domingo, 6 de setembro de 2009

Em mais uma viagem (texto)

Já escrevi aqui diversas vezes que as últimas viagens para o Rio têm um sabor difícil de especificar: vou sem vontade, quase por obrigação, volto querendo nunca ter saído de lá. Perdi nesses 16 anos no Paraná a convivência com os meus pais (padrasto e mãe), a cada ano eu os via menos e por menos tempo a cada ano. É claro que por outro lado essa distância tb nos aproximou, justamente porque na falta de convivência as diferenças foram aos poucos deixadas de lado (não todas, é claro) e os fartos encontros eram quase sempre bem agradáveis.
Ainda assim, o fato de achar que eu os teria para sempre, sempre me dava um tempo a mais para adiar uma longa estadia: eu tinha certeza de que nas próximas férias, no próximo natal, no próximo dia das mães, na próxima passagem do ano, no próximo aniversário de minha mãe, nós poderíamos estar juntos.
Minha mãe está agora muito mal e tenho ido com alguma frequência vê-la. Estou a caminho do Rio neste momento. Meu coração está muito apertado, porque eu sei que ela está mais abatida e fraca do que a deixei no final do mês passado. Sua voz ao telefone quase não se compreende.
Como sempre, vou para ficar pouco. No próximo domingo já estarei de volta. Tenho muito trabalho e tb tenho um medo enorme de ficar e ver como, a cada dia, a situação piora.
Queria mesmo não sentir o que sinto quado a chegada se aproxima, mas sentir não se controla. Infelizmente.
Essa situação tem me deixado mal em muitas das minha relações: no trabalho com os amigos e alunos, com os amigos, comigo mesmo. Tenho vontade de estar sempre sozinho e pouco consigo compartilhar com alguém o que ando sentindo. É certo que sei que tudo isso é meu e mesmo quando alguns amigos me procuram eu tenho recusado, de alguma forma, ajuda.
Fisicamente tb tenho reflexos. Nesta última semana, uma alergia tomou conta de parte do meu corpo. Ela não é propriamente uma alergia, mas reflexo do estresse no qual me encontro. Tudo isso somado é igual a falta de humor, de sono, de alegria e de prazer nas tarefa diárias.
Só que esses sentimentos são mais fortes do que eu e eu não consigo controlá-los.
Estou sempre impaciente e por pouco perco o controle. Fora isso, outros problemas reforçam esses descontrole: tenho, por exemplo, que conviver, por conta da doença de minha mãe com pessoas com as quais não tenho o menor prazer em estar junto. Gente que sempre tem uma visão negativa de quase tudo; gente que não consegue ver o esforço do outro nas situações mais difíceis (que é a de acompanhar por 24h D. Heloísa) etc.
Não sei se eu deveria postar esse texto, visto que ele é uma espécie de desabafo. Preciso escrever e reler para ter um pouco mais de consciência do que se passa comigo agora.
Tava pensando que nem música tenho ouvido em casa: quase impensado eu trabalhar sem ouvir música ou ouvir música apenas. E sequer tenho pensado nela. Chego em casa depois do trabalho tão cansado que quero apenas ficar na cama em silêncio, descansando de tudo.
Estou com muito medo do que me espera porque eu sei o que me espera.

Um comentário:

  1. Alexandre, espero que estes momentos tensos possam passar o mais rápido possível, mas como vc mesmo disse, existem certas situações em que não tem-se escolha, o jeito é sentir, enfrentar e esperar o tempo passar...

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