, Laplana, Maria Luiza (a preferida), Rosa Hermann, Marli, Toninho, Pitta, Jonair, Paulo, Ana Maria, Rosa Gens (literatura, brasileira na universidade), Cecília (latim, na universidade) e tantos outros cujos nomes não me lembro agora.
Eles fizeram algumas diferenças na minha vida, primeiro pela seriedade com que lidavam com a profissão, depois pela atenção e carinho dispensados a mim.
Nunca tive com os meus professores uma relação mítica, eles fuequentavam a minha casa porque eram amigos, sobretudo os do ensino fundamental, da minha mãe e eu tinha com eles uma relação pessoal bastante próxima. Nunca os vi como heróis, mas como batalhadores pela profissão.
Ser professor é, para mim, uma sorte. Estar em sala de aula é divertido. Quase sempre, pelo menos. Embates, como o de hoje, fazem parte tb do nosso dia a dia. E se não nos atentarmos para esses percalços, pode até surgir uma desânimo. Dias melhores virão. Conto com isso.