quarta-feira, 18 de agosto de 2010

To Sir, With Love (texto)

Hoje, tive com os alunos do primeiro ano do curso de Letras uma conversa bastante séria. Daquelas de professor para aluno. Fiquei muito incomodado com o resultado das provas, sobretudo porque apostava que elas seriam, depois dos exercícios, monitoria, explicações, leituras de um texto bem simples etc., bem melhores do que foram.
Nem a conversa foi boa nem o pós-conversa me foi satisfatório. Primeiro, porque não acredito que ela, a conversa, produza qualquer efeito. Não vejo nenhum momivento de mudança. Depois, porque me coloquei num lugar que não gosto de ocupar:  o professor preocupado com as despreocupações desses(as) meninos(as). 
Vou me explicar melhor para não parecer que não estou nem aí para eles(as). Estou, é claro, mas não acho que na universidade a gente tenha essa função, a de dizer ao aluno como ele deveria se comportar para ser um aluno melhor. Sobretudo porque se o cara escolhe determinado curso, pressupõe, pelo menos para mim, que ele tenha afinidades com as disciplinas do projeto político pedagógico.
Mas nem sempre é desse jeito, ou melhor, nunca é assim. Num curso de Letras, normalmente, os alunos chegam porque é um curso relativamente tranquilo para a entrada numa universidade pública. Tranquilo quer dizer, menos concorrido, se comparado a outros cursos.
Isso, quase sempre, quer dizer que temos alunos que queriam fazer medicina, jornalismo, psicologia, veterinária, engenharia, e tantos outros cursos possíveis oferecidos pela instituição, mas que, por algum motivo, não acreditavam que passariam na seleção desses outros cursos e por isso optaram pelas Letras.
E isso quer dizer tb que ao optarem por um curso que não era a sua primeira opção, acabam se desestimulando porque a quantidade de leitura, de produção de textos, de cobrança em termos de escrita e leitura é imensa. Além, é claro, de conhecimento da língua que eles quase nunca têm.
É um curso que parte, talvez equivocadamente, do princípio  de que esses alunos tenham conhecimentos básicos de gramática, experiência de leitura e escrita o que não corresponde à realidade. E fora algumas disciplinas (as que trabalham com leitura e produção de texto, exclusivamente), as demais esperam resultados. E eles não chegam, satisfatoriamente, no tempo dessas disciplinas.
Fiquei aqui me lembrando da miha vida escolar. E por isso o título do post (Ao mestre com carinho), justamente porque foi um filme que marcou a minha adolescência (revi diversas vezes na sessão da tarde). Nessa história, um professor negro, interpretado pelo grande ator Sidney Poitier, enfrenta (e o verbo é esse mesmo) uma turma bastante arredia em relação a sua presença (o fato dele ser negro, sobretudo).
É claro que o filme, Hollywoodiano, acaba bem. O professor conquista a turma e é conquistado por ela. Nem sempre a realidade corresponde aos filmes de Hollywood.
Senti saudades de alguns professores: Terezinha (primeira professora), Márcia, Aidê, Elder, Mademoiselle Regina, Delnavi, Rubens, Conceição, Gustavo, Laplana, Maria Luiza (a preferida), Rosa Hermann, Marli, Toninho, Pitta, Jonair, Paulo, Ana Maria, Rosa Gens (literatura, brasileira na universidade), Cecília (latim, na universidade) e tantos outros cujos nomes não me lembro agora.
Eles fizeram algumas diferenças na minha vida, primeiro pela seriedade com que lidavam com a profissão, depois pela atenção e carinho dispensados a mim.
Nunca tive com os meus professores uma relação mítica, eles fuequentavam a minha casa porque eram amigos, sobretudo os do ensino fundamental, da minha mãe e eu tinha com eles uma relação pessoal bastante próxima. Nunca os vi como heróis, mas como batalhadores pela profissão.
Ser professor é, para mim, uma sorte. Estar em sala de aula é divertido. Quase sempre, pelo menos. Embates, como o de hoje, fazem parte tb do nosso dia a dia. E se não nos atentarmos para esses percalços, pode até surgir uma desânimo. Dias melhores virão. Conto com isso.

6 comentários:

  1. Bonito texto Alexandre!
    Bjs.

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  2. Ei Alexandre,
    Tenho saudade da minha professora de literatura, a amada Amália, ela foi uma grande incentivadora, me emprestava vários livros para ler!
    Te desejo sorte, persistência, responsabilidade, coragem e orgulho nessa grande empreitada que é ser professor universitário. Parabéns professor, você forma a elite pensante desse país!
    gd beijo

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  3. Qualquer palavra minha será suspeita, mas o que falta à nossa turma é maturidade e mais que isso, responsabilidade em se dedicar àquilo que menos gosta. Não somente em linguística, mas como nas demais disciplinas.

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  4. Que menos gosta? O curso todo? ;P
    Alexandre, acho que o povo do colegiado é muito "maternalista", sabe? (não sei se existe essa palavra ou se entra aqui). Os professores acabam facilitando demais e passando muito a mão na cabeça dos alunos. Os alunos do primeiro ano precisam ver que eles não estão mais no Ensino Médio, que eles estão numa coisa com a qual trabalharão (teoricamente) a vida toda. Não sei se adianta facilitar as coisas. Eu não vejo como solução o nivelamento por baixo. Se eles passaram no vestibular, supõe-se que tenham o mínimo de critério pra levar um curso superior adiante, não? Se for preciso reprovar em massa, pq não? Talvez assim eles "acordem pra vida". Sei que existem complicações com essa prática, mas se continuar com o nivelamento pelo mais fraco, onde isso vai parar?

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  5. Falta tanto pros alunos de hoje em dia, principalmente o respeito pelos professores. Isso me faz, realmente, rever meus conceitos e rever se quero mesmo ser professora...

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  6. Se já estou estressado antes de estar formado, sei não se quero continuar no curso!!

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